Vous êtes sur la page 1sur 17

Martha Nussbaum: Sem fins lucrativos: por

que a filosofia precisa das humanidades


• Nesta obra, Martha Nussbaum apresenta uma
espécie de manifesto, no qual defende as
humanidades e as artes como fundamentais para a
formação de cidadãos democráticos e
participativos, numa sociedade complexa e global;
• Para ela, há uma tendência mundial em reduzir a
educação, desde os primeiros anos da escola até a
universidade, a um processo de capacitação para o
negócio e à contribuição para o PIB per capita da
nação;
• Preocupa-se com os objetivos da educação voltada
para o crescimento econômico, que prioriza o
ensino de alunos economicamente produtivos, ao
invés de indivíduos críticos e cidadãos
compreensivos;
• Nesse processo de submissão da educação ao
negócio, promovidos por governos de tendências
político-ideológicas as mais diversas, Nussbaum vê
a mais grave ameaça aos fundamentos da
educação liberal clássica, cujo primeiro valor é o
valor da vida democrática, o apego aos valores do
pluralismo, das liberdades civis, da conquista dos
direitos iguais para os cidadãos,
independentemente da raça, classe, gênero,
orientação sexual, religião etc.
• Em sua proposição de um modelo de educação
oposta aos utilitarismos produtivistas do
neoliberalismo do século XXI, Nussbaum
reafirma a importância de uma formação que
podemos chamar de “generalista”;
• Retoma argumentos que relacionam desde os
temas da educação socrática até as formulações
do educador indiano Rabindranath Tagore,
passando pelas ideias de autores como
Rousseau, Dewey, Froebel, Pestalozzi, Alcott,
Montessori etc.
• Nesse tipo de proposta, a finalidade decisiva do
processo de ensino é levar o aluno a pensar
criticamente, o que implica criar um ambiente de
aprendizado no qual os conteúdos específicos das
matérias nunca valem mais do que a criação de
posturas favoráveis à autocrítica e à independência
intelectual;
• Para resistir à submissão maquinal à autoridade ou
à pressão dos pares, Nussbaum propõe:
• a) centralidade do exercício da imaginação (em
que os instrumentos principais são as artes,
entendidas menos como produção de “obras” do
que como práticas de engajamento inventivo,
pessoal e coletivo);
• b) a compreensão empática do outro (na qual
Nussbaum destaca, com Donald Winnicott, a
importância dos jogos, brincadeiras e
dramatizações);
• c) adoção de uma ideia de cidadania em que as
ações locais se reconhecem imediatamente
como conectadas às de outras partes do planeta;
• Além disso, no cerne destes conceitos, a autora
destaca igualmente o papel das aptidões
individuais (capacidades) tomadas como base de
políticas de direitos humanos e de programas
educacionais mais justos e inclusivos;
• Nussbaum adota um ponto de vista
privilegiadamente multicultural: é esse olhar que
baliza a crítica das injustiças de gênero, raça,
orientação sexual etc.;
• Em Sem Fins Lucrativos, portanto, Nussbaum lança
um alerta a respeito da “crise silenciosa” em que as
nações “descartam competências” enquanto “ficam
obcecadas pelo Produto Nacional Bruto”;
• Por toda a parte, artes e humanidades estão
perdendo espaço e importância, de modo que os
atributos fundamentais da própria democracia
estão sofrendo uma corrosão perigosa;
• Para ela, a sobrevivência da democracia exige
das crianças o raciocínio crítico que é
indispensável para agir com independência e
para resistir com inteligência à força da
tradição e da autoridade irracionais; Os alunos
de arte e literatura também aprendem a se
colocar na posição dos outros, uma
capacidade que é fundamental para a
democracia bem-sucedida e para o
desenvolvimento de nosso “olhar interno”;
A crise silenciosa
• Martha Nussbaum constata que estamos em
meio a uma crise de enormes proporções e de
grave significado global; não se trata da crise
econômica global que começou em 2008; trata-
se de uma crise que, como um câncer, passa em
grande parte despercebida; uma crise que, no
longo prazo, será muito mais prejudicial para o
futuro dos governos democráticos: uma crise
mundial da educação;
• Estão ocorrendo mudanças radicais no que as
sociedades democráticas ensinam a seus jovens:
Obcecados pelo Produto Nacional Bruto (PNB), os
países – e seus sistemas de educação – estão
descartando, de forma imprudente, competências
indispensáveis para manter viva a democracia;
• O seu diagnóstico é de que, se essa tendência
prosseguir, todos os países logo estarão produzindo
gerações de máquinas lucrativas, em vez de
produzirem cidadãos íntegros que possam pensar
por si próprios, criticar a tradição e entender o
significado do sofrimento e das realizações dos
outros. É disso que depende o futuro da
democracia;
• Quais são essas mudanças radicais?
• Tanto no ensino fundamental e médio como no ensino
superior, as humanidades e as artes estão sendo
eliminadas em todo o mundo;
• O argumento utilizado pelos administradores para
desqualificá-las é de que elas não passam de “enfeites
inúteis”, num momento em que todas as nações precisam
eliminar todos os elementos inúteis para se manterem
competitivas no mercado global;
• Além disso, o que poderíamos chamar de aspecto
humanista da ciência e das ciências humanas – o aspecto
construtivo e criativo, e a perspectiva de um raciocínio
crítico e rigoroso – também está perdendo terreno, já que
os países preferem correr atrás do lucro de curto prazo
por meio do aperfeiçoamento de competências lucrativas
e extremamente práticas adequadas à geração de lucro.
• Estamos indo atrás dos bens que “protegem”,
“satisfazem”, “consolam” – o que Tagore
chamou de “cobertura material” – e nos
esquecendo da “alma”, do que significa para a
mente abrir a alma e ligar a pessoa com o
mundo de modo rico, sutil e complexo; do que
significa aproximar-se de outra pessoa como
uma alma, em vez de fazê-lo como um simples
instrumento útil ou um obstáculo aos seus
projetos; do que significa conversar, como
alguém que possui alma, com outra pessoa que
consideramos igualmente profunda e complexa;
• A palavra “alma” (Tagore e Alcott) significava a
capacidade de pensar e de imaginar que nos
torna humanos e que torna nossas relações
humanas e ricas, em vez de relações meramente
utilitárias e manipuladores;
• A vida em sociedade requer que enxerguemos
tanto o eu como o outro mergulhados em uma
gama de relações humanas e ricas, imaginando
em ambos capacidades inatas de pensar e de
sentir; sem essa compreensão, a democracia está
fadada ao fracasso, porque ela se baseia na
capacidade de perceber os outros como seres
humanos, não como seus objetos.
• Portanto, com a corrida pela lucratividade no mercado
global, nos arriscamos a perder valores preciosos para o
futuro da democracia, especialmente numa era de
inquietação religiosa e econômica;
• O incentivo ao lucro sugere a muitos líderes ansiosos que
a ciência e a tecnologia têm uma importância decisiva
para o futuro bem-estar de seus países;
• A preocupação é que outras competências, igualmente
decisivas, correm o risco de se perder no alvoroço
competitivo; competências decisivas para o bem-estar
interno de qualquer democracia e para uma criação de
um cultura mundial generosa, capaz de tratar, de maneira
construtiva, dos problemas mais prementes do mundo.
• A busca do raciocínio crítico, de ideias
ousadas, da compreensão empática das
diferentes experiências humanas e da
compreensão da complexidade do mundo em
que vivemos etc. formam o núcleo da
proposta de M. Nussbaum;
• A educação não é útil apenas para a
cidadania; ela prepara as pessoas para o
trabalho e, o que é fundamental, para uma
vida que tenha sentido;
• Todas as democracias modernas, representam
sociedades em que o sentido e os objetivos
fundamentais da vida humana são temas de
razoável discordância entre cidadãos que
defendem pontos de vista religiosos e seculares
muito distintos;
• Toda a democracia moderna é também uma
sociedade na qual as pessoas se diferenciam
bastante segundo um grande número de
parâmetros, entre eles religião, etnia, riqueza e
classe, incapacidade física, gênero e sexualidade,
e na qual todos os eleitores fazem escolhas que
têm um impacto significativo na vida das
pessoas que discordam deles;
• Um modo de avaliar qualquer sistema educacional
é perguntar quão bem ele prepara os jovens para
viver numa forma de organização social e política
com essas características; sem o apoio de cidadãos
adequadamente educados, nenhuma democracia
consegue permanecer estável;
• A capacidade refinada de raciocinar e refletir
criticamente é crucial para manter as democracias
vivas e bem vigilantes; é preciso ter a capacidade
de refletir de maneira adequada sobre um amplo
conjunto de culturas, grupos e nações no contexto
de uma compreensão da economia global e da
história de inúmeras interações nacionais e
grupais;
• A capacidade de imaginar a experiência do outro –
uma capacidade que quase todos os seres
humanos possuem de alguma forma – precisa ser
bastante aumentada e aperfeiçoada, se quisermos
sustentar instituições decentes que fiquem acima
das inúmeras divisões internas que qualquer
sociedade moderna contém;
• O interesse nacional de qualquer democracia exige
uma economia sólida e uma cultura empresarial
próspera; mas isso não implica a exclusão das artes
e das humanidades; artes e humanidades são
fundamentais na promoção de um ambiente
administrativo responsável e uma cultura de
inovação criativa.

Vous aimerez peut-être aussi