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Rafael Costa Prata

Graduando em História/UFS
Monitor da Disciplina História Medieval I
Integrante do Vivarium – Laboratório de Estudos da Antiguidade e do Medievo
(Núcleo Nordeste)
rafaelcostaprata@hotmail.com

Orientador: Prof. Msc. Bruno G. Alvaro


Departamento de História/UFS
A Guerra: Um esporte
lucrativo

 Para Marc Bloch, a guerra no
Medievo se apresentava como uma
verdadeira “indústria nobiliárquica
por excelência” (BLOCH, 1979, p.
327).
 Para os sujeitos mais
desprivilegiados, a Guerra também
simbolizava inúmeras chances de
ganho, principalmente para aqueles
que atuavam como guerreiros
mercenários, obtendo seus
pagamentos através do soldo pago
pelo dirigente militar, e
principalmente através das
pilhagens cometidas durante o
evento.
O Fazer a Guerra da
Aristocracia: a faide

 A Faide buscava através dos conflitos armados, a restituição da honra
perdida diante de algum par aristocrático que se tornara inimigo. Neste
sentido, além das pilhagens e ataques em geral aos bens deste par
aristocrático, outrora amigo, agora inimigo, o mecanismo bélico
aristocrático encaminhava a necessidade de obter em combate, o maior
número de sequestros possíveis de pares aristocráticos do mais alto
escalão do exercito inimigo, entre eles, o próprio chefe militar que muitas
vezes era o próprio soberano, para, além de restituir a sua honra
perdida, macular a do inimigo em questão, através da obtenção dos
vultosos resgates pagos por essas figuras, sem procurar em primeiro e
último caso, a morte destes.
 As Batalhas campais no Medievo eram raríssimas, pois se evitava ao
máximo a confrontação direta entre os pares aristocráticos.
 O modus operandis da Guerra assim comportava a prática dos
sequestros de pares aristocráticos para a obtenção de vultosos
resgates e a devastação dos territórios inimigos através da prática
dos saques e pilhagens.
O fundamento
monetário dos resgates

“Nessa multidão, os
testemunhos mais precisos, e
principalmente os documentos
contábeis, as listas de
prisioneiros – que eram feitas
cuidadosamente, pois se tratava
de dinheiro – e daqueles que
levavam consigo penhores para
os resgates, permitem distinguir
pelo nome pouco menos de
trezentas pessoas. (...) São
nomes de cavaleiros nobres
(DUBY, 1993, p.37) ”.
A Recusa a Morte: O Acidente Funesto
a ser combatido.

 Um dia, na Normandia, treze cavaleiros perseguiam um outro,
“faziam o impossível para pegá-lo vivo”, mas, na precipitação, o
fugitivo foi atingido, desastradamente por uma lança: “Para
grande pesar dos que o atingiram, o bravo cavaleiro pereceu nesse
mesmo dia e o grande senhor que ordenara a perseguição sentiu,
com razão, que “seus homens haviam cometido um grave excesso
e que essa morte traria grandes calamidades a sua terra”; “abafou
os rancores recentes”, concluído bem depressa a paz com os
sobrinhos da vítima, “temeroso que as raízes de uma má ação
brotassem muitos transtornos e que estes, ressurgindo sem cessar
da pestilência, fizessem surgir cada dia fatos mais condenáveis.
Assim é a guerra no século XII “ (DUBY, 1993, p.151).
Morte e Vida na Guerra
Medieval

 “Protegida com os melhores
arneses, a cavalaria preserva-se
cuidadosamente para o momento
preciso. Regressa da guerra
coberta de ferimentos e,
sobretudo galos na cabeça. Mas
regressa. (DUBY, 1993, p.152).”
 Porém, nessa guerra, alguém
tinha de morrer. A esse papel
estavam destinados os guerreiros
da infantaria e a população que
rodeava os cenários bélicos, em
meio aos tumultos, no seio das
pilhagens e devastações de seus
territórios.
A Guerra pelo Vil Metal

 Nesse sentido, Marc Bloch entendia que
“A guerra da idade feudal nada tinha de
uma guerra de punhos de renda”, pois
aqueles que comandavam as pelejas – a
aristocracia – defendia-se da morte,
desviando as chances de morte para os
desprivilegiados, excluídos dessa
“compaixão da faide”.
 Bloch procura exemplificar esta questão,
citando um caso relatado por um poeta
medieval que teria visto o cavaleiro
Girard de Roussillon e ao seu séquito
massacrar “a multidão anônima dos
prisioneiros e dos feridos, poupando
apenas os «possuidores de castelos»,
únicos capazes de se resgatarem contra
metal sonante” (BLOCH, 1979, p.328).
A Invisibilidade da
Cavalaria

 A Visão comedida de Jean Flori: Em sua obra “A
Cavalaria: A origem dos nobres guerreiros da
Idade Média”, afirma que a batalha ocorrida em
Bouvines não foi tão pacifica entre os cavaleiros
como aparenta ter sido, quando na verdade, 169
destes morreram em combate. Daí é que “não se
deve, portanto, exagerar a imunidade de que
gozavam então os cavaleiros, tanto nas batalhas
quanto nos conflitos limitados. Eles arriscavam,
sim, a vida” (FLORI, 2005, p.84).
 Porém, Bouvines teria sido uma espécie de
exceção à regra, pois o número de cavaleiros
mortos não correspondia à realidade de um
tempo em que “tudo era feito para limitar
esses riscos inevitáveis, inerentes à função
guerreira” . (FLORI, 2005, p.84).
A Evolução dos
mecanismos de defesa

 Conforme Duby, o século XII se
apresenta como um marco
importantíssimo na promoção desta
negação da morte no seio da guerra
entre os pares aristocráticos durante a
Idade Média Central, pois propiciou
um súbito progresso das técnicas
militares, que, todavia se refletiu
mais na evolução das armas de defesa
dos combatentes em relação àquelas
voltadas ao ataque.
 Com estas inovações defensivas,
procurava-se reduzir de qualquer
maneira “os interstícios por onde a
morte pode entrar” (DUBY, 1993,
p.35).

A Desonra das novas
armas de avanço

 Paralelamente as armas de defesa, também
surgiram inovadoras e perigosas armas de
avanço, como os flecheiros e os besteiros,
que dentre em pouco, passam a ser mal
vistas tanto pela Ideologia Cavaleiresca
como pela Igreja.
 Segundo Jean Flori, existem fatores de
ordem moral e ética que definiram a recusa
da Cavalaria em portar as novas armas de
avanço, como arcos, flecheiros e bestas.
Conforme o mesmo: “Podemos crer que
são precisamente essas características de
eficácia que levaram os cavaleiros a afastá-
las de sua panóplia, ainda mais por sua
reputação de arma “ignóbil”, já que era
disparada de longe, sem confronto direto”
(FLORI, 2005, p.91).
Um outro caractere: o perigo da
subversão do status quo da Guerra

 Conforme Duby, o uso destas armas também significava um risco mais profundo, pois com
elas:
“ Invertem as regras do jogo. Os ganchos destroem a ordem social, já que ajudam
guerreiros de baixa classe a derrubar de sua montaria os homens de maior categoria, a jogá-
los por terra depois de tê-los arpoado pelas asperezas de suas couraças. São a própria
imagem, desoladora, da subversão. E, nas junções da armadura, os punhais bem afiados
podem infiltrar-se, alcançar a maciez da carne, perfurá-la. Quer dizer, matar, o que
normalmente não se faz entre cavaleiros (DUBY, 1993, p. 34).”

 A Recusa no uso destas armas, pode ser entendida assim, como uma tentativa de não ver
desbaratada este mecanismo da faide, mantendo assim intacta esta guerra “segura” que
garante a manutenção quase intacta desta aristocracia, que procurava se distanciar de todo
risco possível de morte.
 Também, podemos interpretar o uso destas armas principalmente por guerreiros mais
pobres, como uma resposta ao papel marginalizado em que se posicionavam nestas pelejas,
a sua aproximação costumeira frente ao risco da morte em combate, uma tentativa de
diminuir os flancos de sua própria morte – e surpreendentemente perfurar a faide
aristocrática – através de artifícios baratos e mais satisfatórios em uma clara alusão também
a dificuldade destes obterem o caríssimo instrumento de batalha – a pompa metálica da faide
– como eram as grandes armaduras, os belíssimos cavalos de guerra e as honrosas espadas
de combate, a que estavam excluídos.
Conclusão

 Por fim, após apresentadas estas questões, acreditamos que é possível destacar
como a guerra medieval possui uma dicotomia fundamental em sua execução: de
um lado, caracterizada pelo mecanismo da faide, condicionava os membros de
seu “regimento”, a uma forte recusa da promoção da morte no seio do grupo,
permitindo por meio de uma serie de artifícios de defesa a incorruptibilidade
física da classe, e por outro lado, a obtenção de riquezas imediatas oferecidas
pelos mecanismos dispostos por essa guerra, cuja fonte é a própria classe.
Recusa-se a morte do outro, como um artificio paradoxal de sua própria defesa,
pois se assumia, ainda que inconscientemente, o medo de em outra ocasião
ocupar esta incômoda posição. Como parte do próprio mecanismo bélico, o
sequestro e o resgate garantia a reprodução do grupo, o capital de giro desta
indústria nobiliárquica, um pagamento que passa das mãos de pares para pares,
circulando dentro da própria aristocracia. Entretanto, contrariamente a este
quadro, observamos a emergência de uma guerra sangrenta, viva e crua, quando
nos referimos às principais vítimas destes conflitos: os soldados de infantaria e as
populações desprotegidas dos raios de ação desses combates.
Referências
Bibliográficas

 BARTHÉLEMY, Dominique. A Cavalaria: Da Germânia antiga à
França do século XII. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2010.
 BASCHET, Jérôme. A Civilização feudal: do ano mil a
colonização da América. São Paulo: Globo, 2006.
 BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 1979.
 CARDINI, Franco. Guerra e Cruzada. In: LE GOFF, Jacques;
SCHMITT, Jean-Claude. (Coord.) Dicionário Temático do
Ocidente. Bauru: Edusc; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado,
2002. 2v. V. 1, p. 473-487.
 DUBY, Georges. O Domingo de Bouvines: 27 de julho de 1214. Rio
de janeiro: Paz e Terra, 1993.
_____. A sociedade cavaleiresca. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
 FLORI, Jean. A Cavalaria: a origem dos nobres guerreiros da
Idade Média. São Paulo: Madras, 2005.

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