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! narrador de primeira pessoa, um menino, lembra
de quando chegou à cidade um casal, com muitos apetrechos,
e se hospedou na pensão. Misterioso, o casal saía pelas
manhãs, passava o dia todo fora e voltava à noitinha. Na
pensão, viviam trancados no quarto, bebendo até altas horas.
Felizmente não passava ninguém por perto. Se alguém soubesse da
agressão haveria de querer saber o motivo, e como poderia eu contar tudo e
ainda esperar que me dessem razão? Para não chegar em casa com sinais
de desordem no corpo e na roupa desci até o rio, lavei o sangue dos ralões
do punho e da testa e o sujo do paletó e dos joelhos da calça, enquanto
pensava um plano eficiente de vingança. (VEIGA, 2000, p.16)
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! narrador de primeira pessoa diz que seu cavalo Balão não
aparecia mais na porteira, deixando-o apreensivo. ! pai, contudo, o
tranqüilizava. A cozinheira lhe diz que, se fizer promessa a São
Nunguinho e o animal estiver vivo, ele aparecerá. Mas o animal já estava
morto. ! corpo foi encontrado tombado no açude.
i...] ! ar não alcançava mais o fundo do meu peito, meus olhos doíam
para fora, os ouvidos chiavam, e ninguém perto para me dar a mão. Eu
estava sozinho no escuro, sozinho, sozinho. (VEIGA, 2000, p. 64)
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! narrador, um menino, diz que seu pai, antes de partir, lhe dá
instruções de como proceder na sua ausência. Pede que seja um
menino bom e que não desrespeite a mãe, que andava de choros pelos
cantos. ! pai deixara o ofício para ser mascate.
Após a partida do pai, o menino esperava a noite chegar para
poder brincar na rua sem repreensão. Ele abusava da ausência do pai.
Seria difícil acostumar quando o pai retornasse. Quando o circo chegou
à cidade ele não teve mais tempo mesmo. Trabalhava para ganhar o
ingresso. Com isso, não ajudava mais a mãe. Quis mesmo levá-la ao
circo. Quando o circo foi embora, a mãe adoeceu, ao fazer o almoço. Ele
foi comprar um remédio, mas se distraiu com um pião e esqueceu de
voltar. Ao retornar, foi repreendido por uma amiga da mãe. !utra feita, ao
sair para buscar o médico, atrasou-se e, ao chegar lá, o doutor já havia
saído. Quando o pai retorna, a mãe está morrendo.
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! narrador diz que ficou dezessete anos solto pelo mundo.
Nesse tempo nasceu um seu irmão, que ele tem agora à sua frente.
Através de um exercício interior muito grande, ele tenta estabelecer um
diálogo com o irmão, superando as diferenças entre ambos.
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Juventino, numa caçada, sofreu um acidente insólito: caçador
de fama, perdeu a espingarda e a consideração pública. Tomou-se
objeto de chacota na vila. Ainda que pedisse uma espingarda
emprestada, não a alcançava de ninguém. Certo dia, ao entrar numa loja
de cachimbos, experimenta um, e, num átimo, o cachimbo virou
espingarda.
uventino ouviu a história e ficou muito tempo com o cachimbo na mão,
os olhos parados longe. Depois, sem perceber que era observado, ergueu o
cachimbo à altura do rosto, segurando-o pelo bojo, fechou um olho em
pontaria e deu um estalo com a boca. (VEIGA, 2000, p. 81)
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! sr. !límpio, viúvo agora, faz uma viagem de dez léguas com o
filho. No caminho, lembra que, devido à escaramuças com um vizinho,
deixara o sido Bom-Tempinho e veio viver com a esposa na vila. ! sítio,
que era do sogro, foi vendido para uma mineradora que explorou uma
mina de cristal até a exaustão e depois abandou o local, deixando tudo
esburacado. ß medida em que vai ouvindo o pai, o menino tem vontade
de estabelecer um diálogo com ele, o que não acontecia.
Tem vontade de compreender as angústias do pai, de ajudá-lo nas suas
dificuldades, que não eram poucas. ! menino ia para a casa dos
padrinhos, onde ficaria um tempo.
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Este conto narra a história de Vicente e sua noiva, uma
professora. !s dois vivem tomados pelo medo, pela interdição social.
Ambos, com receio da opinião alheia, vivem moldados por gestos,
atitudes e comportamentos estereotipados, que os impedem de serem
seres por inteiro. Sem poderem exteriorizar sentimentos, trocam poucas
palavras, receosos das más línguas. Vivem com medo da opinião alheia,
formalmente.
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! narrador conta que procurava um largo e pergunta a um
menino onde ficava. ! garoto, ao invés de lhe responder, pede-lhe a
mão. Ele a nega, corre e o menino vai atrás. Ele faz um gesto, o garoto
volta. Pouco depois, um grupo de meninos saem a sua procura. Querem
assassiná-lo, são meninos violentos. Ele se esconde em uma casa, os
meninos passam e ele fica só, sem saber onde ficava o largo.
Este conto, como "!s noivos" e "A viagem de dez léguas",
tematiza a falta de comunicação entre as pessoas, a interdição social.
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! narrador diz que estava intrigado com uma tabuleta na porta
de uma loja que dizia "compra, troca-se problemas". Certa feita, resolveu
entrar e ver do que se tratava. ! dono da loja não vendia nada, pois o
tempo estava mais para comprar. Chega um caminhão e a mercadoria é
descarregada. ! narrador pergunta ao lojista o que há naqueles sacos e
este apenas diz que se algum daqueles sacos de problemas se romper,
só os que tiverem couraça natural invisível, os chamados cascamorros,
sobreviveriam.
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Após uma longa espera, inaugura-se uma estrada, tido como a
pérola da engenharia de construção: asfalto de primeira qualidade,
pontes, túneis, canteiro central, arborização, pistas para pedestres e
ciclistas etc. A inauguração foi eufórica, mas o entusiasmo durou pouco.
Rm galo impertinente aparecia na estrada toda vez que alguém a
cruzava, provocando desastres, mutilando os veículos, assombrando as
pessoas.
!s viajantes contavam que iam indo muito bem pela estrada,
embalados pela lisura do asfalto, quando de repente, saído não se sabe de
onde, um galo enorme aparecia diante do carro. Não adiantava tocar
buzina, ele não se desviava; nem adiantava aumentar a velocidade, ele não
se deixava apanhar. Era como se ele fosse puxando o carro para um
embasamento de ponte, uma árvore, um marco quilométrico. Quando o
motorista conseguia manobrar e escapar do desastre, o galo aplicava outro
expediente: saltava para cima do carro e martelava a capota com o bico, e
com tanta força que perfurava o aço, deixando o carro como se um
malfeitor o tivesse atacada a picareta. (VEIGA, 2000, p. 125)
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Narra a história de um cachorro que, vindo não se sabe de
onde, chegou ali e se agasalhou debaixo de um jasmineiro. Aos
poucos foi conquistando a simpatia da família, que o levou para
dentro de casa. Para que ele não ficasse tão só, arranjou-se um
cachorrinho para lhe fazer companhia. !s dois brincavam muito. Até
que o cachorro irritou-se com o pequeno e o comeu. Após o ato
canibalístico, passou a andar pelos cantos. Todos o evitavam, em
atitude de repulsa. Ele percebeu a mudança das pessoas. Esta
indiferença e rejeição faziam-no sentir como se vivesse entre grades
de uma jaula.
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! senhor pergunta pelas novidades daqui deste sertão, e finalmente
posso lhe contar uma importante. Fique o compadre sabendo que agora
temos aqui uma máquina importante, que está entusiasmando todo o mundo.
Desde que ela chegou ± não me lembro quando, não sou muito bom em
lembrar datas - quase não temos falado em outra coisa; e da maneira que o
povo daqui se apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de admirar que
ninguém tenha brigado ainda por causa dela, a não ser os políticos.
(VEIGA, 2000, p. 133)
Nesse clima de encantamento, o narrador conta a um amigo o
súbito aparecimento de uma máquina. Chegou sem que ninguém
soubesse quem a encomendou ou para que servia. A população
foca sua atenção na máquina estranha. As crianças aproveitam para
brincar de esconde-esconde entre as peças da máquina, as
velhinhas torcem o nariz para aquele objeto estranho, mas todos
tratam a máquina com respeito, com reverência. As datas cívicas e
os comícios são realizados à sombra dela. ! vigário é a única voz
dissonante naquele coro: vive lançando imprecações contra aquele
estranho objeto.