Guerra de independência de Angola: MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em luta contra as tropas portuguesas. Relógio histórico/ documento social sobre Angola em sua fase de independência. História reconstruída a partir da visão de um guerrilheiro que participa da luta pela libertação Denúncia do massacre, da pobreza, da fome, e corrupção do período pós-colonial, bem com seus impactos sociais. Narrativa bélica
Metalinguagem: o próprio narrador reconhece a característica fílmica do
romance Projeto Literário: denúncia das injustiças sociais por parte dos personagens engajados na luta da libertação, bem como as incoerências internas dessa luta, com suas especificidades. Confronto não só com os inimigos naturais da floresta, mas também com questões que envolvem diferenças culturais e étnicas. Dedicatória: como uma proposição, característica do épico “ Aos guerrilheiros do Mayombe, que ousaram desafiar os deuses abrindo caminho na floresta obscura, Vou contar a história de Ogun, o Prometeu africano. Pepetela é o pseudônimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, um escritor angolano que nasceu em Benguela, 29 de Outubro de 1941. A sua obra reflete sobre a história contemporânea de Angola, e os problemas que a sociedade angolana enfrenta. Durante a sua adolescência, um tio seu que era jornalista, introduziu-lhe a uma variedade de pensadores da esquerda. Durante os seus anos do liceu em Lubango, Pepetela também foi influenciado por um padre esquerdista chamado Noronha, que lhe informou sobre a revolução e outros eventos contemporâneos. Participou como guerrilheiro e por isso tem plenas condições de mostrar as incoerências das lutas internas Contexto Histórico
Guerra de Independência de Angola, também conhecida como Luta
Armada de Libertação Nacional foi um conflito armado entre as forças independentistas de Angola (UPA/FNLA (China), MPLA (URSS) e UNITA(EUA) e as Forças Armadas de Portugal, que até então dominavam a colônia angolana. A guerra teve início em 4 de Fevereiro de 1961, durou mais de 13 anos e terminou com um cessar- fogo em Junho (com a UNITA) e Outubro (com a FNLA e o MPLA) de 1974. A independência de Angola foi estabelecida a 15 de Janeiro de 1975, com a assinatura do Acordo do Alvor entre os quatro intervenientes no conflito. Independência não configurou paz, mas revelou as diferenças ideológicas internas de ordem tribal, étnica e cultural entre os angolanos: MPLA- URSS, UNITA- EUA, FNLA- China Fragmentação polifônica
Polifonia: vários focos narrativos, há um narrador onisciente que dá uma
unidade ao enredo, mas este se intercala com as vozes de cada personagem que narra em primeira pessoa os fatos Cada narração tem sua especificidade, sua visão da luta e do espaço, relacionada à diversidade étnica e cultural de cada integrante da guerrilha. Ecletismo narrativo. Traço comum: insatisfação quanto ao colonizador X interesses particulares 5 capítulos + epílogo Um narrador em 3 pessoa e os demais em 1 Cada narrador é a representação de uma tribo diferente e da sua respectiva cultura. Mestiço: Teoria- professor da Base Mundo Novo: marxista Muatiânvua: destribalizado ( mistura de raças, ausência de identidade) Relação entre Sem medo e comandante do grupo ( pai e filho) Sem medo: personalidade formada, Comissário: sofre ritos de passagem, aprendizagem, Comandante: herói épico Comissário: falhas, herói romanesco Personagens alegóricos: nomes de combate Importante: humanização dos personagens, expõe as entranhas do movimento: racismo, corrupção, machismo Aproximação com a Odisseia : heróis com características humanas Exceção: Ondina: perpassa toda a história: sedutora, atraente, inverso do machismo ao declarar os desejos, questiona a atitude dos homens:valores liberalistas X tradição africana) Mayombe: floresta no norte de Angola, arvores com mais de 50 metros, imponentes Produtora de metais e petrolífera Antropomorfização da Floresta Dicotomia: a floresta mata e ao mesmo tempo abriga Alimento: comunas ( sementes, espécie de amêndoas que servia de refeição para os combatentes) Nome inspirado no comunismo, movimento apoiado pela URSS Eu sou teoria- IDENTIDADE
Eu, O Narrador, Sou Teoria.
Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura de café, vinda da mãe,misturada ao branco defunto do meu pai, comerciante português. Trago em mim o inconciliável e é este o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez. Talvez é não, para quem quer ouvir sim e significa sim para quem espera ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar o talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta. Entre Manuela e o meu próprio eu, escolhi este. Como é dramático ter sempre de escolher, preferir um caminho a outro, o sim ou o não! Porque no Mundo não há lugar para o talvez? Estou no Mayombe, renunciando a Manuela, com o fim de arranjar no Universo maniqueísta o lugar para o talvez. Personificação da floresta: A base
O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram
uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do teto foi transportado de longe, de perto do Lombe. Um montículo foi lateralmente escavado e tornou-se forno para o pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais. A folhagem da abóbada não deixava penetrar o Sol e o capim não cresceu em baixo, no terreiro limpo que ligava as casas. Ligava, não: separava com amarelo, pois a ligação era feita pelo verde. Assim foi parida pelo Mayombe a base guerrilheira. A comida faltava e a mata criou as «comunas», frutos secos, grandes amêndoas, cujo caroço era partido à faca e se comia natural ou assado. As «comunas» eram alimentícias, tinham óleo e proteínas, davam energia, por isso se chamavam «comunas». E o sítio onde os frutos eram armazenados e assados recebeu o nome de «Casa do Partido». O «comunismo» fez engordar os homens, fê-los restabelecer dos sete dias de marchas forçadas e de emoções.