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UNIDADE 8

A construção da ciência
A ciência

O valor intrínseco da ciência é independente do seu valor


prático. Da saúde à agricultura, a sua influência sobre a nossa
qualidade de vida é extraordinária. Apesar de algumas das suas
aplicações tecnológicas serem uma fonte de preocupação, o
balanço geral é claramente favorável à ciência.

Características que distinguem a ciência:


• Tem métodos de investigação estabelecidos que podem ser usados por qualquer
investigador.
• Tem resultados repetíveis  qualquer investigador tem de obter os mesmos
resultados nas mesmas circunstâncias e aplicando os mesmos métodos.
• Revela geralmente uma convergência para a verdade.
• Testemunha um acordo significativo entre os investigadores, ou mesmo
unanimidade, sobre o que é a verdade.

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A ciência

Para sermos pessoas cientificamente informadas, Ciência


não basta conhecermos resultados relevantes da
ciência. Precisamos de compreender o raciocínio
que os justifica e o método que os valida. Só nesse Método Raciocínio
caso teremos uma noção do processo de aquisição
do conhecimento científico e saberemos avaliar o Valida o Justifica o
conhecimento conhecimento
alcance da informação científica que ele
proporciona.
Se não percebermos o raciocínio que justifica esse conhecimento e o método que o
valida, a avaliação que dele fizermos será limitada.

Uma primeira distinção que é conveniente fazer é a que se verifica entre:


• conhecimento científico;
• conhecimento vulgar ou senso comum.

Serão duas formas de conhecimento radicalmente diferentes?

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A ciência

 A relação entre a ciência e o senso comum

Existem duas posições conhecidas sobre como se processa a relação entre a


ciência e o senso comum :

• A primeira defende que entre a ciência e o senso comum há uma diferença


radical, uma vez que geralmente o senso comum raciocina mal e de forma
descuidada, enquanto a ciência raciocina cuidadosamente e bem  entre
os dois há uma rutura que nada poderá suavizar;

• A segunda defende que a ciência é apenas um aperfeiçoamento do


raciocínio já conduzido pelo senso comum  neste caso, entre os dois há
uma relação de continuidade.

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A ciência

□ A relação de rutura entre a ciência e o senso comum

Esta posição defende que o senso comum não merece a nossa confiança. As
crenças erradas que aceita resultam de raciocínios incorretos. Por isso, a nossa
relação cognitiva com o mundo é assegurada apenas pelo conhecimento
científico, o único conhecimento genuíno do mundo.

O senso comum é também muito permeável a erros no uso das condicionais e


a falácias que um domínio elementar da lógica permitiria evitar. Um outro
aspeto importante das limitações cognitivas do senso comum é a sua confiança
ingénua na observação.

A história da ciência mostra que muitos progressos no conhecimento da


Natureza e do universo exigiram uma atitude cética relativamente à fiabilidade
do nosso equipamento percetivo. Isso implicou a defesa de ideias a que o
senso comum teimosamente resistiu.

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A ciência

□ A relação de continuidade entre a ciência e o senso comum

Esta posição é favorável ao senso comum, aceite como um elemento útil da


nossa relação cognitiva com o mundo. Ainda que envolva uma física e uma
psicologia básicas, o senso comum favorece a nossa adaptação às circunstâncias
habituais da vida.

O senso comum caracteriza-se por raciocinar de uma maneira semelhante à da


ciência. Os defensores desta posição dizem que o raciocínio típico do senso
comum, como na ciência, é indutivo. O senso comum prevê e generaliza a partir
dos dados da experiência atual e da experiência acumulada.

Por essa razão, o senso comum sabe que as suas crenças podem ser revistas à
luz de nova informação extraída da experiência. Isto quer dizer que o senso
comum tem capacidade de autocrítica e não é tão conservador como se
imagina.

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A ciência

□ A relação de continuidade entre a ciência e o senso comum (cont.)


Também a ciência está por natureza aberta a revisão e aprende com a lição da
experiência. Aperfeiçoa o processo de conhecimento já iniciado pelo senso comum.

A ciência é mais sistemática e rigorosa do que o senso comum porque:


• tem uma forte preocupação de articular o conhecimento num sistema coerente;
• procura conhecer e controlar os fatores relevantes de um dado fenómeno e
descrever as suas explicações e previsões numa linguagem precisa.

Ciência e senso comum


Relação de rutura Relação de continuidade
• O senso comum raciocina de forma • O senso comum, embora seja menos
incorreta. sofisticado e rigoroso, raciocina de
• A ciência raciocina cuidadosamente. forma semelhante à da ciência.
• A ciência aperfeiçoa o raciocínio
iniciado pelo senso comum.

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A construção racional da ciência

Encaramos os resultados da ciência  as suas teorias, leis e princípios gerais 


como verdades devidamente comprovadas. Esperamos da ciência que descubra
verdades, mas o mais importante é a comprovação cuidadosa dessas verdades,
de que depende a segurança do conhecimento científico.

Queremos, então, que a construção da ciência seja racional.

Que método e que raciocínio fazem da ciência um empreendimento racional?

Iremos ver duas respostas a esta questão, ambas muito conhecidas:

• a resposta indutivista, que tem uma tradição tão antiga como a própria ciência;
• a resposta falsificacionista, que é particularmente atraente e teve o mérito de
renovar a discussão sobre a ciência.

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A construção racional da ciência

 O método científico segundo a perspetiva indutivista

A perspetiva indutivista do método científico foi descrita pela


primeira vez por Francis Bacon. Segundo esta perspetiva, os factos
vêm antes da teoria. É neles que começa a investigação de leis
gerais da Natureza. A questão é saber como obtemos conhecimento
dessas leis gerais a partir dos factos fornecidos pela experiência.

□ Os passos do método científico proposto pela perspetiva indutivista


1. Os cientistas conduzem bservações 2. Os cientistas propõem 3. Os cientistas extraem da hipótese
cuidadosas e deparam com um uma hipótese para explicar consequências que usam para fazer
fenómeno que não sabem explicar. o fenómeno em questão. previsões.

5. Se as previsões não ocorrem, a hipótese é rejeitada e uma 4. Os cientistas realizam


nova hipótese é apresentada; se as previsões ocorrem, experiências para averiguar
a hipótese é confirmada e passa a ser admitida como teoria. se as previsões ocorrem.

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A construção racional da ciência

Quando a teoria é bastante geral e mais experiências cuidadosamente desenvolvidas


a apoiam, ela adquire o estatuto de lei da Natureza.

Uma lei da Natureza é uma hipótese confirmada por um número razoável de


experiências.

Convém distinguir confirmação de verificação.

Uma hipótese está confirmada quando os factos a apoiam. Se os factos


permitissem provar conclusivamente que uma hipótese era verdadeira, dir-se-ia
que esta estaria verificada.

No entanto, as experiências particulares não permitem a derivação lógica de uma


lei geral. Por exemplo, da observação de muitos cisnes brancos não se segue
logicamente que todos os cisnes são brancos. Segue-se que provavelmente todos
os cisnes são brancos, confirmando-se, então, essa hipótese acerca dos cisnes.

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A construção racional da ciência

Hipótese:
É importante termos a noção de que a finalidade de Provavelmente
um método baseado na indução é apenas a todos os cisnes
são brancos
confirmação de hipóteses. Isso significa que é possível
que uma hipótese, mesmo amplamente confirmada,
seja falsa  é possível, por exemplo, que um cisne seja
preto, como de facto se constata. Dados
de experiência
favoráveis
A lógica da confirmação pode ser esquematizada à hipótese

do seguinte modo:

Confirmação Dados
de experiência
(1) Se uma certa hipótese é verdadeira, desfavoráveis
então uma dada consequência ocorrerá. à hipótese

(2) A consequência prevista ocorre.


∴ Logo, a hipótese está confirmada com
Conclusão:
um certo grau de probabilidade. A hipótese não
se confirma

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A construção racional da ciência

□ Dois exemplos da aplicação do método científico baseado na indução

Nesta aplicação do método científico, um dos exemplos é um caso muito simples


e comum em que o resultado é positivo e a hipótese é confirmada. O outro é um
caso histórico em que a aplicação do método não confirma a hipótese.

Caso 1 Caso 2
1. Observa-se que a água ferve a uma certa 1. Observa-se que certos materiais são combustíveis.
temperatura. 2. Propõe-se a hipótese de que certos materiais
2. Propõe-se a hipótese de que a água ferve a possuem uma substância combustível chamada
100 graus Celsius. flogisto, que é libertada durante a combustão,
3. Extrai-se a consequência de que a água que levando a que esses materiais fiquem pretos.
se encontra num recipiente irá ferver se 3. Extrai-se a consequência de que esses materiais
aquecida a uma temperatura de 100 graus diminuem de peso depois da combustão devido à
Celsius. perda de flogisto.
4. Faz-se a experiência para averiguar se a 4. Faz-se a experiência da combustão de certos
previsão ocorre. materiais e mede-se o seu peso depois da
5. A previsão ocorre e a hipótese é confirmada. combustão para ver se a previsão ocorre.
5. A previsão não ocorre e a hipótese não é
confirmada.

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A construção racional da ciência

Para aceitarmos uma confirmação e para uma lei da Natureza merecer a nossa
confiança, devem ser satisfeitas determinadas condições:

Condições da confirmação:
1. O número de observações em que se baseia a lei geral deve ser grande.
2. As observações devem ser repetidas numa grande variedade de condições.
3. Nenhuma observação deve entrar em conflito com a lei geral.

A tradição científica da idade moderna viu no método indutivo o critério de


demarcação entre a ciência e a pseudociência. Só as afirmações baseadas nos
factos fornecidos pela experiência poderiam ter o estatuto de conhecimento
genuíno. Em contraste, as afirmações baseadas na autoridade, na tradição, no
preconceito, no hábito e na simples especulação deveriam ser recusadas por
serem pseudocientíficas.

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A construção racional da ciência

□ Críticas à perspetiva indutivista

O conhecimento dos inobserváveis


Conhecemos moléculas de ADN e genes, protões e
eletrões, e muitas outras coisas que não são observáveis.
Se o conhecimento resulta de generalizações e previsões a
partir de factos observáveis, não se percebe como pode o
indutivista explicar o conhecimento dos inobserváveis.
Essas generalizações e previsões, por partirem de factos
observáveis, só podem referir-se a aspetos igualmente
observáveis. Isso deixa de fora aquela parte do nosso
conhecimento científico que não pode ser construída por
meio do raciocínio indutivo, uma parte importante que
não deve ser abandonada.

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A construção racional da ciência

A observação seletiva
A observação descrita pelo indutivista simplesmente não existe. Não é possível
uma observação sem pressupostos que se encarregam de selecionar os aspetos
do mundo que são relevantes para a investigação científica. Os pressupostos
que influenciam a observação podem ser interesses, problemas, pontos de
vista ou teorias. Isto implica que as observações são já interpretações dos
factos observados à luz de teorias.

O problema da indução
O próprio raciocínio indutivo levanta um sério problema, que a partir da sua
formulação por Hume ficou conhecido como problema da indução: a falácia
da circularidade, um erro de raciocínio que compromete a tentativa de
justificação da indução.

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A construção racional da ciência

 O método científico segundo a perspetiva falsificacionista

Foi o filósofo Karl Popper que defendeu uma nova perspetiva


do método científico, a que chamou falsificacionista.
A perspetiva falsificacionista entende que os factos
fornecidos pela experiência não servem para sustentar leis
gerais por meio da indução. Esses factos têm um outro papel,
que é o de testarem hipóteses gerais com a finalidade de
falsificação.

Por terem essa finalidade, os factos proporcionados pela experiência são vistos
como testes severos. As hipóteses gerais que sobreviverem a esses testes são a
melhor explicação disponível que a ciência tem para oferecer.

Um outro aspeto que caracteriza a perspetiva falsificacionista é o facto de a


experiência e a observação serem orientadas, e portanto pressuporem as
hipóteses teóricas, que são conjeturas criativas dos cientistas.

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A construção racional da ciência

A novidade contraintuitiva de usar a experiência para falsificar hipóteses tem


uma razão lógica: a assimetria entre a verificação e a falsificação.

Princípio da assimetria:
Não podemos verificar uma afirmação universal, mas podemos falsificá-la.

Exemplo:
Uma afirmação como «Nenhum mamífero põe
ovos.» não pode ser verificada, mas pode ser
falsificada por uma única observação de um
mamífero que ponha ovos, como é o caso do
ornitorrinco, permitindo derivar logicamente a
afirmação «Alguns mamíferos põem ovos.»

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A construção racional da ciência

A razão lógica para usar a experiência com a finalidade de falsificar hipóteses gerais
é clara. A falsificação de uma hipótese geral estabelece conclusivamente que ela é
falsa: uma única observação de um caso que contrarie a hipótese geral basta para
que isso aconteça. No entanto, as observações de casos favoráveis à hipótese geral,
por mais numerosas, não são suficientes para estabelecerem conclusivamente que
a mesma é verdadeira  não conseguem, portanto, verificá-la.

Segue-se que uma lei científica é conclusivamente falsificável, mas não


conclusivamente verificável.

A terra firme da ciência reside na eliminação de erros, e não na descoberta de


teorias verdadeiras.

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A construção racional da ciência

□ Os passos do método das conjeturas e refutações

Popper defendeu o método das conjeturas e refutações, que assegura


a eliminação de erros e a aproximação à verdade.

Um erro que se elimina é um passo na direção da verdade.


O esquema seguinte apresenta o que o método recomenda e a ordem que os
cientistas devem seguir nas suas investigações. É recorrendo a esse método que
ficam a saber qual é a melhor explicação disponível para um problema.

1. Os cientistas deparam 2. Uma conjetura é proposta 3. A conjetura é testada por meio de tentativas
com um problema como uma tentativa para de refutação  a finalidade deste importante
empírico. resolver o problema. passo é eliminar erros através de testes severos.

4. Se a conjetura é refutada, uma nova é proposta na tentativa de resolver o


problema; se resiste às tentativas de refutação, é provisoriamente aceite como a
melhor teoria disponível  neste caso, diz-se que a teoria é corroborada.

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A construção racional da ciência

Segundo Popper, é errado tomar as teorias aceites como verdadeiras ou como


provavelmente verdadeiras. O conceito de corroboração foi introduzido como
alternativa à confirmação defendida pelos indutivistas.

As hipóteses corroboradas são hipóteses que


resistiram aos testes severos que procuraram
refutá-las. Por isso, as hipóteses não se tornam
mais prováveis apenas porque, até ao momento,
não foram falsificadas pela observação.

Uma conjetura corroborada é uma tentativa de compreender a Natureza e de a


tornar inteligível que está mais próxima da verdade do que uma teoria que não
resistiu aos mesmos testes severos.

Uma teoria mais próxima da verdade é também uma ferramenta mais capaz de
responder aos desafios da adaptação à realidade.

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A construção racional da ciência

Podemos esquematizar a lógica da refutação do seguinte modo:

Refutação
(1) Se uma certa hipótese é verdadeira, então uma dada consequência
ocorrerá.
(2) A consequência prevista ocorre.
∴ Logo, a hipótese não é verdadeira  está refutada.

A lógica da refutação é inteiramente dedutiva. É o modus tollens, uma forma lógica


válida que capta o raciocínio dedutivo típico da refutação defendida por Popper.

Vê-se assim que a indução é um raciocínio dispensável na justificação das teorias


científicas. Quem faz ciência pode, então, conviver pacificamente com o problema
da indução porque, na verdade, a lógica do desenvolvimento da ciência não é
indutiva.

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A construção racional da ciência

□ A aplicação do método das conjeturas e refutações ao caso do flogisto


Toda a história da ciência deve ser reinterpretada de acordo com a perspetiva
falsificacionista. O caso do flogisto, por exemplo, só será corretamente descrito
se virmos nele um caso da aplicação do método das conjeturas e refutações:
1. Os cientistas deparam com 2. Para explicar o problema, propõem a conjetura do flogisto, segundo a
o problema de haver materiais qual certos materiais contêm uma substância combustível (o flogisto)
combustíveis. que é libertada durante o processo de combustão. Uma das
consequências desta conjetura é que, por libertarem o flogisto durante
a combustão, no fim desse processo os materiais pesam menos.

4. A conjetura do flogisto é refutada. Assim, o facto de


os materiais serem mais pesados depois da combustão 3. Procuram refutar a conjetura através de testes
prova conclusivamente que a conjetura do flogisto é falsa. severos; neste caso, tentam mostrar que os
A conjetura que viria a ser proposta em alternativa foi a materiais, depois de passarem por um rocesso
conjetura do oxigénio, que tem resistido à falsificação. de combustão, pesam mais.

O raciocínio que justifica a conclusão do caso apresentado é o seguinte:

(1) Se a conjetura do flogisto é verdadeira, os materiais combustíveis pesam menos depois de


passarem por um processo de combustão.
(2) Os materiais combustíveis não pesam menos depois de passarem por um processo de combustão.
∴ Logo, a hipótese do flogisto não é verdadeira.
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A construção racional da ciência

□ O critério de demarcação para a perspetiva falsificacionista

Critério de demarcação: A falsificabilidade é o critério de demarcação entre ciência e


pseudociência. Se todos os factos são ajustáveis à teoria e nenhuma observação
imaginável seria capaz de a falsificar, então ela é pseudocientífica.

Exemplo: Aplicação do critério à teoria psicológica de Adler, que na altura gozava de


popularidade.

Afirmação universal da teoria: Todos os comportamentos são explicados pelo


sentimento de inferioridade. Por exemplo, se uma criança está a afogar-se e alguém
procura salvá-la, essa pessoa procura superar o seu sentimento de inferioridade por
meio de um comportamento corajoso. Se essa pessoa não procura salvar a criança,
resistindo corajosamente à necessidade de superar o seu sentimento de
inferioridade, esse comportamento é também explicado por esse sentimento.

Resultado da aplicação do critério de demarcação: A teoria psicológica de Adler


ajusta-se a qualquer comportamento; por essa razão, não é falsificável e deve ser
considerada pseudocientífica.

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A construção racional da ciência

□ Afirmações boas e más para a ciência

O critério de demarcação ajuda a avaliar as afirmações que as conjeturas fazem.


Estas afirmações podem ser boas ou más para a ciência consoante sejam
falsificáveis ou não. Uma afirmação boa para a ciência pode também ser melhor ou
pior do que outra dependendo do seu grau de falsificabilidade.
Remover da investigação científica afirmações que não são falsificáveis é a primeira
tarefa do cientista educado. Depois é importante saber qual das afirmações
falsificáveis é a mais capaz de estimular o progresso do conhecimento.

O que determina o grau de Afirmações


falsificabilidade de uma afirmação
é o conteúdo dessa afirmação. Quanto Conteúdo muito Conteúdo pouco
mais informativo é o conteúdo de uma informativo informativo
afirmação, maior é o seu grau de
falsificabilidade, que diminui à medida Maior grau de Menor grau de
que o conteúdo de uma afirmação se falsificabilidade falsificabilidade
torna cada vez mais minimalista.
Boas para a ciência Más para a ciência

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A construção racional da ciência

Exemplos:
(1) Chove ou não chove.
Análise: Trata-se de uma afirmação de conteúdo zero e grau de probabilidade igual a 1, pois é uma
tautologia; segue-se que se ajusta a todo e qualquer facto e não é falsificável.
(2) Irá chover.
Análise: Esta afirmação tem um conteúdo mínimo e um grau de probabilidade máximo; na prática, não
é falsificável, pois nunca poderemos provar que é falsa.
(3) No próximo ano, em algum momento irá chover.
Análise: Esta afirmação tem um conteúdo mínimo, mas ligeiramente maior do que a anterior, e um
grau de probabilidade muito elevado, mas menor do que a afirmação anterior. Podemos provar que é
falsa, apesar de ser praticamente inevitável que seja verdadeira.
(4) No próximo ano, em algum momento irá chover em Portugal.
Análise: Esta afirmação já tem algum conteúdo, pois há zonas do planeta onde não irá chover no
próximo ano, e assim a afirmação não se ajusta na prática a qualquer facto e é falsificável; a sua
probabilidade é elevada, mas menor do que na afirmação anterior. Por transmitir algum conteúdo, e
ter portanto valor cognitivo, este é o tipo de afirmação que já começa a ter interesse para a ciência.
(5) Irá chover em Portugal na próxima semana.
Análise: Esta afirmação é mais específica e, portanto, tem mais conteúdo e é mais falsificável do que
a anterior; tem claramente menos probabilidade do que a afirmação anterior; mas, dado que é mais
informativa, se resistir à falsificação, mais utilidade ganha.

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A construção racional da ciência

Não é apenas o conteúdo informativo que é Afirmações


relevante em termos de falsificabilidade.
O domínio de aplicação do conteúdo Maior domínio Menor domínio
informativo influencia também o grau de de aplicação de aplicação
falsificabilidade das afirmações.
Maior grau de Menor grau de
Se o seu domínio de aplicação for maior, falsificabilidade falsificabilidade
uma afirmação é também mais falsificável.

Exemplos:
(6) A prática de xadrez estimula o raciocínio.
(7) A prática de jogos de tabuleiro estimula o raciocínio.

Análise: As duas afirmações têm o mesmo conteúdo


informativo, mas a afirmação 7 tem um domínio
de aplicação maior; logo, é mais falsificável.

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A construção racional da ciência

Devemos prestar uma atenção especial ainda às afirmações de uma elasticidade


suspeita, como sucede com a teoria psicológica dos sentimentos de inferioridade.
Por essa razão, estas afirmações não são falsificáveis.

Exemplo:
(8) Os nativos de Carneiro podem ter dores de cabeça esta semana.
Análise: Esta afirmação tem o defeito de se ajustar a qualquer facto
relevante para a avaliação da sua verdade. O uso do termo
«podem» retira à afirmação a possibilidade de ser falsa. Tenha ou
não um nativo de Carneiro dores de cabeça nessa semana, a
afirmação mantém-se de pé.

Por certas afirmações nada dizerem sobre o mundo, este também nada tem a
dizer-nos sobre elas. Recorrer à experiência para averiguar se essas afirmações
são verdadeiras ou falsas de nada adiantaria. Seja qual for o comportamento do
mundo, essas afirmações não têm a menor probabilidade de ser falsas.

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A construção racional da ciência

□ Críticas à perspetiva falsificacionista

A perspetiva falsificacionista contraria a crença muito enraizada de que a construção


da ciência é indutiva, sendo grande a perplexidade gerada pela afirmação de que
uma teoria científica não é sequer provavelmente verdadeira. Por isso as ideias de
Popper foram sujeitas a uma avaliação crítica muito atenta.

A confirmação faz parte da lógica do desenvolvimento da ciência


Há casos históricos em que o esforço de
confirmação valeu a pena. Isso é evidente no caso
da previsão da órbita do planeta Úrano a partir
da teoria da gravitação de Newton.

Este caso sugere, portanto, que a lógica da


confirmação faz parte do desenvolvimento da
ciência.

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A construção racional da ciência

A racionalidade dos cientistas também se apoia na indução


Segundo Popper, uma teoria científica é uma conjetura corroborada, ou seja,
uma conjetura que ainda não foi refutada e que tem resistido com sucesso aos
testes severos. Mas isso não faz dela uma conjetura confirmada pelos factos:
não é porque as observações não falsificam uma conjetura que ela se torna
provável. Contudo, se assim é, o conceito de corroboração é escasso para
explicar a racionalidade científica.

Temos mais conhecimento do que sugere a perspetiva de Popper


Nunca observámos, por exemplo, uma raia a voar. Para
Popper, isso não justifica que se conclua que as raias não
voam. Porém, se observarmos uma raia a voar, podemos
concluir dedutivamente que sabemos que nem todas as
raias têm a característica de não serem voadoras. Ao
defender que a indução não é legítima, a perspetiva de
Popper implica que haja uma grande perda de
conhecimentos.

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Esquema-síntese
• Ser metódica
• Ter resultados repetíveis
Ciência caracteriza-se por • Revelar uma convergência para a verdade
• Existir um acordo entre os investigadores
em relação ao que é verdade

Rutura com o senso comum


constrói-se em

Continuidade com o senso comum

envolve

Método valida o Conhecimento justifica o Raciocínio

Perspetiva
indutivista Confirmação versus verificação

O conhecimento dos inobserváveis

foi sujeita a algumas críticas A observação seletiva

O problema da indução
Perspetiva
Refutação e corroboração
falsificacionista
A confirmação faz parte da ciência

foi sujeita a algumas críticas Os cientistas também se apoiam na indução

Existe uma grande perda de conhecimentos


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