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Espatódea Enredo PDF
Espatódea Enredo PDF
1
“Busquei a tragicomédia de uma dúvida, do que ela provoca em termos de imaginação”.
À minha inspiração, eternizada no silêncio.
Palavras do autor.
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CENA 1-
[Sombras de um pássaro sobrevoam o palco e a plateia, no palco a luz de um farol
(projeções)]
Música
Narrador OFF:
Vou por uma rua torta. Sinto cheiro de açúcar, juntamente com o do mar perto.
Gaivotas voam sobre os negros trapiches fincados sobre as águas. O oceano que eu
sempre via longe, quando o bonde dobrava a curva do Farol, está agora perto de
mim...
Quem nasce aqui, e respira desde a infância um aroma de açúcar, vento, peixe,
maresia, sente que o oceano próximo cola em todas as coisas e seres um
transparente selo azul.
No alto da colina, o branco farol de minha terra vai iluminar a noite, quando esta
vier esconder as aranhas e os sonhos e os segredos dos homens. Luz branca.
Eclipse. Luz encarnada.
Vou por uma rua torta. Venho por uma rua torta: já não sei se é dia ou noite, se
caminho junto ao mar odorante ou se afundo os pés na lama da lagoa devastada
pelos pescadores de sururu. Acima e além da claridade solar da luz do farol, um
território intocável, Jaraguá é, ao mesmo tempo, porto e porta, permanência e
travessia, lugar de partida e de chegada, silêncio e melodia.
CENA 2-
[Da entrada do teatro, Francisco chega a Maceió]
Música
[Surge Zabelê].
Zabelê:
Jaraguá, formas e luzes frias vagavam pelas ruas, como um batalhão de errantes.
Encontrei você minha pálida e simples pintura. Quando nada mais queria nem
procurava. A neblina ficou baixa, minha visão obstruída pelo seu balé
fantasmagórico.
Música
3
Zabelê:
E por todos aqueles dias vividos de amor, pude beber a tua alma, caminhar sob teu
corpo e até prometer um amor eterno. Mas o destino não quis...
Zabelê:
SETE NOITES! Seus segredos são os mais profundos que eu já pude perceber em
alguém, e tento desesperadamente conhecê-los, adentrá-los, tocá-los e ter
intimidade com eles. Tento entrar no seu mundo intransponível. Às vezes, eu queria
me transformar em palavras, ou em sonhos, para que você pudesse me fazer de
sua expressão, para que você falasse através de mim.
Helena: Sei qui tudu qui ocês viveru foi muito forti, mas já si passaru doizano, num tem
condições de um amô tê subrivividu tantu tempo.
Zoé: Eu entendu, mas o nosso amô era maió qui tudu. Num tem palavra pra expricar nosso
sentimento. Enquantu lárgrima escorreru pelo meu rosto, me senti aturdoada ao lado
dele. Sua rispiração ispantava os demônio do meu corpo.
Cleide: Ocê é sonhadora Zoé. Esse é teu pobrema. Esse homi nem pensa maizin ocê.
[Entra D. Inácia].
D. Inácia: [Interrompe Zoé] - Sem mais nem menos! Esse mocinho já ti feiz sofrê uma veiz,
e eu num deixarei que o mesmo aconteça. Trate de se arrumá e descer para jantá. Será
essa noite que vai conhecê o Marcello, o fio do Prefeito Vardo. [Curto tempo] Cleide!!!
Conhece meu bebê desde piquena, queru que deixe essa menina a mais bela pro baile de
hoje. Donzela ainda é agora.../
[Entra Cleide]
Zoé: /Mainha, num pretendo o amor desse “valioso” Marcello. Eu num quero casar.
Cleide: Ele é um bom homi, jove sinhora. Pense num cabra arretado. Tu precisa vê o
tamanho da pexera...
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D. Inácia: Hoje vai incontrá com ele em nossa festa. E o amor será feito. Logo, tu vai ter um
grande e luxuoso futuro. - [Risos].
CENA 3-
[Na rua]
Zabelê:
Mas o seu cheiro, o rubro de sua boca adocicando os meus lábios, quando de
minhas entranhas explodiam sensações até então desconhecidas, é tudo o que
agora, já passados dois anos, me aquece na umidade destes corredores quando da
vida nada mais espero. Esquecendo as desavenças que sempre nos fizeram uma
tragédia.
Marcello: Tô pronto!
Valdo: Meu Deus! Isso lá é roupa de um filho de prefeito? Desse jeito, você suja a imagem
da nossa família e com ela a minha candidatura/
Valdo: Que isso? Já falei um zitrolhão de vezes que não é para completar minhas palavras!
Já imaginou nos meus discursos? Desse jeito as pessoas vão completar minhas palavras, as
pessoas irão criar leis, isso aqui vai virar um cabaré, vai ter forró o ano inteiro.../
Valdo: Então vamos simbora! Não quero chegar atrasado à casa de sua futura esposa.
Camila: Maninho! Vem cá vem! Vem dar um abracinho de boa sorte na sua irmãzinha!
[Dar um tapa em Marcello] Olha Marcello, eu tenho um conselho muito bom pra te dar.
Vai conhecer sua princesa? Cuidado que ela pode ser uma sapa.../
Marcello: /É melhor tu ficá caladinha né, tu só se casa depois de mim, se eu num caso, tu
também num casa.
Camila: Isso é o que tu pensa, não sou eu a dominada pelo painho. Fui nascida e criada na
cidade grande meu querido, tu que gosta desse vilarejozinho que fede à peixe podre.../
Valdo: /Chega! Camila minha filha, não fale assim com seu irmão, Marcello é bobo, mas é
um bom rapaz.
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[Saem Marcelo e Valdo. Fernando chega à casa de Valdo].
Camila: Vixe. Cuidado! Tu num se acha fresquinho de mais não? Eu vou começar a
estranhar.
Fernando: [Puxa Camila pela nuca] – Olhaqui, eu num caio nas suas fulerage não viu, eu
odeio quenga. Num caio na sua não, ta? Eu vô imbora, quando seu irmão chegá diz qui to
na sinimbú isperando purele.
Camila: Talvez eu fale, mas se quiser corre atrás dele, acabou de sair, foi encontrar com a
noiva, talvez você chegue a tempo de impedir. - [Gargalhada].
CENA 4-
[Na casa de Zoé, Cleide fala com D. Inácia].
Cleide: D. Inácia, tem um homi ai fora querendu falá cum a sinhora, disse quisse chama
Diran.
D. Inácia: Quem?
D. Inácia: É pirigoso.
Diran: Diria qui é uma sinhora de peito, qué dizer, comoti respeito, marfalei qui treparia
quarenta vez o teu muro, pois foi bem o qui eu fiz.
D. Inácia: Pois bem, hoje virá a minha casa o fio do prefeito Vardo e priciso está composta
pra recebê, mas nada me impedi de me descompor depois.
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Diran: Eita!!! Issé um convite é?
Diran: Bem Inácia, minha frôr, vou ficar na tocaia, quando avistá os doi saíno, eu entro in
ação. Mas frôr, eu tê meio liso num sabe? Nem pra água de colônia eu tenhu mais. Sabe
como é, vida de motorista num é lá essas coisa, o sinhô Afonso, marido da sinhora, qué
dizê, seu marido, num paga nada bem.
D. Inácia: O Afonso sempre foi mão de vaca, mas você num vai passá necessidade não meu
pão dormido, oquele ti paga eu cubro até cum mais que dinhêro, por inquanto toma isso
aqui, vê se dá.
Diran: Afe Maria, dá e sobra, qué dizê, dá pra hoje né, pruque sabe comé, pra simantê o
vigor de homi é priciso tá de bucho cheio.
D. Inácia: Eu sei disso, porissu num si preocupe que do seu vigo, eu garanto.
Fernando: Eu sei, tua irmã me contô, também num vejo a hora de cunhecê sua...
noiva.
Marcello: Sai pra lá rapaz, nem vem com teu olho nela, essa já é minha.
Marcello: Pra você cumê na minha casa, chumbetá minha irmã e pegá minhas ropa usada,
é, deve sê meu irmão, mas num precisa espalhá pra ninguém ta?
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CENA 6-
[Na rua].
Música
Zabelê:
Entre todas as janelas e portais, pessoas voltavam-se para nós. E algumas não falavam,
outras apenas apertavam os nossos braços ou beijavam a imagem carregada por mim, ou
diziam como a si próprias: “É pesado o fardo da morte”! E me lembro que embora não
fosse mês de junho, um vento frio entrava pelas ruas do Jaraguá e se alojavam em minhas
[Valdo em risos].
Afonso: Mas na minha frenti cum aqueles dente de ôru, um homi, carmão istendida e um
chicote involta du pescoço, isperava que eu beijasse a tal morena. - [Risos].
D. Inácia: Sim, mas bora pro quinteressa. Pra quando marcamo esse noivado?
Marcello: Vai dá tudo certo meu amor. Seremos muito feliz. - [Toca suavemente em Zoé].
Zoé: Num vô casar com tu! E num sou o seu amor! Não sou o seu amor! - [Zoé foge
exaltada].
D. Inácia: Pois bem, eu cuido de todos os preparativo pra que isso aconteça o mais breve
pussível. Num quero filha minha solteira.
Afonso: Inácia! Essa filha duma égua me afronta e tu vem falar de preparativo pra festa?
Olhe, Vardo, tu num sabe o que eu passo com essas dua, a tua isposa: Izabé, morreu muito
cedo. Mas me acumpanhe sinhôres, borá aproveitar essa festança, faço muito gosto da
união dos nosso fio.
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CENA 7-
[Na rua].
Música
Zabelê:
Agüenta o orgulho um milhão de provas, não cai nunca o que é forte. Mas vendo as
estrelas longe de ti, minha alma chorou. Meu coração está cheio de dor, porque
não estou a te beijar, não estou a te beijar.
[No baile de carnaval, no meio da festa. Zoé avista seu amado. Encontram-se. Um vago
tempo, ao som de uma música, eles encaram-se].
Música
Francisco: Zoé?
Zoé: [Ironia] - Prometo não demorar dois anos para chegar ao jardim da minha casa.
Musica de fundo
Zoé: [Interrompe Francisco] - Achô errado. Ou num devia ter achado nada. Isperei muito
tempo Francisco. Estávamos de casamento marcado. Você se foi e... Pensei que no silêncio
fosse possível construir uma compreensão, mas não foi.
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Francisco: Você está sendo injusta comigo. A Lisa estava grávida, tive que voltar, não podia
deixá-la. Lhe daria uma explicação que nem mesmo você entenderia.
Francisco: Nem chegou a nascer. Gravidez de risco, acidente de carro, enfim, não quero
falar sobre essas coisas.
Zoé: Como pode chegar pra alguém e dizer de repente “eu ti amo”? Pra depois ixplicá
quesse amor independia de qualquer solicitação, que bastava amar, assim como uma coisa
que só por sê sintida e formulada, quesse completa e se cumpre? Num vô perguntar por
que tu voltou, acho que nem tu mesmo sabe, e seu perguntasse tu ia acha que era
obrigação respondê.
Francisco: Ei, por que ferir? Por que estais dizendo coisas que não sentes? Que não
queres? Neste espaço branco de madrugada e lua cheia. Preciso falar e repetir mil vezes a
certeza do sentimento que carrego em mim?
Zoé: Entre aquele quando e aquele depois, num tinha mais nada na minha cabeça, nem na
minha vida. Só o ispaço branco e azedo da tua ausência. Carnaval, São João, Santana,
agosto adentro, enrolada nos cobertô, pedindo, isperando tu voltá. Mas nem isso né
Francisco, nem um bilhete, um telegrama, nada... Eu pudia esperar isso de qualquer cabra
da peste, mas não de tu. Se sempre foi tão feliz nossos encontro e até mermo nossos
disincontro, não parecia carente, sem complemento, tanta tentativa, nois, mais doce. Por
que tu foi embora assim de repente e duro, por quê?
Francisco: Eu não te abandonei por querer, Zoé, foi preciso. Nunca pude ficar tanto tempo
no mesmo lugar. Me diz, o que seria necessário para você voltar pra mim?
Zoé: Nada, nada do que tu podia falar agora, eu ia conseguir perduá. Sinto muito.
Zoé: Perdi meu equilíbrio quando veio, e mentia meu equilíbrio antes que viesse. Vá
embora Francisco. Eu tô noiva, de casamento marcado.
Zoé: Que história? Desde quando tivemos uma história? Você foi embora, nunca me
procurô, chega agora e vem falar de história? Tu num sabe quantas vez te isperei naquele
Porto. Quantas noite perdi o sono pensando em tu.
Francisco: Pensei que soubesse o significado de tudo isso. Mas pouco importa. O que
poderia me afastar desta tentativa de recuperá-la? As desculpas se acumulavam me
entende? E eu não quis, eu não quero te deixar. Eu sofro, eu tenho medo, me dá a tua
mão, entende, por favor.
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Zoé: ...Mas se tu tivesse ficado, teria sido diferente? Foi melhor ter parado tudo no meio, a
gente já sabia como seria o fim. Continuá pra quê? Num tem sentido. Melhor fugir,
deixando uma lembrança, um lenço esquecido numa gaveta, uma camisa jogada numa
cadera, uma fotografia, qualquer coisa que depois desse tempo eu pudesse olhá e sorrir.
Mas tu não deixo nada e esse nada arde no peito. Não tenho mais o que dizê, Francisco, vá
embora.
Francisco: Você se doou tanto quando eu não pedia, e no momento em que pela primeira
vez peço, você nega, você foge...
Francisco: Helena, bem, numa festa como essa, não é nada difícil ter acesso. - [Poucos
risos].
Helena: É verdade. Mas onde está hospedado? Não me venha dizer que está morando
aqui.
Camila: O que aconteceu Nando? É por que meu irmão vai noivar? - [Ri].
Fernando: Deixa di ser besta Camila, eu acabei de sabê qui meu voinho morreu.
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Fernando: Lá no Capitá.
Fernando: Quando ele viajo, levô o dinheiro todo com medo que eu fizesse bestera, mas
ele sempre mandava, agora aconteceu isso e eu só tinha ele, tu num sabe como foi difícil
esses dois mês qui ele tava fora. Quê que vô fazer pra viver sozinho naquela casa?
Fernando: Eu num posso. Teu pai e Marcello num vão gostar. [Falso]
Cena 8-
[Helena leva Francisco ao quarto de Zoé, onde ficará escondido a espera de sua amada].
Francisco: Aqui é o quarto dela. Tudo do mesmo jeito. O mesmo cheiro de lavanda.
Francisco: Zoé, como você pode se casar com alguém que não ama?
Zoé: E quem falô qui eu num amo? Por favor, mais uma veiz, peço que vá embora. Não
cabe construir duas veiz a mesma vida numa única existência.
Francisco: Você pode até pensar que as coisas foram fáceis para mim, mas não foram.
Zoé: À medida que os dias se transformaru em semana, mês e dois ano, passou a ter uma
aceitação. Não posso mais te amar porque tudo seria falso/
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Zoé: Vá embora Francisco.
Zoé: Espere!
Francisco: O quê?
Zoé: Já que entrô aqui, quero ti mostrá uma coisa. - [Pega uma foto em um porta-retrato e
mostra-o].
Francisco: Nossa, muito tempo isso. Você tem o mesmo sorriso. - [Zoé sorri, meio sem
graça].
Francisco: Não está amarrada, ainda. Podemos fugir, sei lá. Tenho um apartamento em
Aracaju, podemos construir nossa vidinha por lá.
Francisco: [Interrompe Zoé e acrescenta]. - E seu noivo não é? Ele é que você não pode
deixar mesmo.
Zoé: Deixe de ser besta. Sabe muito bem que num gosto dele.
Música
D. Inácia: Eu sabia, eu sabia. Carnaval né. O moço bunito tinha que aparecer.
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D. Inácia: E o senhor, trate de ir simbora da minha casa.
Zoé: Mainha...
D. Inácia: [Grita] - Cale-se! Tu é uma vergonha prafamília Porto. Bora rapaz. E tu mocinha,
trate de se arrumá pra durmir.
Zoé: Nossa Senhora dos Prazeres proteja meu amado para que nada de ruim lhe aconteça.
CENA 9 -
[Na sala, Afonso e Marcello].
Afonso: Isso eu já não sei, mas de que importa não é mesmo? Você é Marcello Santa Cruz.
Nada mais importante neste mundo, que um nome de prestígio.
Afonso: [Exaltado]. - Um moleque atrevido que já fez muito mal a minha filha.
Francisco: Eu vou embora, mas antes, fique sabendo de uma coisa rapaz: Você não vai
casar com a Zoé, não deixarei.
Marcello: Bate. Bate vai. É assim que os ignorantes da sua terra resolvem as coisas.
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Francisco: Até breve. [Joga bebida em Marcello]
CENA 10-
Música
D. Inácia: Espero que seja na igreja mermo. Cleide pode ir com ela.
Cleide: Não, mas a sinhorita querendo, posso ficar por aqui mermo, comer umas cucada,
dá uma olhadinha nos turistas. - [Risos]. - Já tenho quatro image de Santo Antonho, já
coloquei os bichinho de tudo qué jeito e nada. Pruquê tenho que sair né? Paquerar sinão
nunca vai funcioná.
CENA 11-
[Zoé entra na Igreja. Ajoelha-se e logo entra Francisco].
Musica de fundo
Zoé: Meu casamento tá já chegando. Tenho medo de que Marcello possa aprontar alguma
coisa.
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Francisco: Aquele idiota? Aprontar? [sorri] Não meu amor, ele não será capaz de nada,
não se preocupe.
[Pausa].
Zoé: Temos pouco tempo. Tenho medo. Depois de ontem à noite, as coisas ficaram
complicadas.
Cleide: Ahhhh... As cucada acabar não é? [nervosa] Ainda falta cucada de maracujá, de
jaca, de macachera, de charque...
Cleide: É... Pra nada! Vamo simbora daqui. Tua mãe já deve tá com a gota serena in casa.
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Francisco: Até.
[Saem]
Marcello: Ah, então eles se encontraru. Que esperta né? Ela pensa que é esperta. O
melhor tá por vir. [Vira-se e dar de cara com Fernando] Vôte Fernando! Que diabo tu faz
andando atrás de mim? O que foi que aconteceu? Tu tá com uma cara péssima.
Fernando: Marcello, meu voinho morreu, num tenho onde ficar e tua irmã me convidô pra
morar na tua casa poruns dia, Tu num sincomoda né?
Marcello: Claro que não, pode ficar lá o tempo que quiser. Mas num fica assim não, que
eu tenho um plano e tu precisa tá bem animado.
[Aparece Francisco].
Francisco: Espero que se case mesmo, mas ouvi boatos de que a noiva pode não
comparecer, vai ser tão chato.
Marcello: Pois é. É bem capaz que não entre na igreja mesmo, vai saber o que pode
acontecer. Mas apareceu só pra mangar?
Marcello: Ainda não engoli a bebida que tu jogou em mim, mas não se preocupe, não vou
sujar minhas mão com tu. [Sai]
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Francisco: Olha, que corajoso. Realmente é o homem ideal para Zoé... E você, quem é?
Francisco: Ah, Fernando, você não fica magoado com a forma que ele te trata? Gosta de
ser pisado?
[Saem]
[Na casa de Zoé].
D. Inácia: Num precisa responder Cleide. Tu já fez teu trabalho, agora pode sair.
D. Inácia: Pois trate de acreditar, ou milhor, de si arrumá, sinão fica tarde pra
cerimônia.
D. Inácia: Foi sim, pois essa hora ele já deve ta chegando na terrinha dos miserável.
Zoé: Não, vou embora com ele. Num me deixaria aqui. Sozinha não.
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D. Inácia: Talvez, mas tu me pediu pra ser assim. Num tinha que andá sincontrando com
ninguém. Trate de se arrumar, quero qui fique dirlumbranti pro seu casamento. - [Risos].
[Saem]
[Na rua, Francisco termina a conversa com Fernando]
Marcello: Acha que sou tabacudo? Eu vi voceis conversando. Tava falando o quê? Tu tá
querendo me trair? É isso? Ta me apunhalando pelas costa?
Fernando: Não é isso, eu estava ajudando você com o seu plano, eu ia te fazer uma
surpresa.
Camila: Parem com isso, vocês são amigos, são como irmãos.
[Valdo chega].
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Valdo: O que está acontecendo aqui? Marcelo você virou um arruaceiro? Foi isso? Bora,
façam as pazes.
[Fernando estende a mão, Marcelo o puxa e o abraça e fala próximo de seu ouvido].
Marcello: Se tiver me traindo, não importa irmandade, amizade, nada. Eu acabo com tu.
Valdo: Estão vendo que coisa linda? Esse é meu filhão. - [Pega no braço de Marcello e fala
para a platéia] - Se eu perder minha próxima eleição por causa de você, eu te deserdo.
[Chega Afonso].
Afonso: Mas o que você ainda está fazendo aqui rapaz? Esqueceu do casamento foi? A sua
futura esposa já tá se vestindo, num vá deixá que ela chegue primeiro. [risos]
[saem]
CENA 12-
Música
[Entra Zabelê]
Zabelê:
E assim, como um suco de uva bem gelado, vou tomando a minha vida mudada, de
sentimentos e certas atitudes legais.E quero continuar, como um cão que nunca
ladra, mas que nunca dorme à espreita de tudo de bom que virá.
Eu desejo o frio de quando acordava cedo por nada ter que fazer. E só encontrei o
calor de uma pele fina, sob o signo puro da liberdade divina.
Desejo o teu olho, teu sorriso que é quase todo meu e quase nunca lindo.
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Ontem arribei minha calça, pulei o muro e o riacho e te encontrei ali do outro lado,
tão tranqüila e calma, como que fosse feita para mim.
SEGUNDO ATO
CENA 1-
Cleide: D. Inácia! Aquele rapaz tá de novo a sua procura. - [Ironia]. - O que será que ele
qué?
D. Inácia: Pois faça mais duas, acabou de ter uma ventania, meus lençóis devem estar
imundos, troque-os.
Cleide: Pra a sinhora vê a minha eficiência, acabei de restaurar seu quarto, seus lençóis
estão impecáveis.
D.Inácia: O quê?
Cleide: Sim sinhora. Mas posso de visitar uns parente antes? É logo ali em São Gonçalo.
D. Inácia: Vou contar até um, se você não desaparecer da minha frente eu mesma te
mato.
Cleide: Mas vê se me paga antes que é pra eu não ser enterrada numa caixa de papelão.
[Cleide retira-se].
D. Inácia: Odeio esses empregados lerdos, Cleide ta comigo há anos. Bobinha que só
vendo.
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Diran: Ela até que me pareceu bem eficiente.
D. Inácia: Pois é, até de mais. Mas bora pro que interessa. Eu pedi pra Cleide deixar o
porão um brinco, é lá que será o nosso ninho de amor.
Diran: Ô minha fror, pruquê perder tanto tempo indo pro porão? Vamo ficar por aqui
mermo.
D. Inácia: Nada disso meu pão dormido. Diran! Tu num tá pensando em me passar a perna
não, tá?
Diran: Sabe é?
Diran: E...?
Inácia: Cleide? O que tu tá fazendo aqui criatura? Já pra cozinha! Xô, xô!
Cleide: O que tu disse Inácia? Eu num entendi, mas talvez eu peça pro sinhor coroné pra
me explicar.
Cleide: Por hoje sim, mas sabe como é né, eu preciso me manter por fora. Além de atrasar
o meu salário com a conversa de que eu sou da família, nesses ano tudo nunca ganhei nem
uma calcinha, e ainda fala de mim pelas costas.
D. Inácia: Cleide tu num pode fazer isso comigo, tu é como se fosse minha irmã.
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D. Inácia: Ta.
Diran: [Certificando-se que D. Inácia já foi embora]. - E ai pretinha quanto foi que ela te
deu?
Cleide: O suficiente pra gente da a primeira entrada do carro. Já to até me imaginano, ui,
errei a marcha...
Cleide: Claro num é Diran. Mas continua assim, você até que ta indo bem, daqui a pouco
nós contrata mais uma empregada lá pra casa, mas fica de olho naquela desgraçada que
está lá, enquanto isso eu vou ver se Zoé está precisando de alguma coisa.
Helena: Tu vai casar, num vai prum velório, ou melhor, num vai pro teu velório.
Zoé: De certa forma, é minha morte. Casar com um abestalhado feito o Marcello. Tu tem
notícias do Francisco?
Helena: Não mesmo. Né tu que tava com ele? Tu que tem que saber. Mas vocês estavam
juntos hoje, onde ele foi?
Zoé: Não tenho idéia. Mainha falou que ele iria voltar pra casa.
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D. Inácia: Minha filha! Façam alguma coisa.
[Afonso chega].
[Black out]
CENA 2-
Camila: [Interrompe o irmão]. - Morto? Não mesmo, acabei de falar com ele. Ele tá
tramando alguma coisa.
Marcello: Ele guardava aqui, a gente brincava com ela, mas sem balas. Eu já to
entendendo, ele vai dar um jeito de me matar.
Marcello: Inveja. E eu também tenho culpa nisso, eu sempre humilhei ele, eu me sentia
bem assim.
Camila: Eu vou dar um jeito de evitar isso. Agora sai daqui que ele tá chegando.
[Fernando chega e Camila o abraça e sem que ele perceba tira a arma do bolso dele, ela
olha nos olhos dele e sai correndo. Ele abre os olhos e põe a mão no bolso].
Fernando: Desgraçada!
[Ele mexe no bolso e pega um vidrinho de veneno, prepara duas taças, Marcello entra e ele
o chama pra fazer um brinde].
Fernando: Eu vim brindar o casamento do meu melhor amigo, ou tu num é meu melhor
amigo? - [Fernando entrega uma taça a Marcello].
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Marcello: Claro que sou, apesar de tudo, sou teu amigo sim.
Marcello: Eu quero te pedir perdão, eu percebi que num sou o amigo que tu quiria, não fui
o amigo que tu precisava.
Fernando: Parece está com medo! O que é que tá te apavorando amigo? - [Põe a taça na
mesa e vira de costas. Ri] - Eu num posso te fazer nada, sou tão fraco e mané! - [Marcello
troca as taças, Fernando vira-se pega a taça] - Vamos brindar! Toma Marcello, vamos
brindar nossa amizade. - [Marcello toma, eles brindam].
Fernando: Eu? Não sei! Por que tu não me diz? Ah não, deixa que eu te digo, eu quero
chegar a sua morte. - [Ele começa a se sentir tonto e vai caindo, Marcello o segura].
Fernando: Tu era meu melhó amigo, eu sempre achei que tu fosse o irmão que eu nunca
tive.
Musica de fundo
Marcello: Tu é invejoso. Ficava me aperriando o tempo todo com essa história de amizade.
Fernando: Eu te odeio!
Fernando: Eu te perdoo. Eu ti amo, me desculpa por tê isperado muito pra dizer isso. -
[Demora um pouco] – Marcelo me beija, me beija, me beija! - [Fernando morre nos braços
do amigo].
[Camila entra]
Camila: Marcello que gritaria é essa? Que tu tá fazendo com esse menino? [Grita] -
Nãooooooooo...
Marcello: Tinha que ser um de nós dois, meu amigo, que bom que foi tu. Camila, cala a
boca! Cala a boca! Me ajuda a esconder essa merda aqui.
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[Black Out]
CENA 3-
[No quarto de Zoé ela conversa com Helena].
Zoé: Ótima.
Zoé: Eu preciso adiar esse casamento ao máximo, enquanto isso dá um jeito de encontrar
o Francisco.
Helena: Zoé! Tu ta consciente do risco que tu tá causando a ele? Se algo der errado, o
padrinho acaba com ele.
Zoé: Tu tem razão. Se o Francisco realmente me ama, ele num vai permitir que eu me
case.
[Zoé caminha].
Zoé: Espatódea.
Zoé: Enfrente a igreja tem uma árvore que se chama Espatódea, e é lá que eu vou esperar
por Francisco.
Helena: Essa árvore tem uma lenda não é? A lenda diz que...
Zoé: [Interrompe Helena]. - Isso. Tem uma lenda sim. Eu quero comprovar.
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Francisco: Arvore? Que arvore?
[Congela a cena]
Narrador OFF:
[Descongela a cena]
Francisco: Não vejo outra solução. Vou atrás dela. A perda do amor é igual a perda da
morte, só que dói mais.
D. Inácia: Diran! Agora que Cleide sabe do nosso segredo eu tenho medo que ela possa
abrir o bico.
Diran: Nem se preocupe com isso minha frôr de pitanga, eu estou no controle. Agora vem
cá que eu estou louco pra apagar esse seu fogo.
D. Inácia: Ai Diran! Agora não posso, tenho que encontrar minha filha, Zoe saiu de casa
que eu nem percebi, pra começar não quis que ninguém a ajudasse, vestiu-se só. Tenho
medo que tenha ido se encontrar com aquele moço.
[Cleide chega].
Cleide: Era meu trabalho, meu trabalho agora é manter seu segredo abafado, até quando
você puder pagar por isso.
Cleide: É verdade. Olha, por ela vou te liberar hoje. Mas quando chegar em casa, a rotina
volta ao normal.
[Francisco aparece].
27
Francisco: D. Inácia? A senhora posa de boa dama da sociedade, a distinta e honrada.
Pondo chifres no marido com o motorista?
D. Inácia: O que tu ainda tá fazendo aqui rapaz? Tu não sabe o que tá falando.
Francisco: A senhora se acha muito esperta, muito superior. Ta sendo boba. Eu não vou
perder meu tempo com a senhora, D. Inácia!
TERCEIRO ATO
CENA 1-
[Zoé chega à porta da igreja].
Afonso: Por que tá vestida assim? Não foi esse o vestido que seu noivo deu.
Zoé: Quero entrar assim. Essa é a cor que sinto dentro de mim.
D.Inácia: Zoé minha filha, entra nessa igreja, sai de debaixo dessa árvore. - [Diran
escondido, chama D. Inácia].
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D.Inácia: Ai meu Deus! Afonso deixa eu explicar. É que...
Cleide: [Interrompe Inácia]. - Eu nunca pensei numa coisa dessas, a senhora com meu
marido, sua vagabunda.
D. Inácia: Eu fui enganada? Como marido? Vocês estavam me usando pra usurpar o meu
dinheiro? Eu vou acabar com vocês.
Afonso: Para com isso! Se tem alguém aqui que vai bater nela, esse alguém sou eu! [pega
Inácia pelo cabelo e a joga no chão]
Zoé: Meu amor, você veio. Está machucado? Quem fez isso com você?
[Aparece Marcello].
Valdo: [Segura Marcello pelo braço e olha dentro dos olhos dele]. - Filho! O que tu tá
fazendo? Ouve o seu pai, me dá essa arma.
Francisco: O quê?
29
Afonso: Filha, isso é verdade?
Francisco: Zoé, o que está acontecendo aqui? Pensei que iríamos fugir, você deitou com
esse imundo?
Francisco: Eu que estou sobrando, te encontrei noiva. Pode ir, ele é um partidão mesmo.
Francisco: Amor, amor. De que serve mesmo? Você está na porta de uma igreja com seu
noivo, que não sou eu. Isso, sinceramente, é o que importa.
Marcello: Embora?
[Marcello atira em Francisco, mas Zoé toma sua frente, tomando a bala em seu peito.
Começa a gritaria de todos envolvidos no momento, muito choro, desespero. Ela fica caída
nos braços de Francisco].
Helena: Então a lenda num é verdadera, ela dizia que debaixo de Espatódea morria os
casais apaixonado.
Música
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Zabelê:
Agora moro num parão. Os meus sonhos ruins ainda vivem no meu sono. Uma
noite, após meu pesadelo, uma sombra ergueu-se sobre mim. Ela disse: Conte-me o
seu sonho. E eu contei: Espatódea.
- Fim -
31