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05/09/2020 Imigração e diferença em um estado do sul do Brasil: o caso do Paraná

Nuevo Mundo Mundos


Nuevos
Nouveaux mondes mondes nouveaux - Novo Mundo Mundos Novos - New world New
worlds

Débats | 2007
Migrações, migraciones. Dossiê coordenado por Mônica Raisa Schpun

MÁRCIO DE OLIVEIRA

Imigração e diferença em um
estado do sul do Brasil: o caso
do Paraná
https://doi.org/10.4000/nuevomundo.5287
[18/05/2007]

Résumés
Français English
Pendant la décennie de 1990, plusieurs parcs publics ont été créés dans la ville de Curitiba, la
capitale de l´état du Paraná, Brésil. Ces parcs ont été dédiés à de divers groupes d’immigrants qui
sont arrivés à l’état depuis la moitié du XIXe siècle. L´idée générale des ces hommages était que
l’état (mais aussi la ville de Curitiba) avait connu une histoire différente par rapport à celle que
l’on connaissait de ladite société luso-brésilienne. L’origine de cette différence résidait justement
dans les immigrants non-portugais et dans la petite présence des Noirs dans la population locale.
Cette version, diffusée par la mairie de Curitiba, avait un certain fondement scientifique et
historique, en plus d’avoir été consacrée par la publication du livre Un Brésil différent (1955) du
critique littéraire Wilson Martins. En effet, depuis la fin du XIXe siècle, des membres de l’élite
locale produisaient des métaphores et des imagens liant la société locale aux immigrants. Il ne
s’agissait pas, dans la plupart de cas, de l’immigrant lui-même, mais de “l’homme paranais”, issu
du processus de métissage entre les divers groupes d’immigrants, parmi lesquels les plus
importants étaient les Polonais, les Allemands et les Italiens. L’analyse de l’histoire intellectuelle
du Paraná depuis la fin du XIXe siècle jusqu’aux années 1950, lorsqu’on célébre le centenaire de
la création de la province, se fait autour d’une discussion sur le fondement social et historique de
ces images de la différence tout en considérant, en termes d’hypothèse de travail, qu’elles feraient
état d’un mythe du “Brésil différent”. Pour ce faire, l’on analyse trois mouvements historiques: le
mouvement symboliste, le mouvement “paranista” et le centenaire de la création de l´état.

Nos anos 1990, vários parques públicos foram criados na cidade de Curitiba, capital do Paraná,
com o intuito de homenagear as comunidades de imigrantes que aportaram no estado (e também
na cidade) a partir de meados do século XIX. Em meio a estas homenagens, veiculou-se a idéia
segundo a qual Curitiba (e também o próprio estado do Paraná) tinha uma história e uma
sociedade diferentes em relação à chamada sociedade luso-brasileira. As origens dessa diferença
estavam justamente nos imigrantes não-portugueses e na pequena participação da população
negra na formação social local. Essa versão veiculada pela prefeitura de Curitiba apresentava,

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curiosamente, um lastro científico e histórico e tinha na publicação do livro Um Brasil diferente
(1955) do crítico literário Wilson Martins, seu momento de consagração. Com efeito, desde o final
do século XIX, membros das elites locais começaram a produzir metáforas e imagens vinculando
a sociedade local à presença do imigrante. Não se tratava, na maior parte dos casos, do imigrante
em si, mas do “homem paranaense” resultado da miscigenação dos diversos grupos de
imigrantes, dentre os quais os mais importantes eram os poloneses, os alemães e os italianos.
Percorrendo a história intelectual do estado do Paraná desde o final do século XIX até a década
de 1950, quando se comemora o centenário de criação da “Província do Paraná”, fazemos uma
discussão entre o lastro social e étnico das imagens da diferença em relação à hipotética trajetória
do “mito do Brasil diferente”. Esta análise é realizada em relação a três momentos históricos: o
movimento simbolista, o movimento paranista e o centenário da emancipação do estado (1953).

Entrées d’index
Mots clés : Brésil, Paraná, immigration, différence, mythes
Keywords : mito.
Palabras claves : Brasil
Palavras Chaves : imigração, diferença

Texte intégral
1 Entre 1993 e 1997, a cidade de Curitiba1 viu seu número de parques e bosques
públicos crescer de 15 para 22, em um aumento de quase 50%. Destes espaços públicos
inaugurados pela prefeitura da cidade, três parques foram dedicados a comunidades
étnicas de imigrantes, a saber: Bosque Alemão, Bosque de Portugal e Parque Tingui,
destinados respectivamente às comunidades de imigrantes alemães, portugueses e
ucranianos (Oliveira, 1996). O “Instituto de Pesquisa da Afrodescendência” (IPAD),
com sede em Curitiba2, observou que, em meio àquela ação coordenada de homenagens
aos grupos de imigrantes, nenhum parque, bosque ou simples praça havia sido
destinado à presença negra na cidade ou no estado. A resposta não oficial da prefeitura
foi: a população negra não havia sido importante na história da cidade. Esta afirmação
poderia ser considerada fruto de um julgamento parcial (ou mesmo discriminatório)
não fosse o conteúdo histórico e científico do qual se revestia. De fato, nos estudos
sobre a história social do estado, várias teses lastreiam o julgamento feito. Vejamos. A
imagem de 1) um “Brasil mais europeu” uma vez que a sociedade paranaense era
“semelhante a que se encontrava no resto do Brasil, mas não era idêntica”, porque fruto
de um “laboratório étnico” que havia transformado a sociedade luso-brasileira
(Wachowicz, 2001: 145-159), 2) de uma região onde o “paranaense sentiu que estava
construindo para o Brasil uma versão diferente de seus estilos mais conhecidos e
divulgados” (Pinheiro Machado, 1969: 19), entre outras, são comuns e revelam uma
história social vivida e percebida como particular, porque assentada na noção de
comunidade, de sua permanência e desenvolvimento através do tempo, processo que
teria desembocado numa “nova identidade étnica”. Ainda que estas imagens sejam
questionadas - é “como se, no Paraná, a “mancha da escravidão” e mesmo da
colonização portuguesa tivessem sido apagadas" (Andreazza e Nadalin, 1994: 62) -
reconhece-se que neste “raciocínio simplista e ingênuo, recuperamos e reiteramos
aspectos da ideologia imigratória do século XIX...” (Id.Ib.)3. De fato, desde o final do
século XIX, escritores “simbolistas” e membros da elite intelectual e política paranaense
começam a produzir, através de discursos, textos literários e estudos históricos,
imagens e metáforas sobre a identidade social e cultural do estado cujo fundamento
étnico se assentava na figura “branca” do imigrante não-português de origem européia,
e cujo fundamento social residia na presumível particularidade paranaense em relação
às demais regiões do Brasil. Essas imagens e metáforas utilizadas na apresentação da
versão acima eram encontradas em trabalhos de caráter historiográfico cuja temática
geral era a história e/ou a sociedade do estado do Paraná. Nos anos 1920, surge o
paranismo, movimento intelectual e político que, secundando aquela primeira geração
republicana, manteve a trajetória de invenção de uma história e de uma sociedade para
o plano local baseada em uma visão “branca” e particular da sociedade e do próprio

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estado do Paraná. Como um todo, estas primeiras imagens apresentavam, ainda que de
maneira não calculada, uma relação de proximidade com outros movimentos regionais
de valorização das identidades locais, existentes em outros estados do Brasil.
Aproximavam-se ainda do pensamento social construtor da cultura e da identidade
nacional da primeira metade do século XX, cum grano salis: a regionalidade era
apresentada não por diluição ou justaposição no todo nacional, mas sim através da
afirmação da diferença das comunidades de imigrantes formadoras da sociedade local e
de sua trajetória de integração/transformação da sociedade luso-brasileira. A
publicação do livro Um Brasil diferente (Martins, 19894), onde se afirma que a
imigração de origem européia constitui o principal lastro da formação social e cultural
do estado, tornando o Paraná “diferente”, pode ser considerada tanto como o ápice
desta trajetória de invenção de uma identidade não-portuguesa5, como também de
consagração dos grupos que a produziram (Bourdieu, 2002). Denominamos
inicialmente esse processo histórico não orquestrado de “produção de imagens da
diferença”. Notamos, contudo, que essas imagens, (re)produzidas e difundidas por
membros da elite política e intelectual paranaense durante toda primeira metade do
século XX, são mais que parte de um processo de produção de crenças, mas funcionam
como uma espécie de mito que (re)cria um certo “imaginário do sul”. Segundo este, a
parcela sul do território brasileiro seria uma região social e culturalmente diferente das
outras regiões do país. Numa palavra, se aquelas imagens não são o atestado de um
“Brasil diferente”, talvez tenham produzido o “mito de um Brasil diferente”, com forte
impacto sobre textos acadêmicos6 e escolares, mas também sobre o imaginário local.
Contudo, qual é o lastro econômico, social, demográfico e étnico dessas imagens? O que
elas revelam em relação ao campo intelectual e político e qual seu papel na
construção/invenção da supostamente diferente história social paranaense?

Imigração no Paraná
2 Terra de tardia ocupação e expansão demográfica, o estado do Paraná, durante as
décadas de 1950 e de 1960 (Balhana et al., 1969; Wachowicz, 1969), foi descrito como
“diferente”, basicamente por três razões. Primeiro, porque não teria consolidado o
padrão clássico da sociedade luso-brasileira que gravita em torno de relações
senhoriais, do grande latifúndio e da monocultura de exportação. Em segundo lugar,
porque sua economia, desde os tempos colônias, esteve assentada sobre bases
capitalistas. As indústrias da madeira e da erva-mate apresentavam uma estrutura
relativamente tecnológica e concorrencial, conjugando trabalhadores livres (os
“jornaleiros” que colhiam a erva-mate) e escravos (alguns desses também assalariados),
impulsionadas por uma forte atividade comercial (atacadista e varejista) e exportadora.
Em terceiro, porque a forte presença do imigrante europeu – sobretudo a partir da
década de 1870 – teria modificado substancialmente o perfil populacional do estado,
sua cultura e suas relações sociais. O início da imigração para os estados do sul do
Brasil data da década de 1820, quando são fundadas, por grupos de alemães, as
primeiras colônias, nas atuais cidades de Itajaí (Santa Catarina, SC) Rio Negro (divisa
entre os estados de SC e Paraná, PR) e de São Leopoldo (Rio Grande do Sul, RS).
Segundo Nadalin (2001), com a lenta diminuição e o fim do tráfico (Lei Eusébio de
Queirós, 1850) e com a elevação do preço do café e sua expansão no estado de São
Paulo, parte considerável da população escrava paranaense é vendida para cafeicultores
paulistas, provocando uma relativa crise de abastecimento agrícola, uma vez que eram
eles os trabalhadores rurais. Magnus Pereira (1996: 58/59) afirma que a venda de
escravos para São Paulo teria sido tão importante que o próprio perfil demográfico da
região se altera. A título de exemplo, afirma que o percentual da população curitibana
escrava em 1850 (antes mesmo do grande fluxo imigratório e no momento da Lei
Eusébio) já seria de apenas 8%. Adicione-se a isto que, neste momento, parte dos
imigrantes que viviam em colônias começa a migrar para as cidades (por exemplo,
imigrantes alemães da colônia Dona Francisca, atual Joinville, SC, em direção a
Curitiba), onde procuravam se assalariar nos mais diversos trabalhos ou mesmo

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montar estabelecimentos comerciais próprios7. As conseqüências dessas mudanças se


fariam sentir também no ordenamento jurídico da sociedade paranaense. Em 1861 e,
portanto, ainda em período escravocrata, a câmara de Curitiba proibia o trabalho
escravo nas lojas comerciais. Os imigrantes eram preferidos aos escravos (que deveriam
ser “superados”) e mesmo aos nacionais de “classes baixas” (M. Pereira, 1996: 85-87).
As imagens em torno do caráter benéfico do “imigrante trabalhador” em oposição ao
escravo em vias de “desaparecimento” surgem neste momento e, em 1872, a população
imigrante residindo em Curitiba já era de 1.339 indivíduos ou 11% do total. As primeiras
iniciativas paranaenses para promover a imigração estabelecem como objetivo atrair
uma população rural e trabalhadora (“morigerada e laboriosa”) com o objetivo de
abastecer a “província” de gêneros alimentícios8. Embora, entre a emancipação (1853) e
o fim do governo imperial (1889), a província tenha conhecido nada menos que 41
presidentes, deve-se reconhecer que durante todo esse período, a política de imigração
sustentou-se invariavelmente no tripé ocupação dos vazios demográficos, produção
agrícola em pequenas propriedades e trabalho livre, conferindo-lhe uma característica
distinta da imigração paulista: a colonização (Andreazza e Nadalin, 1994). A título de
exemplo, pode-se ler no “Relatório do Presidente da Província”, ano de 1854 (p. 62),
que dever-se-ia “encher de população ativa o vasto território [...] onde o europeu se
depara com um clima análogo ao de país natal.” No Relatório do Presidente de 1855 (p.
21), está presente a idéia de “promover a imigração de colonos morigerados e
laboriosos”, ou seja, de bons costumes e trabalhadores. Data daqui, muito
provavelmente, o nascimento da associação positiva entre imigrante e trabalho. No
Relatório apresentado pelo Vice-presidente da Província de 1857, afirmava-se que se o
governe desejasse promover a “colonização”, deveria proceder “por meio da venda de
terras devolutas” (Relatório de 1857 apud Balhana et all., 1969: 161). No Relatório de
1872 (p. 65), a preocupação era de “salvarmos a Província do estado da decadência a
que chegou sua agricultura”. No Relatório de 1875 (p. 22), reconhecia-se que “hoje (...)
a salutar lei de emancipação dos escravos nos colocou na dependência do braço
europeu”. Durante o período analisado acima (1854-77), foram de fato os Presidentes
Frederico de Araújo Abranches, 1873-1875, e Adolfo Lamenha Lins, 1875-77, quem
mais efetivamente se empenharam em relação à política de imigração e de colonização.
Conforme se pode ler no Relatório de 1875, ao final da presidência de Abranches,
apresentam-se dados sobre as principais colônias. Nota-se inicialmente que até a
década de 1860, todas elas eram fruto de iniciativas particulares: Colônia Theresa
(próximo ao Rio Ivaí, 150 km a oeste de Curitiba), fundada pelo médico francês João M.
Faivre com 87 franceses, apresentando sinais de decadência devido ao isolamento.
Superagui (atual município de Guaraqueçaba, litoral norte do estado), fundada pelo
suíço Carlos Perret Gentil em 1852 com 85 imigrantes suíços e franceses, que havia
prosperado enquanto viveu seu fundador, encontrava-se também em decadência. A
colônia de Assungui (atual município de Cerro Azul, região metropolitana de Curitiba),
fundada em 1860 pelo governo da província com ajuda do governo imperial,
inicialmente ocupada por 949 imigrantes, contava então com apenas 308 habitantes
estrangeiros (sendo 110 franceses, 74 suíços, 70 italianos, 49 alemães e 5 espanhóis).
Estava em situação de isolamento embora fosse considerado “o melhor estabelecimento
deste gênero que conta a província” (Relatório de 1875, p. 24). O Relatório de 1875
apresenta ainda dados sobre imigrantes que estariam se instalando em regiões
próximas (hoje bairros) à cidade de Curitiba, no primeiro movimento de migração
interna no interior o estado. Não há informações sobre o número de imigrantes, mas
apenas sobre os nomes das colônias: Rocio da Capital, Abranches (atual bairro
Abranches), São Venâncio e B. Cachery (atual bairro Bacacheri). Lamenha Lins, em seu
Relatório de 1876 reconhece que a província apresenta condições adequadas à
imigração, mas que “para isto” era necessário dispor-se dos “meios próprios” e,
principalmente, dizer a verdade aos colonos “sobre a nova pátria”; “facilitar-lhe o
transporte”; “dividir bem lotes”; “evitar que o imigrante sofra vexames”, entre outras
(Relatório de 1876, p. 78-79). O Relatório de 1876 compara ainda as colônias mais
distantes (Assungui, por exemplo) com aquelas próximas a Curitiba, reconhecendo nas
últimas inúmeras vantagens. Em seu Relatório (anual) de 1876, Lamenha Lins ressalta
ainda o aspecto “florescente” da colônia “do rocio da capital” com já mais de “dois mil
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habitantes” estrangeiros. É taxativo ao afirmar que o “progresso e bem-estar” eram


frutos da política de imigração que havia implantado “com a aprovação do governo
imperial” (p. 79), contribuindo para a consolidação da imagem positiva sobre a
imigração. Segundo Balhana et al. (1969), haveria 21 colônias que se instalaram em
localidades próximas a Curitiba. Os grupos de imigrantes eram principalmente de
poloneses, alemães e italianos; franceses, ingleses e suíços estavam sempre em menor
número. O número médio de imigrantes por colônia era de 300 indivíduos, com pico de
1.295 para a colônia Tomaz Coelho (atual município de Araucária, região metropolitana
de Curitiba) e um mínimo de 98 para a colônia de D. Pedro em Curitiba. O número de
lotes rurais variava de colônia para colônia em função do número de imigrantes sendo
que seu tamanho médio era de 25 hectares por família. Em 1877, chegam ao Paraná os
primeiros imigrantes russos (ou “alemães do Volga”), fugindo do alistamento militar
obrigatório que lhes fora recentemente imposto (Balhana, 1969: 174-176). Ao total,
estaria previsto que o número de imigrantes, destinados à região dos “campos gerais”
(atual município de Ponta Grossa, 120 km a oeste de Curitiba), giraria em torno de 20
mil. O governo provincial demarcou lotes e contribuiu financeiramente com o
transporte. O objetivo aqui era dinamizar a economia desta região, que se encontrava
em relativa decadência econômica. Contudo, devido a uma série de dificuldades que
não podemos desenvolver aqui, somente 3.809 imigrantes desembarcaram no Paraná e
apenas 50% deles permaneceram. O fracasso dessa iniciativa repercutiu negativamente
tanto no Brasil quanto na Europa, marcando o fim de uma primeira etapa das políticas
oficiais de imigração (Balhana et al., 1969: 177-81). Durante a década de 1880, a
atuação do governo provincial limitou-se a apoiar a criação de associações de
imigração. Onze destas foram criadas em Curitiba entre 1885 e 1886. Nesta década o
número de imigrantes para o estado foi de apenas 2.769 contra 12.500 na década de
1870. A preocupação com a imigração assumiu novas feições nos anos imediatamente
anteriores à abolição da escravidão (1888). Disseminou-se então um sentimento de que
nem todo imigrante era capaz de adaptar-se (as primeiras imagens negativas sobre os
imigrantes datam desta época e se referem basicamente aos “alemães do Volga”) e de
que as colônias melhor sucedidas tinham um ponto em comum: a proximidade com os
núcleos urbanos, em especial Curitiba, o que modificaria um pouco a idéia inicial de
colonização de todo o território do estado9. À idéia de colonização, seria acrescentado
ainda o desejo de trazer imigrantes para o trabalho nas grandes obras públicas, como
por exemplo, para a construção da estrada de ferro ligando o litoral (Paranaguá) a
Curitiba. No Relatório de 1888, assinado pelo Presidente Miranda Ribeiro a 30 de
junho (p. 26), portanto logo após a abolição da escravidão, reconhecia-se um novo
papel para a imigração. Tratava-se então de “fator étnico de primeira ordem, destinada
a tonificar o organismo nacional abastardo por vícios de origem e pelo contato que teve
com a escravidão”. É possível explicar essa nova preocupação pela diminuição do
número de imigrantes contabilizados para aquele ano de 1888, 383, enquanto que no
ano anterior (1887), o número havia sido de 801 indivíduos, conforme se pode ler no
Relatório (anual) de 29 de dezembro de 1888 (p. 29). Apesar da experiência negativa
com os “alemães do Volga”, o fim da escravidão parecia lembrar às elites locais que o
país herdara certos “vícios de origem” que o imigrante poderia corrigir. A primeira
década republicana (1890-1900) apresentou uma nova dinâmica imigratória. A política
oficial de incentivo durara até 1896 e consistira no subsídio para o custeio da passagem
a partir do país de origem, transporte para o local da colônia, lote e alguma ajuda para
manutenção nos primeiros meses. A partir de 1896, apenas o lote deveria ser vendido
por “preço módico e a longo prazo” (ou seja, financiado) (p. 9) e, em 1901, não se cogita
mais reeditar os antigos benefícios. Segundo o Relatório (anual) de 1901, 53.047
imigrantes teriam aportado no Paraná10. Andreazza e Nadalin (1994: 65) apresentam
um número final de 85.537 imigrantes que teria se instalado no estado entre 1829 e
1911. Os dados apresentados merecem um comentário. Sobre a imigração polonesa, por
exemplo, os números são relativamente confusos. Não há dúvida sobre os períodos
mais intensos da imigração, 1890-96 e 1907-14. Contudo, enquanto Martins (1941: 67)
contabiliza 55.042 imigrantes, apresentando, porém, um número final de 48.131 (uma
diferença de quase 7 mil imigrantes), Gluchowski (2005: 45) chega a um número final
de 41.646 para o período compreendido entre 1871 e 191411. Seja como for, depreende-
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se, em hipótese, que os fluxos de imigrantes para o Paraná não teriam sido muito
influenciados pelas políticas oficiais provinciais. De fato, entre 1871 e 1887, época do
apoio oficial, apenas 5.256 poloneses imigrantes chegaram ao Paraná (R. Martins, 1941:
64-65). Gluchowski (2005: 42-44;) afirma que entre 1871 e 1889, chegaram à Província
7.030 imigrantes poloneses, enquanto que apenas para o período compreendido entre
1890 e 1900 (também chamado de período da “febre imigratória”), quando a política
oficial de incentivo já havia acabado, o número total de imigrantes poloneses teria sido
de 20.386 (14.286 apenas entre os anos de 1890 e 1894) e de 15.730 para o período
entre 1900 e 1914. Ao final, contudo, uma constatação: a imigração teria tornado a
sociedade paranaense moderna; o “Paraná, um estado com população
predominantemente branca e com majoritária influência européia” (Wachowicz, 2001:
159).

Paranismo e diferença
3 Entre 1854 (emancipação do Paraná) e o final do século XIX, como visto, em apenas
um momento foi produzida uma imagem negativa do imigrante. Contudo, é no final
deste período que surge um movimento social e literário, tendo como pano de fundo a
caracterização do estado e da sociedade paranaense – o Simbolismo - no seio do qual
surge o conjunto de metáforas e representações que denominamos de “imagens da
diferença”. O Simbolismo, embora tendo representantes em vários estados, foi
especialmente vigoroso no Paraná e, por conseguinte, é descrito como um simbolismo
particular. A primeira particularidade (estendida ao próprio estado) liga-se ao clima da
cidade de Curitiba, considerado frio e europeu, e ao relevo ondulado de suas
montanhas, o que aproximaria os escritores locais do “clima” da matriz simbolista
parisiense. Bastide (1980) encontra aí uma clara manifestação da diferença do sul: “O
Simbolismo do Paraná é também a primeira manifestação de um “Brasil diferente”
contra o Brasil tropical, uma tomada de consciência literária do que o Paraná apresenta
de específico, mas também de autenticamente brasileiro, contra os que querem modelar
todos os brasileiros segundo um mesmo padrão: clima temperado contra sol tórrido,
bruma esbranquiçada e geada, minuano gelado do Sul, contra os alísios, os pomares em
flores e florestas virgens”. (Bastide, 1980: 212). O processo de diferenciação não se
esgotava na dimensão climática. Bega (2002) afirma que o personagem central da
identidade regional “inventada” pelos simbolistas paranaenses não é, como se poderia
supor, o imigrante. Não é também o “mulato”, mas sim o “caboclo” que estaria sendo
formado pela miscigenação das diversas correntes imigratórias com a população
tradicional.12 Do “caboclo” ao resgate e a revalorização do papel do “imigrante”,
portanto, tudo seria uma questão do lento processo de expansão demográfica13 e
“nacionalização”14 dos imigrantes, combinando então com a elaboração/invenção da
“primeira” história do estado, realizada por um dos “fundadores” do paranismo,
Romário Martins, considerado também o “criador” da história regional do Paraná.
Desde a publicação, em 1899, de seu “História do Paraná”15, a atuação de Romário foi
decisiva. Ator de primeira ordem na fundação do Instituto Histórico, Geográfico e
Etnográfico do Paraná (1900), o que lhe teria valido convite para ser membro de vários
institutos históricos estaduais, seu trabalho se dirigiu também ao estudo dos limites do
estado do Paraná, segundo ele ainda mal definidos. Vários são os mapas que organizou
(“Alguns mapas do século XVII ao XIX”) e trabalhos historiográficos que escreveu
(sobre as fundações de Curitiba e Paranaguá e sobre o próprio estado, “O Paraná antigo
e moderno”), consolidando sua imagem de historiador. O episódio da guerra do
Contestado (1912-16)16 é um ótimo exemplo do processo de “invenção” do Paraná, em
especial devido ao fato de ter sido descrito/eleito pelos paranistas como o momento de
afirmação da identidade apesar da derrota militar. A crença nessa “diferença”
modularia a “reescritura” (inventiva) de outros momentos da história do estado como,
por exemplo, o conhecido episódio do “Cerco da Lapa”.17 Da dimensão histórica,
Romário passou à dimensão social e cultural, quando ocorre o resgate do papel do
imigrante. Seja pela evidência demográfica, seja pela vontade de construção de uma

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identidade assentada nos valores, tão comuns à época, de progresso e de trabalho que
estavam ligados ao imigrante europeu, seja por ambos, a realidade do estado começa a
ser pensada a partir da idéia do amálgama entre os diversos grupos imigrantes (agora
reavaliados todos positivamente) e a população tradicional, o que denunciaria a
especificidade local em relação ao contexto nacional. Em “História do Paraná” (1995),
trabalhando o tema da imigração, Romário afirma que o “xadrez étnico” local foi se
constituindo de uma maneira distinta em relação ao resto do país. Tratava-se de uma
nova interpretação da história e do papel de imigrante. Era igualmente o anúncio
informal da tese da diferença cultural e social do Paraná – o “Brasil diferente” –
amparada por uma análise que conjugava dados históricos, demográficos e étnicos,
associados ainda à questão do clima, mas que tinha por base a incorporação social do
elemento imigrante não-português. É basicamente esta tese que seria retomada pelo
Movimento Paranista nos anos 1920 e 1930. Trata-se de um movimento intelectual
relativamente organizado de busca da identidade regional18. Suas origens remontam ao
federalismo republicano das duas primeiras décadas da República (1890-1910) e às
transformações econômicas e tecnológicas - expansão da rede ferroviária, iluminação
pública, bondes elétricos etc, ocorridas na região de Curitiba e litoral (Brandão, 1994) -
promovidas pelas novas elites curitibanas ligadas à industrialização e à comercialização
do mate e da madeira (Andreazza & Trindade, 2001). Luiz Pereira (1996: 75) afirma
que, reunidos em torno de Romário, um grupo de intelectuais e artistas (sobretudo
pintores) teria trabalhado com o claro objetivo de “inventar o Paraná, criando um
sentimento de pertença a uma terra que até então não possuía sequer a garantia física
de seu território”. Afirma ainda que uma “das principais preocupações de tal
movimento se dará em relação ao verdadeiro xadrez étnico presente no estado pelo
incentivo à imigração”. Uma primeira hipótese é que o movimento não apenas teria
produzido uma identidade histórico-social para o estado, mas o teria dotado de um
sentido de comunidade - terra, clima, povo e trajetória – que seria então representada
plástica e literariamente, inclusive com quadros, emblemas, brasões etc. Esse processo,
devido à enorme contribuição das obras de arte (desenhos, gravuras, pinturas sobre
temas naturais, a pinha, o pinheiro, o pinhão, etc.), consagraria definitivamente o
termo paranismo, dotando-o de uma dimensão estética inesperada e duradoura, que se
convencionou chamar de estilo paranista de arte19. O exemplo emblemático da
trajetória dessa busca de identidade que desembocou na consolidação do papel do
imigrante na história social local é, sem dúvida, a comemoração do centenário da
emancipação do estado (1953) e o livro Um Brasil diferente, de Wilson Martins.

O “Brasil diferente”
4 Nos anos 1940, duas importantes instituições dedicadas à arte, a Escola de Música e
Belas Artes do Paraná (EMBAP, 1948) e o Salão Paranaense (1944), ambas ligadas à
secretaria estadual, são inauguradas na cidade de Curitiba. A revista de literatura e arte
Joachim20 completa a ante-sala do cenário artístico para os anos 1950, período em que
é publicado o livro Um Brasil diferente, de Wilson Martins. Neste período, em Curitiba,
dois grupos disputam o legado do paranismo. De um lado, Wilson Martins e
Temístocles Linhares. De outro, o grupo herdeiro do espólio deixado por Romário
Martins, representado pela figura de Walfrido Piloto. Ambos os grupos podem ser
considerados paranistas e igualmente buscavam, desde o final dos anos 1930,
“construir a identidade paranaense não por sua similaridade ao nacional, mas pelo que
tem de peculiar [...] (Bega, 2006). Wilson Martins21, quando da publicação de Um
Brasil diferente, é crítico literário reconhecido e professor da Universidade do Paraná.
A obra, não importando como seria recebida, tinha sentido e plano claros. Para Martins
(1989), havia, pelo menos, duas “zonas de colonização” no Brasil: uma nacional e outra
de “predominância estrangeira”. De fato, estava-se diante de duas formações sociais:
uma englobando os estados do sul mais o estado de São Paulo e outra para o “resto” do
Brasil. O país estava cindido e o critério de corte não era o desenvolvimento, a
urbanização, a renda ou a concentração populacional. Era o imigrante. Aí residia a

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diferença. A inspiração era a obra maior de Gilberto Freyre. A ambição era realizar,
para o sul do Brasil, aquilo que o mestre pernambucano havia realizado para o país
como um todo em Casa Grande & Senzala, isto é, compreender os processos de
aculturação dos elementos europeus não-portugueses em terras do sul. Estudar esses
processos era necessário porque, segundo Martins, no Paraná havia se formado um
novo homem, uma espécie de mestiço “euro-brasileiro de segunda e terceira gerações,
uma vez “que já não há ‘estrangeiros’ no Paraná, à exceção, naturalmente, dos que
chegaram por último: há o homem paranaense” (Martins, 1989: 6). O autor conclui
dizendo que os estudos de Freyre valeriam para algumas regiões do Brasil, mas não
para todas. Urgia completar o quadro da formação social brasileira, examinando agora
as particularidades criadas pela forte presença do imigrante, não apenas no Paraná, ele
assinala, mas nos “estados do sul”, dentre os quais se incluiria também o estado de São
Paulo (Martins, 1989: 5). As teses do “Brasil diferente” poderiam ser pensadas como
uma “diferença regional”, seja em relação à história do açúcar, seja, em resumo, em
relação ao padrão freyriano da formação social brasileira. Contudo, Um Brasil diferente
é um livro que, embora gerado no seio de um movimento intelectual cujas origens
remontam ao final do século XIX e mesmo que ele possa ser ancorado no movimento
paranista, está amparado por fontes históricas e por uma criteriosa utilização dos
dados dos fluxos migratórios. Dados empíricos permitiram apresentar esta nova versão
da história do Paraná de maneira “científica”, com especial enfoque sobre os temas da
identidade social e da imigração, granjeando ao tema da “diferença” uma aura de
cientificidade não esperada. Contudo, reside aqui sua principal fraqueza porque a
suposta diferença era bem seletiva quando se tratava de sua principal inspiração, o
elemento imigrante. Com efeito, se em termos demográficos o imigrante polonês foi o
mais numeroso, Martins (1989) colocou sobre os ombros do imigrante alemão e seus
descendentes a principal influência exercida na constituição da diferença. A título de
exemplo, enquanto que à presença alemã são dedicadas 25 páginas (192-213), ao
imigrante polonês é dedicada apenas uma única página (191-192) (Oliveira, 2005). O
imigrante, embora essencial, parecia novamente parte de uma engrenagem de invenção
de tradições (Hobsbawn & Ranger, 1984), ancorada no duplo processo de produção e de
consagração da imagem da diferença (Bourdieu: 2002).

Conclusão
5 A imagem do “Brasil diferente”, criada nos anos 1950, pode ser considerada a
consolidação de uma certa visão da história social do Paraná. O imigrante e seus
descendentes, mais do que grupos sociais colonizadores, valem pela visibilidade que,
queiram ou não, revelam em relação à questão racial no país: o Paraná é ou
simplesmente teria se tornado “branco” e, portanto, “diferente”. Aparentemente, os
fluxos migratórios e o clima - a combinação de ambos? - autorizavam (ainda
autorizam?) as teses sobre a “diferença”. Em outros campos da vida social
(administração pública, planejamento urbano etc) e cultural (teatro, música clássica,
etc.) do Paraná e, sobretudo, de Curitiba, a “diferença” ou a sensação de “diferença”
também se manifesta. Os estudos históricos (Balhana et al., 1969, Wachowicz, 1969,
Nadalin, 2001), com leves variações, giram em torno e autorizam alguns fatos de base
sobre os quais teceu-se um consenso que convém explorar. São eles: baixo percentual
de negros na população, forte impacto do imigrante e seus descendentes nas estruturas
econômico-sociais do estado, variação no padrão cultural do estado e da cidade de
Curitiba em relação ao “Brasil tradicional”, etc. Estes fatos consensuais seriam
utilizados para explicar não apenas diferenças culturais (comida, hábitos, festas, etc.),
mas, sobretudo, o maior progresso econômico dos estados do sul do Brasil, sem
distinção (à exceção do estado de São Paulo), em relação à média nacional, numa quase
reedição das explicações raciais de meados do século XIX e princípios do século XX. De
certa forma, eis a hipótese que lentamente estamos desenvolvendo, a crença na
existência de um “Brasil diferente” vem funcionando como um “mito de um Brasil
diferente” ou seja, como uma espécie de narrativa das origens que centraliza suas

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atenções nos aspectos supostamente diferenciadores da cultura local. O resgate da


história da imigração e das imagens desse processo talvez seja hoje o caminho para
compreender a produção local dessa diferente versão de velhas questões raciais e
mesmo do tema da identidade nacional.

Bibliographie
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Notes
1 Capital do estado do Paraná. É a maior cidade em população e a segunda maior em PIB
industrial da região sul do Brasil.
2 Trata-se de uma organização civil destinada a promover a cultura africana e afrodescendente no
Brasil. Ver http://www.ipadbrasil.com.br.
3 Mesmo autores mais críticos reconhecem que há no Paraná uma “história brasileira desenhada
de forma peculiar” que teria produzido nos imigrantes uma “consciência comum etnicamente
engendrada” resultante de uma “solidariedade fundada em um estado de espírito originado da
corrente estabelecida” (Andreazza e Nadalin, 1994: 72).
4 Este livro foi originalmente publicado em 1955. Para efeitos de citação, utilizamos aqui a 2ª
edição publicado em 1989.
5 A idéia de tornar secundário o papel do imigrante português na formação social pode ser
considerada uma novidade intelectual no pensamento social brasileiro.
6 Ver em especial a produção historiográfica feita no interior do Departamento de História da
UFPR e tendo como veículo científico o “Boletim da Universidade do Paraná” editado pela
primeira vez em 1962.
7 Em 1890, pouco depois da abolição, o percentual de negros, para todo o estado do Paraná, era
de 5,17% enquanto que em São Paulo era de 12,97% e que no Rio de Janeiro era de 26,79%. Fonte
IBGE.
8 Trata-se não apenas da reafirmação das representações positivas da população imigrante -
descrita como “morigerada e laboriosa”, ou seja, de bons costumes e trabalhadora – como
também do sentido da política imigratória, a produção de alimentos. Todos os relatórios e
mensagens presidenciais da província do Paraná (1854-1889) podem ser consultados em
http://www.crl.edu/content.asp?l1=5&l2=24&l3=45.
9 Isto porque mesmo as colônias criadas no litoral, próximas às cidades de Morretes e de
Antonina, não prosperaram. Entre as supostas causas do fracasso, encontram-se fatores como
epidemias de mosquitos, clima quente e úmido e qualidade do solo, reforçando a associação
clima-imigrante. Já as colônias mais distantes de Curitiba não prosperaram devido a problemas
como falta de transportes. É conhecido o caso dos “alemães do Volga” que, segundo relatos,
estavam se especializando no transporte da erva-mate e abandonando lotes e a atividade agrícola.
10 Nadalin e Andreazza (1994: 65) falam em 45.752 imigrantes no estado entre 1890 e 1899. A
falta de concordância dos dados é uma questão sobre a qual nos deteremos em outro trabalho.
11 A julgar pela “International Migration Statistics”, a discrepância entre esses números tem a ver
com o fato de que muitas vezes, poloneses e russos eram indistintamente reunidos na categoria
“russians”. Ver International Migration Statistics, New York: Gordon and Breach Science
Publishers, 1969, vol. 7 “Demographic monographs”, p. 549-557.
12 De fato, nesse momento, o imigrante estrangeiro é visto com certa desconfiança devido ao
simples fato de ser “estrangeiro”. Enquanto sua participação estivesse restrita à economia e ao
“progresso do estado”, sua presença era bem-vinda. Contudo, ele não deveria participar das
atividades públicas, reservadas aos nacionais. Ver Wachowicz (1981: 127-133).
13 Andreazza e Nadalin (1994: 77-80) observam que a taxa de natalidade dos imigrantes alemães
e poloneses habitando os arredores de Curitiba, nas duas primeiras gerações a partir de 1880,
manteve-se sempre acima da média dos “nacionais” e mesmo acima da média dos imigrantes em
seus países natais.
14 O processo de nacionalização ocorreria, sobretudo, durante o governo Vargas com a obrigação
do uso do português, dentre outras medidas.
15 Para efeitos de citação, utilizamos a 4ª edição, 1995.
16 Contestado foi um movimento de tipo messiânico liderado pelo soldado Miguel Lucena
(inspirado pela figura do “Monge” José Maria, morto em um dos combates) 2 em favor dos
camponeses habitantes de uma área de aproximadamente 48.000 km , disputada pelos (e
situada entre os) estados de Santa Catarina e do Paraná. O movimento chegou a fundar a
“Monarquia Sul Brasileira”, afirmando sua “independência” em relação à ordem republicana. Foi
finalmente vencido pelas forças republicanas e a região passou a pertencer à Santa Catarina. Ver
Totta (1983).
17 Durante a Revolução Federalista (1894), a resistência das forças regulares e de civis
voluntários composta de 639 homens, sob o comando do General Carneiro, em prol do governo
republicano de Floriano Peixoto, conteve durante 26 dias o avanço dos três mil homens das
tropas anti-republicanas (Maragatos) vindas do sul. O “heroísmo” dos paranaenses, que
efetivamente contribuiu para a organização das forças republicanas, passou a ser descrito então
como mais um elemento diferenciador da sociedade local.
18 Bega (2002) define a obra literária dessa geração como a primeira “invenção do Paraná”. Por
isso, o simbolismo paranaense é considerado o embrião do paranismo. Em termos literários, é
descrito ora como “província intelectual do parnasianismo”, ora como corrente “pré-moderna”.
19 A importância desse movimento artístico foi de fato muito grande no processo de
materialização do Paranismo. É fato também que estes pintores trabalharam arduamente a
estética do pinheiro. Foi Frederico Lange de Morretes (1892-1954) quem chegou ao desenho final
que hoje orna diversas calçadas da cidade de Curitiba. O pintor e escultor João Turim (1878-
1948) chegou a propor uma “moda paranista”, para bolsas, capas, guarda-chuvas etc. Ainda hoje,
algumas casas curitibanas são ornadas com desenhos paranistas tipo pinhão estilizado.
20 A exemplos dos “primeiros” paranistas que haviam criado a revista Illustração Paranaense,
os escritores Wilson Martins, Temístocles Linhares, Dalton Trevisan, Helena Klody e o pintor e

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muralista Poty, entre outros, fundaram a revista literária Joachim, que circulou em Curitiba de
1946 a 1948.
21 Wilson Martins nasceu na cidade de São Paulo em 1921. Foi para Curitiba em 1930. Formou-se
em direito em 1943. Iniciou sua carreira literária em 1942. Em 1952, conclui seu doutorado em
Letras. Sua obra mais conhecida é “História da Inteligência Brasileira”, 6 volumes. É considerado
um dos maiores críticos literários do Brasil.

Pour citer cet article


Référence électronique
Márcio de Oliveira, « Imigração e diferença em um estado do sul do Brasil: o caso do Paraná »,
Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 18 mai 2007, consulté le 05
septembre 2020. URL : http://journals.openedition.org/nuevomundo/5287 ; DOI :
https://doi.org/10.4000/nuevomundo.5287

Cet article est cité par


Oliveira, Márcio de. (2009) L’immigration polonaise et la colonisation du Sud du Brésil.
Cahiers des Amériques latines. DOI: 10.4000/cal.1409

Auteur
Márcio de Oliveira
Doutor em Sociologia e Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Brasil.

Droits d’auteur

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