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Exposição Do Ofício de São Bruno e Dos Santos Monges
Exposição Do Ofício de São Bruno e Dos Santos Monges
EXPOSIÇÃO
do
OFÍCIO
de
SÃO BRUNO
e dos
SANTOS MONGES
2014
2
HOMENAGEM
E LEMBRANÇA
DE AMOR FILIAL
A NOSSO PAI
SÃO BRUNO
NO QUINTO CENTENÁRIO
DA SUA
CANONIZAÇÃO
3
4
PRÓLOGO
5
davantage par le témoignage lumineux de sa vie,
pour nous imprégner du trésor de ses
enseignements, pour recourir avec pleine
confiance à son intercession paternelle.
Ô Bonitas!
6
Ordre la possibilité de célébrer sa fête, l’instauration
d’une commémoration quotidienne en son honneur,
l’introduction de son nom dans les litanies des
saints. Le jour de la Toussaint, l’autorité
ecclésiastique procédait à la reconnaissance officielle
de ses reliques. En 1515, le Révérend Père Dom
François du Puy fit imprimer une Vie de Saint Bruno,
la première à être publiée et, en 1516, le Chapitre
Général prescrivit que des extraits de cette
biographie soient lus chaque année au réfectoire le
jour de sa fête. D’un seul coup, sa mémoire
s’imposait dans toutes nos communautés.
On connaît l’adage du Pape Benoît XIV nous
concernant : « Cartusia sanctos facit, sed non patefacit ;
la Chartreuse produit des saints, mais elle ne les fait pas
connaître ». La demande de la reconnaissance de la
sainteté de notre Père Saint Bruno par notre Ordre,
après plusieurs siècles de quasi oubli, fut l’exception
légitime qui confirme cette règle. La divine
Providence fut sans doute à l’origine de cette
initiative inhabituelle chez nous. A la veille des
grandes tempêtes et des bouleversements qui
allaient secouer la chrétienté quelques années plus
tard, il n’était pas vain que notre Ordre voie son
unité et son charisme propre réaffirmés par une
référence plus claire à son Père et fondateur. On peut
penser en effet que cette véritable redécouverte de
notre fondateur par nos pères du début du XVIe
siècle fut pour notre Ordre, - alors à l’apogée de son
développement, avec 198 maisons, - l’occasion d’une
plus claire prise de conscience de son identité et de
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son ancrage dans la grande tradition monastique de
l’Église. Celle-ci contribua sans doute à le préserver
de manière toute spéciale des défections nombreuses
qui affaiblirent alors bon nombre d’Ordres religieux
et soutint le courage de tous ceux qui eurent à
souffrir des affrontements cruels qui secouèrent
toute l’Europe pendant plusieurs décennies : 39
chartreuses furent alors supprimées et plus de 50 fils
et filles de Saint Bruno versèrent leur sang pour la
foi.
Pour nous, Chartreux du XXIe siècle,
l’anniversaire de la proclamation de la sainteté de
Bruno nous rappelle à l’essentiel : notre propre
vocation à la sainteté sans laquelle notre vie séparée
du monde n’a pas de sens.
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Apoteose de S. Bruno
Zurbarán
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ADVERTÊNCIA PRELIMINAR
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Pontífice daquele tempo, era muito apropriado
para a sua celebração.
Então, como apareceu na nossa Liturgia o
actual Oficio dos Monges? Foi um fruto da
Renovação Litúrgica empreendida pelo
Vaticano II. Como se deu esse facto? Para
responder satisfatoriamente esta pergunta,
nada melhor do que ouvir a génese do mesmo,
tal como a expôs o Presidente da Comissão
encarregada para a composição do “Ofício do
Monges”, para a nossa Ordem. É muito
interessante o seu processo. Diz assim:
« Quando se iniciou na nossa Ordem a
renovação do Missal Cartusiano, apareceu esta
importante novidade: a reunião dos Santos em
diversos grupos, os “Comuns”, recebeu uma
interessante modificação, guiada por critérios
diferentes aos do passado. O critério que
inspirou a nova disposição dos Comuns quis,
antes de mais nada, evitar os conotados que
poderiam ser considerados “negativos”, v. gr.
“Confessor não Pontífice”, “Virgem não
Mártir”, “Santa não Virgem”, etc., para pôr em
relevo e com uma nova luz a natureza da
vocação peculiar a que pertenciam os Santos
correspondentes a cada Comum.
Ora, se o tal novo “reagrupamento”
começou pelo Missal, era evidente que devia
também estender-se necessariamente ao Ofício
Canónico, dada a íntima dependência e inter
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correlação existente entre o Ofício e a Missa,
centro, esta, imprescindível daquele.
Isto impôs, por exemplo, a necessidade
de especificar um pouco mais o Ofício dos
Doutores que, até então, só tinha tido uma
única Missa para todos eles, dando-lhes alguns
elementos próprios e condizentes à missão
mais específica exercida por eles na Igreja.
Esse mesmo critério deixou ao
descoberto outra lacuna: no nosso rito não
existia um “Comum dos Monges”, nem
nenhum “Ofício” nem Missa específicos para
eles. Foi preciso, portanto, satisfazer essa
necessidade e pensar na composição dum novo
Ofício para os Santos monges.
Não é preciso dizer que esse novo Ofício
deveria estar em consonância com a nossa
vocação e Liturgia. Como é natural, esta tarefa
encontrou-se com numerosas dificuldades e
condicionamentos. Com efeito, o novo Ofício
de Monges deveria inserir-se com naturalidade
entre os Ofícios ou Comuns já existentes. Por
outro lado, não se podia pensar em novas
composições melódicas estranhas ou alheias ao
nosso repertório musical; por isso, somente
podia contar-se com os elementos e peças já
existentes nos nossos livros e com os textos
litúrgicos empregados nos mesmos.
Isto fez com que o novo Ofício ou
Comum de Monges no nosso rito tivesse desde
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o seu “nascimento”, “a natura”, e como que
necessariamente, um carácter de “mosaico”.
Aliás, já é sabido que os nossos Ofícios
têm uma estrutura precisa e que cada Hora do
mesmo tem um carácter próprio que deve ser
respeitado. Os salmos de Matinas têm uma
tonalidade diferente daquelas que têm os
salmos de Laudes e Vésperas. Para mais, os
salmos das Matinas devem seguir a ordem
numeral, o que exclui para os Nocturnos toda
outra composição guiadas por critérios
puramente lógicos ou devocionais. (Todavia,
isso tem a vantagem de manter melhor o ritmo
bíblico e o seu mistério).
Voltando à composição do novo Ofício,
foi necessário fazer uma selecção de salmos que
poderiam ser empregados e uma série de
antífonas aptas para os mesmos. Se existia um
salmo com antífona apropriada ao novo
intento, dar-se-lhe-ia a preferência.
Sobre tudo, se procurou uma certa
unidade para todo o novo Ofício, mas esta
procedia da inspiração; porque se tratava de
“criar” um Ofício de Monges.
Mais ainda; a nossa tarefa principal foi
comunicar a todo o conjunto uma certa
sensibilidade cartusiana (um grupo de
beneditinos teria feito outra coisa, como. de
facto, o atesta o Ofício de Monges da Liturgia
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Monástica), e ter em conta também a
sensibilidade do nosso tempo actual.
O estudo acurado dos nossos antigos
Ofícios nos revelou, a respeito do concernente
à selecção dos testos, a diferença existente
entre a sensibilidade do medievo e a nossa.
Naqueles há uma grande preponderância do A.
T., textos morais e sapienciais, que as pessoas
daquele tempo interpretavam muito
naturalmente segundo o sentido acomodatício;
ora, para os espíritos modernos, tal
interpretação pareceria um pouco forçada.
Para aqueles, porém, os textos do A. T. falavam
todos directamente de Cristo e da Igreja em
sentido anagógico ou místico. Ao presente,
somos mais críticos (o qual não quer dizer que
sejamos melhores!), e sentimos a necessidade
de textos que nos revelem mais claramente as
riquezas do Mistério de Cristo e, em
consequência, mais textos no N.T.
Por outra parte, o Vaticano II insistiu em
que o Mistério Pascal fosse colocado mais em
relevo, por ser o centro da nossa fé. Foi por isto
que intentamos colocar esse Mistério de modo
especial no III Nocturno das Matinas. Por ser o
centro, todo o que precede prepara para o
mesmo e tudo o que segue é como uma
consequência. Isto fica directamente
evidenciado pelos textos do N. T.: os de São
Paulo revelam as suas dimensões universais e os
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de S. João são interiorizações em comunhão
com a SS. Trindade.
A escolha dos textos estava influenciada
pela ideia que nos tínhamos feito do “monge”.
Que é um monge? Mantivemos uma longa
reflexão sobre este tema, imposta pela
elaboração do Lecionário e dos diversos
formulários das missas para os Santos Monges.
Os temas então examinados voltavam a
integrar-se nos textos do Ofício com o qual se
assegurava a unidade do conjunto: amor total,
chamada - resposta. Busca de Deus. Deserto.
Oração. Vida fraterna. Retorno ao Pai, por
Cristo, no Espírito Santo. Estes foram os
aspectos escolhidos da Vida monástica.
Textos importantes do Lecionário foram
tomados para o Ofício: Dt. 6 para o II
Nocturno; Gn 12 (Abraão) para o I Nocturno; as
Bem-aventuranças, etc.
Vale a pena lembrar aqui o esquema das
leituras que nos apresenta o Missal Cartusiano
para os diversos formulários para as Missas dos
Monges:
O monge está consagrado ao amor total
de Deus. Chamado por Deus a sair da sua terra
e de tudo o que não é Deus (I), desprendido,
com um coração puro e humilde, procura Deus
(II). Seguindo Jesus através do deserto,
participa nos seus combates, na sua solidão, na
sua alegria (III). Como Jesus, o monge nunca
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está sozinho: dia e noite vive em íntima relação
com o Pai (IV). Vivendo na Igreja, está unido a
todos os homens, seus irmãos, a quem assume
na sua oração e a quem ama na sua
Comunidade (V). A sua vida real é uma vida
escondida com Cristo. Iluminados os olhos do
seu coração, transfigura-se à imagem de Cristo
a quem contempla sem cessar. O Espírito
dirige-o e todas as coisas com ele, para uma
íntima comunhão de amor com o Pai e o Filho,
no segredo da Santíssima Trindade (VI).
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Nos quadros seguintes podemos
contemplar mais de perto o conteúdo de cada
formulário e de cada Hora do Ofício.
A - Resposta à B - No deserto.
chamada de Deus. “Dominus
“Factus est”. illuminatio mea”.
Lecionário
Gradual
D – Comunhão
C -Vida de Oração. fraterna.
“Sicut oculi”. “Deus in loco”
E – T.P.
Busca de Deus.
“Exaudi, Domine”.
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O OFÍCIO DOS MONGES
1as. VÉSPERAS
MATINAS
Esperança.
Confiança. Abraão.
Oração. Sai da sua terra
Adoração. Peregrino de Deus.
Gosto de Deus.
MISTÉRIO PASCAL
LAUDES
PRIMA SEXTA
TÉRCIA NOA
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A EUCARISTIA
A EUCARISTIA
II. VÉSPERAS
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O OFÍCIO DE SÃO BRUNO
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NOTICIA IMPORTANTE
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Porém, o principal motivo pelo qual temos
empregado este Comentário de nosso Pai é porque
nele aparece luminoso este aspeto da sua vida interior:
Cristo ocupa no seu coração o lugar de preferência e,
por isso mesmo, aparece naturalmente em todos seus
comentários; tudo nos salmos refere-se a Jesus e a Ele
volta sem cessar.
O mencionado Dom Rivet escrevia: “S. Bruno mostra
por todas as partes Jesus Cristo, e seus membros e a
sua Igreja” (O. c. p. 245). É que, “da abundância do
coração, fala a língua” e, neste caso, também a pena do
nosso Pai. Foi assim que, combinando os sentidos
literal, histórico, anagógico e místico -um gosto muito
daquela época - descobriu e descreveu a obra de
Cristo, a sua múltipla formosura e a sua ação
permanente nas almas. Um dos Títulos Fúnebres
chamou Bruno “Namorado de Cristo”. E, realmente,
assim aparece nos Seus “Comentários.
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EXPOSIÇÃO DO OFÍCIO
Primeiras Vésperas.
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casa será chamada “Casa de oração” para todos os
povos”.
Reparemos nos elementos contemplativo-
solitários dessas frases: solidão no monte, alegria na
vida de oração, aceitação divina do nosso holocausto
pessoal e dos sacrifícios pela salvação do mundo e,
enfim, a oração como caraterística essencial da
dedicação monástica.
O R/M. insiste sobre a importância da atenta,
constante e vigilante espera da vinda do Senhor e da
sua recompensa imediata: o servo fiel será colocado à
frente dos bens do seu Senhor. Mais ainda, como diz o
V/., receberá a bênção do Senhor e a misericórdia do
seu Salvador.
A antífona do Magnificat é o aviso do Senhor a
respeito do nosso “propósito”: “Estai preparados como
os servos que esperam a vinda do seu senhor, quando
voltar da boda”.
Na oração destas primeiras Vésperas suplicamos a
Deus que, assim como escolheu N. P. S. Bruno para
dar aos homens um modelo de como se deve procurar
o Ùnico necesssário, nos conceda a nós, que seguimos
as suas pegadas, a graça de sermos testemunhas vivas
da Sua Majestade e união fraterna em Cristo.
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Matinas.
I. Noturno.
Nas antífonas deste Noturno podemos ver outras
tantas lembranças do processo da nossa entrega ao
Senhor. Assim:
1ª. Ant. “Estai preparados como os homens que
esperam pelo seu senhor, quando voltar das núpcias”
(Lc 12. 36).
Lembramos aqui a primeira tarefa da nossa vocação:
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esperar a vinda do nosso Senhor, a cuja chamada
respondemos, através da vivência da nossa vocação
pessoal, pelo caminho traçado por Bruno. Por isso
cantamos o Sl 15, o mesmo que recitamos no dia da
nossa primeira profissão. É que Deus “nos deu a
conhecer os caminhos da vida (neste mundo), e
encher-nos-á de alegria com a contemplação da Sua
Face”. N. P. S. Bruno escreve sobre essas palavras:
“Para os obedientes, os preceitos do Senhor são os
caminhos da vida…E Deus, não só não os abandonará,
antes enchê-los-á, com a Sua presença, da suprema
alegria, na contemplação do Seu Rosto” (Com. p.46).
Com razão cantaremos: “O meu coração alegra-se
com a minha sorte; tenho sempre o Senhor diante dos
meus olhos; o meu coração alegra-se e a minha alma
exulta; na Vossa direita encontraremos as delícias
eternas”.
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Qual essa bondade? São Bruno no-la revela: “Espero
que ei-de contemplar os bens do Senhor, isto é, a Sua
face e querer, pois esses sãos os verdadeiros bens; e
isto não nesta terra presente em que moramos, senão
na “terra dos vivos”, ou seja, no Paraíso, onde
ninguém habitará se não for para sempre” (Com. p.
91).
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RR. MM.
Nos RR. MM deste I Noturno, continuamos a ver o
processo vocacional da nossa existência monástica
entregue a Deus.
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2º.R. “O Senhor está à minha direita e jamais
vacilarei.Por isso, o meu coração alegra-se e a
minha língua exulta” (Sl 15. 8-9).
34
O Senhor nos escolheu para Si e Ele próprio vai
descobrindo-nos os caminhos da vida abraçada e da
vida divina que cresce em nós. E aí está a fonte da
nossa alegria: andarmos sempre na presença do
Amado do nosso coração, e em sabermos que os Seus
deleites não têm fim: O nosso destino está nas Suas
mãos! Nosso Pai escreve: “Quando estiver no Céu, na
divina presença, então experimentarei toda a
veemência da alegria. É que o Senhor coloca a Sua dita
em pôr à sua direita aqueles que Lhe foram entregues”
(Com. p. 46).
II. Noturno.
As antífonas e RR/MM. deste Noturno
permitem-nos ver os efeitos que causa na alma do
monge a vocação generosamente vivida na
simplicidade e integridade do amor. Se a alma se
entregar a Deus, “que a procurou o primeiro para a
unir a Si por íntimo amor” (Est. 1. 1), com a
integridade do seu amor, esse Deus, que Se não deixa
vencer em generosidade, entrega-Se à alma deixando
atuar nela os Seus dons e graças. Vamos vê-lo
seguindo, sempre que possível, a doutrina de N.P. S.
Bruno.
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eterna mansão, onde amará e louvará a Deus para
sempre.
“Mas, escreve S. Bruno, somente chegará à posse
dessa eterna felicidade aquele que se disponha de todo
o coração a subir para ela, através de muitas ascensões
na virtude e das boas obras; para isso recebe o auxílio
da graça porque, por si próprio, ninguém pode subir”
(Com. p. 377).
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da vida, antes se alegrar no seu Senhor” (Com. p.
436).
V. “Procurai Deus,
R. E a vossa alma viverá” (Sl 68. 32).
RR. MM.
5º. R. “Elias olhou e viu junto à sua cabeça um pão cozido
debaixo da cinza e, levantando-se, comeu e bebeu; e com a
força desse alimento, caminhou até o monte de Deus.”
V. Se alguém comer deste pão, viverá eternamente” (Jo 6.
52).
Contemplamos a pessoa de Elias: fortificado pelo alimento
que lhe proporciona o Anjo, caminha pelo deserto até a
montanha de Deus. Esse alimento é uma figura de
Eucaristia, viático do nosso êxodo.
Não devemos cair no erro de minimizar o trabalho que
implica “a procura de Deus”, para termos em abundância a
vida de Deus e com Deus; todo o trabalho continuado e com
ardor esgota as forças. Então, onde encontrarmos as
suficientes energias para levarmos a cabo a nossa procura de
Deus, no deserto cartusiano?
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Este R. indica-nos o pão e a água para nossa
caminhada: Cristo, o “Pão vivo” e a “Fonte de águas
vivas”, comunicar-nos-á com a sua Eucaristia a
fortaleza necessária para caminharmos sem parar até o
Monte de Deus. E o V. dá-nos uma segurança
absoluta disso: “Quem comer deste Pão, viverá
eternamente” (Jo 6,51).
III. Noturno.
Ant. “Deus amou de tal modo o mundo, que lhe
entregou seu filho Unigénito, para que todo
aquele que acreditar n’Ele não pereça, antes
tenha a vida eterna (Jo 3. 16).
Esta antífona revela-nos o segredo essencial da nossa
vocação em Cristo: O puro amor de Deus, que nos
deu Seu Filho Único, para que todo aquele que
acreditar nele tenha a vida eterna e não pereça. Ora,
nesse amor essencial e eterno, está contido o amor
vocacional, quer dizer, essa predileção divina, essa
prova de amor que Ele nos dá gratuitamente
chamando-nos “para nos unir a Si por íntimo amor” e
“estarmos sempre com Ele” na solidão (Est. 1. 1).
Colocados nessa onda, não nos admire que cantemos a
seguir três “Cânticos de amor”.
RR/MM.
Os RR. deste III Noturno colocam diante de nós a
tarefa do nosso propósito monástico: a incessante
vigilância que o monge deve manter, para esperar
atento a vinda do seu Senhor e recebê-lo com as
lâmpadas acesas. E esta espera vigilante é tanto mais
urgente e obrigatória, porquanto que não sabemos a
hora em que o Senhor virá (9º R); o fruto que, já
nesta vida, é dado ao monge fiel (10º R); a ocupação
preferida de quem encontrou o Senhor e vive com ele
(11º. R) e a recompensa que Deus dá ao Seu servo fiel
(12º. R). Vejamos.
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9º. R. “Estejam cingidos os vossos rins e acesas as
vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens
que esperam o seu Senhor, ao voltar das
núpcias”. “Velai, porque não sabeis a hora em
que o Senhor há-de vir”(Lc 12. 35.40).
A atitude correta do nosso espírito está
admiravelmente traçada pelo Senhor: é vivermos
sinceramente à espera da Sua vinda; não perdermos o
tempo em vãs ocupações que nos distraiam ou
apartem dessa atenção para o objeto do nosso amor.
Se antes temos cantado: “A minha felicidade é estar
unido a Deus”, essa felicidade reclama esta atenção
vigilante ao Amado, essa total disponibilidade para
Ele, a todo o tempo.
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quer dizer, na prosperidade e na adversidade. E não só
O bendirei com o meu proceder, mas também o Seu
louvor estará sempre na minha boca; ou seja, louvarei
o Senhor com a boca do meu corpo e com a boca do
meu coração; e assim bendirei e louvarei o Senhor
com a minha vida reta colocada ao Seu serviço,
empregada no Seu louvor e consagrada à obediência; e
com esse bom exemplo, os humildes louvarão
também o mesmo Senhor”( Com. p. 116).
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Deus promete aos que perseveram em viver para Ele”
(Oração da festa).
Laudes.
55
Desnecessário é dizer que todas elas podem-se
aplicar à vida de N.P: S. Bruno e que nos trazem uma
mensagem particular para o nosso viver monástico
actual.
56
2ª. Ant. “Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus” (Mt 5. 8).
Sabemos a importância capital que a pureza do
coração teve e tem na vida monástica, onde não
significa só a ausência dos apetites carnais, mas a
integridade dum amor entregue por completo ao
Senhor e que, por isso mesmo, evita toda a culpa
voluntária, mesmo leve, no cumprimento da vontade
de Deus. Quanto pairava no espírito de S. Bruno essa
pureza, podemos vê-lo nesta sua oração: “Senhor, dai-
me uma norma para que eu caminhe sempre bem;
quer dizer, uma lei para que nem recue nem me
extravie pela direita nem pela esquerda; porque,
quem recuar, perde a coragem; quem se desviar para a
direita, afana-se demasiado no trabalho da sua
santificação e, procedendo sem moderação, não
alcança o fim proposto…E quem se extraviar pela
esquerda relaxa-se na virtude, se não logo, sim em
breve. Quem deseja a santidade não deve descurar em
nada a prática das virtudes” (Com. p. 91). E
comentando estas palavras: “Cor mundum crea in me,
Deus”, escreve assim: “Cria em mim um coração
puro, limpo de todo o pecado e de todo o erro, para
que possa assim contemplar dentro de mim os Teus
mistérios” (Com. p. 196)
57
3ª. Anti. “Bem-aventurados os pacificadores, porque
serão chamados filhos de Deus”. (Mt 5. 9).
S. Bernardo definiu o monge como “O homem
que, vivendo em paz com Deus, pode trabalhar pela
pacificação universal”. Aliás, já sabemos como era
importante, na primitiva vida monástica, essa paz para
o monge poder realizar o seu ideal de busca e união
com Deus na vida de oração. E chamarão esse estado
de paz a “hesychía”. É que nosso Deus “é um Deus de
paz”, e só com essa paz podemos ser seus filhos e
vivermos como tais. Nosso P. S. Bruno escreveu sobre
essa paz: “O lugar de Cristo está na paz; ou seja,
naqueles que vivem em paz com Deus e com o
próximo, permanece Deus; não dum modo material,
senão espiritualmente, tal como diz S. João: “Deus é
amor e quem permanece no amor, permanece em
Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16), porque o amor é
verdadeiramente a paz” (Com. p. 325).
Oração conclusiva.
E porque o amor não tem limites, imploramos a
“imensidade do amor de Deus”, para que, “pela
intercessão do nosso P. S. Bruno, nos conceda a graça
de cumprir fielmente os votos que fizemos e alcançar,
pelo caminho seguro, o porto prometido aos que Vos
procuram com perseverança”.
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Podemos notar aqui a especial menção da imagem “do
porto tranquilo e seguro” empregada por S. Bruno,
para indicar a felicidade e facilidade da nossa vocação:
“Porto que, se perdido, lamentar-se-á durante toda a
vida” ( cf. Carta aos Monges da Chartreuse).
MISSA.
64
Cântico de entrada.
Oração.
A Oração apresenta a Deus, “que recompensa
com as moradas eternas a quantos renunciam o
mundo”, o nosso maior desejo neste dia: “a graça de
cumprirmos fielmente os nossos votos (equivale a
viver a vocação recebida através de Bruno), e de
alcançarmos com segurança o porto prometido a
66
quem persevera fielmente na busca de Deus”. É que
“só quem perseverar até o fim, será salvo” (Mt 10,
22).
1ª. Leitura
Rm 8. 22-30. O denso conteúdo da leitura lembra-
nos as aspirações mais profundas do coração
contemplativo, enquanto experimenta as aflições do
mundo presente: a perfeita filiação divina e a definitiva
redenção do nosso corpo. É a meta da nossa
esperança. Ora, nessa espera, contamos com a
presença do Espírito que mora e ora em nós e por nós,
em conformidade com o querer de Deus. E graças a
essa presença, amamos a Deus, a esse Deus que nos
escolheu, nos predestinou a sermos imagem do seu
Filho, nos chamou, nos justificou, nos glorificou e que
faz com que tudo concorra para o bem de quantos O
amamos. Tal é o amor e a conduta de Deus a nosso
respeito. E correspondermos a esse amor é o supremo
anelo do nosso espírito.
Responsório
(Sl 117. 8-9). Tão experimentado temos esse amor
divino, que a nossa resposta é um ato de confiança
filial: “Mais vale refugiar-se no Senhor, do que fiar-se
nos homens. Mais vale refugiar-se no Senhor, do que
67
fiar-se dos poderosos”. Eis o comentário que nosso Pai
faz desses versos: “Sendo Deus tal protetor, que faz
com que seus filhos não temam os inimigos antes os
desprezem, é bom confiar no Senhor na tribulação,
mesmo padecendo por Ele, antes que confiar nos
perseguidores com a intenção de salvar a vida
corporal. E o salmista fala comparativamente, para
indicar que é mais útil esperar a salvação do Senhor,
através das asperezas das tribulações, do que fiar-se
dos homens mundanos para conseguir deles a
felicidade terrena” (Com. p. 521).
Aleluia
(Sl 107. 2). O monge, confiando e esperando desse
modo no seu Senhor, sente o seu coração bem
disposto para levar a cabo o seu propósito de procurar
Deus custe o que custar. Por isso canta neste belo
Aleluia: “Firme está o meu coração, ó meu Deus, meu
coração está firme: Quero cantar e tocar para Vós,
minha glória!”. Nosso Fundador aplica este salmo a
Cristo e coloca nele estas palavras: “Embora pela
fraqueza da minha natureza humana hei-de sofrer na
Paixão, contudo o meu coração está firme; quer dizer,
a vontade da minha alma está disposta para padecer; e
repete-o duas vezes, para que os seus discípulos
fiquem advertidos e estejam preparados a fazer o
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mesmo. E Eu, porque estou assim preparado, cantar-
Te-ei, ó Pai, com a devoção interior, e tocarei para Ti
com o meu comportamento exterior. E tudo isto para
Minha glória; quer dizer, na consideração dessa glória,
pois estou certo que serei glorificado nessa natureza
humana, quando receba a imortalidade e a
impassibilidade” (Com. p. 490).
Evangelho
(Lc 12.35-40). Mencionámos mais acima este
evangelho (Cf. pág. 51). É uma viva exortação à
vigilância, em conformidade total e em perfeita
sintonia com a procura de Deus mencionada no
Cântico da entrada.
Com efeito, não basta com querer buscar Deus,
nem é suficiente procurá-l’O de qualquer modo;
quem procura Deus deve fazê-lo com todo o ardor do
coração, com todo o afeto da sua alma. Ora, desse
ardor amoroso nasce a vigilância: vigia-se e vela-se
sobre aquilo que é muito querido. Se Deus é o nosso
grande amor, é natural que a alma vele e esteja
sempre preparada para a vinda do seu Senhor, afim de
Lhe “abrir a porta, logo que chegar e bater”. Ou seja,
para poder dar ao Senhor uma resposta de amor, logo
que Ele pedir seja o que for.
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Desnecessário é dizer que só com essa absoluta
dedicação e disposição de amor, será possível a íntima
união com Deus na doçura da contemplação, aqui
prefigurada pela refeição servida pelo mesmo Senhor.
E como não sabemos nem o dia nem a hora em que o
Senhor virá a nós, temos de viver numa constante e
amorosa espera, inclusive quando esta seja trabalhosa
ou dolorosa. É o que o Senhor quer indicar quando
menciona o detalhe de “esperar com as cintas
apertadas e com as lâmpadas acesas”. “Com as cintas
apertadas” indica-se a disposição para trabalhar, vigiar,
a todo o momento, E, aliás, no tempo de nosso
Senhor, manter as lâmpadas acesas exigia um grande
cuidado e laboriosa atenção.
Ofertório
Nesta antífona ofertorial, temos uma bela resposta à
admoestação que o Senhor nos fez no Evangelho,
sobre a vigilância e atenção à sua vinda: “Senhor, Vós
sois o meu Deus!, desde a aurora Vos procuro e em
vosso louvor levantarei as minhas mãos” (Sl 62. 2-5)
A vida do monge, como a do salmista, depende
totalmente de Deus, está voltada e votada para sempre
ao seu Senhor; e é na plena união com Ele, “no face a
face” prometido e esperado, que está todo o anelo da
sua alma. O Senhor diz no texto mencionado: “Felizes
70
os servos que o Senhor encontrar vigilantes…Estai vós
também preparados”. A alma responde com toda a
sinceridade do seu amor: Cada dia, “desde a aurora,
Vos procuro”; quer dizer, monto a minha sentinela, a
minha vigilância, a minha espera; e, entretanto, me
dedico a louvar o Vosso amor e proclamar a vossa
misericórdia para comigo. A alma sente profundas
saudades das suas melhores experiências divinas
quando, seduzida por Deus, experimentou algo da Sua
graça e vida, do seu poder e beleza, da sua luz e
misericórdia, que lhe comunicaram a força para O
seguir e viver para Ele nos caminhos do deserto.
Porque, foi nesse deserto, que experimentou também
como é duro viver longe de Deus e sentir, com Jesus
algo da noite, do abandono, da secura e agonia do
Getsémani. Mas, colocada em vela á espera da vinda
do Senhor, suporta tudo com a experiência desta
vivida realidade: “Unido estou a Vós, Senhor!”, como
diz o salmo.
Dos seus filhos de Calábria, nosso Pai escrevia ao
amigo Raul: “Vivo com os meus irmãos religiosos…,
que, em permanente e santa guarda, ‘esperam o seu
Senhor a fim de Lhe abrirem a porta, assim que Ele
chegar e bater”. Que a nossa vida actual seja como a
daqueles primeiros filhos, para que se cumpra também
em nós o desejo que ele expressa no comentário das
71
palavras deste Ofertório: “Que a nossa vida seja um
viver vigiando à espera do Senhor, pois essa é a
melhor de todas as vidas”. Enfim, que como ele,
também nós possamos dizer ao Senhor que esperamos;
“Eu vigio louvando-Vos com a minha voz e com a
minha vida” (Com. Sl 65. p. 250).
Oração.
A oração sobre as oblatas coloca-nos dentro da
fonte de toda a graça e do centro vital da solenidade: a
Eucaristia. Por isso pedimos a Deus que nos seja
concedido, pelos méritos de Nosso Pai São Bruno
“podermos oferecer um sacrifício que Vos seja
agradável, em memória da Paixão do vosso Filho e da
nossa Redenção”. Lembremos hoje que a nossa
entrega a Deus, na Profissão, foi feita no Ofertório
duma Missa, para que fosse aceite e apresentada ao
Pai, com a “entrega” e o “Sacrifício” de Cristo. E
graças a essa aceitação, vivemos ainda a entrega feita e
esperamos vigiando a vinda do Senhor.
72
Com efeito, diz-nos que os santos eremitas que
optaram pelo deserto, outra coisa não faziam senão
seguir, viver e prolongar no mundo o exemplo de
Cristo que, “na solidão do deserto, numa oração
contínua, realizou na sua pessoa o mistério da
salvação”.
Já é sabido: toda a vida de Jesus foi um realizar o
mistério da nossa redenção, quer em Nazaré, como no
deserto, nas cidades e no Calvário. Ora, todos esses
estados da sua vida redentora de Jesus não podem ser
vividos no seu conjunto, nem por um só indivíduo em
particular, nem por uma única família religiosa na sua
totalidade. É por isso que o Espírito Santo suscita
tantos Institutos na Igreja em todo o tempo, para que
entre todos tornem presente e permanente no mundo
todos os estados da vida de Jesus (cf. LG 46). A nós,
como monges solitários, foi-nos concedido perpetuar
a vida oculta e solitária de Jesus, sobretudo vivendo no
deserto entregue à oração e realizando desse modo o
mistério da salvação. Eis a sublime tarefa do nosso
viver solitário; e na nossa união com Jesus é que radica
a fecundidade da nossa vida e que nos tornamos
“redentores com o Redentor”.
73
Comunhão
O cântico final da nossa celebração eucarística vem
a ser o eco e a coroa de todos os textos desta Missa,
que nos falaram da procura, da espera, do desejo de
Deus e da Sua vinda. E é o próprio Senhor quem nos
dá a última exortação sobre a vocação que nos
outorgou por meio de S. Bruno: “Feliz o servo a quem
o seu senhor, ao voltar, encontrar vigilante. Em
verdade vos digo, confiar-lhe-á todos os seus bens”
(Mt 24. 46-47).
Se aplicamos estas palavras a Nosso P. S. Bruno,
teremos a explicação da presente solenidade. Na
verdade, porque foi fiel na sua vigilância e serviço ao
seu Senhor, Este lhe concedeu “todos os seus bens”, o
prémio duma vida contemplativa amorosa e
santamente vivida: a plena posse de Deus
intensamente procurado, encontrado e possuído pelo
amor. E se essa é a recompensa recebida como fiel
contemplativo, também recebe a recompensa como
Fundador e que lembramos no 1º. R.M. das Matinas:
“Abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás
uma fonte de bênçãos” (Gn 12. 2). E no Pai Fundador,
fomos e somos abençoados os seus filhos; e recebemos
sem cessar atravês dessa “fonte de bênçãos”, as graças
vocacionais e os auxílios oportunos para levar a cabo o
nosso propósito. É que existe uma “misteriosa
74
dependência filial”, criada pelo Espírito, entre o
fundador dum Instituto religioso e todos os membros
do mesmo que vivem o espírito daquele. Ele é o canal
escolhido pelo Espírito, para nos transmitir as graças
que hão-de fazer de nós “verdadeiros filhos de Bruno”.
Nessa linha de pensamento, todos e cada um
podemos tomar como ditas a nós próprios as palavras
da Antífona da Comunhão e tirarmos daí ocasião para
nos excitar na vivência dessa permanente vigilância
que nos impõe nossa vocação cristã e cartusiana.
Pós-comunhão.
De fato, é isso o que a Igreja nos faz pedir na última
oração desta Missa: “Por esta eucaristia que temos
recebido, Senhor Deus, reavivai em nós o amor pela
nossa vocação, para que, seguindo os passos de nosso
Pai São Bruno, e cumprindo com a Vossa ajuda o que
pela Vossa bondade prometemos, mereçamos
encontrar-Vos a Vós para sempre” (Oração pós-
comunhão).
Horas Menores.
77
II. Vésperas.
81
lembrou-nos esse dever (cf. nº.40) na tarefa da
expansão do Evangelho.
84
Dom Guigo, falando nos Costumes da utilidade
que tem para o homem levar o jugo do Senhor desde a
sua mocidade, acrescenta esta observação sicológica:
“Nessas palavras encontramos uma grande alegria, nós
que, quase todos, temos abraçado esta vocação desde a
nossa juventude” (Costumes, 80. 7).
E dir-se-ia que este belo Responsório, cantado
anteriormente na Setuagéssima, vem lembrar-nos, no
encerramento desta solenidade, essa utilidade e
alegria. Com efeito, se perseverámos até hoje, não foi
pelos nossos méritos pessoais, senão pela pura e
gratuita benevolência de Deus. É, pois, com toda a
justiça e razão que podemos -e devemos! - cantar bem
alto com o salmista: “Senhor, Vós sois a minha
esperança desde a juventude” (R). Sim, e não só desde
o dia abençoado em que nossos pés pisaram os
umbrais do deserto do nosso mosteiro, mas desde
muito antes: “Desde o nascimento Vós me sustentais,
desde o seio materno sois o meu Protetor” (V).
N.P. S. Bruno proporciona-nos este comentário:
“Tenho a minha esperança em Vós, porque desde a
minha juventude fui provido de conselho e exercitei-
me com valentia na prática da obediência; de
contrário, a minha esperança seria vã. E fala assim,
porque os jovens devem seguir os conselhos prudentes
e serem constantes na prática dos mesmos” (Com. p.
85
295). Graças a Deus porque o Seu amor nos
envolveu desde o nosso nascimento e Cristo é a
esperança da nossa vida e da nossa glória!
Antífona do Magnificat.
Realmente, não se podia escolher uma antífona mais
bela e estimulante para o encerramento da nossa festa
familiar e vocacional.
Com efeito, nela temos, em resumo: o segredo íntimo
da nossa vocação cartusiana: “O próprio Pai vos ama”;
a força para a realizarmos: “Vós Me amastes”; e a
consequência desses dois amores conjuntos: “Pedi e
recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo
16. 27). Sublime condescendência de nosso Mestre e
Senhor!
Fruto genuíno e imediato da vida contemplativa é a
familiaridade com Deus, considerado como ”Pai”; e
consequência natural dessa familiaridade é a confiança
filial, que tudo pede e espera de Deus.
A vida do monge, já o sabemos, é um incessante viver
com esse Pai, sempre procurado com ardor,
encontrado com facilidade e possuído com crescente
perfeição (cf. Est. 1,4). É a plenitude da vocação
cristã. E porque é assim, nosso Senhor convida-nos
para pedirmos a esse Pai, que tanto nos ama e a quem
tanto queremos amar, tudo o que nosso coração filial
86
precisar. Notemos que Jesus não faz nenhuma
indicação sobre o objeto da nossa súplica; ao
contrário, declara-nos a amplidão do limite: “tudo”.
Sim, tudo o que possa concorrer para que a nossa
alegria “seja completa”, segundo o querer de Deus.
Mas, o mais interessante é que, de antemão, nos
assegura a concessão do pedido. É que Jesus conhece
bem como é grande o amor que o Pai nos tem, e não
ignora a sinceridade do amor com que o monge quer
amá-lO, embora o crescimento desse amor não tenha
limites. Se a vida monástica reclama generosidade ao
amor prometido, Deus não Se deixa vencer por
ninguém em generosidade e amor. Nenhum pai é tão
complacente e bondoso com seus filhos. E aí está o
segredo da alegria dos monges autênticos e da alegria
do nosso P. S. Bruno e da alegria que gera a vida
cartusiana vivida no amor.
Já é sabido; a alegria era uma das características do
espírito de nosso Fundador. A sua alma estava de tal
modo compenetrada da alegria de Deus e inundada
com o gozo do Espírito Santo, que com frequência
afloram nos seus escritos os términos “alegria”,
“exultação”, “gozo”, “contento”, “júbilo” e outros
similares, até falar “da divina alegria”, “do divino gozo
e prazer”. Aliás, sabemos, que “tinha sempre cara de
festa”; e “que desejava que os seus estivessem sempre
87
alegres” (Títulos de Calábria e do 149); que se alegra e
rejubila ao saber que seus filhos permanecem fiéis ao
seu ideal, e não duvida em manifestar a sua alegria,
empregando para isso as mesmas palavras com que
nossa Senhora significou a sua profunda alegria em
casa de Zacarias (cf. Carta a Chartreuse). E quando
escreve ao seu amigo Raul, promete-lhe, se for fiel à
sua vocação, “a paz que o mundo ignora e a alegria no
espírito Santo” (Carta a Raul, 6). É que Deus é a fonte
das mais puras alegrias e quem está unido a Ele, bebe
com abundância dessas águas que transformam as
almas em rios de alegria.
Vejamos também algumas passagens do seu
Comentário aos Salmos, em que aparece com toda a
sua nitidez essa atitude espiritual da sua alma. Assim,
no comentário ao salmo 67, lemos: “Ò justos, exultai
de alegria e, a fim de chegardes à mesma, cantai ao
Senhor, quer dizer, louvai-O na contemplação…;
aplicai-vos à vida contemplativa, que consiste em
vacar à oração e à meditação dos divinos mistérios,
deixando de lado tudo o que é terreno” (Com. p.
270). E também: “Para vivermos cada vez mais na
alegria, nos Vos suplicamos, Senhor, mudai o nosso
cativeiro em liberdade e assim recolheremos na
exultação da alegria a recompensa eterna” (Ib.).
88
“Louvai a Deus na alegria interior do espírito, uma
alegria essa que não pode ser explicada de palavra ou
por escrito; ou seja, louvai-O com uma intensa
devoção” (Com. p. 262).
E porque nosso Pai e Fundador é realista e não
ignora que a alegria do monge pode ter também os
seus inimigos, escreve: “Alegrai-vos e, se o mar se
levantar contra vós, que importa? Repito: Alegrai-vos
mesmo que o mar se voltar contra vós. Nada
importa!” (Com. p. 438).
E para N. P. S. Bruno, a alegria não era só para a
alma, também o corpo deve participar dela. Por isso
escreve: “Os justos alegram-se também com o corpo,
porque Vós, Senhor, tendes misericórdia deles, para
que não fiquem dominados pelos sofrimentos da vida.
E alegram-se com as suas almas, porque as libertais das
consequências do pecado. E alegrar-se-ão não só na
vida futura, mas também na presente, porque não
permitis que fiquem aniquilados com o poder do
demónio; para isso, colocais os efetos dessa alegria na
região dilatada da fé e do amor” (Com. p. 101 ss).
Enfim, lembremos este belo testemunho:“Perdi a
alegria do meu Salvador, com a gravidade do meu
pecado e por isso Vos peço perdão; e espero que com
ele me devolvas a alegria do meu salvador; sim,
89
confirmai-me nessa alegria e fazei-me perseverar nela,
para que nunca mais torne a perdê-la” (Com. p. 192).
Oração final.
A Oração conclusiva das Vésperas encerra a nossa
celebração vespertina apresentando a Deus o mesmo
pedido, a mesma súplica formulada nos Laudes e na
Missa: “Deus todo-poderoso e eterno, que preparais
uma morada no Céu para aqueles que renunciam ao
mundo, dignai-Vos ouvir, no Vosso imenso amor, a
nossa humilde prece: concedei-nos, por intercessão do
nosso Pai São Bruno, a graça de cumprirmos fielmente
os votos que fizemos, e alcançarmos com segurança o
porto que prometeis a quem persevera em Vos
procurar”.
Conclusão
90
O Vaticano II lembrou-nos que o carisma
vocacional do Fundador é participado pelos seus
filhos e que estes, em justa consequência, devem
vivê-lo e conservá-lo em toda a sua pureza na Igreja
de Deus, para a qual foi suscitado pelo Espírito
Santo.
Sim, a graça inicial da fundação da nossa Ordem
não é um dom que acabou com a morte do pai
fundador, nem que, com a sua ausência, se endureça
nas suas formas; antes, sendo uma comunicação do
Espírito Santo, recebe dEle o seu dinamismo espiritual
(cf. PC. 1; ET. 11; Est. 1. 1-4).
Lembramos isto hoje e agora, para que nos
ajude a termos em conta duas coisas: a primeira, o
caráter de permanente mediador do nosso Fundador a
respeito da nossa família monástica; a segunda, que,
aproveitando essa mediação, temos o dever de
prolongarmos no mundo o seu carisma e cumprirmos
a missão que o Espírito Santo nos confiou, a ele e a
nós, dando-nos a mesma vocação cartusiana. Portanto,
somos nós, os cartuxos do s. XXI, os que devemos
cumprir no Corpo Místico de Cristo o ministério
contemplativo que Deus confiou a nosso Pai e
Fundador no s. XI.
Esse carisma cartusiano é uma presença
espiritual que nos traz sem cessar à memória o ideal
91
que abraçamos, aquele “propósito cartusiano”
mencionado por Guigo, que, urgindo-nos a fidelidade,
nos renova sem cessar, interiormente.
Por outro lado, graças a esse carisma recebido
de Bruno, as nossas vidas unem-se para formar a
Família Cartusiana onde, congregados, “não pelo
impulso da carne nem do sangue” (Jo 1.13), senão
pela força do amor “derramado pelo Espírito nos
nossos corações”, a graça da nossa vocação deve
florescer numa comunhão cada vez mais íntima e
perfeita com Cristo, com a Igreja, com os nossos
irmãos (cf. PC. 1).
O carisma de Bruno deve ser “o princípio
unificador e identificador” da nossa Família monástica:
é por ele que devemos reger-nos, é por ele que nos
diferenciamos dos outros monges e é por ele que a
Família Cartusiana será “cartusiana”; quer dizer, aquilo
para o qual Deus escolheu Bruno como Pai e
Fundador. Nossa Família monástica tem bem traçado,
desde o seu início, o querer de Deus ao seu respeito e
o caminho por onde deve caminhar para o realizar.
Desnecessário é dizer que devemos alimentar
uma verdadeira piedade filial para o nosso Pai
Fundador; uma piedade sincera que nos impulsione
para imitarmos as suas virtudes, para vivermos com
generosidade e autenticidade a vocação que, por meio
92
dele, Deus nos outorgou tão bondosamente, e que nos
mantenha sempre unidos em Cristo Jesus e vivificados
pela força do Espírito Santo que nos chamou.
E se existe um dia em que devamos orar de
modo especial pela nossa Família monástica, esse é o
dia em que celebramos a festa de São Bruno, nosso Pai
e Fundador. Então, encerremos estas reflexões
colocando como final das mesmas esta oração pela
nossa Família monástica e, em concreto, pela
Comunidade em que intentamos ser e viver como
filhos de S. Bruno.
93
Vós, Senhor, os amais,
não porque eles sejam bons,
senão porque são Vossos filhos.
Ensinai-me a amá-los de verdade,
à imitação de Jesus Cristo,
não pelas suas palavras ou pelas suas obras,
senão por eles mesmos,
descobrindo em cada um,
especialmente nos mais débeis,
o mistério do Vosso infinito amor,
que faz deles Vossos filhos amadíssimos.
Obrigado, Pai, pelos irmãos que me destes.
94
EPÍLOGO
95
para Ele e de nos deixar santificar pelo Espírito
Santificador.
S. Bruno e seus companheiros, chegados ao deserto
de Chartreuse, “colocaram-se sob a direção do
Espírito” (Est.1.1); e esse mesmo Espírito é quem
vivifica e santifica os filhos de Bruno no percorrer dos
séculos.
Com certeza que essa fidelidade seria o melhor
conselho que nosso Pai fundador nos daria no dia de
hoje. De fato, a Igreja não deixa de lembrar aos
religiosos que devem ser como os seus fundadores:
homens do Espírito, alcançados e possuídos pelo
Espírito de Jesus, fieis às Suas inspirações, guiados
pela sua luz, apoiados na Sua fortaleza, conduzidos
pela Sua moção. E insistem em que os consagrados
devem considerar como a primordial tarefa da sua vida
manter viva a sua atenção à voz do Espírito, com uma
absoluta docilidade ao mesmo, para levar a cabo a
vontade de Deus, num contínuo exercício de fé, de
confiança e de amor operativo (cf. MR 12).
O Papa S. João Paulo II disse-nos na VC: “Quem
professa os conselhos evangélicos está obrigado a
aspirar com todas as suas forças à perfeição da
caridade… É um compromisso sublinhado pelos
exemplos dos inúmeros fundadores e fundadoras” (nº.
93). E no mesmo lugar insiste: “Aspirar à santidade é,
96
em sínteses, o programa de toda a vida consagrada…
Um programa que deve começar por deixar tudo por
Cristo…, antepondo-O a todas as coisas, para poder
participar plenamente do Seu mistério pascal”.
Nosso P. S. Bruno procurou sempre a Deus com
sinceridade de coração. Encontrou-O. E agora
contemplamos e festejamos os frutos desse encontro:
a sua santidade.
Se hoje nos perguntássemos: Que esperam Deus, a
Igreja e nosso Pai fundador dos cartuxos do s. XXI?,
acho que a resposta seria a mesma de sempre: O
testemunho duma vida cartusiana santamente vivida
para Deus. E digo “cartusiana”, porque a vida e
doutrina do nosso Pai e Fundador, contida nos
Estatutos, “é para nós a forma e o sacramento da
santidade que Deus destina a cada um de nós” (Est.
35.1).
Na década dos setenta, o V. Paulo VI visitou a ilha
de Sardenha e dirigiu ao clero, religiosos e
seminaristas estas palavras: “Que espera a Igreja hoje
de vós, para que possais chegar a ser verdadeiramente
instrumentos eficazes e autênticos do Evangelho do
Senhor? A resposta é esta: “Sede santos!” Esta é a
consigna que vos deixamos. A Igreja tem necessidade
de santos. Os santos foram os verdadeiros
reformadores da Igreja. E foram-no, colocando-se eles
97
próprios e em primeiro lugar no caminho da
santidade. Esta santidade, fundamentalmente, é só
uma: a santidade de Cristo que, hoje como ontem,
está feita de amor a Deus e ao próximo, de oração, de
luta contra as paixões, de obediência y de amor à Cruz
de Jesus. Esta é a verdadeira renovação de que a Igreja
tem urgente necessidade. Se esta se der, as outras
serão úteis para o Reino de Deus”.
Deixemo-nos levar uns momentos da imaginação:
Se perguntássemos a nosso Pai Fundador, qual seria a
consigna que ele nos daria hoje para nos encorajar no
empreendido caminho cartusiano em que nos
encontramos, pensamos que não seria diferente da
entregue pelo Papa Paulo VI ao clero sardo: “Sede
santos!” E acrescentaria: Vivei a vossa entrega a Deus
com o ardor do amor e a pureza do primeiro dia.
Permanecei no amor e assim permanecereis em Deus.
Tirai d’Ele a luz, a força, a vida e a graça para todo o
Povo de Deus. Sede santos com a santidade de Cristo,
com a santidade de Deus.
Enfim, pensamos também que nosso Pai, que num
dos Títulos foi chamado “Amante filho de Maria”
(Título 131), nos diria hoje e como despedida, as
palavras que S. João Paulo II dirigiu aos religiosos:
“Avivai a vossa consagração seguindo o modelo da
consagração da Mãe de Deus. Procurai um apoio
98
especial em Maria. Que Ela, a Virgem fiel, seja a Mãe
da vossa vida consagrada” (S.João Paulo II. Rd. n. 17).
yyyyyy y
99
ÍNDICE
Prólogo 5
Advertência preliminar 10
Movimento geral do Ofício 17
O Ofício dos Monges 19
Comentado por São Bruno 22
Notícia importante 23
Exposição do Ofício 25
I. Vésperas 25
Matinas 28
I. Noturno 28
II. Noturno 36
III. Noturno 45
Laudes 54
Missa 64
Horas Menores 75
II. Vésperas 78
Conclusão 90
Oração pela Comunidade 93
Epílogo 95
Índice 100
100
2