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NO BRASIL
PROF. DR.
RONALDO TRINDADE
APRESENTAÇÃO
ROTEIRO
I - As disputas raciais na formação do povo brasileiro
IV - Necropolíticas:
1. Os assassinatos das lideranças indígenas
2. Acirramento dos conflitos fundiários
3. A cor da população carcerária
4. O extermínio dos jovens negros
O POVO PRETO
• A distribuição dos negros no continente Africano, provavelmente, passou por duas
fases principais. É geralmente aceito que, por volta de 7000 a.C., o Sahara tinha
secado. A África Equatorial era provavelmente ainda uma zona de floresta muito
densa para atrair os homens. Os últimos Pretos que viviam na Sahara agora
presumivelmente o deixaram migrando em direção ao Alto Nilo, com a possível
exceção de alguns pequenos grupos isolados no resto do continente, que ou haviam
migrado para o sul ou tinham se dirigido para o norte
• Talvez o primeiro grupo encontrou uma população Preta indígena na região do Alto
Nilo, Seja qual for o caso, foi a partir da gradual adaptação às novas condições de
vida as quais a natureza permitia a essas várias populações Pretas que o mais antigo
fenômeno de civilização surgiu. Esta civilização, chamada de Egípcia em nosso
período, desenvolveu-se por um longo tempo em seu primitivo berço; em seguida,
ela desceu lentamente o Vale do Nilo para se espalhar em torno da bacia do
Mediterrâneo. Este ciclo de civilização, a mais longa da história, provavelmente
durou 10.000 anos.
• Durante esse longo período, os Pretos poderiam ter penetrado mais e mais
para o interior do continente para formar núcleos que se tornariam
centros da civilização continental
• Essas civilizações Africanas seriam isoladas do resto do mundo. Eles
tenderiam a viver em isolamento, como resultado da distância enorme
separando-os das rotas de acesso para o Mediterrâneo. Quando o Egito
perdeu a sua independência, o seu isolamento foi completo.
• A partir de então, separados do país materno que foi invadido pelo
estrangeiro, e retirados em um ambiente geográfico exigindo um mínimo
de esforço de ajustamento, os Pretos eram orientados para o
desenvolvimento de sua organização social, política e moral
• Com recursos econômicos assegurados por meios que não exigiam
invenções perpétuas, o Preto tornou-se progressivamente indiferente ao
progresso material.
• Foi sob estas novas condições que o encontro com a Europa se deu. No século XV [1400‟s],
quando os primeiros Portugueses, Holandeses, Ingleses, Franceses, dinamarqueses, e
Bradenburgers começaram a criar postos de comércio na costa Oeste Africana, a
organização política dos Estados Africanos era igual, e muitas vezes superior, à de seus
próprios respectivos Estados. Monarquias já eram constitucionais, com o Conselho do Povo
no qual os diversos estratos sociais eram representados.
• Ao contrário da „lenda‟, o rei Negro não era, e nunca foi, um déspota com poderes
ilimitados. Em alguns lugares, ele era investido pelo povo, com o Primeiro-Ministro, um
intermediário representando os homens livres. Sua missão era servir o povo com sabedoria
e sua autoridade dependia de seu respeito pela constituição estabelecida
• por todas as razões citadas acima, o desenvolvimento técnico foi menos acentuado do que
na Europa. Embora o Negro tivesse sido o primeiro a descobrir o ferro, ele não havia
construído nenhum canhão; o segredo da pólvora foi conhecido apenas pelos Sacerdotes
Egípcios, que o usaram exclusivamente para fins religiosos em ritos, como os Mistérios de
Osiris
• A África era, portanto, muito vulneráveis do ponto de vista técnico. Tornou-se uma
presa tentadora, irresistível para o Ocidente, provido com armas de fogo e as
marinhas de longo alcance. Assim, o progresso econômico da Europa renascentista
estimulou a conquista de África, que foi rapidamente realizada
• No início deste período a América foi descoberta por Cristóvão Colombo e a inundação
do velho continente foi descarregada sobre o novo. O desenvolvimento de terras
virgens necessitava de mão de obra barata. A África indefesa, então, tornou-se o
reservatório pré-pronto de onde tirar essa força de trabalho com o mínimo de despesa
e risco. O moderno comércio de escravos Negros foi considerado uma necessidade
econômica antes do advento da máquina. Este duraria até meados do século XIX
[1800‟s].
• Essa tal inversão de papéis, o resultado de novas relações técnicas, trouxe consigo relações „senhor -
escravo‟ entre Brancos e Pretos no nível social. Já durante a Idade Média, a memória de um Egito Negro,
que tinha civilizado do mundo havia sido obscurecida pela ignorância da antiga tradição escondida em
bibliotecas ou enterrada sob ruínas. Ela se tornaria ainda mais obscura durante estes quatro séculos de
escravidão.
• Inflados por sua recente superioridade técnica, os Europeus olharam para o mundo Preto e
condescenderam em não tocar nada, além de suas riquezas. A ignorância da antiga história dos Pretos,
diferenças de costumes e hábitos, preconceitos étnicos entre duas raças que acreditavam estar frente a
frente, pela primeira vez, combinados com a necessidade econômica de explorar - tantos fatores predispôs
a mente do Europeu para distorcer a personalidade moral do Preto e suas aptidões intelectuais.
• A Partir de então, "Negro" tornou-se sinônimo de ser primitivo, "inferior", dotado de uma mentalidade
pré-lógica. Como o ser humano está sempre ansioso para justificar sua conduta, eles foram ainda mais
longe. O desejo de legitimar a colonização e o tráfico de escravos - em outras palavras, a condição social do
Negro no mundo moderno - engendrou toda uma literatura para descrever os então-chamados traços
inferiores do Negro. A mente de várias gerações de Europeus seria, assim, gradualmente doutrinada, a
opinião Ocidental seria cristalizada e, instintivamente, aceitada como verdade revelada a equação: Negro
= humanidade inferior
[ * - "Negro, Negra (Latin niger : preto),
Homem, mulher com pele preta. Este é o
nome dado especialmente para os habitantes
de alguns países da África, que formam uma
raça de homens pretos inferiores em
inteligência ao branco ou raça Caucasiana."
Dicionário Larousse - Nouveau Dictionnaire
Larousse, 1905, p. 516.]
• Para coroar este cinismo, a colonização seria retratada como um dever da humanidade.
Eles invocam a "missão civilizadora" do Ocidente carregado com a responsabilidade de
elevar o Africano para o nível de outros homens [conhecida por nós como "o fardo do
homem branco"]. A partir de então, o capitalismo teve liberdade para praticar a mais
feroz exploração sob o disfarce de pretextos morais.
• No máximo, eles reconhecem que o Negro tem dons artísticos ligados à sua
sensibilidade como um animal inferior. Essa é a opinião do francês Joseph de Gobineau,
precursor da filosofia Nazista, que em seu famoso livro sobre a desigualdade das raças
humanas decreta que o senso artístico é inseparável do sangue Negro; mas ele reduz a
arte a uma manifestação inferior da natureza humana: em particular, o senso de ritmo
está relacionado com as aptidões s emocionais do preto.
• 1974. Em Salvador, é fundado o bloco afro Ilê Aiyê. Em São Paulo, acontece a Semana
do Negro na Arte e na Cultura, que articula apoio às lutas de libertação travadas na
África. Surgem várias entidades de combate ao racismo. Em São Paulo, surgem o
Centro de Estudos da Cultura e da Arte Negra (Cecan), o Movimento Teatral Cultural
Negro, o Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas (IBEA) e a Federação das Entidades
Afro-brasileiras do Estado de São Paulo. No Rio de Janeiro, surgem o Instituto de
Pesquisas da Cultura Negra (IPCN), a Escola de Samba Gran Quilombo e a Sociedade
de Intercâmbio Brasil-África