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Publicação – 1946
Considerada a obra “ponto de partida” de Guimarães Rosa –
é nela que o autor consegue afinar suas estratégias
linguísticas e circunscreveu o espaço “sertanejo” – o que
será essencial para a obra “Grande Sertão: Veredas, a obra-
prima.
Nove contos – exploração do universo do sertão ( de 20 a 65
páginas de extensão)
“saga”: termo germânico “lenga”+ “rana”: sufixo tupi que
significa “à maneira de”: uma espécie de lenda – contos
lendários – Rosa mobiliza temas míticos do sertão de Minas
Gerais.
Temas centrais são temas universais: bem e mal, vida e
morte, o homem e seu meio, a efemeridade da vida >> forte
simbologia e mitologia.
Linguagem – trabalho dedicado de Rosa: elaborar uma
linguagem do sertanejo original, baseada na oralidade,
com aproveitamento dos regionalismos e criação de
neologismos, adaptados de estrangeirismos >> marca
registrada do autor.
Enredos variados, complexos e diferentes entre si.
“A Hora e Vez” – trata-se do mais proeminente conto
do livro. Relata o percurso de um homem que começa
mandão e prepotente e, ao perder tudo
inesperadamente, vê-se vítima de um atentado, sendo
jogado de um barranco como se estivesse morto.
É recolhido por um casal de negros velhos que moram
num rancho, os quais tratam dele. Voltando à visa,
arrepende-se dos pecados anteriores, tornando-se um
penitente. Torna-se uma espécie de mártir ao imolar-se
no lugar de uma pessoa indefesa. Vai assim ao encontro
da morte: a sua hora e sua vez.
- Temas: o conto condensa vários temas presente no
livro: o sertão, o jagunço, a religiosidade, o amor.
- Tema central: o maniqueísmo – presente em toda a
literatura, sobretudo a romântica – Augusto Matraga
não pode ser encaixado em nenhum dos polos, pois
passa por uma transformação ao longo da história.
A obra exige um horizonte cultural abrangente, o que
pode dificultar a leitura de Guimarães.
O aspecto formal, estilístico e linguístico do texto: as
narrativas do autor tendem a estar carregadas de
neologismos e brincadeiras linguísticas com palavras
de idiomas diversos, além de nomes de lugares,
personagens, da flora e fauna local, que não são
familiares ao leitor.
É através dessa rica linguagem empregada por
Guimarães, que ele irá reinventar miticamente as
formas diversas de uma natureza por si só já
exuberante do sertão de Minas Gerais.
Tempo e espaço: o tempo é indeterminado, o predomínio é
de tempo psicológico – espaço: Norte de Minas Gerais
(Rala-Coco, Murici, Pindaíbas, Tombador)
Foco Narrativo: A novela é narrada em terceira pessoa. O
narrador é onisciente, penetrando nos pensamentos de
Augusto Matraga como se fosse sua consciência.
Protagonista da ação é alçado à condição de um Cristo: Nhô
Augusto deixa o sítio montado num burrinho, considerado
na obra como um elemento sagrado (“... porque mãe
Quitéria lhe recordou ser o jumento um animalzínho assim
meio sagrado, muito misturado às passagens da vida de
Jesus”), já que na Bíblia Cristo entrou em Jerusalém
montado num desses animais.
Focar: a linguagem e os neologismos empregados pelo
autor; o tratamento filosófico existencialista das
narrativas no embate “homem versus universo”; o
aspecto lúdico e mítico das histórias, onde Guimarães
descobre diante dos olhos do leitor uma Minas Gerais
que “não existe”, mas que é reconstruída de uma forma
mágica e diferente daquilo que a gente vê. A
universalização do regional que aborda a questão do
específico como questão amplamente humana.
Nhô Augusto – no início é a figura típica do sertão: um
coronel que dá ordens em todos na região, abusando de seu
poder e humilhando a população.