Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Objetivos e Introdução
Resumo e Atividades
Objetivos
Introdução
Na aula anterior, vimos que o processo comunicativo humano envolve, pelo menos, dois agentes
– um emissor e outro receptor. Agora, vamos entender melhor como funciona a comunicação
humana, através de dois modelos que explicam a comunicação: o modelo matemático da
comunicação e o modelo dialógico.
Posso, alternativamente, estudar melhor O QUE É DITO, fazendo uma análise de conteúdo das
mensagens. Assim, posso analisar atentamente as falas do candidato, como elas são estruturadas,
qual é o seu conteúdo.
Posso, também, estudar melhor o canal da comunicação através da análise de mídia (ou do meio
de comunicação em si mesmo), avaliando a linguagem audiovisual (no caso da TV, por exemplo).
Posso, ainda, estar mais preocupado em caracterizar os destinatários das mensagens (PARA
QUEM), fazendo uma análise de audiência. Por exemplo, podemos ver quais são as
características dos eleitores que assistem ao horário eleitoral gratuito: qual seu nível escolar, nível
de renda, sexo, entre outras questões.
E, finalmente, posso avaliar a eficácia das mensagens divulgadas, através de uma análise de
efeitos, mapeando as mudanças de atitude, de opinião ou de comportamento das pessoas. Assim,
por exemplo, posso verificar o sucesso de uma propaganda eleitoral através das mudanças de
intenção de voto.
Além de Lasswell, outros pesquisadores americanos da mesma época, como Shannon e
Weaver também formularam suas ideias sobre como a comunicação funcionava. Mas, sendo
engenheiros, Shannon e Weaver estavam especialmente preocupados com os canais de
comunicação usados e com a sua eficiência.
O estudo do ato comunicativo envolve a leitura das variáveis envolvidas em seu processo, de
acordo com o quadro analítico abaixo:
• Emissor ou fonte da informação: é a pessoa que deseja comunicar alguma coisa, emitir
alguma mensagem.
• Mensagem enviada: é a mensagem selecionada pelo emissor para ser transmitida ao receptor.
• Sinal: é a mensagem codificada que vai trafegar em um canal. Quando você fala ao telefone,
sua voz passa pelo aparelho e é transformada em sinais que vão trafegar na rede telefônica.
• Canal: é o meio no qual a mensagem vai trafegar até chegar ao receptor. No caso da telefonia,
são os cabos e centrais telefônicas por onde passam os sinais.
• Fonte de ruído semântico: uma mensagem que não é dita claramente pode provocar distorções
no sinal.
• Fonte de ruído técnico: o transporte de um sinal em um canal pode ser atrapalhado por
interferências de natureza técnica (como calor, umidade, rupturas).
• Receptor semântico: a mensagem recebida deve ser recomposta no sentido exato tal qual foi
transmitida, de forma a ser entendida e apreendida pelo destino tal qual foi planejada pelo
emissor.
Imaginemos, então, uma situação comunicativa qualquer para aplicarmos o modelo. Digamos que
você ouve o seu programa de rádio favorito: o locutor da rádio (emissor), emite uma mensagem
(uma notícia, por exemplo, mensagem enviada), através das ondas sonoras da sua voz para um
transmissor (o microfone e outros circuitos elétricos) que se codificam tal mensagem em sinais
que vão passar através das ondas eletromagnéticas (canal) para o seu aparelho de rádio
(receptor), que vai decodificar as ondas e, nos seus circuitos, transformar o sinal recebido na voz
do locutor que falava (mensagem recebida) e você (destino), finalmente, vai ouvir a notícia tal
qual ela foi dita, já que a integridade da fala do locutor foi preservada pela precisão do aparelho
receptor e da sua capacidade de ouvir (receptor semântico).
A comunicação, na teoria matemática, é um processo exato de transporte de mensagem
entre uma fonte emissora e um destino que pode ser problemática devido à possibilidade de
interferência de ruídos.
Atividade
Para reduzir as fontes de ruídos semânticos e técnicos era necessário o aprimoramento dos canais
de comunicação e a introdução de um mecanismo de feedback para assegurar o entendimento ou
a eficácia da mensagem.
O feedback seria um indicativo seguro de que a mensagem foi recebida pelo destino. Como o
locutor do rádio sabe que está sendo ouvido e que sua mensagem desperta interesse nos ouvintes?
Uma maneira de sabê-lo é através dos índices de audiência; se os índices aumentam, mais
pessoas estão recebendo a sua mensagem. Dizemos, então, que a leitura dos índices de audiência
é o feedback ou a garantia de que a mensagem está chegando ao destino.
Um feedback negativo pode fazer a fonte emissora reorientar as suas mensagens. Pense em uma
novela da Rede Globo; se a audiência está baixa, é sinal de que as pessoas não estão assistindo, e,
então, a história deveria ser modificada para atrair mais pessoas.
Atividade
Pense sobre porque são necessários os pronunciamentos em Rede Nacional de rádio e televisão
em horário nobre pelo presidente da República para esclarecer informações importantes.
Modelo dialógico da comunicação: ao invés de emissores e destinatários, interlocutores!
Uma comunicação com estes moldes enuncia o grande poder do emissor em relação ao
destinatário, especialmente se considerarmos que os canais de comunicação de massa (como o
rádio, a televisão, o jornal, a revista) são possuídos por poucos indivíduos.
Assim, há uma assimetria nos processos de comunicação social. Estamos diante de um modo de
comunicação que prevê a onipotência de um emissor sobre n destinatários (modelo de
comunicação assimétrico 1-n). A Rede Globo, por exemplo, pode exibir a sua programação para
milhões de pessoas ao mesmo tempo, mas como estas milhões de pessoas podem entrar em
contato com ela?
A assimetria numérica dos meios de comunicação pode estar a serviço do poder. Não é possível
o exercício do poder de uma pessoa sobre a outra sem que exista comunicação entre elas. E, se
uma minoria da população controla os meios de comunicação, então, esta minoria exerce poder
sobre uma vasta maioria.
A fonte emissora pode difundir mensagens que podem beneficiar interesses de alguns setores
sociais, normalmente os mais abastados (a serviço do capitalismo). Muito se ouve falar, por
exemplo, que a Rede Globo elegeu Fernando Collor de Melo, ao difundir a imagem “do
caçador de marajás” a milhões de pessoas, assim influenciando o comportamento eleitoral da
população.
E os grandes meios de comunicação de massa são empresas que precisam equilibrar o seu
orçamento para se manterem vivas e podem fazer alianças com setores empresariais e estar a
serviço de suas ideologias.
Vários trabalhos forma realizados para esclarecer melhor como os meios de comunicação
podem propagar as ideologias das classes dominantes da sociedade. Uma obra interessante
sobre este assunto, escrita em 1971, é “Para ler o Pato Donald – comunicação de massa e
colonialismo”, dos autores Ariel Dorfman e Armand Mattelart, a qual situa o personagem Tio
Patinhas como o bem-sucedido, aquele que gasta com parcimônia, e as pessoas, expostas a
estes desenhos, tendem a se adaptar ao estilo capitalista de ser.
A comunicação nestes moldes é antidemocrática, pois não permite a participação de todos, é
monológica - por ser um monólogo entre um agente emissor e outros vários receptores passivos
- e vertical – por prever uma hierarquia entre o emissor e os destinatários, sendo o primeiro
mais poderoso do que o segundo.
Mas, será que não há uma saída, a comunicação é um processo desigual e antidemocrático?
Como resposta a esta questão, alguns pesquisadores propuseram outro modelo comunicativo,
conhecido como modelo dialógico ou modelo horizontal de comunicação.
Neste modelo, não devem existir hierarquias entre os emissores e destinatários das mensagens
(horizontalidade), mas ambos são parceiros em um processo de partilha mútua de significados
(diálogo).
Quando o dono de uma empresa se dirige aos seus empregados “comunicando” sobre um
aumento de salários, ele estaria apenas “informando” os operários sobre tal aumento, mas
quando o dono está em processo de conversar com os operários sobre o aumento, até que seja
formado um consenso, ele está se comunicando com os seus operários.
Atividade
Imagine mais dois exemplos de uma relação informativa e um outro exemplo de uma relação
comunicativa.
Numa relação informativa, significados não são criados em conjunto com os interlocutores,
enquanto numa relação comunicativa genuína, acontece um diálogo que faz pessoas
compartilharem experiências, se compreenderem mutuamente e criarem consensos que levem à
ação.
Para Paulo Freire (1977) a comunicação não é um monólogo, mas é um processo de diálogo
simétrico entre interlocutores com igual oportunidade de dialogar e compartilhar significados,
idealmente sem posições hierárquicas que restringissem o acesso à palavra e que exige um
grande esforço de fazer a cultura de um interlocutor não se impor sobre a do outro.
Paulo Freire é um dos mais importantes pedagogos do Brasil e tem sua obra reconhecida
mundialmente. Algumas de suas obras são: Educação como prática da liberdade (1967),
Pedagogia do oprimido (1970), Educação popular (1982), Pedagogia da autonomia (1997).
Em seus estudos sobre projetos de extensão agrária Paulo Freire (1977), critica a invasão
cultural, ou imposição das falas e modos de ser de um grupo, que se diria mais “estudado”, mais
“iluminado”, sobre populações sem “sem conhecimento“. Sem nos alongar muito nesta
discussão, podemos imaginar o impacto que uma novela, a qual veicula modos de vida e uma
cultura normalmente localizada no eixo urbano Rio-São Paulo pode provocar em outras culturas
brasileiras, como as do nordeste ou do interior mineiro. As pessoas, localizadas em outras
regiões, algumas vezes buscam adotar como estilo de vida os modos da cultura Rio - São Paulo,
talvez deixando de lado algumas de suas tradições, o que caracteriza uma espécie de dominação
e invasão cultural.
Atividade
Imagine como as músicas exibidas em uma novela ambientada no eixo Rio - São Paulo podem
ser muito diferentes das ouvidas em outras regiões do país e se elas passam a fazer parte da
programação das rádios das mais diversas regiões brasileiras.
Democratização dos meios de comunicação de massa
Em uma reunião familiar ou de um grupo de amigos, várias pessoas podem falar e serem ouvidos
ao mesmo tempo, de maneira praticamente simétrica (iguais oportunidades de falar e ouvir). Mas,
quando pensamos na comunicação social, podemos constatar a inviabilidade das milhões de
pessoas que compõem a audiência de um canal de TV terem oportunidade de falar naquele canal.
Então, o modelo dialógico parece ser mais aplicável a situações em contexto presencial (face
a face) e não à comunicação social, a menos que o acesso aos canais de comunicação fosse
mais democrático!
Talvez você já tenha ouvido falar sobre rádios comunitárias ou TVs comunitárias, tais
iniciativas podem ser consideradas tentativas de uma melhoria na distribuição de acesso aos
meios de comunicação no Brasil.
A idéia de tais rádios ou TVs seria a de prover um canal de comunicação feita pelo povo para o
povo, sem qualquer coerção seja do governo ou de empresários, de forma a coibir a invasão
cultural e a dominação ideológica dos grandes meios de comunicação de massa. Nestas rádios e
TVs, qualquer um da comunidade poderia falar (emitir) e ser ouvinte ou espectador, realizando
um projeto de comunicação dialógica.
Atividade
Procure saber se em sua cidade existem rádios comunitárias e caracterize um de seus programas.
Contexto sócio-cultural, interações sociais e meios de comunicação social
Os meios de comunicação, podem modificar a maneira com que as pessoas se relacionam umas
com as outras. Não é preciso que exista o contato presencial e físico para que as pessoas se
relacionem: ao utilizar um meio de comunicação, como o telefone, as cartas e os diversos
recursos da Internet (como e-mail e chats online, que veremos em outras aulas), as pessoas
podem reduzir as interações face a face.
A utilização dos meios de comunicação nas nossas relações sociais permite que os nossos
contatos diretos (presenciais) se reduzam, já que vários deslocamentos físicos podem ser
poupados (eu não preciso encontrar pessoalmente com alguém para dar um recado nem viajar
para a China para saber como são as paisagens lá). Isso pode provocar alterações na maneira
com que as pessoas entram em contato umas com as outras: Cada vez mais as pessoas buscam
informações em outras fontes (como a televisão, os jornais) do que nas pessoas com quem
convivem.
A utilização dos meios de comunicação de massa, em especial, promove o contato com
contextos e formas de vida muito diferentes dos nossos que podem alterar a nossa visão de
mundo. Sem os grandes meios de comunicação, talvez não tivéssemos contato com a realidade
de locais distantes como a África, a Tailândia, a Índia. Nosso horizonte de percepção e visão
dos problemas do mundo é mediada pelos grandes meios de comunicação.
A comunicação humana não se reduz, portanto, a um processo de transmissão de mensagens, mas
tem papel ativo nas relações de poder sociais e na criação dos mundos percebidos pelos
indivíduos.
Resumo
3. Diga como um programa de televisão – como uma novela das 8 pode alterar a visão
que temos do nosso mundo vivido.