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A obra narra a transformação de Gregor Samsa em um inseto gigante após acordar de sonhos inquietantes. Inicialmente preocupado com o atraso para o trabalho, passa a sentir a repulsa da família, exceto da irmã que o alimenta. A metamorfose representa a alienação do homem no capitalismo industrial, onde o trabalhador se vê como uma engrenagem descartável.
A obra narra a transformação de Gregor Samsa em um inseto gigante após acordar de sonhos inquietantes. Inicialmente preocupado com o atraso para o trabalho, passa a sentir a repulsa da família, exceto da irmã que o alimenta. A metamorfose representa a alienação do homem no capitalismo industrial, onde o trabalhador se vê como uma engrenagem descartável.
A obra narra a transformação de Gregor Samsa em um inseto gigante após acordar de sonhos inquietantes. Inicialmente preocupado com o atraso para o trabalho, passa a sentir a repulsa da família, exceto da irmã que o alimenta. A metamorfose representa a alienação do homem no capitalismo industrial, onde o trabalhador se vê como uma engrenagem descartável.
Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto.” A princípio, as suas preocupações passam por pensamentos práticos relacionados com a sua metamorfose, principalmente com o fato de estar atrasado para o trabalho. Depois, as preocupações passam para um nível psicológico e sentimental. Gregor sente-se magoado pela repulsa dos pais à sua metamorfose. Apenas a irmã se digna a levar-lhe alimento, mas mesmo assim repulsa e medo de sua parte também se manifestam. A obra é escrita em 1915 e publicada ainda em vida pelo autor. Franz Kafka (1883-1924) é um escritor tcheco, nascido em Praga. Publicou romances e contos e é considerado pelos críticos literários um dos mais importantes autores do século XX. É autor também de O Processo e O Castelo. Franz Kafka nasceu em 3 de julho de 1883, em Praga, cidade que na época pertencia à monarquia austro-húngara, tendo sido ele um escritor tcheco de língua alemã. Kafka teve a infância e a adolescência marcadas pela figura dominadora do pai, Herrmann Kafka, um abastado comerciante judeu, e de sua esposa Julie, dos quais era o primogênito. Teve outros dois irmãos, que morreram pouco tempo depois de nascer. Cresce sob as influências de três culturas: a judaica, a tcheca e a alemã. Kafka aprendeu alemão como sua primeira língua, contudo era também quase fluente em tcheco. Estudou Direito e Germanística na Universidade de Praga. Frequentou os círculos literários e políticos da pequena comunidade judaico-alemã, na qual circulavam ideias e atitudes críticas e inconformistas, com que se identificava. Concluídos os cursos acadêmicos e de doutorado, trabalhou como advogado e depois como inspetor de acidentes de trabalho, vivendo obscuramente e inconformado com esta vida profissional, que o impedia de se dedicar totalmente à atividade literária. Fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo Realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico.
Com uma série de fracassos amorosos, entregou-se ao
sentimento de solidão e desamparo que nunca o abandonaria. Em 1913, Kafka sofre uma grande crise emocional. Alguns estudiosos afirmam que esta crise foi causada por motivo do rompimento de seu noivado; outros defendem que o autor teria ficado emocionalmente abalado pelos prelúdios da 1ª Guerra Mundial, que teria seu início oficial no ano seguinte. Metamorfose, título escolhido por Kafka, não é casual, remete ao texto de Ovídio, poeta romano do século I d.C, o qual escreve a obra Metamorfoses. Nela, está a criação do homem:
Faltava ainda um animal mais nobre do que estes (mencionados) e
mais capaz de mente elevada e que pudesse dominar sobre os outros. O homem nasceu; ou aquele artista das coisas, origem de um mundo melhor, (o) fez (o criou) com semente divina, ou a terra (ainda) nova e recentemente separada do ar elevado retinha elementos do céu afim (criado com ele); o nascido (filho) de Japeto plasmou esta (plasmou-a) tendo (-a) misturado com as águas dos rios, à imagens dos deuses que regem todas as coisas; e enquanto os outros animais encurvados olham para a terra, deu ao homem um semblante elevado e ordenou (-lhe) que contemplasse o céu e que levantasse aos astros olhares altivos. (OVÍDIO, s/d, p.24-5) O infeliz inseto é uma imagem potente para revelar o triste fim a que chegou a humanidade após séculos.
Enquanto em Ovídio, prevalece uma visão otimista, em que
o homem tem o rosto voltado para o céu para olhar altivamente os astros; em Kafka, predomina o pessimismo, cuja expressão é Gregor Samsa “regredido” à condição de animal, condenado a olhar para o solo. Em Ovídio, o destino do homem é dominar os demais animais, já, em Kafka, o inseto não controla nada, sequer suas próprias pernas. Gênero de origem questionável, a literatura fantástica teria nascido nos fins do século XVIII, tendo sido mais aprofundada no século XIX. “A Metamorfose” relaciona-se com o tal gênero, mas distingue-se em diversos aspectos das narrativas fantásticas mais tradicionais:
- Em primeiro lugar, o acontecimento estranho não aparece depois de
uma série de indicações indiretas, como o ponto alto de uma gradação: ele está contido em toda a primeira frase, logo na abertura da trama. - A narrativa fantástica partia de uma narrativa perfeitamente natural para alcançar o sobrenatural, “A Metamorfose” nasce de um acontecimento sobrenatural para dar-lhe, no curso da narrativa, uma aparência cada vez mais natural; e o fim da história é o mais distante possível do sobrenatural Assim, o fantástico é um modo literário, que é usado para essa quebra diametralmente oposta de perspectiva do universo narrativo. Gênero situado entre o conto e o romance: é uma narração em prosa menor que o romance e maior que o conto; Pluralidade dramática: Ao contrário do que acontece com o conto, a novela pode desenvolver vários enredos ao longo da narrativa, que podem estabelecer conexões entre si. Sucessividade: O enredo é desenvolvido de maneira sequencial, embora essa sequência possa ser alterada ao longo da narrativa. Tempo: Na novela, o tempo é histórico, isto é, determinado pelo calendário e pelo relógio. Espaço: Tempo e espaço são definidos pela pluralidade dramática, pois as ações dos personagens são responsáveis por deslocá-los para diferentes ambientes na narrativa. Personagens: Não há limite de personagens e, ao longo da trama, novos podem surgir, assim como outros podem ser retirados da trama, tudo em prol do fio narrativo. Enredo: Diferentemente do que acontece com o romance, cuja extensão é maior (o que permite um ritmo mais lento), a novela segue geralmente um ritmo mais acelerado. Linguagem formal – Kafka nos apresenta todo o processo de transformação de Samsa e sua posterior vivência transmutado em inseto a partir de uma linguagem forma, quase protocolar, em que os elementos trazidos revelam uma expressão pontual e objetiva. Descritivismo – Desde o cenário até a ação do conto são intensamente descritas pelo autor. O descritivismo permite a aproximação do leitor com o conto na medida em que lhe permite imaginar em detalhes os ambientes e as ações das personagens. Frieza na descrição e na narração – Kafka nos apresenta um angustiante processo de metamorfose a partir de um tom frio, quase de relato. A não exaltação, aliás, passa inclusive por Samsa, cujos pensamentos nos são apresentados no mesmo tom de frieza, quase indicando uma normalidade. Esse tom reforça a impessoalidade da narração. Forma: o conto é dividido em três partes. Na primeira, narra-se o processo de mudança de Samsa em um inseto e as primeiras reações a isso. A segunda parte apresenta a rendição de Samsa à sua transformação. Por fim, é narrado o perecimento da personagem. Apresentação direta da ação – a transformação de Samsa é apresentada objetiva e impassivelmente, logo na primeira sentença da obra, o que causa um estranhamento na leitura e o incômodo do leitor. O ponto culminante da obra é atingido quando Gregor Samsa, protagonista transformado em inseto, deixa de ser capaz de se expressar na linguagem humana. Gregor perde a capacidade da fala e da escrita e, com isso, de se comunicar. Mas a metamorfose de Gregor vai além da modificação física e cognitiva: embora não seja mais capaz de se comunicar pela linguagem, exilado no seu silêncio, seus pensamentos, raciocínios e sentimentos continuam sendo humanos. Gregor passa também a analisar as coisas que o rodeiam com muito mais atenção. Kafka era um judeu nascido no Leste Europeu, falante de alemão, que estudou na Áustria e morava na Suíça. A escrita do livro ocorre em um momento importante do século XX: o florescimento do capitalismo na Europa por meio da industrialização e a explosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Trabalhou na empresa do pai, o qual era extremamente
autoritário com seus funcionários. Kafka não se adaptou a essa situação. A Metamorfose nos apresenta uma série de questionamentos sobre a bizarra transformação de um homem em um inseto repugnante, provavelmente uma barata.
- Por que ocorre essa transformação?
A primeira questão digna de atenção é na realidade o cerne do livro, mas que em nenhum momento é posta em pauta: o porquê da metamorfose de Gregor Samsa. Em nenhum momento o protagonista se pergunta o motivo que terá desencadeado o seu processo transformatório de homem em inseto. No estilo “kafkiano” de escrever, o autor traz, através de metáforas, a denúncia sobre as graves violações ocorridas à Dignidade da Pessoa Humana. O livro “A Metamorfose” nos mostra um indivíduo excluído do sistema de relações humanas, subtraído da qualidade inerente à sua personalidade, sem autonomia e autodeterminação. Um indivíduo do qual furtaram a própria dignidade. A metáfora de Samsa apresenta a situação do homem que foi gradativamente perdendo contato com sua dimensão mais humana. No modo de produção pré-capitalista, o trabalhador é explorado, mas seu saber se mantém preservado, ele percebe claramente que seu trabalho é responsável pela produção, a alienação é apenas do corpo. No capitalismo industrial (e também no financeiro), a situação se modifica drasticamente. O trabalhador não se reconhece no produto, ele passa a ser uma engrenagem da grande máquina projetada pelos especialistas e comprada pelos patrões. A sua relação com o processo produtivo está definido por um contrato no qual ele vende a sua força de trabalho e o patrão a compra. O valor do salário que passa a ser a medida de seu reconhecimento. Quando se torna um inseto, Samsa está impedido de trabalhar, logo não gera valor econômico. Perde, assim, seu valor como indivíduo na sociedade capitalista. O trabalho é o lugar da purgação, é o fardo da sobrevivência. O trabalhador só se realiza em suas atividades animais: comer, dormir, copular. O trabalho na sociedade capitalista não permite que o trabalhador se sinta ligado aos demais homens. Por não se reconhecer no trabalho, ele não reconhece parte essencial do ser humano enquanto espécie, sua vida não está ligada à dos demais. Em síntese, alienado de seu trabalho, de sua humanidade e dos outros homens, a alienação é total no capitalismo. Samsa transforma-se em um parasita, em um estorvo à sua família: mudança da posição de provedor para a situação de parasita.
Em Carta ao Pai, Kafka queixa-se de que seu pai o vê como parasita.
Parasita: sem a função de trabalhador e provedor da casa, Samsa torna-
se o parasita, não produz valor econômico nem social – o homem que não produz valor econômico é parasitário à sociedade.
“Toda uma geração de jovens intelectuais judeus nascidos no final do
século XIX, atraídos pela visão romântica do mundo e aspirando intensamente a uma vida dedicada à arte, à cultura ou à revolução, vai romper radicalmente com a geração dos pais burgueses”. (LÖWY, 2005, p. 63).
Autoritarismo familiar: característica do Império Áustrio-Húngaro –
desde o Kaiser à posição do pai: poder do pai e do Estado “sem limites”.