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mentais
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Cognição, emoção e conação
O saber, o sentir, o fazer
10. Caracterizar a mente
como um conjunto integrado
de processos cognitivos,
emocionais e conativos
Como se relacionam e
integram os diferentes
processos mentais? O que é
pensar?
Os processos mentais são de
natureza cognitiva, emotiva e
conativa, que correspondem
às dimensões do saber, sentir
e agir; conceito de
pensamento.
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Perceção, memória e
aprendizagem
11. Explicar o carácter específico
dos processos cognitivos
O que é a cognição? O que são
processos cognitivos? Como se
caracterizam perceção, memória
e aprendizagem? Qual o seu
papel na cognição?
Os processos cognitivos
correspondem aos processos de
criação, de transformação e de
utilização da informação do meio
interno e externo; estão
associados à questão «O QUÊ?»;
conceitos de perceção, memória
e aprendizagem;
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Emoção, afeto e sentimento
Marcador somático
12. Explicar o carácter específico dos
processos emocionais
O que é a emoção? Como se distinguem
emoções, afetos e sentimentos? O que
são processos emocionais? São universais
ou específicos de determinada cultura? O
que é um marcador somático?
Os processos emocionais correspondem
às vivências de prazer e de desprazer e à
interpretação das relações que temos
com as pessoas, os objetos, as ideias;
estão associados à questão «COMO?»;
conceitos de emoção, afeto, sentimento e
marcador somático.
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Intencionalidade e tendência
Esforço de realização
13. Explicar o carácter específico dos
processos conativos
O que é a conação? O que são processos
conativos? Como é que a vontade intervém
na concretização de um comportamento? O
que é a intencionalidade? Qual o seu papel
no quotidiano?
Os processos conativos correspondem a
dimensão intencional da vida psíquica; a
intencionalidade implica que visamos
sempre algo diferente de nós próprios,
mantendo-nos em tensão, implicando-nos
num esforço que visa um fim; estão
associados à questão «PORQUÊ?»; conceitos
de intencionalidade, tendência e esforço de 6
realização.
A vida psíquica é
intencional porque a
mente visa sempre
algo diferente dela
própria,
reconstruindo-se
permanentemente
através da integração
de processos
cognitivos,
emocionais e
conativos, naquilo
que uma identidade
assume como seu.
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Palavras-chave Afeto
Mente Sentimento
Processo cognitivo Marcador
Processo emocional somático
Processo conativo Intencionalidade
Perceção Exemplos:
Memória Pulsão como
Aprendizagem conceito
Emoção integrador destas
dimensões
Conceções sobre
inteligência
Medo
Teorias de
António Damásio
e Castro Caldas
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EU - A mente e a
integração das dimensões
cognitiva, emocional e
conativa
Compreender que a
identidade é um processo
que especifica cada ser
humano a partir da
história da sua mente.
Como é que o ser
humano dá sentido a si
próprio e ao mundo?
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Natureza biológica e sociocultural da mente
Necessidade e desejo
14. Identificar dimensões biológicas e sociais nestes processos
É a necessidade ou o desejo que especificam o ser humano?
A deriva permanente do desejo relativamente à necessidade constitui
o mundo humano; existe contaminação entre a natureza biológica e
sociocultural da mente (alimentação e sexualidade). 10
Conhecer o mundo
Relacionar-se com o mundo
Agir sobre o mundo
15. Analisar o papel destes processos na vida quotidiana
Qual o efeito da cognição, da emoção e da conação na relação
com o outro?
Na vida quotidiana, conhecemos o mundo relacionando-nos
com ele e agimos sobre ele.
Pensamento e ação
Auto-organização e imaginação
16. Analisar a mente como um sistema de construção do mundo
A mente reproduz um sentido pré-constituído ou é criadora de
sentido?
A mente não cria a realidade, mas cria o sentido que atribuímos
à realidade; conceitos de pensamento e de ação; conceitos de
imaginação e de auto-organização; papel destes na atribuição
de sentido. 11
Unidade e diversidade dos seres
humanos
Inscrição mental das histórias de vida
Identidade
17. Analisar a identidade como fator
distintivo entre os seres humanos
O que é a identidade? Como se
constrói a identidade?
É um processo fixo?
- A identidade é um processo de
natureza bio-relacional; constitui-se
como o sentido integrador da
totalidade das experiências do
indivíduo e é o resultado da inscrição
na mente da nossa história biológica e
relacional; desenvolve-se ao longo da
vida. 12
- O psíquico é autónomo, mas emerge do
somático; enquanto o segundo está relacionado
com as funções de autoconservação, com
necessidades e finalidades com um fim, o primeiro
está relacionado com as funções de auto-
organização, com o desejo e as finalidades sem um
fim.
Palavras-chave
Mente
Pensamento
Imaginação
Identidade
Exemplos:
Stress
Distúrbios de identidade
Criação artística 13
A mente humana é um sistema
integrador de processos (conscientes e
inconscientes) de natureza muito
diversa. Estes processos, fundamentais
para a interação com o mundo e para a
capacidade adaptativa das pessoas, são
de natureza cognitiva (conhecer),
emocional (sentir) e motivacional/
/conativa (agir) e associam-se,
respetivamente, às questões “o quê?”,
“como?” e “porquê?”. Cada um deles
tem uma importância vital na
operacionalidade dos demais,
afetando-os e sendo por eles afetado.
Dado este seu caráter complexo e
dinâmico, nenhuma dimensão da
mente é fácil de investigar.
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Os processos cognitivos
incluem aspetos relacionados
com a criação, transformação e
utilização de informação, ligando
os meios interno e externo
Os processos emocionais
integram aspetos ligados coma
dimensão afetiva e sentimental
das nossas vivências e a
avaliação das interações que
estabelecemos.
Os processos motivacionais
ou conativos abrangem os
aspetos associados às intenções
e à energia que direcionamos
para a realização e concretização
das nossas vontades.
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A cognição é o conjunto de mecanismos através dos
quais cada um de nós adquire, trata conserva e explora
a informação produzindo conhecimento. São
importantes as funções que asseguram ao organismo os
ganhos de informação necessários às suas trocas ativas
com o meio: sensações, perceção, atenção, memória,
aprendizagem e inteligência.
Sensação e perceção
Visão, audição, olfato, paladar e tato são os nossos
cinco sentidos. Mas, atualmente, os cientistas
defendem que temos mais sentidos. Assim, acreditam
que a pele, o órgão do tato e da pressão, está
igualmente envolvida em muitas outras sensações
(como a de calor, frio e dor ou a de comichão e
cócegas), que o ouvido é também responsável pela
sensação de equilíbrio e que os músculos esqueléticos
são essenciais para a sensação de movimento corporal.16
Ainda que não exista consenso sobre o número de sentidos
que possuímos, não restam dúvidas que todos eles são
importantes para a nossa sobrevivência e interação com o
mundo, alertando-nos para as condições e perigos do meio.
O ponto de partida das sensações são os recetores
sensoriais, isto é, as células localizadas nos órgãos dos sentidos.
São eles que permitem transformar a energia do estímulo
(luminoso, mecânico ou químico) num impulso elétrico.
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A linguagem e as relações
interpessoais são fatores centrais
nestes processos e a sua
ausência repercute-se numa
deformação das capacidades de
autorreconhecimento e auto-
consciência, dois elementos
essenciais na construção e reava-
liação permanentes da
identidade pessoal e da história
de vida, ou seja, da forma como
sentimos, pensamos e auto-
organizamos as nossas experiên-
cias. No fundo, na forma como
atribuímos significado à nossa
existência e história pessoal.
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Cognição – todas as formas de
conhecimento e consciência, tais
como: perceber, memorizar,
aprender, raciocinar, imaginar,
resolver problemas, etc.
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A perceção refere-se ao processamento
posterior da informação sensorial, cujo resultado
são as representações ou construções mentais dos
estímulos. A perceção corresponde, assim, ao
processo que nos permite, por exemplo, mais do
que formas e cores, reconhecer pessoas importantes
nas nossas vidas, atribuir sentido e significado a um
pôr do sol no verão, a uma composição musical e até
mesmo à nossa comida favorita.
A organização percetual, isto é, a forma como
percebemos o que nos rodeia, envolve que
organizamos a realidade separando figura e fundo e
agrupando as unidades percetivas de modo a
ganharem significado. Por exemplo, enquanto lês
este texto distingues as letras (figura) do papel
branco onde estão impressas (fundo) e agrupa-las
(em palavras e frases) de forma a fazerem sentido
para ti. 21
Aquilo que num dado momento é
percecionado como figura ou forma
pode não o ser caso a perspetiva do
observador se altere.
Os princípios que os psicólogos da
forma identificaram são frequente-
mente usados, por exemplo, em
marketing e publicidade.
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A verdade é que o trabalho do cérebro
como gravador é francamente mau. A memória
humana está muito longe de ser um registo
fotográfico fiel e objetivo de factos e
acontecimentos. Inclui esquecimentos (que
aumentam progressivamente com a idade),
distorções, falsas atribuições e, inclusivamente,
efabulações e mentiras descaradas, mesmo que
inconscientemente construídas.
Constantemente modificada ao longo da
experiência, a memória humana é construída
reconstruída a cada instante, sofrendo
influências permanentes da educação, da
comunicação com os outros, da interpretação
pessoal dos acontecimentos e dos factos, da
leitura e dos meios de comunicação social, dos
valores e anseios, enfim, da imagem que temos
de nós próprios, dos outros e do mundo. 30
Memória, esquecimento e
imaginação caminham lado a
lado na construção das nossas
experiências pessoais.
É perfeitamente possível
não apenas alterar recorda-
ções, por exemplo, em função
de informação, factos ou
sugestões subsequentes,
como, inclusivamente,
implantar falsas memórias -
aquando dos depoimentos, a
distorção da memória é um
fenómeno comum ao longo
do tempo e em determinadas
situações.
31
O psicólogo Daniel Schacter identificou, em 1999, o que
designou por sete pecados da memória. Estes pecados são
erros da memória, familiares à maioria de nós, uma espécie
de preço que pagamos por sermos capazes de recordar.
Transitoriedade – redução ou deterioração da memória com
o passar do tempo.
Desatenção - redução da memória por não termos
prestado atenção suficiente.
Bloqueio – incapacidade de recordar informações
necessárias.
Má atribuição – atribuição de uma memória à fonte errada.
Sugestionabilidade – alteração das memórias devido a
informações enganadoras.
Viés – influência de conhecimentos atuais sobre as
memórias.
Persistência – ressurgimento de memórias indesejadas ou
perturbadoras.
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Vários dos pecados da memória prendem-se com o
esquecimento. Mas porque é que esquecemos?
Existem várias explicações para o esquecimento. Umas
referem a possibilidade de ter havido uma codificação ineficaz
da informação, outras apontam uma simples falha momentâ-
nea do nosso processo de evocação, outras ainda surgem asso-
ciadas lesões que danificam não só os sistemas de recuperação
de memórias como os de geração de novas memórias.
Existem, ainda, duas outras teorias sobre o esquecimento
amplamente aceites.
Teoria da interferência – defende que há uma competição
entre informação, isto é, que as novas informações se
intrometem levando-nos a distorcer ou a esquecer as
anteriores.
Teoria da degradação – postula que o fragmento original de
informação vai, por si só, desaparecendo gradativamente, como
um risco de tinta que se desvanece com o tempo, a menos que
façamos algo para o manter intacto. 33
Embora a maior parte de nós lamente o esquecimento, constatando
com frustração que, por exemplo, esqueceu conteúdos importantes
para os testes de avaliação, os nomes de amigos de infância ou o nome
dos sete anões, imagina como seria a vida se não pudéssemos esquecer.
Pensa como seria sermos torturados por um cérebro atulhado de
informação com detalhes que prejudicam a nossa eficiência e raciocínio
abstrato. Como poderíamos aceder a um conceito tão elementar como
“cão” se não fossemos capazes de esquecer as características individuais
de mil cães particulares?
Portanto, não nos deve surpreender que o esquecimento seja a
condição sem a qual não poderemos continuar a recordar. É preciso,
constantemente, adquirir e esquecer. O esquecimento é não apenas
uma realidade inerente à memória como também, e essencialmente,
uma necessidade.
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Sabichão
Tímido
Atchim
Feliz
Mudo
Soneca
Zangado
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Aprendizagem
A maioria das pessoas associa automaticamente a noção de
aprendizagem à aquisição de uma nova conduta ou resposta:
aprender a conduzir, aprender a ler, aprender a andar de
bicicleta, aprender uma língua estrangeira, aprender a tocar um
instrumento, etc. Contudo, aprender não é apenas adquirir, é
também, por exemplo, abandonar condutas consideradas
impróprias ou desajustadas, aprender a não dizer palavrões ou
a não roer as unhas, por exemplo.
A aprendizagem:
(i) não se reduz a conhecimentos factuais, isto é, todos os
comportamentos – incluindo habilidades motoras e
relacionamento social – dependem virtualmente da
aprendizagem, que está envolvida em toda e qualquer área do
conhecimento e do comportamento.
(ii) não é sempre correta, sendo possível adquirir
conhecimentos incorretos, adotar maus hábitos e responder
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inadequadamente a situações.
(iii) não é sempre necessariamente intencional
e deliberada, dada que uma parte significativa
do repertório aprendido foi adquirido,
subtilmente, através do processo de
socialização.
e (iv) não é diretamente observável, sendo
inferida a partir do comportamento observável.
Só se pode concluir algo sobre o que foi
aprendido a partir do desempenho dos
indivíduos numa dada situação.
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Os estudos de Wolfgang Köhler
sobre a inteligência dos chimpanzés e
a sua capacidade de resolução de
problemas provaram que estes não
se limitam a aprender por tentativa e
erro, mas aprendem também por
insight (compreensão súbita).
Köhler introduziu a ideia da
reestruturação do campo percetual.
Assim, quando se colocou a vara
junto das grades da jaula, mais
próxima da fruta, os dois elementos
foram percebidos como parte
integrante da mesma situação-
problema. Foi então fácil para o
chimpanzé utilizar a vara para puxar a
fruta para junto de si.
50
Na segunda situação, contudo, a
distância existente entre os dois
elementos do problema – a banana fora
da jaula e a vara colocada no interior da
jaula – implicou uma reestruturação do
campo percetual, isto é, a compreensão
dos dois elementos como parte
integrante do mesmo problema. Para que
ocorresse esta reestruturação, seria
necessário o insight ou compreensão
súbita – a compreensão ou solução
imediata do problema -, uma forma de
aprendizagem resultante de várias
tentativas que fornecem a assimilação
das relações entre elementos.
51
Edward Tolman apresentou
evidências de uma aprendizagem
latente, baseada em mapas
cognitivos. Para ele, com base nas
suas experiências com ratos num
labirinto, o resultado era claro. Os
ratos que não recebiam recompensa
tinham criado mentalmente o mapa
do labirinto durante as suas
deambulações, mas não manifesta-
ram esta aprendizagem latente até o
reforço ser introduzido na
experiência. Os ratos são cobaias
frequentes nos laboratórios da
ciência em geral e da psicologia em
particular. Apesar de comum, o
recurso a animais não humanos não
está isento de polémica.
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Albert Bandura, apesar de reconhecer, à semelhança
de Skinner, a influência dos esquemas de reforço externo
na aprendizagem, defendia também a possibilidade de
haver mudança comportamental sem existência de refor-
ço direto, através do que denominou reforço vicariante.
Foi Bandura o psicólogo que, em meados do século
passado, formulou a teoria da aprendizagem social e nos
ensinou que uma boa parte do comportamento humano
é adquirida por modelagem. Bandura destacou quatro
condições necessárias para que uma pessoa se
transforme com sucesso num modelo de comportamento
para alguém: atenção, retenção, reprodução e
motivação. Primeiro, há que prestar atenção ao modelo,
depois, guardar o que se viu ou ouviu para que se possa
imitá-lo sem erro e, por fim, é importante que exista um
bom motivo para que o comportamento seja integrado
no conjunto de respostas do sujeito, por exemplo, a
expectativa de uma recompensa. 53
Esta forma de reforço distingue-se claramente do reforço direto, em
que o próprio sujeito recebe um prémio a seguir ao comportamento
desejado. Independentemente de se tratar de um reforço direto (o
comportamento do agente é reforçado) ou vicariante (o
comportamento do modelo observado é reforçado), a conduta passa a
fazer parte do conjunto de respostas comportamentais do sujeito.
Ao acreditar que o ser humano pode aprender uma extensa gama
de comportamentos, bastando para tal observar um modelo, avaliar as
consequências da sua conduta e decidir conscientemente realizar ou
não um comportamento semelhante ao observado. Bandura defende
que o processo cognitivo é essencial para a aprendizagem.
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Com um célebre estudo realizado
em 1961, envolvendo um boneco
insuflável chamado Bobo, Bandura
iniciou uma importante discussão, que
ainda hoje se mantém, sobre a
aprendizagem de comportamentos
violentos.
Um grupo de crianças observa um
adulto, satisfeito, a gritar (grupo de
controlo) e a maltratar fisicamente o
boneco Bobo (condições agressivas).
Um segundo grupo de crianças
observa um adulto, satisfeito, a brincar e
a ignorar o boneco Bobo (condições não
agressivas).
Um terceiro grupo não observa
qualquer adulto no espaço (grupo de
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controlo).
Na segunda etapa do estudo, todas as crianças brincam na sala,
onde se encontram diversos brinquedos, incluindo o boneco Bobo. As
crianças do primeiro grupo tendem a imitar o que observaram,
agredindo o boneco e inventando, inclusivamente, novas formas de o
fazer. Estas crianças revelam também maior agressividade para com os
outros brinquedos da sala.
As crianças que observaram o adulto ignorando o boneco Bobo são
as menos agressivas, inclusivamente se comparadas com as do grupo de
controlo. Este estudo parece confirmar a hipótese de Bandura de que as
crianças aprendem a comportar-se de forma agressiva mediante a
observação e imitação da conduta violenta dos adultos, sobretudo em
meio familiar. 56
No dia a dia, aa duas perspetivas
(comportamental e cognitiva) são
fundamentais
Enquanto na aprendizagem
comportamental o enfoque está apenas
nos eventos observáveis, na
aprendizagem cognitiva são feitas
inferências sobre os processos mentais
que não são diretamente observáveis
(por exemplo, mapas mentais de um
labirinto). No primeiro caso, a
aprendizagem resulta da associação
entre estímulos e respostas; no segundo
caso, a aprendizagem decorre do
processamento da informação (isto é, o
aprendiz procura a informação mais
relevante do estímulo).
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Inteligência
De acordo com as perspetivas atuais, a
inteligência compreende e interliga os diferentes
processos cognitivos e o conjunto das funções
mentais.
Tratando-se de um conceito com uma forte
componente intracultural, isto é, gerado dentro de
uma determinada cultura, a noção de inteligência
encerra inúmeras definições e questões, entre elas
as que se prendem com a sua estrutura e
organização. A inteligência é hereditária? O meio
afeta a inteligência? A inteligência envolve diversas
capacidades e habilidades ou é uma unidade?
Os indivíduos parecem tender a apresentar um
nível consistente de desempenho numa variedade
de tarefas diferentes. Esta descoberta conduziu à
ideia de “inteligência geral” e à teoria de Charles
Spearman. 58
Inteligência – capacidade de o indivíduo
assimilar conhecimentos, recordar
acontecimentos remotos ou recentes, utilizar
corretamente o pensamento e a razão,
aprender com a experiência, enfrentar com
sensatez e precisão os problemas, adaptar-
se ao ambiente e estabelecer prioridades
entre um conjunto de situações.
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Teoria multifatorial da
inteligência – Thurnstone propôs a
existência de várias aptidões, diversas
na sua natureza e relativamente
independentes entre si, podendo,
todavia, cada uma delas entrar com
pesos diferentes em várias atividades.
62
Dois psicólogos e investigadores
contemporâneos, Howard Gardner e
Robert Sternberg, propuseram a
existência de múltiplas inteligências.
As suas teorias permitem uma leitura
mais dinâmica da inteligência e
análise mais completa e aprofundada
dos processos estratégicos e
componentes que tornam possível o
ato inteligente.
Gardner escolheu
propositadamente o termo
“inteligência” para entrar em
controvérsia com aqueles que
colocam a lógica e a linguagem numa
posição privilegiada, descurando, ou
mesmo discriminando, outras
competências. 63
Este autor propôs a teoria das inteligências
múltiplas, segundo a qual as capacidades
cognitivas humanas envolveriam oito
inteligências.
A inteligência linguística e a inteligência
lógico-matemática são predominantemente
avaliadas pela escola.
A inteligência corporal-cinestésica, a
inteligência musical e a inteligência espacial
estão normalmente associadas às artes.
A inteligência interpessoal e a inteligência
intrapessoal são o que Howard Gardner
denominou por inteligências pessoais ou
existenciais.
A inteligência naturalista foi incluída na teoria
em resultado de descobertas neurobiológicas
recentes sobre o funcionamento do córtex
cerebral. 64
Os efeitos de lesões cerebrais, a
existência de indivíduos portadores da
síndrome de savant, de sobredotados e de
outros indivíduos excecionalmente
talentosos em áreas específicas conduziram
Gardner à constatação da independência
entre as diferentes capacidades cognitivas.
Se é verdade que cada pessoa, em grau
distinto, cada uma delas, a forma como
cada uma mistura ou combina os diversos
tipos de inteligência gera múltiplas formas
de comportamento inteligente.
65
Por seu lado, Sternberg defende que a inteligência é
uma súmula de três inteligências (ou de três maneiras
diferentes de se ser inteligente).
Inteligência criativa ou capacidade para ira além dos
dados, planear, criar e inventar ideias novas e
interessantes que permitam resolver problemas
novos.
Inteligência analítica ou capacidade para analisar,
comparar e avaliar ideias, resolver problemas
conhecidos e tomar decisões.
Inteligência prática ou capacidade para transformar a
teoria em prática, isto é, transformar as realizações
humanas abstratas em produções práticas.