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Cuidado em saúde de Lésbicas,

Gays, Bissexuais, Travestis,


Transexuais (LGBT)
Bárbara Guimarães Costa Pacheco
Preâmbulo
Projeto Pedagógico do Curso de
Medicina:
■ “Formação geral, humanista, crítica,
reflexiva e ética” (p. 25);
■“Responsabilidade social e compromisso
com a defesa da cidadania e da dignidade
humana” (p. 25);
■Educação “problematizadora” (p. 52).
Tema: Espinhoso... Ousado... Necessário!
A população LGBT experiencia múltiplas
disparidades no cuidado em saúde e tem
maiores dificuldades no acesso e utilização
dos serviços e cuidados em saúde.

Barreiras apontadas (Usuários LGBT): falta de


educação do(a) trabalhador(a), a recusa de
tratamento, cuidado precário e abuso verbal;
resultado: recusa a busca de tratamento
médico.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE , 2011; ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE; 2013)
(MOLL et. al., 2014 apud PAULINO, RASERA e TEIXEIRA, 2019)
❖ Silenciamento das produções teóricas -
cuidado em saúde para a população
“trans” antes do início deste século;
❖ Discussões sobre travestilidades,
inicialmente, centralizadas na
problemática do HIV/Aids.
❖ Somente em 2008 (Portaria 457 -
“Processo Transexualizador no SUS”):
problematizações para o cuidado em
saúde das travestis e os espaços
ofertados para esse cuidado.
(RAIMONDI, 2016)
❖ OMS, 2006: Necessidade da inclusão
das discussões sobre gênero e
sexualidade nos currículos dos cursos da
área da saúde.
❖ OMS, 2011; OPAS, 2013: Necessidade
de reflexões e proposições de políticas de
equidade, voltadas para o ensino e
assistência em saúde, pensando em
romper com as disparidades de acesso e
utilização dos serviços de saúde por essa
população.
(RAIMONDI et. al., 2019)
❖12ª Conferência Nacional de Saúde
(CNS) em 2003: temas gênero e
sexualidade pautados no Sistema Único
de Saúde (SUS) - políticas de equidade
para redução das desigualdades em
saúde;
❖ Na 13ª CNS, em 2007: a identidade de
gênero e a orientação afetivo-sexual foram
incluídas na análise da determinação
social da saúde.

(RAIMONDI et. al., 2019)


❖ Em 2014 🡺 Ministério da Educação 🡺
novas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN) para os cursos de graduação em
Medicina.
❖Aprimoramento dos currículos médicos
em relação às
questões de
gênero e
sexualidade -
cuidado integral
em saúde.
(RAIMONDI et. al., 2019)
Provocação...
“Ela resolvera procurar um ginecologista. [...]
Durante a consulta, quando perguntada pelo
histórico de suas parcerias sexuais anteriores,
Inês informou que nunca teve relações com
homens. [...] Ela foi medicada e encaminhada
para realizar exames complementares, entre
eles uma ultrassonografia endovaginal.
[...] A tentativa de introdução do equipamento
no canal vaginal causou dor e esta sensação foi
informada à profissional que realizava o
procedimento. [...]
[CONTINUA]
Não suportando a situação, Inês disse que era
“virgem” e expressões faciais de susto e
descrédito tentaram ser inibidas (ou
reforçadas!) com perguntas do tipo: “como
assim? Você nunca teve penetração? Qual a
sua idade?” ao que seguiu uma resposta
constrangida “nunca tive relações com
homens”. [...] Inês não retornou mais àquela
profissional e quiçá tenha retornado a outro
ginecologista ou profissional de saúde”.

(MELO, 2010, p. 13-14)


“(...) a atuação médica em questões de
sexualidade se mostra limitada para o
atendimento integral e humanizado em
situações de violência sexual e saúde
geral para a população LGBT”.

(RUFINO, MADEIRO e GIRÃO, 2013 apud PAULINO, RASERA e TEIXEIRA,


2019, p. 2)
Conceituações e
Diferenciações:
Orientação afetivo-sexual
e identidade de Gênero
Orientação afetivo-sexual
e identidade de Gênero
Orientação afetivo-
sexual
Heterossexual

Homossexuais

Bissexuais
Identidade de Gênero
Identidade de Gênero
Identidade de Gênero

Heterossexual Homossexuais

Bissexuais

Identidades de gênero não remetem a orientações


sexuais; Pessoas trans podem ter seu desejo sexual
voltado para pessoas do mesmo sexo, do outro sexo
ou mesmo para outras pessoas trans
Orientação afetivo-sexual
e identidade de Gênero
❖ A homossexualidade deixou de ser
considerada transtorno mental em 1973, quando
foi retirada do Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM) pela Associação
Americana de Psiquiatria.
❖A transexualidade, considerada como uma
doença na Classificação Internacional de
Doenças (CID) desde 1980, teve anunciada a
sua retirada* da classificação de transtorno
mental da 11º versão da CID.
* A transexualidade passa a integrar o capítulo de “condições relacionadas à
saúde sexual”, sendo classificada como “incongruência de gênero” na CID-11.
❖ Em nome da Igualdade nega-se a diferença.
❖ Ao ignorar as orientações afetivo-sexuais e
as identidades de gênero no cuidado em
saúde, corre-se o risco de invisibilizar suas
demandas e necessidades.

❖Pesquisa: “Análise do acesso e da qualidade


da atenção integral à saúde da população
LGBT no SUS” - Núcleo
de Estudos em Saúde
Pública da Universidade
de Brasília (Nesp/UnB)
Questionário de Entrevista

8C. Em sua opinião, o cuidado em saúde


integral a essa população deva ser prestado
na USF ou em um ambulatório específico
para atender às suas demandas? Por quê?

3B.7 Quais são as


principais demandas
de saúde da
população LGBT em
sua equipe?
Questionário de Entrevista

1D. Você conhece a Política Nacional de


Saúde Integral para a população LGBT?

7D. Em algum momento


de sua formação você
recebeu
capacitação/informação
sobre a atenção em saúde
para a população LGBT?
❖ Pesquisa: Discursos sobre o cuidado em
saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Transexuais (LGBT) entre médicas(os) da
Estratégia Saúde da Família.
❖ Definição de acesso e qualidade pelas(os)
entrevistadas(os): “capacidade de acolher e
cuidar de todos(as) os(as) usuários(as) com
integralidade”.
❖ Entretanto, o “Não” era um termo constante -
contradições entre o conceito de acesso dito no
daquele demonstrado na prática dos serviços de
saúde para a população LGBT no SUS.

(PAULINO, RASERA e TEIXEIRA, 2019, p. 5)


❖ Contradições: categorias de análise intituladas
“Discursos do Não”.
❖ “Não diferença”, “Não saber” e “Não querer”.
❖ “Não diferença” 🡺 igualdade como forma de
fazer desaparecer o preconceito; resulta no
apagamento do sujeito.
❖ A justificativa é de que as pessoas LGBT estão
sujeitas às mesmas doenças da população em
geral.
❖ “Embora os membros da comunidade LGBT
enfrentem problemas de saúde semelhantes aos
da população em geral, [...] diferentes segmentos
da população LGBT têm riscos e necessidades em
saúde específicos”.
(PAULINO, RASERA e TEIXEIRA, 2019)
(DANIEL e BUTKUS, 2015 apud PAULINO, RASERA e TEIXEIRA, 2019, p. 6)
“Não saber” 🡺 quando as(os)
entrevistadas(os) afirmavam não saber quais
são as demandas da população LGBT.
❖ Deficiências na formação e na capacitação
para atuar com esse segmento populacional.
❖ Uma justificativa para o não atendimento ou o
atendimento não adequado às pessoas LGBT.
❖ Estrutura-se por meio de uma culpabilização
do sistema pelo não saber, de modo a esconder
uma desresponsabilização, ou seja, “eu não sei
e posso continuar não sabendo”.

(PAULINO, RASERA e TEIXEIRA, 2019, p. 10)


“Não querer” 🡺 a culpabilização dos sujeitos:
os(as) usuários(as) LGBT não querem buscar os
serviços de saúde; tende a desqualificar a
necessidade de ações em saúde específicas
para as pessoas LGBT.
❖ “Não diferença”, “Não saber” e “Não
querer” 🡺 “São potencializadores do
silenciamento de questões envolvendo as
condições de saúde da população LGBT,
afastando-a do cuidado em saúde integral,
equânime e universal”.

(PAULINO, RASERA e TEIXEIRA, 2019, p. 12)


O que se espera é ampliar a discussão e o
entendimento das necessidades em saúde da
população LGBT para “o contexto da
determinação social do processo saúde-
adoecimento-cuidado de cada sujeito,
articulando as diferentes dimensões da vida
envolvidas, considerando os aspectos:
históricos, econômicos, sociais, culturais,
biológicos, ambientais e psicológicos que
configuram uma determinada realidade
sanitária”

(BATISTELLA, 2007 apud PAULINO, RASERA e TEIXEIRA, 2019, p. 3)


“Compreender a determinação social no
dinâmico processo saúde-doença das pessoas
e coletividades requer admitir que a exclusão
social decorrente do desemprego, da falta de
acesso à moradia e à alimentação digna, bem
como da dificuldade de acesso à educação,
saúde, lazer, cultura interferem, diretamente,
na qualidade de vida e de saúde. Requer
também o reconhecimento de que todas as
formas de discriminação, como no caso das
homofobias que compreendem lesbofobia,
gayfobia, bifobia, travestifobia e transfobia,
devem ser consideradas na determinação
social de sofrimento e de doença”.
(BRASIL, 2013, p. 13)
Barreiras para o cuidado
“Pra mim, não existe sistema de saúde
pra nós travestis, a gente é apenas
motivo de chacota”
(ROSA)
(FERREIRA et. al., 2017)
Barreiras para o
cuidado
❖ Barreiras apontadas (Usuários LGBT):
falta de educação do(a) trabalhador(a), a
recusa de tratamento, cuidado precário e
abuso verbal.
❖ Violação ao direito ao uso do nome social.
❖ Direito Garantido na Carta dos Direitos dos
Usuários da Saúde.
❖Uso correto do pronome de tratamento de
acordo com o gênero apresentado pelo
indivíduo.
(MOLL et. al., 2014 apud PAULINO, RASERA e TEIXEIRA, 2019)
(GOMES et. al., 2018)
“É direito do cidadão atendimento acolhedor na
rede de serviços de saúde de forma humanizada,
livre de qualquer discriminação, restrição ou
negação em função de idade, raça, cor, etnia,
orientação sexual, identidade de gênero,
características genéticas, condições econômicas
ou sociais, estado de saúde, ser portador de
patologia ou pessoa vivendo com deficiência,
garantindo-lhes: I – Identificação pelo nome e
sobrenome, devendo existir em todo documento
de identificação do usuário um campo para se
registrar o nome pelo qual prefere ser chamado,
independente do registro civil (...).”

(BRASIL, 2006)
Barreiras para o
cuidado
Contexto hospitalar:
❖ Alocação de pessoas trans em salas de
emergência e enfermarias em desacordo
com sua identidade de gênero;
❖ Além de ser uma violência por não
reconhecer a autodeterminação do
gênero, viola o direito à privacidade e ao
sigilo.

(GOMES et. al., 2018)


Barreiras para o
cuidado
Para além do contexto hospitalar:
❖ Assistência ginecológica e obstétrica e
ao acesso ao aborto legal.
❖ O fato desse tipo de assistência ser
generificado e exclusivo para usuárias do
gênero feminino, inviabiliza a atenção a
homens trans em decorrência da não
conformidade entre sexo e gênero
vivenciada por eles.
(GOMES et. al., 2018)
Algumas Demandas...
“Eu até falei com uma amiga pra ela marcar
um proctologista pra mim, mas como é que eu
vou chegar, uma mulher, para ir ao médico
que é de homem? Aí ela ficou sem me
responder, eu pra quebrar o gelo disse a ela
que eu não queria exame de sangue, queria a
dedada, só pra descontrair”.
(GIRASSOL)

(FERREIRA et. al., 2017)


Algumas demandas...
Prevenção ao HIV-Aids e Doenças
Sexualmente Transmissíveis
❖ Manutenção e o fortalecimento de ações da
prevenção das DST/aids, com especial foco nas
populações LGBT.
❖ “Sidadanização” discutido por Larissa Pelúcio
e Richard Miskolsi.
❖ Repatologização das sexualidades
dissidentes.

(BRASIL, 2013)
Algumas demandas...
Hormonização
❖ Promover iniciativas voltadas à redução de
riscos e oferecer atenção aos problemas
decorrentes do uso prolongado de hormônios
femininos e masculinos para travestis e
transexuais.

(BRASIL, 2013)
Algumas demandas...
Saúde Mental
❖ A transexualidade pode ser marcada por um
intenso sofrimento psíquico;
❖ Que podem vir acompanhadas de sintomas e
transtornos diversos.
❖ Não em decorrência da transexualidade em si,
mas em reflexo de questões da ordem do social
❖ Tais como dificuldades de inserção no mercado
de trabalho formal, medo do preconceito, ausência
de projetos de vida e dificuldade de planejamento
financeiro
(ARÁN; ZAIDHAFT; MURTA, 2008 apud PACHECO, 2017; ARÁN e MURTA,
2009 apud PACHECO, 2017; GIONGO et. al., 2012 apud PACHECO, 2017)
Voltando ao caso da
Inês
“Ela resolvera procurar um ginecologista. [...] Durante a consulta,
quando perguntada pelo histórico de suas parcerias sexuais
anteriores, Inês informou que nunca teve relações com homens.
[...] Ela foi medicada e encaminhada para realizar exames
complementares, entre eles uma ultrassonografia endovaginal. [...]
A tentativa de introdução do equipamento no canal vaginal causou
dor e esta sensação foi informada à profissional que realizava o
procedimento. [...] Não suportando a situação, Inês disse que era
“virgem” e expressões faciais de susto e descrédito tentaram ser
inibidas (ou reforçadas!) com perguntas do tipo: “como assim?
Você nunca teve penetração? Qual a sua idade?” ao que seguiu
uma resposta constrangida “nunca tive relações com homens”.
[...] Inês não retornou mais àquela profissional e quiçá tenha
retornado a outro ginecologista ou profissional de saúde”.

(MELO, 2010, p. 13-14)


❖ Reflexão: Atendimento mais adequado
ao caso apresentado, pensando em
desfecho melhor.
❖ Próxima-Aula: Role-play por meio de
situações simuladas sobre a abordagem
de gênero e sexualidade.
Obrigada!
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento
de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica
e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Brasília: 1. ed., 1. reimp.
Ministério da Saúde, 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde / Ministério da
Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006

FERREIRA, B.O.; NASCIMENTO, E.F.; PEDROSA, J.I.S.; MONTE, L.M.I. Vivências de


Travestis no acesso ao SUS. Physis, n. 27, v. 4, 2017, p. 1023-1038.

GOMES, R.; MURTA, D.; FACCHINI, R.; MENEGHEL, E.N. Gênero, direitos sexuais e suas
implicações na saúde. Ciência e Saúde Coletiva, v. 23, n. 6, 2018, p. 1997-2005.

MELO A. P. L. “Mulher Mulher” e “Outras Mulheres”: gênero e homossexualidade(s) no


Programa de Saúde da Família. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Instituto de
Medicina, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Rio de Janeiro, 2010.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Conferência Mundial de Saúde Sobre


Determinantes Sociais da Saúde. Declaração política do Rio de Janeiro sobre determinantes
sociais de saúde. Rio de Janeiro, RJ; 2011.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE (OPAS). 52º Conselho diretivo. 65ª Sessão do
Comitê Regional. Abordar as causas das disparidades em quanto ao acesso e a utilização
dos serviços de saúde por parte das pessoas lésbicas, homossexuais, bissexuais e
trans. Washington, DC; 2013.

PACHECO, B.G.C. Psicologias e Transexualidades: o estado da arte da produção teórica


brasileira. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade
Federal de Uberlândia, 2017.

PAULINO, D.B.; RASERA, E.F.; TEIXEIRA, F.B. Discursos sobre o cuidado em saúde de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) entre médicas(os) da Estratégia
Saúde da Família. Interface, n. 23, 2019., p. 1-15.

RAIMONDI, G. A. Saúde da população “Trans”: Uma revisão sistemática da produção teórica


brasileira. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Faculdade de Medicina,
Universidade Federal de Uberlândia, 2016.

RAIMONDI, G.A. ; PAULINO, D.B.; HATTORI, W.T.; JÚNIOR, V.L.; SILVA, V.M.O.L.; ZAIDHAFT,
S. Ensino aprendizagem de Gênero e Sexualidade em um curso de medicina no Brasil:
promovendo o Cuidado Integral em Saúde e os Direitos Humanos. Revista Brasileira de
Educação Médica, v. 43, n. 2, 2019, p. 130-142.

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