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Desejos e orgasmos: notas para uma dinâmica dos prazeres entre meninos

do campo (Paraná, 1960-1970)

Jeferson Ramos1

Resumo: Neste artigo reúno reflexões sobre a constituição da subjetividade da sexualidade entre meninos em
contexto campesino. O artigo se utilizou de três entrevistas com homossexuais masculinos que vivem atualmente
em contexto urbano, mas que vivenciaram suas infâncias no interior do estado do Paraná entre os anos 1960 e
1970. Longe de construir um quadro representativo da vivência sexual no interior, o presente artigo busca
compreender a emergência de sentimentos, desejos e orgasmos que fugiam à norma heteronormativa e
expunham a possibilidade de uma dinâmica de prazeres sem nomes e que tinham efeito apenas por serem fruto
de desejos aflorados em brincadeiras e jogos sexuais. O objetivo da pesquisa, foi contribuir no rompimento dos
silêncios historiográficos e históricos acerca das vivências sexuais do campo, evidenciando que a compreensão
dos desejos e orgasmos que ocorriam e ocorrem neste lugar, podem apontar para uma dinâmica de prazeres
constitutiva da experiência da infância e juventude.

Palavras-chave: Prazeres. Sexualidade. Meninos. Campo. Paraná.

Resumé: Dans cet article, je rassemble des réflexions sur la constitution de la subjectivité de la sexualité chez les
garçons dans un contexte paysan. L'article a utilisé trois entretiens avec des homosexuels de sexe masculin qui
vivent actuellement dans un contexte urbain, mais qui ont vécu leur enfance à l'intérieur de l'état de Paraná entre
les années 1960 et 1970. Loin de construire une image représentative de l’expérience sexuelle à l’intérieur, le
présent article cherche à comprendre l’émergence de sentiments, de désirs et d’orgasmes échappant à la norme
hétéronormative et exposant la possibilité d’une dynamique de plaisirs anonymes qui n’exercent leur effet que
parce qu’ils sont le fruit désirs ont fait surface dans les jeux sexuels et jeux. L’objectif de la recherche était de
contribuer à la perturbation des silences historiographiques et historiques sur les expériences sexuelles sur le
terrain, en démontrant que la compréhension des désirs et des orgasmes qui se produisaient et se produisaient à
cet endroit pouvait indiquer une dynamique de plaisirs constitutifs de l’expérience de l’enfance et de la jeunesse.

Mots-clés: Plaisirs. Sexualité. Garçons. Paysan. Paraná.

Nada é permanente, exceto, a mudança.


Heráclito de Éfeso

Considerações iniciais

A passagem da década de 1970 para 1980, é considerada na historiografia, um marco


temporal da constituição subjetiva da homossexualidade (GREEN, 2000; VERAS, 2017;
LOPES, 2016). A partir desse período, inúmeros sujeitos e coletivos, passaram a defender
suas existências como possibilidades saudáveis, tanto quanto a daqueles que os

1
Graduado em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná/UNICENTRO, mestrando em
História no Programa de Pós-Graduação em História Global da Universidade Federal de Santa Cataria/UFSC e
integrante de Laboratório de Estudos de Gênero e História/LEGH/UFSC.
criminalizavam. O surgimento do Somos – Grupo de Afirmação Homossexual e do jornal
alternativo Lampião da Esquina, em 1978, configuraram o nascimento da luta organizada e
hoje é uma memória importante para os coletivos LGBT+. Além desse marco oficializado,
outras pesquisas revelaram, mais recentemente, a emergência de tentativas de luta organizada,
em cidades como Belo Horizonte, ainda nos anos 1960 (MORANDO, 2015).
Sem rejeitar a relevância dos trabalhos e seu potencial na constituição da experiência
histórica de homossexuais, lésbicas, travestis e transexuais, é importante observar que a
maioria destas pesquisas, partiram de experiências de adultos urbanos ou se centraram no eixo
Rio-São Paulo.
Uma rápida pesquisa, em alguma plataforma virtual de trabalhos acadêmicos,
permitirá verificar a escassez de estudos historiográficos sobre as dinâmicas de prazeres em
contextos campesinos, por exemplo, no presente e no passado. Notadamente, para o sul do
Brasil, as pesquisas que se voltaram para o campo, tenderam enfocar as lutas pela terra, a
agricultura, o agronegócio e a educação, temas que possuem ampla relevância, tendo em vista
os índices da concentração de terra e renda, bem como da violência que as sustentam.
Todavia, são temas e abordagens dessexualizados, não apontando para outros campos de
interesse e de mesma relevância. Além dessa constatação geopolítica de silenciamento,
também verificam-se que os trabalhos existentes enfocam timidamente faixas etárias
anteriores à vida adulta (LAVERDI, 2009), ou de pessoas na velhice, acessando, em seu
turno, documentos de experiências de sujeitos adultos, formados, trabalhadores, militantes,
sobretudo urbanos.
Diante desse cenário, o presente artigo objetiva discutir, com a historiografia
contemporânea, em que consiste esse silenciamento, bem como, apresentar notas acerca de
minhas pesquisas sobre o tema da memória da sexualidade na infância camponesa, na busca
por compreender os modos de subjetividade inerentes às dinâmicas de prazeres que se
desenvolveram entre meninos do campo nas décadas de 1960 e 1970, contribuindo, desta
forma, com o rompimento dos silêncios, acerca desta questão, ainda que a presente proposta
não esgote as possibilidades de compreensão do tema aqui discutido.
Para a realização da pesquisa, foram feitas três entrevistas, com homossexuais
masculinos paranaenses, entre 2018 e 2019, os quais relembraram e contaram sobre suas
infâncias, e como se deu a construção da subjetividade de suas experiências sexuais, tendo em
vista a normativa heterossexual e o espaço em que viviam.
Para os fins a que se destinam minha proposta neste texto, sistematizei a estrutura do
mesmo da seguinte forma: na seção Um outro lugar dos silêncios políticos de Clio, discuto,
brevemente, a ausência de menções sobre o campo ou regiões de interior, nos trabalhos sobre
gênero e sexualidade, notadamente naqueles que se dedicam à historiografia LGBT+. Na
seção seguinte, O despertar do ser diferente, começo a análise das lembranças dos
entrevistados, lembranças estas, sobre os primeiros momentos diante dos sentimentos que
atraiam meninos a outros meninos, ou aos homens, com os quais conviviam. Em Uma
dinâmica de prazeres, o foco recai sobre as experiências objetivas de prazeres vivenciados no
interior, principalmente, colocando em questão os orgasmos mútuos entre os meninos,
orgasmos compartilhados em meio a brincadeiras e jogos sexuais. Para finalizar, na seção O
pacto de silêncio, analiso o mecanismo de ocultação da dinâmica dos prazeres entre os
meninos, que não apenas refletia um reforço à masculinidade hegemônica, publicamente
ostentada, mas, na mesma chave, uma das condições de possibilidade da dinâmica dos
prazeres. Nessa seção, busco compreender o funcionamento do pacto, e questiono sobre a
possibilidade de seu rompimento, e das consequências do mesmo e como o meio urbano e
central fez parte extensiva desse processo reconfigurando o problema através do dispositivo
do “assumir-se”.

Um outro lugar dos silêncios políticos de Clio

No ano de 2014, o historiador Elias Ferreira Veras e a historiadora Joana Maria Pedro,
publicaram um artigo intitulado Os silêncios de Clio: escrita da história e (in)visibilidade das
homossexualidades no Brasil, na revista Tempo e Argumento, cujo objetivo era tanto fazer um
balanço da produção histórica e historiográfica sobre as “homossexualidades”, quanto tecer
questionamentos acerca da escassez de pesquisas, tendo em vista que a historiografia havia,
desde meados do século XX, aberto espaço para novos sujeitos, novos objetos e novas
abordagens, principalmente, nos avanços dos campos da história social e da história das
mentalidades, de matriz francesa (VERAS; PEDRO, 2014). Entretanto, os autores não
mencionaram a ausência de trabalhos sobre o espaço campesino, como sendo um silêncio
político, assim como aqueles sobre espaços urbanos.2

2
É preciso lembrar, que, no final do século passado, a historiadora Magali Engel (1997), publicou um capítulo
sobre o lugar da sexualidade na historiografia francesa e brasileira. A autora não focou sua atenção na
homossexualidade, mas apontou que tem sido um objeto de pesquisa valoroso dos recentes trabalhos e que desde
os anos 1980 o campo estava em desenvolvimento no país, ainda que contasse com poucas e localizadas
pesquisas. A autora reforçou, ainda, o quanto pesquisas sobre sexualidade contribuem na compreensão das
vivências sociais e das ideias, portanto, constituiria um eixo de análise promissor à historiografia brasileira.
Mais tarde, no ano de 2018, Veras e Pedro voltaram a publicar o texto, desta vez numa
coletânea dedicada às conexões entre História e Teoria Queer; como pôde ser verificado, o
campo de estudos sobre as “homossexualidades”, bem como as demais personagens da sigla
LGBT+ (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), estava crescendo, ampliando
discussões e assumindo sujeitos invisibilizados, em experiências pouco documentadas
(NETO; GOMES, 2018), no entanto, mais uma vez, não aparecem pesquisas sobre moradores
das regiões interioranas, e de contexto campesino, tanto no texto dos autores quanto na
coletânea.
Alguns anos antes da denúncia sobre os silêncios de Clio, feita pelos autores citados,
James Naylor Green, Lance Arney, Ronald Polito e Marisa Fernandes, publicaram alguns
textos, dedicados ao arrolamento de fontes e questões sobre as homossexualidades masculinas
no Brasil, tanto em Homossexualidade no Brasil: uma bibliografia anotada (2003), quanto
em Frescos trópicos: fontes sobre a homossexualidade masculina no Brasil (1870-1980)
(2006) ou mesmo, no artigo Homossexualidades e a História: recuperando e entendendo o
passado (2012) de Green. Em todos estes importantes espaços de divulgação de
possibilidades de pesquisa, o campo enquanto lugar social que depende de uma abordagem
própria, esteve ausente.
Diante desse processo, cabe caracterizar o problema como sendo não apenas um
silêncio de Clio, uma vez que há desafios significativos para as investigações de espaços não-
urbanos e não-centrais, quando o assunto é a sexualidade, mas, da mesma forma, constitui em
silêncio dos silêncios de Clio, pois os autores que discutiram as ausências historiográficas
relativas às homossexualidades, não mencionaram estas mesmas ausências em relação ao
espaço rural e camponês. É preciso, portanto, adentrar na geografia dos lugares, tanto quanto
na geopolítica dos corpos, questionando-se da geopolítica dos silêncios através da geografia
dos desvios. Esse é meu objetivo principal aqui. 3

“O despertar do ser diferente”

Os entrevistados para a pesquisa, que resultou neste artigo, são, Carlos Antônio,
Antônio Carlos e Antônio Luiz Martins Harrad Reis, mais conhecido como Toni Reis,

3
Dentre a bibliografia, historiográfica e antropológica, sobre questões sexuais da infância camponesa, e de modo
mais geral, da sexualidade camponesa, é preciso citar, Laverdi (2009), Ferrari, Barbosa (2014), Passamani
(2007), Rogers (2006) e Paiva (2015).
fundador do Grupo Dignidade, em Curitiba, Paraná.4 À exceção de Antônio Carlos, que mora
em Ponta Grossa, Carlos e Toni, residem, atualmente, em Curitiba. Seus relatos sobre o
passado no interior, se dão desde os atuais espaços onde vivem, para os quais se deslocaram
entre os anos 1970 e 1980, quando iniciavam a juventude, entre 18 e 20 anos de idade. No
caso de Antônio Carlos, é o lugar de sua atuação profissional atual.
Iniciarei a análise das entrevistas, por Carlos Antônio, que é tio de Antônio Carlos,
contatado através da entrevista com o sobrinho. A cidade natal de Carlos é Japurá, localizada
na região noroeste do estado do Paraná, local onde nasceu em 1956. Sua família presenciou a
fundação oficial da cidade, que ocorreu em 1964.
As lembranças de suas primeiras experiências, que implicaram em sexualidade, se
referem a sentimentos e desejos que, como ele sintetizou, eram “só fantasias”. Não havia o
horizonte de uma prática concreta, pois, quando menino, o universo da prática nem sempre
era uma resposta imediata, ou possível, ao que se sentia.
O “despertar do ser diferente”, ocorria, sobretudo, no campo da sensibilidade,
daqueles sentimentos que se misturavam a desejos, mas que não faziam muito sentido, “sentia
atração e até sentimentos que afloravam, só que não eram experimentados através de
contatos” (Carlos Antônio, 2019), comentou. Carlos relatou ainda, que não praticava
concretamente aquele sentimento, “por medo”, pois, não havia referências que traduzissem o
que se sentia e que poderiam servir-lhe de sustentação. Por outro lado, havia a “dúvida”, uma
vez que não se tinha uma compreensão consistente do que era aquele sentimento. De início,
ele se manifestava apenas por uma confusão, aliado a isso, não havia informações sobre
sexualidade onde ele morava, era um tema que cada um trabalhava conforme as experiências
e os códigos morais, ritualizados no âmbito da família e da religião.
O contexto do interior do estado do Paraná, era marcado por forte presença católica, a
qual constituía os contornos que as concepções sobre o corpo e a sexualidade assumiam entre
os moradores, mesmo que permanecessem não ditas verbalmente. E essas concepções,
estavam saturadas pelo entendimento da moral sexual heteronormativa, sendo não apenas
pilar de sustentação social, mas considerada um dado natural, estendida à possibilidade da
conjugação carnal, que estaria, por sua vez, comprometida com a reprodução. A igreja era, no

4
A pedido de dois dos entrevistados, os nomes Carlos Antônio e Antônio Carlos, são fictícios, somente Toni
Reis concordou em manter seu nome verdadeiro. As entrevistas com Carlos e Antônio, ocorreram pelo aplicativo
whatssapp, através do qual foi possível contatá-los sempre que necessário e pelo fato de poderem responder às
questões em vários momentos do dia. A entrevista com Toni Reis, se deu pessoalmente, quando de minha visita
ao CEDOC Dr. Luiz Mott, do Grupo Dignidade, em Curitiba, Paraná.
contexto do interior, uma das principais instituições que atribuíam inteligibilidade e coesão à
vida social.
A existência de códigos de moralidade sexual, no entanto, era concomitante com tudo
que lhe escapava à ordem, em realidade, se constituíam performaticamente. Sendo a
sexualidade, uma construção relacional, os sentimentos de Carlos, ainda que perfazendo uma
diferença através da incompreensão, encontravam suas condições de possibilidade no interior
mesmo do contexto em que vivia. Era pelos homens que dividiam com ele o mesmo espaço,
que se desenvolvia sua atração, o que significava que eram homens na sua maioria casados e
heterossexuais. Segundo Carlos, esse era um empecilho a qualquer contato.
Note-se, entretanto, que a dicotomia heterossexual/homossexual, é uma elaboração
histórica, e estava ausente no contexto do interior nos anos 1960. Carlos explicou, desta
forma, a impossibilidade dos contatos, por ter passado a residir em Curitiba, nos anos 1970,
onde essa separação se tornava cada vez mais forte e atualmente encontrando-se estabelecida.
No entanto, pode-se refletir que, a percepção de ausência de contatos sexuais entre homens no
interior, ou sua total impossibilidade, é o efeito dos silêncios reiterados como segredos das
próprias práticas, caso ocorressem. O fato de alguns nunca terem experimentado ou visto, não
significa que não existissem. E esse processo explica a própria experiência de Carlos.
Quando questionado sobre seus amores de infância, Carlos comentou sobre uma
menina, que teria sido o principal alvo de seu desejo, “minha primeira paixão, amor de
verdade, foi por uma mulher. Foram muitos anos, 12 anos de minha infância, adolescência,
marcou muito minha vida. Então tinha meu foco para viver esse sentimento” (Carlos Antônio,
2019). A menina de que falou Carlos, não teria lhe correspondido nesse amor, todavia, ele
alimentou aquele sentimento por muito tempo. Segundo comentou, não foi uma fuga daqueles
outros sentimentos que lhe atraiam aos homens, ambos coexistiam.
A coexistência dos sentimentos, era o que reforçava lugares políticos específicos de
manifestação dos mesmos. Enquanto seu amor pela menina era expresso publicamente, seus
sentimentos de atração e desejo por homens, permaneciam uma experiência íntima, nunca
contada a ninguém. Esse modo de experiência dos prazeres, reforçava a dicotomia
público/privado, e mais do que isso, era face da mesma operação de normalização pública da
conduta heterossexual e de seu prazer correlato, forjada pelas instituições sociais locais, além
de ser a engrenagem do silêncio sobre as experiência do desejo entre meninos.
Com Toni Reis, o “despertar do ser diferente”, expressão que utilizou em seu livro
autobiográfico, Direito de amar (1996), se deu em termos próximos ao que ocorreu com
Carlos, são as suas experiências que passarei a analisar.
Toni, nasceu em Limeira, distrito de Coronel Vivida, no dia 20 de junho de 1964.
Morou naquele povoado, até o início de sua adolescência, com a mãe e seus irmãos, depois
mudou-se para Quedas do Iguaçu, cidade localizada na região oeste do estado. Foi nessa
cidade, segundo comentou, quando estava com 14 anos, que se percebeu gay, termo utilizado
por ele na entrevista.
Assim como Carlos, o “despertar do ser diferente” em Toni, se deu por um conjunto
de sentimentos que, de início, eram incompreensíveis. Essa incompreensão gerou, por um
tempo, a rebeldia de Toni contra todos à sua volta. Era considerado um menino desobediente,
agressivo e não respeitava a autoridade da mãe e da professora da escola. Quando ouviu pela
primeira vez o termo viado, estava em uma fila no colégio, e um colega perguntou: “o
Antônio Luiz não joga bola por quê? Acho que ele é viado”, como resposta ao colega, Toni
relatou que o agrediu. Para sua mãe, contara que o garoto havia dito que ele era “filho da
puta” e viado, uma forma de equilibrar o acontecimento, retirando a ênfase de ter sido
chamado de viado, e obter o aval de sua mãe, o que, de fato conseguiu, “bem que fez, meu
filho. Tinha que bater mesmo” (REIS, HARRAD, 1996, manuscrito s/p).
O termo viado, era o que se empregava numa situação pública, com o objetivo de
ofender, do ponto de vista da diferença comportamental, um outro sujeito que no lugar de se
identificar com o código da masculinidade, é associado à feminilidade. Daniel Welzer-Lang
(2004), caracterizou esse processo como fundamento da homofobia, para ele, a operação
homofóbica, se daria pela realocação do homem na estrutura das relações sociais de sexo, este
deixaria de ser identificado com o que se define o masculino, o viril, e seria identificado com
o feminino, numa concepção misógina desse feminino, que a entende pelas dicotomias
força/fraqueza, ativo/passivo, razão/emoção. No contexto de infância de Toni, o termo
homofobia não faria sentido, pois também estava ausente o termo homossexual. Entretanto, a
violência simbólica pressuposta pelo termo viado, ancorada na percepção visual da diferença
binária de sexo e gênero traduzida no comportamento, refaz a mesma operação aludida pelo
sociólogo acima.
Segundo Toni, “se falava muito [...] “viado” (Idem). Mas, “viado” era um nome feio
para xingar as outras pessoas. Não tinha conotação sexual”, com isso, queria dizer que nem
sempre a interpelação por este termo, se dava em função de um conhecimento pelos demais
dos sentimentos de desejo e atração de Toni, e sim pela sua conduta ser associada ao
feminino, no caso, o fato de não gostar de jogar bola com os outros rapazes.
Toni comentou ainda, que em várias situações, quando sentia-se atraído por alguém,
ou presenciava um contexto masculino que o excitava, corria para um lugar onde pudesse se
masturbar. Acontecia isso nas aulas de Educação Física, motivado pelo sentimento de atração
pelo professor, que, segundo ele, era “bonito, louro, alto e forte. Usava abrigo sem cueca e
mostrava um volume bastante avantajado. Sentia uma grande atração sexual por ele. Durante
as aulas, não conseguia me concentrar nos jogos, por isso me sentia diferente dos demais”
(Ibidem), mas também em outras ocasiões, principalmente quando na companhia de amigos
ou ao final das brincadeiras em grupo com os vizinhos.
“Era muito desconcertante”, por um lado aquelas experiências se ligavam a formas de
prazer, por outro, o expunham a situações constrangedoras que lhe promoviam sentimentos de
incompreensão, de diferença em relação aos demais, tudo motivado pelo mesmo contexto
elucidado para o caso de Carlos, analisado acima.

Então, me dei conta da minha homossexualidade. Iniciou-se um martírio que


só terminaria por volta dos vinte anos. A primeira atitude que tomei foi muito
difícil. Havia começado a ler livros e revistas para tentar entender mais sobre
a homossexualidade: se era doença, anormalidade, se eu era sem-vergonha ou
“endemoniado” (REIS, HARRAD. 1996, manuscrito s/p)

Após o período em que o sentimento de sua diferença se manifestou apenas pela


incompreensão, Toni foi percebendo que aquilo que sentia, se colava ao que o termo
homossexualidade nomeava. No entanto, o caminho percorrido por ele nessa descoberta, o
colocava diante do poder normativo consagrado pela moral sexual, a saber, a
heterossexualidade. Como gostava de estudar e se considerava um aluno aplicado, tratou de
buscar saber mais acerca do termo homossexualidade e do que ele designava. Através dessa
busca de conhecimento, aquilo que era um terreno disforme, foi ganhando sentido, e nesse
registro, percebe-se como os discursos sobre a homossexualidade, mesmo sendo
hegemonicamente negativos, cumpriram uma função subjetivante em Toni, uma vez que
através deles, é que se tornou possível empoderar-se frente ao que se delineava como
incompreensão e frente às formas de violências que sofria.
Agora, discutirei como se deu o processo de se perceber diferente, por Antônio Carlos,
cuja geração é a mesma de Toni e posterior a de seu tio, Carlos Antônio. Antônio, nasceu no
meio rural de Cianorte, noroeste do estado do Paraná, em 8 de junho de 1970, “nasci e vivi no
campo até os 19 anos de idade” (Antônio Carlos, 2019), em uma pequena xácara arrendada do
avô paterno, onde também trabalhou desde criança ajudando sua família nos cultivos que
mantinham.
Antônio é o irmão mais velho de três, Jean e Andrea. Como irmão mais velho, a
relação com o trabalho lhe capturou primeiro, uma vez que vivia em “um contexto familiar de
pequena propriedade com valores muito fortes de dignidade, de luta, de existência, de
resistência, de valores relativos ao trabalho”. A família de Antônio Carlos, era católica
fervorosa, seu pai e sua mãe eram pessoas “de dentro da igreja”, participando dos festejos
locais, contribuindo na organização das quermesses e das missas, o que aproximou Antônio
da igreja, constituindo suas primeiras experiências com a religiosidade, da qual viria a se
afastar na juventude, “vivi esse catolicismo desde a infância até os 18, 19 anos” (Idem).
Quando completou a maioridade, Antônio mudou-se de Cianorte para Minas Gerais, a
fim de cursar o ensino superior, foi quando, também mudou do campo para a cidade.
A primeira experiência nomeada de homossexual por Antônio, foi na 5ª série, quando
se sentiu completamente apaixonado por um colega de sala, “adorava ficar com ele, adorava a
companhia dele, achava ele bonito e simplesmente queria estar perto dele, sentia uma coisa
estranha e que eu já me senti estranho porque sentia uma vontade enorme de ficar com ele, de
ficar perto, de senti-lo perto, com 10, 11 anos já sofria esse desejo assim, de ficar perto dele”
(Ibidem). Assim como em Toni e Carlos, aqueles sentimentos, hoje enunciados sob a
categoria homossexualidade, à época eram apenas sensações de diferença e estranhamento de
si mesmo frente aos demais.
Outras experiências colocavam-no diante da construção social da masculinidade, a
qual ele não se identificava, principalmente nos momentos em que era preciso jogar bola com
os outros meninos na escola, algo que ele detestava, “eu odiava jogar bola, não gostava de
jogar bola” (Antônio Carlos, 2019). Durante o Ensino Médio, já nos anos 1980, ele relatou
que era obrigado a jogar, pelo professor de Educação Física, mas era aí que ele mais se sentia
constrangido e mal com a situação toda, pois era também uma forma de expressão de uma
subjetividade dissidente num contexto ainda fortemente marcado pela vigilância e hegemonia
heteronormativa, “sentia vergonha dos meus colegas porque tiravam sarro porque eu não fazia
isso” (Idem). Um menino que não faz o que os outros meninos fazem, é colocado do outro
lado no regime binário, se não gosta do que homens gostam, então gosta do que mulheres
gostam, e para um homem isso “deveria” ser vergonhoso (WELZER-LANG, 2001; 2004).
Todas essas situações, assim como os sentimentos de desejo que sentia, faziam pouco
ou nenhum sentido para ele, o que tornava as coisas ainda mais complicadas, pois, sem modos
de entendimento, pouco tinha para reagir, mesmo que para não se envergonhar ou se
constranger, “era uma coisa de não se entender mesmo o que estava acontecendo” (Antônio
Carlos, 2019). Em sua infância, era algo impossível de nomear, mesmo porque não havia
informações sobre sexualidade, que o ajudassem a expressar-se, tendo em vista que tudo à sua
volta não convergia ou traduzia seus sentimentos.
Olha, na infância e na juventude, nos primeiros anos, no meu tempo ainda
rural, não havia informação sobre sexualidade, eu só me lembro de duas
situações muito incômodas, em que isso me causava grande perturbação,
quando a gente ia visitar os avós em Curitiba, e a rua que minha vó morava
havia muitos travestis, e eu me lembro de um contexto familiar muito
opressivo, que desdenhava, ria muito das transexuais, das travestis de rua,
aquilo me incomodava muito, não sabia muito bem o que era aquilo, mas
aquilo me incomodava muito, da maneira como ria-se, se fazia chacota das
transexuais e dos travestis, isso me incomodava (Antônio Carlos, 2019).

Mesmo sem entender aquilo que sentia, Antônio relatou que se incomodava com o
modo como as travestis da rua onde sua avó morava, em Curitiba, eram tratadas pelos
moradores. Numa possível forma de reconhecimento, Antônio não concordava com a
violência que sofriam, talvez por ser também alguém que se sentia deslocado e acuado boa
parte do tempo, devido ao que acontecia em seus pensamentos. Seu incômodo, não foi
explicado, mas pareceu se delinear por uma outra forma de não-identificação, agora, relativa
às condutas de discriminação praticadas por homens, cuja masculinidade se reafirmava nas
referidas práticas.
Teresa Adada Sell (2006), coletou relatos de homossexuais masculinos no início dos
anos 1980, em Florianópolis, e neles podem ser percebidas linhas discursivas parecidas com o
que expus até aqui, alguns dos entrevistados tiveram infâncias transcorridas no contexto
campesino e discorreram sobre as ideias e sentimentos sobre esse período relativamente à
homossexualidade. O “despertar do ser diferente” foi definido, recorrentemente, como uma
experiência da infância, explicada a partir de um conjunto de sentimentos confusos, expressos
pela noção de distância em relação aos demais. Essa diferença, é esboçada pelo conjunto de
práticas sociais que, por serem generificadas, atribuem os contornos da pertença sexual em
sujeitos cujas identificações, não se dão nos termos das expectativas sociais. Foi esse
sentimento de diferença em relação aos demais, de incompreensão, que constituía a noção de
que eram sentimentos de outra natureza, pois os próprios sujeitos da diferença, colocavam
como natureza do sexo a heterossexualidade.
Um dos entrevistados, nomeado de Entrevista “A”, relatou de forma clara, os
contornos da pertença sexual pela diferença: “eu me lembro de ser homossexual desde
pequeno. Não é que em pequeno soubesse, mas me sentia diferente dos homens em geral. Em
termos de brinquedo, modo de pensar, de agir, etc.” (SELL, 2006, p. 42). Reforçando a
estrutura binária, os sujeitos explicavam o sentimento de diferença que sentiam, pela
identificação com o universo feminino, muitos, inclusive, apontaram que na infância havia o
desejo de ser mulher. Como se tratavam de experiências anteriores à subjetivação
homossexual, quando não havia o sujeito (auto) declarado homossexual, definido pela
pertença a um grupo social, a constituição dos contornos que identificavam sujeitos
desviantes da corporificação da masculinidade, se dava pelo termo viado, principalmente, mas
também por outros. Além disso, no contexto rural, como poderá ser visto na próxima seção,
muito desse universo, era mantido em sigilo, através do que defini como sendo um pacto de
silêncio. Ser viado não era uma (auto) identificação, em realidade era parte do mesmo
universo de incompreensão, pois era expresso através de uma violência verbal que recrudescia
mentes já inquietas e angustiadas.
Os entrevistados de Sell, montaram seus relatos acerca das experiências sexuais,
costurando-as às suas (auto) declarações identitárias atuais à entrevista, numa forma de
linearidade causal, bem como, após a diáspora para cidades maiores. Como a psicóloga
coletou as entrevistas no início dos anos 1980, quando o processo de subjetivação
homossexual urbano se estabelecia a partir de jornais, movimentos organizados e outras ações
individuais e de conscientização coletiva, ao processarem a experiência do passado em forma
de uma memória marcada pelas disputas do seu presente, a infância, foi tomada pelos
entrevistados, como fundação da sexualidade gay, como origem da homossexualidade, o
mesmo ocorrendo para os entrevistados do presente artigo.
No entanto, do ponto de vista histórico e geracional, é preciso fugir aos essencialismos
identitários, e iluminar as experiências de prazer no que elas tinham de múltiplas. Com isso,
compreendo que é equivocado perceber nas experiências de infância, algo que seria a
fundação ou a instituição da homossexualidade, ainda que inconscientemente. O fato dos
sujeitos virem a se assumir homossexuais na vida adulta, que foi o caso de todos os
entrevistados para o presente artigo, não encontra em seus passados, necessariamente as
razões primeiras de tal inclinação sexual. O passado não contém a razão de ser do discurso
presente.

Uma dinâmica de prazeres

Segundo explicava a psicanálise lacaniana, nos anos 1960 e 1970, seria durante a
infância que deveriam ser inculcadas as expectativas sociais acerca da pertença sexual das
crianças, mas sobretudo nos meninos, pois precisariam desidentificar-se da mãe e seguir o
modelo masculino representado pelo pai (STOLLER, 1973; LATTANZIO, RIBEIRO, 2017).
A infância, seria o terreno crucial de constituição do sujeito sexual nos termos da partilha
sexual binária. Para o psicanalista norte-americano, Dr. Robert Stoller, era dever dos pais
inculcar desde cedo a certeza da masculinidade nos meninos, pois, segundo ele, o fato de
possuir um pênis, não teria a mesma força persuasiva que o sentimento da pertença e do
reconhecimento tácito da existência de dois corpos profundamente distintos (STOLLER,
1973).
Os saberes da psicanálise não eram, necessariamente, alheios às regiões interioranas.
Através da imprensa, muito desses saberes circulava entre populações afastadas dos centros
urbanos, assim como através dos poucos médicos que atendiam no interior. A própria teologia
católica, ritualizava esses saberes ao endossar a natureza da conjugalidade heterossexual e da
diferença sexual binária (RAMOS, 2019). As reflexões de Stoller, bem como de outros
psicanalistas e psicólogos seminais do início do século XX, como Harry Benjamin, John
Money e Ralph Greenson, forjaram os esquemas de concepção acerca do desenvolvimento da
sexualidade e dos seus desvios, confirmando do ponto de vista científico e teórico, aquilo que
se pensava mais amplamente acerca da relação homem/mulher. A partir das teorias criadas
por estes especialistas, autoridades locais, norteavam suas falas públicas e o modo como
orientavam seu trabalho.
Longe de buscar uma explicação estrutural acerca da formação da consciência e
prática sexuais, meu objetivo é apontar para o não-dito da sexualidade infantil: sua dinâmica
constitutiva. Ainda que as explicações psicanalíticas de Stoller, estivessem implicadas em
questões urbanas e partissem de experiências da classe média e alta, em que as mães poderiam
ficar em casa com os filhos e quem sairia para o trabalho eram somente os pais, é possível
fazer relações compreensivas entre este campo do conhecimento, e os quadros analíticos da
infância camponesa.
As experiências da infância, notadamente relativas à sexualidade, são comumente
esquecidas ou silenciadas, são compartilhadas apenas entre aqueles que participaram das
situações em questão, dificilmente chegando a constituírem-se em documentos para a
historiografia. Os silêncios sociais sobre estas experiências, parecem se reproduzir nos
silêncios científicos sobre sua existência. Negar a possibilidade da sexualidade infantil é
também outra disputa política, em que se encontra o assunto, uma vez que as forças
conservadoras que atuam na sociedade, tendem a suprimir as possibilidades de
desenvolvimento de discussões que nomeiem as experiências e as façam integrar camadas da
memória pública, com sentido e espaço de manifestação.
Por outro lado, são experiências que dependem de documentos orais, pois jamais
figurarão em textos e imagens, afinal, é da ausência de sua inscrição pública que elas se
mantêm, a exceção de figuras públicas e militantes, como Toni Reis. Diante deste cenário, se
torna fundamental o reconhecimento da importância da História Oral, como instrumento de
rompimento dos silêncios que envolvem a questão, tanto aquele científico quanto o social,
pelos próprios sujeitos.
Meu objetivo, na presente seção, é compreender, a partir da noção de dinâmica dos
prazeres, como se delineavam as experiências sexuais dos entrevistados, quando ainda nos
anos de infância. Nomearei de dinâmica dos prazeres, uma vez que a noção de prazer não
comporta uma identidade e sim uma relação em toda a sua dimensão. Acredito que a partir
desse conceito, seja possível capturar experiências em que não estava em questão um caráter,
um tipo de sexo, e sim uma circunstância de prazer vivenciado, é, portanto, um conjunto de
experiências possíveis, cujo terreno fértil, a psicanálise tentou circunscrever, enquadrar,
classificar, dizer que ali já existia uma lei e que ela deveria somente ser trazida à luz da
consciência.

Daí a necessidade de colocar o problema de outra forma. Eis porque, de uma


maneira que atualmente está apenas em esboço, para a qual não tenho ainda
conteúdo, adiantaria um pouco, se assim preferir, o tema do prazer. Parece-
me que ele escapa às conotações médicas, naturalistas e que carregam junto
com elas a noção de sexualidade. Não há, no fim das contas, prazer
“anormal”, não há “patologia” do prazer (FOUCAULT, 2015, p. 6).

No livro de memórias de Toni Reis, Direito de amar (1996), é possível encontrar uma
fronteira nítida entre a inteligibilidade sobre o prazer que o termo homossexualidade atribuía,
tornando-o um tipo de sexo, e o outro momento, quando este conceito não era conhecido, e as
experiências sexuais tinham um valor de prazer, ou seja, não tinham um nome, nem o
precisavam. O uso do termo homossexualidade é, além de uma inteligibilidade urbana e
científica, uma lógica de sentido dos adultos, pouco operava no universo infantil, o qual
prescindia de termos técnicos.
Retornarei, agora, à análise dos relatos dos entrevistados. Na entrevista realizada
com Carlos, não foi possível adentrar em profundidade nas lembranças da infância, quanto à
dimensão sexual. Segundo ele, nunca houve a possibilidade de um contato entre ele e outro
menino. Isso era impensável. Relatou apenas que fora “muito assediado por mulheres” e que
também manifestou interesse e atração em meninas. Essa atração convivia, harmoniosamente
com o que sentia por meninos, sendo apenas diferente por esta última não ser manifesta. As
respostas de Carlos, tenderam a ser sempre mais curtas que aquelas concedidas por seu
sobrinho, algo que dificultou extrair mais informações, mesmo que eu tenha me utilizado da
técnica de repetir objetivos, nas três seções de questões, sempre que um tema tenha ficado um
pouco vago.
Com Toni, a questão documental foi diferente. Sendo uma figura pública, conhecida
nacional e internacionalmente, por sua luta histórica em prol da população LGBT+, foi
possível encontrar vestígios não apenas pela entrevista, mas em outros espaços de inscrição de
suas memórias no tempo, a exemplo de seu livro autobiográfico. Tanto Toni quanto Antônio,
os quais conseguiram obter uma formação acadêmica na vida adulta e se tornar lócus de
enunciação da questão LGBT+, o processamento de suas experiências em forma de memória
se mostrou mais denso que aquele concedido por Carlos, que seguiu um rumo distinto em sua
vida. Com isso, não quero dizer que a ausência de formação acadêmica, tornou Toni e
Antônio pessoas mais articuladas que Carlos, na verdade, foram espaços onde se tornou
possível debater, ler e tratar do tema, constituindo em espaços de fala, diferentemente de
Carlos, que além da entrevista concedida não tem os mesmos espaços para tratar do tema
abertamente. Poder falar, é condição para nomear e fazer existir.
Foi no livro de memórias de Toni, que encontrei inúmeras experiências de sua infância
que contornavam as dinâmicas de prazer e orgasmos mútuos que se promoviam. Para
caracterizar esse momento, Toni Reis recordou dos “jogos sexuais” que praticava com os
demais meninos, e que se constituíam em brincadeiras que colocavam em questão a
experiência de prazeres sexuais entre crianças, “no interior, jogos sexuais entre crianças é
absolutamente normal”, argumentou. As brincadeiras sexuais de que Toni Reis recordou,
tinham um repertório variado: “concurso de punheta”, forma de masturbação para saber quem
alcançava mais longe com a ejaculação, mas, também “tinha dias quando só havia meninos
que se conheciam melhor e então dizíamos: - Cada um toca no outro, aí fica melhor”, e todos
se masturbavam reciprocamente, a outra forma era saber quem conseguia ejacular mais de três
vezes. Modos de provocar prazer e sentir prazer entre meninos. Toni Reis chamou de
“sacanagenzinhas de piá” (REIS, HARRAD, 1996, manuscrito s/p).
O menino que ganhava a maioria dos concursos era por quem Toni Reis se sentia
atraído, um rapaz loiro e forte, “eu gostava de ficar perto dele porque seu “negócio” era
maior. Ele sempre era um dos ganhadores, parecia uma olimpíada gay” (Idem). Atrações e
desejos que contornavam a sexualidade de Toni Reis.

Nesse tempo todo, com todas essas brincadeiras, nunca ouvi alguém falar a
palavra homossexual ou gay. O que se falava muito era “viado”. Mas “viado”
era um nome feio para xingar as outras pessoas. Não tinha uma conotação
sexual. Simplesmente fazíamos porque gostávamos. Até minha adolescência
não me sentia diferente de ninguém. Fazia tudo por instinto, não conhecia a
palavra homossexualidade, muito menos seu significado. “Viado” para mim
era apenas uma palavra para ofender a pessoa. Só a partir dos catorze anos
comecei a me sentir bastante diferente dos meus colegas. Senti que não
pertencia àquela cultura, àquela forma de viver (REIS, HARRAD, 1996,
manuscrito sem página).

“Simplesmente fazíamos porque gostávamos”, escreveu Toni, com isso tentava


explicar que eram experiências que mesmo depois de adulto, careciam de nomes, ou melhor,
não se deixavam definir por um conjunto de termos, eram apenas prazeres. E quando se era
confrontado pelo termo viado, nunca era nas situações de prazer, pois a utilidade do termo é
sempre pública, para ofender, para desqualificar, e tinha finalidades múltiplas. A dinâmica
dos prazeres não colocava os meninos em desigualdade, mesmo que muitos deles não se
identificassem com o feminino, nos momentos das brincadeiras e dos jogos sexuais, toda essa
estrutura desigual, de gênero e sexo, não conseguia funcionar.
Quando não tinha aquelas experiências em grupo, Toni, escreveu que visualmente
também se excitava com outros homens. Em sua primeira masturbação, contou que foi depois
de ver passar na rua de casa, uma caminhonete com alguns jogadores. “Fiquei excitado vendo
aqueles jovens bonitos, me deu um calorão e fui para a cama. Comecei a mexer no meu pinto
e gozei. Foi minha primeira masturbação”. Quando sua mãe chegou em casa, da igreja, ele
estava escondido entre as cobertas da cama, com medo pelo que tinha feito. Segundo
aconselhavam o padre e os irmãos, aquela prática poderia causar alguma doença e fazer
crescer pelos nas mãos. E caso tivesse algum problema depois, certamente que estaria
associado à masturbação (REIS, HARRAD, 1996, manuscrito s/p).
O Entrevistado “A”, citado anteriormente, também comentou na sua entrevista, como
encarava a masturbação, e essa experiência tinha um teor muito próximo ao que ocorria com
Toni.

O conceito de pecado?
É, o conceito de pecado, a gente se masturbava, depois ficava com grilo de
consciência. Quando chegava a época em que o padre ia lá fazer a confissão,
a gente ia lá e descarregava, contava tudo para o padre. Ia para casa e ficava
uma semana assim, uma semana ou quase duas, sem se masturbar, se
aguentando assim e depois não aguentava mais e se masturbava, sabe? Daí
vinha o grilo de consciência. E o padre vinha com aquela coisa, a mesma
história (SELL, 2006, p. 171).

Mesmo sob a vigilância da autoridade religiosa, as práticas de prazer continuavam. No


campo da consciência, havia o medo e receio de que aquilo pudesse gerar algum mal maior,
uma vez que desde a inteligibilidade sobre o passado até o futuro tudo passava pelo crivo
cristão, o que tornava as coisas ainda mais complicadas, pois, mesmo sentindo prazer, ele era
acompanhado de um sentido discursivo que incomodava.
Entretanto, longe de constituírem uma contradição, a existência de uma vigilância
normativa, não prescindia da dinâmica dos prazeres, sejam eles individuais ou coletivos, era
sua existência que, por sua vez, permitia o funcionamento da própria vigilância. O fato de os
prazeres serem dinâmicos, alimentava a vontade de uma norma, pelos adultos, que lhe
impingiam um determinado sentido. O campo discursivo, da nomeação e da classificação, não
consegue enquadrar toda a realidade, não dá conta dela. Por outro lado, as possibilidades
difusas de prazeres por que passavam os corpos, se promoviam ao sabor dos momentos e das
circunstâncias. Nessa trama, de um lado e de outro, tudo se mantinha móvel, assim como os
corpos.
Foi também através da masturbação, que Antônio, o terceiro entrevistado,
experimentou os orgasmos mútuos entre meninos. Antônio utilizou, na entrevista, o termo
homossexual, para acessar suas experiências de infância que o colocavam diante de desejos e
orgasmos entre homens. Sua primeira experiência foi quando estudava a 5ª série e, segundo
comentou, sentiu-se completamente apaixonado por um colega de sala, disse que “adorava
ficar com ele, adorava a companhia dele, achava ele bonito e simplesmente queria estar perto
dele” (Antônio Carlos, 2019). Estas experiências, no entanto, tinham um peso diferente
daqueles em que se viu confrontado pelo toque corporal, pela visualidade do corpo nu
masculino e por práticas sexuais.
Antônio relatou, assim como Toni, que nas suas experiências de infância, ocorriam as
situações de brincadeiras sexuais, principalmente com toques corporais e masturbação.

Então, havia brincadeiras com coleguinhas, mas de ver pipi, nada de ficar
peladinho e fica brincando assim com os meninos, [...] tinha um primo meu
que de vez em quando a gente, ele batia punheta pra mim e eu ficava
constrangido com aquilo, mas achava aquilo tesão, mas não... era muito
travado, aquilo para mim era uma coisa muito travada. Ele batia punheta pra
eu assisti, eu chegava em casa e batia punheta sozinho, na verdade aquilo era
muito forte pra mim (Antônio Carlos, 2019).

As brincadeiras em que Antônio se envolvia, não eram do mesmo teor daquelas


relatadas por Toni, porém, assim como aquelas, envolviam modos de prazer entre meninos.
Ainda que ele afirmasse que não havia momentos em que ficava pelado com outros meninos,
finalizou contando que com seu primo, mantinha momentos de masturbação e que
estimulavam-no a praticar sozinho. Desta forma, contornava sua sexualidade, a partir de
formas de prazer sentidas com outros meninos, socializando sensações que aos poucos
construíam-se em forma de sentidos, principalmente pelo constrangimento.
Em todos os casos, quando perguntados sobre como explicar a consistência daquelas
práticas, as respostas são próximas, os entrevistados veem as experiências como uma
dinâmica própria da fase em que se está descobrindo o corpo, e todo estímulo gera uma
resposta positiva. E esses estímulos, não ocorriam apenas entre eles e outros meninos,
enquanto formas de prazer poderiam ser direcionados a meninas com as quais conviviam.
Antônio contou ainda, que era comum espiar primas e primos tomando banho, uma
prática que misturava excitação e curiosidade, uma vez que a descoberta do corpo de si é
também uma relação de alteridade com o outro, nessas situações, também intervinha um
adulto para evitar que esta fronteira se esvaísse. A partir da vigilância e do não conhecimento
do corpo do outro, masculino ou feminino, imperava apenas a ideia de vergonha e de uma
proibição comandada pelo vínculo parental, o que na verdade era, muitas vezes, falha, pois
tanto nos entrevistados para esta pesquisa, quanto aqueles entrevistados por Teresa A. Sell, o
convívio familiar é também um convívio sexual.
O Entrevistado “O” de Sell, de formação camponesa, relatou sobre a dinâmica dos
prazeres e como ela, além de não promover o desejo por gênero ou por uma disposição
anatômica específica, também cruzava a moralidade familiar e o tabu do incesto. Segundo o
entrevistado, suas experiências com a masturbação ocorriam com o irmão mais novo,
perfazendo o que se chamava de troca-troca, em que um assumia a posição de “ativo” e
depois o outro.
Toni lamentava que, em inúmeras vezes, quando fazia troca-troca com algum outro
menino, “tinha uns caras safados, que enganavam a gente. A gente dava e o cara corria e ia
embora, sem dar!” (REIS, HARRAD, 1996, manuscrito s/p).

O pacto de silêncio

Um pacto de silêncio atravessava as experiências de desejos e orgasmos entre


meninos. Esse pacto, não apenas omitia a existência daquelas experiências mútuas de prazer,
como também omitia os sentimentos individuais que permaneciam em alguns dos meninos.
Evitar o conhecimento público dos encontros para jogos sexuais ou das brincadeiras que
levavam à dinâmicas de prazer, era um elo de ligação entre os participantes, um pacto
consentido, promovido por uma encruzilhada de processos sociais de gênero e sexo, que
poderiam ser mais amplos que as práticas em si.
Para compreender o funcionamento deste pacto, é preciso se questionar da sustentação
social da dinâmica dos prazeres, que em alguns meninos terminava com a confissão dos
desejos e dos orgasmos à um adulto. É preciso mencionar, que as entrevistas aqui analisadas,
foram feitas com homossexuais masculinos adultos, e que não tiveram problemas em relatar
sobre seus desejos passados, pois eles carregam o efeito de linearidade temporal, que
desemboca em suas experiências sexuais atuais. Possivelmente, não se chegaria aos mesmos
resultados caso as questões se dirigissem à homens atualmente heterossexuais, o que deixa
aberto a possibilidade para outras pesquisas.
O ato de conceder uma entrevista sobre aquelas experiências, ou mesmo publicar
memórias sobre elas, como foi o caso de Toni, pode ser considerado um ato de confissão, de
rompimento do elo de silêncio, que no contexto camponês era um valor. Ainda que os sujeitos
presentes nos relatos dos entrevistados não ganhem nomes, permaneçam anônimos, um deles
deixou de ser. Entretanto, houve outros modos de rompimento do silêncio, que se
processaram de modo mais decisivo quanto à permanência das práticas, me refiro aos
momentos em que os entrevistados, confessaram seus sentimentos a um adulto pela primeira
vez.
A confissão dos desejos e dos orgasmos, se deu, em todos os entrevistados, fruto de
algum tipo de pressão, externa ou interna. Toni foi o primeiro a revelar seus sentimentos à sua
mãe, quando tinha 14 anos, Carlos e Antônio só o fizeram depois de adultos.
Toni, comentou na entrevista, que não suportava a angústia que os sentimentos lhe
produziam, além da confusão que sentia internamente, passava por inúmeras situações de
constrangimento, que terminavam por recrudescer seu estado de aflição.
Aos 14 anos, em 1978, Toni chegou até sua mãe, Dona Maria da Conceição dos Reis,
e contou sobre o que se passava em sua mente acerca daqueles sentimentos que não lhe
faziam sentido. Também observou durante a entrevista, que os enunciados discursivos que
colocavam em questão as formas de pecado, doença e anormalidade, constituíam os esquemas
de percepção que produziam os enquadramentos possíveis, acerca do sentido dos sujeitos e de
suas experiências, e apelar para o campo discursivo naquele período, era ser interpelado pela
norma, na forma como a norma interpelava as diferenças, os estranhamentos e os sujeitos
confusos. Quando o sujeito da diferença, não possui referências próprias que inscrevam seus
sentimentos e prazeres no campo discursivo, ele o fará nos termos dos conhecimentos de que
dispõe e nos quais foi formado, aos esquemas de concepção, construídos socialmente e que
operam como sendo a racionalidade disponível sobre tudo o que for colocado diante do
discurso (HITE, 1980).
Eu me lembro que eu cheguei pra minha mãe e falei... porque vinha da igreja,
vinha da escola e vinha do que eu lia, eu falei para minha mãe, mãe eu sou
doente, sou pecador e sou, não falei criminoso, sou fora da norma, sou
desregrado, eu não tô certo na minha cabeça, eu sou tipo, desregrado [...]
você podia fazer tudo, mas tinha que ter um código de silêncio, tudo era
permitido, mas não podia falar, não podia verbalizar que você fez aquilo, eu
via isso entre meus amigos, e não podia falar, e eu falava, e eles diziam, não
você não pode falar isso, isso não existe, isso é feio, até os 14 anos foi super
bem, minha vida sexual foi bem, tinha a prática, com os amigos inclusive,
vários amigos meus até hoje, muitos deles, a maioria não são homossexuais,
não são gays, são casados, mas praticavam, os jogos sexuais (Toni Reis,
2018).

Toni não se conformava no pacto de silêncio, quando chegou no início da adolescência


começou comentar sobre o que acontecia com ele e entre os meninos vizinhos seus, e isso
gerou problemas para ele, pois nada daquilo poderia se tornar público. Sua mãe, depois do
relatado pelo filho, o levou ao médico da cidade, o Dr. Antônio Freire, da Policlínica de Pato
Branco, onde Toni se depara com o termo homossexualidade. Segundo o médico, Toni
“poderia ser homossexual”, proferido num tom de dúvida, ao passo que o recomendou mudar-
se para uma cidade maior, a fim de que não sofresse preconceito. Toni, aceitou o conselho, e
tempo depois mudou para Curitiba. Toda a intromissão adulta o leva a romper com a
dinâmica que, para ser mantida, no caso do entrevistado, custava sua saúde mental e
tranquilidade, o que, certamente, era difícil de segurar e não ocorria com os demais.
Carlos, depois de mudar-se de Japurá, no início dos anos 1970, também foi para
Curitiba, porém, numa mudança com toda a família, em busca de uma vida melhor, “vim com
a família, logo consegui trabalho, a vantagem de que quem vinha, no interior era trabalhador,
então foi fácil de conseguir trabalho”. Carlos comentou, que Curitiba nos anos 1970, se
parecia com Japurá, “era igual minha cidade pequena, Curitiba na época era também muito
conservadora, até hoje as pessoas são muito preconceituosas”, e por conta disso, “vivia no
armário também, por ser uma cidade provinciana tive que manter minha discrição” (Carlos
Antônio).
Tanto no campo quanto na cidade, Carlos não se sentia confortável em conversar sobre
seus desejos, sentia em Curitiba o mesmo que em Japurá, portanto, permanecia sob o pacto de
silêncio, principalmente com relação à família. Somente nos anos 1980, com 30 anos de
idade, quando a situação da homossexualidade havia mudado, aconteceu de se ver
confrontado com a necessidade de uma confissão, ao mesmo tempo que, em condições de
falar, “um dia minha irmã me pegou beijando meu namorado escondido, e contou pra minha
mãe”. Sua mãe o cobrou sobre sua sexualidade, e ele se assume gay. “Minha mãe me chamou
pra conversarmos e perguntou, você é gay? Muito tenso, nervoso, respondi sim. Ela teve uma
atitude que nunca vou me esquecer. Me abraçou, beijou na testa, e disse, eu te amo meu filho,
você é igual a seus outros dois irmãos hetero!” (Idem). A confissão da homossexualidade, foi
também, o fim do pacto de silêncio.
Com Antônio, ocorreu um processo parecido. Quando saiu de Cianorte, aos 18 anos,
para viver em Minas Gerais, levou consigo o silêncio sobre aqueles sentimentos e aquelas
práticas que tivera. Quando retornou, com 25 anos de idade, em 1995, voltou acompanhado
de seu namorado, assumindo sua homossexualidade e apresentando, ao mesmo tempo, seu
companheiro.
Nos casos de Carlos e Antônio, o rompimento com o silêncio sobre a sexualidade se
manifestou num contexto que enquadrava o tema de um modo diferente daquele presente nos
tempos de infância no campo. O silêncio sobre a sexualidade, na cidade, é um silêncio que
mantém relação direta com o pacto promovido no campo, porém, naquele espaço, ele ocultava
uma identidade sexual, no campo não era isto que estava em questão. No interior campesino,
o pacto não significava uma forma de medo maior, de ingenuidade ou omissão consciente de
uma identidade. Não se omitia um “ser homossexual latente”, omitia-se o fato de que havia
prazeres entre meninos, prazeres mútuos, desejos e orgasmos mútuos.

Considerações finais

Comumente, em pesquisas antropológicas ou históricas, que ouviram as experiências


de homossexuais quando em suas vivências no campo, tendem a interpretar as experiências
dos prazeres da infância pelo ângulo do vazio emocional, seriam experiências passageiras,
muitos acreditando que logo deixariam de lado aqueles sentimentos. Esta perspectiva, além de
esvaziar o potencial dos prazeres vivenciados na infância e na adolescência, também
desconsidera as condições de possibilidade, os caminhos percorridos pelos sujeitos para que
as experiências se tornassem realidade. É preciso pensar estas experiências como fruto de
vontades difusas, negociadas e que apontam não para momentos fortuitos, mas possibilidades,
intensidades que longe de serem apenas “sacanagenzinhas de piá”, revelavam a dinâmica
inerente de desejos e orgasmos sem nome, sem sentido, mas que tocavam fundo em cada um
que os sentia.
É preciso, por fim, reconhecer no pacto de silêncio uma encruzilhada. Uma
encruzilhada que longe de ser paradoxal, na realidade unia sujeitos e corpos através de
apropriações e ressignificações sociais. Ele tanto sustentava a masculinidade hegemônica
pública, de alguns dos meninos envolvidos, como era uma condição de possibilidade das
práticas, pois, ao chegarem ao conhecimento adulto, estariam comprometidas, uma vez que
mais do que implicações de vergonha infantil, realocavam as relações sexuais no que elas
tinham de reprodutoras da pertença sexual binária e da heterossexualidade normativa, valores
consagrados e ostentados pelos adultos coletivamente. O mal das práticas, era que
denunciavam a possibilidade de a transgressão ter sido sempre a regra, e assim, virar o jogo
que sustentava a moralidade pública, ontem, mas, provavelmente, até os dias de hoje.

Entrevistas

Antônio Luiz Martins Harrad Reis, [entrevista concedida à] Jeferson Ramos em 12 de


setembro de 2018.

Antônio Carlos, [entrevista concedida à] Jeferson Ramos pelo aplicativo whatsapp, em 20 de


fevereiro de 2019.

Carlos Antônio, [entrevista concedida à] Jeferson Ramos pelo aplicativo whatsapp, em 02 de


março de 2019.

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