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1) O documento discute as ideias do filósofo camaronês Achille Mbembe sobre racismo, colonialismo e soberania. 2) Mbembe critica a modernidade ocidental e defende uma "Crítica da razão negra" que coloca a experiência africana no centro. 3) Ele analisa como o conceito de "negro" foi uma invenção do branco para justificar a dominação colonial e o tráfico de escravos.
1) O documento discute as ideias do filósofo camaronês Achille Mbembe sobre racismo, colonialismo e soberania. 2) Mbembe critica a modernidade ocidental e defende uma "Crítica da razão negra" que coloca a experiência africana no centro. 3) Ele analisa como o conceito de "negro" foi uma invenção do branco para justificar a dominação colonial e o tráfico de escravos.
1) O documento discute as ideias do filósofo camaronês Achille Mbembe sobre racismo, colonialismo e soberania. 2) Mbembe critica a modernidade ocidental e defende uma "Crítica da razão negra" que coloca a experiência africana no centro. 3) Ele analisa como o conceito de "negro" foi uma invenção do branco para justificar a dominação colonial e o tráfico de escravos.
racismo sem raças?” Tópicos 1) “Africanização” do mundo 2) Negro, invenção do branco 3) Com Césaire, contra Césaire 4) Limites da biopolítica 5) Conceitos de soberania 6) Necropolítica, suspensão da lei 1) “Africanização” do mundo • Achille Mbembe (1957) – Camarões • Estudou na Sorbonne na década de 1980 • Lecionou na África do Sul, no Senegal e nos Estados Unidos • Atualmente, trabalha no Wits Institute for Social and Economic Research (África do Sul) 1) “Africanização” do mundo • Principais influências: Sigmund Freud, Frantz Fanon, Michel Foucault • Principais obras: Pós-colônia, ensaio sobre a imaginação política na África contemporânea (2000); Crítica da razão negra (2013) 1) “Africanização” do mundo • “Africanização” do mundo – “E esse país/ Vai deixando todo mundo preto” • Crítica da razão pura (Kant): Modernidade central/ ilustrada • Crítica da razão negra: Modernidade periférica/ anverso do Iluminismo (modernização = expansão dos impérios coloniais europeus; colonialismo) • Tráfico negreiro, face noturna do capitalismo • Rousseau, Voltaire: “escravatura, metáfora da condição humana na sociedade europeia” Sra. Principal con su negra esclava, de Vicente Albán (1783) 1) “Africanização” do mundo • “Permanecerá inacabada a crítica da modernidade, enquanto não compreendermos que o seu advento coincide com o surgir do princípio da raça e com a lenta transformação deste princípio em paradigma principal, ontem como hoje, para as técnicas de dominação”. 2) Negro, invenção do branco • A África e o negro = “signos de uma alteridade impossível de assimilar” • Século XVIII – Século das Luzes e zênite do tráfico de escravos” (Alejo Carpentier) termo ‘negro’ se torna corrente, “ganga de disparates e de alucinações que o Ocidente urdiu” • Negro, figura inventada pelo branco (“fantasia da imaginação europeia que o Ocidente se esforçou por naturalizar e universalizar) – hipersexualidade, idolatria, primitivismo, paganismo Cena de A hora do show, de Spike Lee 2) Negro, invenção do branco • “Eu vi a África, mas nunca lá pus os pés” – Jean-Baptiste Labat • “Admitimos o direito e até o dever das raças superiores de atrair a si aquelas que não alcançaram o mesmo grau de cultura, de chamá-las para os progressos realizados graças aos sacrifícios da ciência e da indústria”. – Léon Blum • “O Branco fez do Negro um homem; a Europa fará da África um mundo” – Victor Hugo 2) Negro, invenção do branco • Raça enquanto princípio do corpo político, burocracia como técnica de domínio • Humanidade à parte: princípio da exterioridade; política da diferença • Campo do direito X campo do não-direito (selvagem, fora da humanidade e da natureza) “É um espaço onde o direito dos homens só pode exercer-se enquanto supremacia dos homens sobre aqueles que afinal não são verdadeiros homens” 2) Negro, invenção do branco • Territorialização da identidade e racialização da geografia • “A cor negra não tem, portanto, sentido. Só existe por referência a um poder que a inventa, uma infra-estrutura que a suporta e a contrasta com outras cores e, por fim, num mundo que a designa e axiomatiza”. 3) Com Césaire, contra Césaire • Aimé Césaire • Contra o “reducionismo europeu”, que diminuiu a noção de universal “às suas próprias dimensões” • Por uma outra imaginação da comunidade universal, que construa um “humanismo à medida do mundo” 3) Com Césaire, contra Césaire • "Partindo da consciência de ser negro, o que implica em assumir seu destino, sua história, sua cultura, a negritude é um mero reconhecimento desse fato e não comporta nem racismo nem renegar a Europa, ou outra exclusão, mas, pelo contrário, uma fraternidade entre todos os homens. Existe, não obstante, uma solidariedade maior entre os homens de raça negra; não em função de sua cor mas sim por uma comunhão de cultura, história e temperamento". – Aimé Césaire 3) Com Césaire, contra Césaire • “A figura da África enquanto reservatório de mistérios representa, no fundo, o discurso ocidental do desejo e da festa feliz e selvagem, sem entraves nem culpa, a demanda de um vitalismo sem consciência do mal – desejo que obcecava a Europa do pós-guerra”. Les demoiselles d’Avignon, de Picasso • Mundo-para-lá-das-diferenças (pós-Césaire): • “Neste caminho, os novos ‘condenados da Terra’ são aqueles a quem é recusado o direito de ter direitos, aqueles que, segundo se pensa, não se devem manifestar, os condenados a viver em toda a espécie de estruturas de reclusão – os campos de concentração, as prisões de passagem, os milhares de lugares de detenção espalhados pelos nossos espaços jurídicos e policiais”. • “São os rechaçados, os deportados, os clandestinos e outros ‘sem-papéis’ – esses intrusos e essa escória da nossa humanidade que nos apressamos a despachar, porque achamos que, entre eles e nós, nada há que valha a pena ser salvo, uma vez que eles prejudicam imenso a nossa vida, a nossa saúde e o nosso bem-estar. Os novos ‘condenados da Terra’ são o resultado de um brutal trabalho de controlo e de seleção cujos pressupostos raciais são bem conhecidos”.
• Ideologias da diferença X celebração da alteridade
4) Limites da biopolítica • Necropolítica – biopoder, soberania, Estado de Exceção, política da morte (2003) – 11 de setembro • Regresso do colonialismo nas práticas contemporâneas • Ponto de partida: limites da noção de ‘biopoder’ (fazer morrer e deixar viver; deixar morrer e fazer viver) 4) Limites da biopolítica • Noção clássica de biopoder • Guerra/resistência/luta contra o terror: exercício do direito de matar • Campos de extermínio = metáfora central para a violência soberana (Arendt, Agamben) 5) Conceitos de soberania • Crítica às teorias normativas da democracia – segundo as quais soberania é a “produção de normas gerais por um povo composto por homens e mulheres livres e iguais” • Processo de “autoinstituição” e “autolimitação”, baseado na autonomia, na comunicação e no reconhecimento • “Nesse paradigma, a razão é a verdade do sujeito, e a política é o exercício da razão na esfera pública” 5) Conceitos de soberania • Soberania como “instrumentalização generalizada da existência humana e destruição material de corpos humanos e populações” • Soberania em Hegel e em Bataille • Hegel: processo de “tornar-se sujeito” (negação da natureza; transformação da natureza por meio do trabalho e da luta) 5) Conceitos de soberania • O indivíduo derrota o “animal” que constitui o seu ser natural • Vida do espírito = confronto com a morte • Soberania = arriscar a totalidade de uma vida 5) Conceitos de soberania • Bataille: “A morte é a putrefação da vida, o fedor que é, ao mesmo tempo, sua fonte e condição repulsiva” • Não o aniquilamento do ser, mas a “forma mais luxuosa da vida, ou seja, de efusão e exuberância: um poder de proliferação” • Princípio do excesso, superabundância • Dissolução dos limites de si e do corpo, perda de fronteiras • Soberania = “violação das proibições” 5) Conceitos de soberania • Manifestações da soberania, nos marcos do biopoder: • Exceção, emergência, inimigo • Racismo, “cesura biológica” entre diferentes grupos (Foucault) • Função do racismo: regular a distribuição da morte, “condição para a aceitabilidade do fazer morrer” • Modernidade & Terror 6) Necropolítica, suspensão da lei • Escravidão, uma das primeiras instâncias de dominação biopolítica – “morte social”, zona de indiferenciação entre o homem e o animal • “No pensamento filosófico moderno e também na prática e no imaginário político europeu, a colônia representa o lugar em que a soberania consiste fundamentalmente no exercício de um poder à margem da lei e no qual tipicamente a ‘paz’ assume a face de uma ‘guerra sem fim’”. 6) Necropolítica, suspensão da lei • Carl Schmitt, soberania como poder de decidir sobre o estado de exceção • Dois princípios: - Igualdade jurídica de todos os Estados - territorialização do Estado soberano (guerra legítima = guerra entre Estados “civilizados”) 6) Necropolítica, suspensão da lei • “As colônias são o local por excelência em que os controles e as garantias de ordem judicial podem ser suspensos” • Ocupação colonial tardia – soberania vertical, ocupação colonial fragmentada, guerra infraestrutural (situação da Palestina) • Estado de sítio, dissolução da distinção entre inimigo interno e externo – militarização do cotidiano Tintin no Congo 6) Necropolítica, suspensão da lei • Estado já não detém o monopólio sobre a violência e sobre os meios de coerção • Coerção = produto do mercado (milícias urbanas, exércitos privados, exércitos de senhores regionais, segurança privada, exércitos de Estado) máquinas de guerra desterritorializadas e segmentadas 6) Necropolítica, suspensão da lei • “Cada vez mais, a guerra não ocorre entre exércitos de dois Estados soberanos. Ela é travada por grupos armados que agem por trás da máscara do Estado contra os grupos armados que não têm Estado, mas que controlam territórios distintos; ambos os lados têm como seus principais alvos as populações civis desarmadas ou organizadas como milícias”. 6) Necropolítica, suspensão da lei • Elias Canetti – sentimento de segurança do sobrevivente diante do inimigo morto X • “Homem-bomba” – Lógica do martírio • Desejo de eternidade = tomar posse da própria morte 7) Formas africanas da escrita de si • Práticas religiosas + indagação sobre a tragédia humana = filosofia distintamente africana • Por uma filosofia que explique o sentido do passado e do presente africanos, com referência ao futuro Empecilhos: afro- radicalismo (instrumentalismo) & metafísica da diferença (nativismo) • “A primeira corrente de pensamento – que gostou de se apresentar como ‘democrática’, ‘radical’ e ‘progressista’ – serviu-se de categorias marxistas e nacionalistas para desenvolver um imaginário cultural e político, em que a manipulação da retórica da autonomia, da resistência e da emancipação constitui o único critério para determinar a legitimidade de um discurso africano autêntico”. • “A segunda corrente de pensamento desenvolveu-se a partir de uma ênfase na ‘condição nativa’. Promoveu a ideia de uma identidade africana única assente na pertença à raça negra”. • Escravatura, colonização, apartheid eu africano alienado de si expropriação material, desenraizamento morte social • Instrumentalismo • Luta partidária: libertação revolucionária X forças conservadoras • Visão mecanicista e reificada da história (condicionamentos econômicos) • Proletariado, classe universal por excelência • Voluntarismo & vitimização • “Esta construção da história conduz a uma atitude ingênua e acrítica em relação às chamadas lutas de libertação nacional e aos movimentos sociais; a uma ênfase na violência como via privilegiada para a auto- determinação; a uma fetichização do poder do Estado; à desqualificação do modelo da democracia liberal; e ao sonho populista e autoritário de uma sociedade de massas”. • Entendimento nativista da história – nativo X o Outro não-nativo • Legado das luzes: Africanos, alter ego? Corpo negro e cálculo da subjugação política – excluídos da “esfera da cidadania humana total e completa” • Política de assimilação – domesticação: conversão ao cristianismo, integração numa economia de mercado, adoção de formas racionais e esclarecidas de governo • Raça, radicalização da própria diferença • África desligada do mundo, “sonho insano de um mundo sem Outros” • Leitura paranoica da história • Nativismo • Identidade cultural – universalismo X particularismo – identidade particular, irredutível à de qualquer outro povo • Tradição, valores autóctones • Ciência africana, democracia africana, linguagem africana – impérios africanos, Egito faraônico • Raça & geografia corpo espacial = corpo racial = corpo cívico • “Os pressupostos fundamentais da antropologia do século XIX, nomeadamente, o preconceito evolucionista e a crença na ideia de progresso permanecem intactos; a racialização da nação (negra) e a nacionalização da raça (negra) vão de par. Quer se considere o discurso da negritude, quer as diferentes versões do pan-africanismo, a revolta não é contra a ideia de os africanos pertencerem a uma raça distinta, mas sim contra o preconceito que atribui a essa raça um estatuto inferior”. • Paradigmas racistas subjacentes aos discursos africanos dominantes (discursos de inversão) • “A África só existe com base numa biblioteca pré-existente que intervém e se insinua em todo o lado, mesmo no discurso que pretende negá-la – a ponto de, no que respeita à identidade e à tradição africanas, ser agora impossível distinguir o ‘original’ e a cópia”. • Escravidão: “O silêncio da culpa e da recusa dos africanos de enfrentarem o aspecto perturbador do crime que envolve diretamente a sua própria responsabilidade” • “Enquanto os africanos continentais menosprezarem a necessidade de repensar a escravatura – não apenas enquanto catástrofe de que eles foram meras vítimas, mas enquanto produto de uma história para a qual contribuíram ativamente – o apelo à raça como base moral e política de solidariedade dependerá, até certo ponto, de uma miragem de consciência”. • Utopias recíprocas do colonialismo • Unidade racial da África = mito • “A produção de identidades raciais para além do binômio negro/branco processa-se, cada vez mais, de acordo com lógicas distintas, contingentes, à medida que as antigas demarcações vão perdendo o seu aspecto mecânico e as oportunidades de transgressão se vão multiplicando. A instabilidade das categorias raciais mostra, de diversas formas, que existem vários tipos de brancura, bem como de negrura”. • Re-encantamento da tradição, reciclagem de identidades locais
DOMINGUES, José M. 'Modernização Global, 'Colonialidade' e Uma Sociologia Crítica para A América Latina Contemporânea - Um Debate Com Walter Mignolo' in Teoria Crítica e Semi (Periferia)