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Acontece que, enquanto, no passado, o ensino superior estava reservado a uma elite
educada que havia sido preparada para a experiência em escolas que não diferiam tanto
das universidades e em lares que não diferiam tanto daqueles de seus professores, agora a
massificação do ensino superior [...] colocou sobre a mesa diferentes maneiras de pensar,
atuar, valorizar e falar [e escrever], que entram em conflito.
Observações:
a) Neste exemplo, há uma chamada para a citação no próprio texto, com indicação do autor
e ano.
b) Mesmo sendo discurso direto – a voz do outro literalmente – há espaço para a inserção
da voz daquele que escreve e, assim, marcar-se/posicionar-se, também, na citação. No
exemplo trazido, o acréscimo de [e escrever] amplia o foco da discussão acerca das
diferentes maneiras de marcar a subjetividade dos envolvidos.
c) Também quando se suprime [...] parte do texto do autor-fonte, trata-se de uma escolha
de quem escreve.
d) A própria seleção da parte que se deseja citar também é uma escolha. Assim, citar –
mesmo em discurso direto – marca a presença implícita daquele que escreve
(ii) No livro Quem está dizendo isso? Letramento acadêmico, identidade e poder no ensino
superior, a autora aponta uma diferença importante para se compreender a heterogeneidade
dos alunos no ensino superior.
Acontece que, enquanto, no passado, o ensino superior estava reservado a uma elite educada que havia
sido preparada para a experiência em escolas que não diferiam tanto das universidades e em lares que não
diferiam tanto daqueles de seus professores, agora a massificação do ensino superior [...] colocou sobre a
mesa diferentes maneiras de pensar, atuar, valorizar e falar [e escrever], que entram em conflito. (ZAVALA,
2010, p. 72).
Observações:
a) Neste outro exemplo, a indicação do autor e ano está incluída na citação direta.
b) Importante notar que aquele que escreve já faz uma síntese para despertar a atenção para
o está posto na citação, esta síntese já é uma interpretação a partir do texto do outro.
Discurso indireto (na citação indireta)
• Trata-se de um modo de reproduzir o dizer de outra
pessoa, fazendo uso de escolhas próprias de termos de
forma parafrástica; se diz o mesmo (conteúdo), mas se
diz diferente (forma);
• Há nesse processo uma mistura de vozes; a voz do
autor-fonte é somada à voz daquele que escreve, ou
seja, aquele que escreve faz uso da própria voz para
reportar a voz do outro autor. Assim, o que foi dito
pelo outro passa a ser citado indiretamente por meio
de uma elaboração própria, fazendo uso da terceira
pessoa (ele(s)/ela(s)).
(i) Zavala (2010, p. 72) aponta um fator importante para se compreender a heterogeneidade
dos alunos no ensino superior e que caracterizam de modo diferente esses alunos no passado
e na atualidade. A massificação do ensino superior trouxe para a universidade uma classe
social que antes estava fora, uma vez que esse ensino era reservado a uma elite educada e
preparada para a vida acadêmica. Essas diferenças ficam ainda mais evidenciadas nos modos
de pensar, de falar e de agir nesse contexto em que se explicitam os valores de cada um.
(ii)* “Escrever na universidade é difícil!” E por que escrever seria difícil? É certo que nós,
seres humanos, não nascemos biologicamente programados para a escrita tal qual
nascemos para a fala e, para usar a escrita, precisamos empreender um processo de
aprendizagem que implica reciclagem neuronial, de modo que a região occipito temporal
ventral-esquerda possa ser adaptada para o ato de ler – o cérebro faz o novo com o velho
(DEHAENE, 2007; SCLIAR-CABRAL, 2011).
*Obs.: CERUTTI-RIZZATTI, M. E.; CORREIA, K.; MOSSMANN, S. da S. Escrever na universidade: um convite a novos olhares. In: OLIVEIRA, R.
P. de; NUNES, Z. G. (Org.). Letras-Português no EaD: tão longe, tão perto. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2012. p. 126-145
Observações:
a) Na formulação por meio do discurso indireto livre há também uma sobreposição de vozes
tal como no discurso indireto, no entanto, diferentemente do discurso indireto, há uma
abertura para a inclusão do projeto discurso daquele que escreve. A problemática reside no
fato de não ficar delimitado o quê é de quem.
b) Importante ressaltar que a ABNT não registra o uso de “citação indireta livre” a qual
poderíamos notar o uso do discurso indireto livre. Para a ABNT, tratar-se-ia também de
citação indireta. No entanto, temos notado cada vez mais o uso de formulações textuais em
que autores dialogam com outros autores sem marcar o limite de sua voz e da voz do autor-
fonte, finalizando o parágrafo com a indicação de um e/ou vários autor(es) e obra(s) entre
parênteses e sem o uso de verbos dicendi. Nessas ocorrências não nos parecem caracterizar-
se como discurso direto, motivo que nos leva a proposição de “Formulação por meio de
discurso indireto livre”.
c) Sugerimos essa prática na escrita acadêmica como uma possibilidade de se produzir
retomadas teóricas sem incorrer no risco do plágio.
Exercício
[...]
IV. A natureza elétrica dos raios e a invenção dos pára-raios
2. O fogo elétrico ama a água, é fortemente atraído por ela e eles podem
coexistir, 3. O ar é um elétrico por si só e quando seco não conduz o fogo
elétrico [...], 4. A água quando eletrizada, os vapores que dela saem também
são eletrizados e flutuam no ar na forma de nuvens que mantêm o fogo elétrico
até encontrarem outras nuvens ou corpos não tão eletrizados, e então
comunicam [o fogo elétrico] a eles [...] e 33. Quando as partículas eletrizadas
da primeira nuvem próxima perdem seu fogo [elétrico], as partículas de uma
outra nuvem próxima o recebem [...] A colisão ou o solavanco dado no ar
também contribui para derrubar a água, não apenas destas duas nuvens mas
também de outras próximas. Portanto, a queda súbita da chuva imediatamente
acende o relâmpago. (FRANKLIN, 1941, p. 201-206).