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Título do original , .
L ,Urbanisme: Utopies et Réa/ités
Une antolog ie
sumarto

Copyright © Édition s du Seuil , 1965

ção (CIP)
Dados lntema cionais de Catalo gação na Publica
(Cãrnara Brasile ira do Livro, SP. Bras il)

Choay. Franço ise


O urbanismo : utopias e realida des. uma
antolog ia / Franço ise Choay : [traduç ão Dafne
:
JS'asci~ento Rodrigues]. - 6. ed. - São Paulo
Perspec tirn. '.!005. - (Estud os : 67 / dirigid a
por J. Guinsburg)

Título origina l: L ·urban isme: utopies et


réalités une antolog ie.
Bibliografia.
ISBN- 85-2 73-016 3-6

1. Crescim ento urbano 2. Urbani smo - Hi stória


3. Urbanização I. Guinsburg, J.. II. Título. m. Série. •· · · · · ·
O Urbanismo em Questão . . . . . . . . . . . . • • • • • •
05--+335 CDD-7 11.09
ANTOLOGIA
Índices para catálog o sistem ático: I. O P~-URBANISMO PROGRESSISTA
· · · · · 61
1. Urbani smo : Históri a 71 1.09 Robert Owen .... .... .... .. • • • • • · · · · · · ·
. . . . . . . . • • • • • · · · · · · · · · · · · 67
Charles Fourier . . . .
· · · · · · · 77
Victor Considérant .... .... .... - • • · · · · ·
. • • • · · · · · · · · · · · · · · 87
Etiene Cabet . . . . . . . . . . . . .
· · · · 95
Pierre-Joseph Prodhon . . . . . . . . . . • • • · · · · · · · ·
· · · · · · · · · · · 99
Benjamin Ward Richardson ..... . - - • • · 105
·
Jean-Baptiste Godin .... .... . - • • · · · · · · · · · · 109
· · · ·
Julio Veme .... .... .... . . - • • · · · · · · · · · · ·
· · · · 113
Herbert-George Wells .... .... . - - • · · · · · · · · · ·
II. O P~-U RBAN ISMO CULTURALISTA
Augustus Welby Northmore Pugin . - - • · · · · · · · · · · 117
121
6ª edição John Ruslcin .... .... ... • • · · · · · · · · · · · · · · · 129
····
William Morris .... .... ... • • · · · · · · · · · · · · ·
Direitos reservados em língua portuguesa à Ili. O PRE-URBANISMO SEM MODELO
EDITORA PERSPECTIVAS.A. 139
Friedrich Engels .. .. . .... • • · · · · · · · · · · · · · · · · 147
Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3025 · · · · · 151
01401- 000- São Paulo - SP- Brasil Karl Marx .... .... .... .... • • · · · · ·
Telefax: (0--11) 3885-8388 P. Kropotlcin .... .... . ... . - · · · · · · · · · · .... . 157
····
www.e ditorap erspect iva.com .br N. Bukharin e G. Preobrajensky .. • · · · · · · · · · · · ·
2005
O URBANISMO PROGR ESSIST A
N.
Tony Garnier ...... • • • • • • • • • • • • • • • • • ...... . . 163
o Urb anis mo em Questão
Georges Benoit-l.évy . . • • • • • • • • • • • • • • • . ...... . . 171
Walter Gropius ... • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • ...... . 175
Charles-Edouard Jeanner et (Le Corbusier) ... ... ..... . 183
Stanislav Gustavovitch Strumil in . ..... ... .. .... .. . 197

V. O URBANISMO CULTURALISTA
Camillo Sitte • • • · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · • . . 205
Ebenezer Haward • • • • • • • • • • · · · · · · · · • • • • • • . .. . 219
Raymond Unwin • • • • • • • • • • · · · · · · · · · · • • • • • . . . 229

VI. O URBANISMO NATURALISTA


Frank Uoyd Wright · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · . . . . 235

VII. TECNOTOPIA
Eugêne Hénard . . . . . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . . . . . 249
Relatório Buchnan . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . . . . . 255
Iannis Xenakis . ..... • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . . . . . 265

VIII. ANTRÓPOLIS
Patrick Geddes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273
Marcel Poête . . . . . . . . . . . . . . . .... . .. .. , . . . . . . 281
Lewis Mumford . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
Jane Jacobs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293
303 .ft sociedade iodustci al é uroana. A cidade é o seu horizonte. Ela
Leonard Duhl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
produz as metrópo !es , conurba ções , cidades industriais, grandes
1
Kevin Lynch . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307
conjunt os habitac ionais. No entanto , fracassa na ordenação desses
urba-
locais. A sociedade industri al tem especialistas em planejamento
IX. FILOSOFIA DA CIDADE urbanis mo são, em toda parte, assim
323 no. No entanto , as criações do
Victor Hugo . . . . . . . . . . . . .. .. ............... que aparece m, contest adas, questionadas. Das superquadras de Brasí-
Georg Simmel . . . . . . . . . . . .. ...... .... ....... 329 novo
339 lia aos quadrilá teros de Sarcelles, do fórum de Chandigarh ao
Oswald Spengler . . . . . . . . . . .. .. .. ....... ...... ys que cortam São Francisc o às grandes
345 fórum de Boston, das highwa
Martin Heidegger . . . . . . . . . ...... ...... ....... e
avenidas que rasgam Bruxela s, são evidentes a mesma insatisfação
a mesma inquietu de. A amplitu de do problem a é atestada pela abun-
3
dante literatu ra que suscita há vinte anos •
Este livro não se propõe a trazer uma contribuição suplementar à
nia
crítica dos fatos; não se trata de denunci ar uma vez mais a monoto
arq_uitet ural das cidades novas ou a segregaç ão social reinante nelas.
a
Qwsem os procura r a significação em si dos fatos, colocar em evidênci
as razões dos erros cometid os, a raiz das incertez as e das dúvidas levan-
tadas hoje por qualque r nova propost a de planejamento urbano. Nossa

1. A metrópo le existe desde a antigüidade; se não Nínive e


Babilônia,
proble-
pelo meno_s Roma e Alexandria já colocavam para seus habitantes certos Hach-
mas que vivemos hoje (cf. J. CARCOPINO La vie quotidienne d
Rome,
extrªo;·
~~t«:, ~".1is, 19~9). Mas a metrópo le na ée_o~__era.uma-exceção ~um_caso -metro-
inano, Poder1amos.-pelo..cantiário.,. designar- o-século--XX-como-a-era·das
a imaginaç ão
~ E~t_as atingem números de população diante dos quais recuou_ ao
. spintos mais audaciosos. David Hume não foi um dos mais ousados
"pela expe-
e_s_tllll_a r, num ensaio, On the Popu/ousness of Ancient Nations, que
ilidade de
n encia dos tempos passados e presentes há uma espécie de impossib
sua época, só
que alguma cidade possa ultrapassar os '100 000 habitante s". Em
O URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO
2 3

análise e nossa crítica têm, pois, por objeto , as idéias que fomecern quer resolve r um proble ma (o planejamento da cidade
. . .
1sta)
tá do bem antes de sua criação , a partir das . m~qum
suas bases ao urbani smo. . . que foi coloca
do de élillbj. ial co pruneiras déca-
Este tenno deve ser antes defirud o, p01s es c~ega das do século XIX, quand o a socieda . de industr
meçava a tomar
através dei ti
conse1eneta e s1 e a ques onar suas realizações. o estudo
Absom ·do pela lingua gem corren te, design a .• · d · das . .
.. . d
gu ida es. trabalhos do gênio c1·vil quan t o os p1anos d e c1'd a es ou as
d ª o deve esclarec er as p pruneuas
respos tas dadas a essa questã ropostas que se
l
tanto os banas caracte rística s de cada época. De
formas ur · ã
fato, a palavra "urba
19104 ·
.
seguiram edimrevetar, dem i:;-iª pureza, cert_as motivações fundamentais
• .
- h. O dicio. guagem, as rac10nalizações do mconsc
nismo" é recente. G. Bardet re~on !a atsua_ cndaçl ºalizª. que os se
, ·
en os a
· · a seguu
d a hl st ona . 1aram .
· d'1ss11Tiu 1ente
n~ar ouss e-define=i como "c1enc1a ~ eona ~ _ º_:__ aça~ urnana". e os artif 1c1os
durante
-· ent~-d-ded_~da __retrial~dadiJáe ~ova: Interro gamos , pois, primeiramente, pensadores que,
Este ne_o}Qg!smo corre spon d~_! ~d .
-iÕsJins-do-séciilo-X IX;: ã-expa nsao- a-soe1e a e-m us . ongem todo o .curso do século p
XIX, de Owen e Carlyle a Ruskin e Morns,
por sell r e Cabet a roudho n, Marx e Engels, preocup aram-
_se_dif eren~ª -
' -~~e s -~an ~-an~ nores de Foune d" . se com
~uma- disciplinLque d a c1'd ad e, aliá s sem 1ssoc1á-lo nunca de um questi·ona _
sao-et ent:1fic a. Nas pági. 0 prob1ema
-~~-áter- refleK:ivo -e- crítico , e--por- sua preten . "fi do da relação social. Agruparemos
nas seguintes, ''urban ismo" será empre gado exclus
ivamen te nessa ment~ sob re a estrutu ra e o s1gru 1ca
0 con1u nto de suas reflexõ
es e propostas sob o conceito de "pré-urba-
acepção original• nisnto" .
o urbanismo não questio na a necessidade das soluções que preco. Essa recorrê ncia à hlstóri a deveria penni tir a constru
ção de
ica: se~do as
niza. Tem a pretensão de uma universalidade cien!íf um quadro de referências onde captar o sentido real do urbanis mo
ntantes , Le CorbuS ier, ele remndica
alavras de um de seus represe propri ament e dito, sob suas diversas formul ações e fórmula s, e situar
P. 0 ponto de vi$ta verdad eiro". Mas as crítica s dirigid as às criações , esse método
verdad e. Em que se baseia os proble mas atuais do planej amento urbano . No entanto
do urbanismo são feitas também em nome da não deve presta r-se5 a confusões. Nas páginas seguintes, não se encon-
s e antagô nicas? Quais são os para- planeja-
essa discussão de verdades parciai trará uma históri a do urbani smo ou das idéias relativas ao
de valor, paixõe s e mitos que revelam ou dissim)l!am etação.
logismos, juízos
crítica s? mento urbano , mas uma tentati va de interpr
as teorias dos urbanistas e as contra propos tas de suas
daquelas
Procuramos extrair o sentido explíc ito ou latente tanto
diretam ente das contro-
quanto destas. Para tanto, ao invés de partir
à históri a das idéias. Pois o urbanis mo
vérsias mais recentes, recorre mos 1. O PRÉ-U RBAN ISMO

William Petty aproximava-se da realidade quando , em


1686, fixava em cinco
s. Em 1889, Júlio Verne A . GÉ'.NESE : A CRÍTIC A DA CIDADE INDUSTRIAL
milhões o número limite da populaç ão futura de Londre
previa cidades com dez milllões de habitan tes, mas só para
2889.
XIX,
2. O termo foi criado por Patrick Geddes , para .d esignar
as aglomerações Para situar as condiç ões nas quais se colocam, no século
lembre mo-nos rapidam ente
urbanas que invadem urna região toda, pela influên cia atrativa de uma grande os proble mas do planej amento urbano ,
in Evoluti on (1915), ele diz (p. 34) que "é necessá rio um nome
cidade. Em Cities
ões à cidade" , e acrescenta: de alguns fatos.
agregaç é quase
Do ~ q u a n t i t a t i v o ,- a- revolução- industrial
r,ara design_ar essas regiões urbanas , essas
modo de agrupamento
Por que º!º?~sar ~nurba ção como expressão desse novo impress iQ11ant e crescim ento demo-
da pop~!3çao . Ele uá empregar esse neologi smo para
designa r a grande Londres ~ e d i a ~gui da por _um_
Birming ham. · ._poi;_ uma-d renage m-dos campos em benefíc io de
e as regioes que a cercam, especialmente, Manche ster e gr~da s._cid ades,.
e. a
s a duas compilações entes. O apareci mento
. . 3;,, Terem~s idéia dessa abundâ ncia reporta ndo-no um desenv olvime nto_ uri2_ano .. sem preced
_-..,.....__._.____ . - •- -
aphie annotée reunidos de industn a-
b1bliogra.icas; Vüles nouvelles, éléments d 'une bibliogr unport ancia desse fenôm eno seguem a ordem e o nível
(Rappo rts et docume nts des sciences sociales nº 12 UNESCO o primeir o teatro desse movi-
por J. VIET
· d · ' ' ·quais · '
-' os pa1ses lização dos países. A Grã-Bretanha é
Paris • 1960) • que agrupa mais e seiscentos t1tulos, entre os Europa , a França
mento , sensível desde os recenseamentos de 1801; na
. gy: A Biblio•
sta uma contribu ição importa nte; e Urban Sociolo
comuru s f?rnecem
~aphy, pub~cad~ em fins de 1963 por R. GUTMA N, profess propõe- se a mostrar
or do Urban Studies e a Alema nha seguem-se a partir dos anos 1830.
passa de
nter day~1v emdade de Rutgers. Nessa bibliografia, o autor Os númer os são significativos. Londres, por exemplo,
(planners), ao invés de e 4 232 118 em
;i~c~:a r~~m;; otr:;en te ~e urbanis tas profissi ?naiJ. 864 845 habita ntes em 1801 a 1 873 676 em 1841
dedicam-se agora a ente quintu-
1891: em menos de um século sua população praticam
º!~açao e ~ntrol~ do me10 f1s1co,
modelar as estruturas
~ sociais e culturais da cidade" das cidades inglesas com mais de
o númer o
urbani~ oS~g~~ !º t~; :~~~:~ (L'urba~is~e, P.U.F.,
Paris, 1959), a palavra plicou . Parale lament e 6
1800 e 1895 •
a vez em 1910 no Bulletin de _la cem mil habita ntes p'assou de duas para trinta, entre
Socihé géographique di Neufcha~:,1a pruneu
dade francesa dos arquitetos-urb . • ª correr
0
da pena de P. Clerget. A Socie•
Re,metemos à
de Eugene Hénard. o Institut o /ms~s ~01 fundada_ em 1914 sob a presidência 5. As história s do urbanismo são, aliás, pouco nur:ierosas.de I urbamsme,
(H1stozre
em 1924. O urbanismo só é 0 ~ u~ Oamsmo da Univers
idade de Paris foi criado de PIERR E LA VEDAN que é autorida de no assunto
de Belas-A ites de Paris a partir . .
de 1953, por A. Gutton, e só : ;•.~al na Escola_ H. Lauren s, 1926-1952).•
po~ A. G~tton tornou-se O tomo J :o da teona da ~quite tura". O curso dado 6 . No mesmo período o número de cidades com mais
e'
de cem mil habi-
três a doze na Fr:.nça. Em
o titulo L urbanisme au servie de l'h suas _Conversatwns mr l'architecture, sob tantes passa de duas a vinte oito na Alemanha e de
omme, Ymcen t Fréal, Paris, 1962.
O URBANISMO O LI R0A.N l.5 MO f'\t Ql l S í .-\ (,

velhas ddade. s da Europ J, J _N_um cU$0 , é J~ill J'u ; obS<:Jvllin,:w.:. os 1.11n~ isoLuJ.uncn
c.· , lrn -
Do Ponto de Vl·sta
estrutural · .• nas
., . _. dos meios de produção e transp orte, assun como a ern,,, •. u1-se ordcn:i-los de modo _ qu.rn1JC :1~v?· .- \ est.111> li.: .i e ui,·orp or.i,1.i
tran:,,ormaçao funções urbanas. _contn'b uem para romper os ;·eic." 1e : tent a-se_ 11t tor~wl .u ~s kts ue ,rc~êl!T ienr.,
. . d· va · . ºd d _,, ai "1c, pala sociol ogia n~5..;c:n
""nc1a e no •· ) temen .<tos • da Cl a. e meUle v e. da L'in., F·rMça . pre(ur .orc:s que, n1.us
,,.uadros , f requen . •· ~ 1
·wtann r-- . -:1 das CJdudes. L<:va.sSGur o Legoy r stro. n.1 '"
onar d !Iub:úh os tk Adn.1 Fc:mn w~bcr
q ~ Uma nova ordem é criada, segundo o processo t.rad1c1 ,arde. lnspirarJo nos E .U.A . os
tender rcn omc:,w d.i
ade que habita nela. Nesse sentid o, Hau"J Tais pensad or<ls procurom essc ncJalmcnt~ en O
a._ da cidade à socied . . ..,.
abdaarroc
praçao • . • .
ctas econoITUcas e so,.; ,. utba.n.ificaçáo I
1.. s.iw:í-lo nuJll3 red~ de ..:JUSJS e cft'11os . bfo r~./ITI ·SC:
deseio de adaptar Paris as exigen ali t ..E tr bali .q crnos que . apcs.;r
man.n. nod lmpéri ' o . faz uma obra re s a. o a . 10 que . res"-"'-llJ, rambém iui,ra .9Js:i!Pa.r um. C<!.fto n.u.o= o lk pre~on
e.
do =gun o ,.J, at~ nass.os d!.u, e quc lltLun ít'Spr;it,l
• d·ca a classe operár ia, choca os esteta s passad istas,
·
incomo
· de seus esfo rçosi p,:rs.is~rtio
h ·b· vida ur b.uu no ,ucsc:nv v lvimco !li
se preJu 1
os pequenos burgueses

exprop riados , contra

na °5. a IIOS. e. :111 coâj: iãrfic ularrn ~nre às U1CJde nc1as_ de
1,fadc dos Jub1 unr t:sl._
- a solução · mais imediatame nte favora vel aos d
cap1ties d,· físico. no n1vel mental e n:i moraJ
. - d.: tllgun;
pensaçao, consti tuem entao um oo elem~tOl A essa ubordagcm ..:ic11citica c 1sol:JJJ . que to Jp.111,1g 10
· d · 1n·a e aos financi.itas ,..que , T . diz er a propósito d~ os qu;11 s se cho..:a J rc:J-
10 us
socied ade. e. isso que ,az ame sábios, opõe·S<l a atitude de pc nsadorcs ..:om dest i-
mais ativos da s i.ndusr riJ.Js. Pa.ru esrc:s. :i inform :içlfo é
esta assemelha-x- Lidade das grandes cidade
desenmJ,.-imen to de Marselha : ''Uma cidade como J obSérv Jçfo só pL>Jc
nada a lnteg.rar-se ao quad ro de UJll:I polàm cu.
aos grandes negoci3n tes .. • . a gnnde ..:idade ,omo um prn,cs su
por um s_ru crítica e nonnatiY.a~ _e les sentem
~ Pode-se definir esquematicamente essa ordem nova . pa.ra de:i.ign á-Ja. m.:.úfo r:u Jo dn,cr e Jo
a racion alizaç ão das VilS patológic0-, e criam :i.s
certo número de c-aracte ri"sticas. Primeiro, 8
ra de grande s artéria s e a criação di twuor.!.3 . sfo d1rigcn1cs
'de comunicação . com a abertu Uns são inspirndos por sentimencos liumanicJrivs .
Depois . a especi alizaçã o bastan te ativad a dos setore s urbano, s e higic11ist:1s.
·estações. municipais. homens da Igreja , prin,ipalmcn t..: méJ.i,0
nas capitais em
(quarteirões de negócios do novo centro, agrupados que denunciam . com o apoio de: fat os e numcr os, o cst;ido de <.ktcrio-
nova Igreja; bairros reside nciais na perife ria des tinauos urb.mo Publw1m
rorno da Bolsa. ração física e moral em que vive o prokta riado
s novos órgãos que . por
1
aos pri,ilcgiados). Por outro lado, são criado Paris, séries de artigos em jornais e revista s. particu lilrmcn ri: n;i lngl:.11c rr:1.
o aspect o da cidade : grande s lojas (em nesse pa ís .
:seu gigan tismo. mudam onde a situaç !ío é mais agudu : é sob a i.11!1uê ncfa deles qu.:.
JarJin iere, 1824, Bon March é, 1850) , grande s hotéis. granfo de pesqui sa sobn: :1 hi~ié11c .
/jcl/e
ente , a suburb3. se rão nomeadas us célcbrcs Cu rni ssíks Reais
1Cd tr s ( "ti ::4 billards "). prédios para alugar . Finalm cujos trabalhos. publicados sob fom1a de Re.1:Hó nos ao Pul:un cnto.
uma impor tância cresce nte : a indúst ria implanta-se sobre :.is grandes
/nizaç:Jo assu me forneceram uma soma insubstitu ível de inform:içõcs
para os subúr-
i nos arra baldes, as classes média e operária deslocam-se cidades dessa época e contri buírJm para a i.:n:iç:i o J:.i legislaç ão u1gksa
entida de espaci al bem delirnitadJ
bios e a cidade deixa de ser uma eração do trabalh o e da habitu ç:Io.
io de Londr es repres enta 13% da aglom pc11s;1dorcs poli-
rcm 186 1. o subúrb
. O outro grupo t.le polemistas é i.:onscicuido por
f rora.l. e o de Paris. 24% em 1896)9 começa a ticos. Freqü entem ente, suas i11fun naçües são Je umu ampl11 uJc.: e prc•
Ora, no momento em que a cidade do século XIX cisão notáve is. Engels. cm partic ula r. pode ser i.:onsid crat.lo i.:01110 um
ento novo de observa-
tornar forma própna , ela provoca um movim or aos dos funt.ladores da sociologia urbun:L Se nos report :trmos :b :Ul:lliscs
fenôm eno ' exteri
,·.fo "_ reflexão. Aparece de repent e como
encon
um
tram-s e diante dela como de A situuçtlo da clas.1·,:: trubal ltaciur u nu l11glau ·"u ,., , i.:onsl:1 1:uuus
ind ividuos a que diz respeit o. Estes a fio 1-/111ns de
que, além de suas próp rias pesqui s:is. feit:c; rm:scs
llllS
diante dr um fa ro natural, não familiar, extrao rdinário estranho. O utifüa sistc111 :.tti..:a e
. aspectos bem .
' diferen Londres. Edim bu rgo. Clasgu w. M;im:h cs tcr. de
t·srudo da cidade assome , no sé cu1o XIX , dois tes.
1s m th~ Nmc t ,·c11 1h
1O. Cf. ADNA FERIO N WEll EI< . Tht: C:rowth u/Ot1r rn dl 1cp11111 , ln
"'llUIUJ pQr Co
l 3(XJ o; l ,t•Jo , L"n 1·d 0 .• : . Cen/ur y (p rimeira cdlç tTo 1899 : reedi tado cm
un rn nu, rm j 850 / na~ tem nenhuma cidade com mais de 100 000 hab1· Urban S tu dlcs, Co rncll Uni vcrsll y Pn:s3, l <lé)J ).
1 0 15
-. Que to talizam l 393 338 habitan tes; e, em u kno mcnu ,·s1XJ11 tdm:v
LN(l, • mie.- C> l! O, ,o~~ : ª ~
po pu açao de 9 697. 960 habitan tes· ·
{11) Te rmo propo , to por l; 8:uJct pan ,Jc , 1iu1.11 aút1 que II urb,1
, f • .- do dcsenv olvlm cnl o u1bu110 . cm opo.,1<;Jo i
. nrr,•:« io or)(u111:
• >< !Ho,·e•'<O d e fragm c ai,ao das estrutu1as antigas é e nrnnlt. ado io
.. ,r'f ,) <l : roJ, • h•Htin , PJJtu: d•s nl nbmo r,.,:ctcnde ...: r.
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Paib "é um câ nce r que Pª '-"' bem"
~ ;,.,.1 1,,1 ú ci, tJo ti,, n.i.:, d,c, ou le ~mogr ''" º em
-cenru ai-,;e . Ho;..
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p • _14 Prim clrn 1·J1,;,io 1,k m,i . Lc1pl1l; , 1845 .'
lc,.a obra . • ,onJ1\ ,10 do
~, ~ bH.tll ' ,. . aiu tem quatro mJihõ«:• 1ipo ide.d", pelo f ijlQ ,.k u (;r11 llrcl1u1 hn te, <Ido
,,;, ~ "'" ,u b<.i , ~,o .in,o m1lh& pro letado ingl~, é to madJ como ··
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- r·
= , iU t 1111c a) . mento do p1 olc lar lado ur b~Ho. f· nt1c "' fo 11
D
O URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO 7
6
t todos os testemunhos disponíveis: relatórios de Pol ·.
.
cien tificamen e 1 . 1c1a algumas linhas adiante, ele fala de "caos '.11'~uitetural". Em resumo,
tónos das Co . ,
. de .ornais, grandes obras, como
artigos . J
s
ões Rea1s que
Marx utilizará vinte anos
també~
.
os re a
dep01s em O Capita/IS · ,,esie
. di
de pensadores políticos, os espíntos ma1s versos, ou até ºPo~
~,%
n:~
e'.. é feita a distinção entre ordem deterrrumsta e ordem normativa.
dúvida, essa confusão procede de tendências profundas, já que,
S século depois, é reencont rada em Gropius, que descreve o "p/anless 1
grupMatthew Arnold e Fourier, Proudho n e Carlyle, Engels e Ruskin ~os" de Nova York e a "chaotic disorganization of our towns" 7;
O

to~, para denunciar a higiene física deploráv el das grandes cidad , em Lewis Murnford, que evoca, a propósito das cidades do século
d f .. ei • "'ª .
reunem-s e
. . habitat insalubre. do trabalha or, requentemente compa. e até "non-plan of the non-ctty
XIX,
industrta is: o • . 1oca! de trab,1, 0
vis as grandes distancias que separam o d
rado com Co , ("a metade dos operários d o s- ,,an J'á estão send0
""IO
b ·tação
d h ª i
do e s a caminhar duas
obrigado
milh h ao t balh "
as para c eg~ . ra . o , c?nstai. B. OS DOIS MODELOS
. ões fétidos amontoados e a ausenc1a de Jardins publieos
Marx) , os 1IXpopulares. A higi~ne moral t ~bém é cons1'derada: há o que é expressão de desordem chama sua antítese, a ordem.
nos bairros
e os bairros habitados pelas diferente s classes so,.;,;.
•....,, Assim veremos opor-se, a essa pseudodesordem da cidade industrial,
contrast e entr · d postas de ordenam entos urbanos livremente construídas por uma
chegando à segregação, fealdade e monotor ua as construçõ es "para
prgexão que se desdobra no imaginário. Por não poder dar uma forma
0 maior número". r~tica ao question amento da sociedade, a reflexão situa-se na dimen-
A crítica desses autores não _pode ~r, de modo algum, isolada
!'iro da utopia19 ; orienta-se nela segundo as duas direções fundamentais
de uma crítica global da sociedade mdustríal e .ª~ taras u!b~as denun. do tempo, o passado e o futuro, para tomar as formas da nostalgia
ciadas aparecem como o resultado de_ taras sociais, econorrucas e. poli-
A polêmica toma seus conceitos do pensamento econornico ou do progressismo. De um conjunto de filosofias políticas e sociais
ti
(Owen, Fourier, Considér:1"t, Proudho n, ~uskin, Mo~s) o~ ?e v~rda-
e c:~sófic o do fim do século XVI~I e começo d? ~X. ~ecorre.51
defras utopias20 (Cabet, Richards on, Morns), vemos assun distingurr-se,
amplamente a Rousseau, Adam Snilth, Hegel. Industnas e mdustria.
com um maior ou menor luxo de detalhes, dois tipos de projeções
lismo, democracia, rivalidades de classe, mas também lu~ro, exploração
espaciais, de imagens da cidade futura, que chamaremos daqui por
do homem pelo homem, alienação no trabalho constituem, a partir
diante de "modelo s". Com esse termo, pretendemos sublinhar simulta-
das primeiras décadas do século XIX, as bases do pensamento de
neament e o valor exempla r das construções propostas e seu caráter
Owen, Fourier, ou Carlyle , em sua visão da cidade contemporânea
16
reprodut ível. Qualque r ressonância estruturalista deverá ser afastada
e surpreendente constatar-se que, com exceção de Marx e Engeh,
defeitos da do emprego dessa palavra: esses modelos do "pré-urbanismo" não são
os mesmos pensadores que ligam com tanta lucidez os
industrial ao conjunto das condiçõe s econômi cas e políticas estrutura s abstratas , mas, pelo contrário, imagens monolíticas, indis-
cidade
do momento não persistem na lógica de sua análise. Recusam-se a con- sociáveis da soma de seus detalhes.
siderar essas taras como o inverso de uma ordem nova, de uma nova
organização do espaço urbano, promovida pela revolução industri~
e pelo desenvolvimento da economia capitalista. Eles não imaginam
que o desaparecimento de uma ordem urbana determinada implica 17. The New Archirect ure and the Bauhaus, Faber & Faber, Londres,
o surgimento de uma ordem outra. E assim é que foi levado avante, 1935, pp. 108 e 110 da terceira edição.
com uma estranha inconseqüência, o conceito de desordem. Mathew 18. L. MUMFOR D, The Culrure o[ Ciries, Harcourt, Brace & Cia., Nova
Arnold intitula seu livro Cultura e anarquia. Fourier publica L 'anarchie York, 1932, título do subcapítu lo p. 183.
industriei/e et scientifique (1847). Considérant declara: 19. Este conceito não pode mais ser utilizado sem se referir à obra capital
1956).
de K. MANNHEIM, /déologie et utopie (trad. fr., Marcel Riviére, Paris,
. As grandes cidades, e Paris principalmente, são espetáculos tristes de ser Opondo-s e a Marx, Mannheim insistiu no caráter ativo da utopia em sua oposição
todas
Vistos para quem quer qu~ pense na anarquia social que é traduzida em relevo, ao status quo social e em seu papel desintegrador. "Consideramos utópicas
. com uma medonha fidelidade, por esse aglomerado informe • esse amálganu as idé!as circunsta ncialrnen te transcend entes (e não só as projeções de desejos)
ordem
~~ru; q~e , tem, de uma forma qualquer, um efeito de transformação sobre a
existente " (p. 145). Pudemos retomar aqui sua classificação das
histonco~ ocial
a-
formas da mentalida de utópica: nosso modelo progressista engloba simultane
comu-
~ent,~ sua, "idéia humanitário-liberal " e uma parte de sua "idéia socialista-
~1~.~a , : Alem disso, nosso modelo culturalist a não pode ser totalmente assimilado
a 1de1a conserva dora" (W. Morris era socialista).
1r::ur;:,:;fo
1 th Srat/Sfical_S~ciety o[ london e o Report to the Home Secretar)'
{ 20. O século XIX foi a idade de ouro das utopias. Entre as mais interes-
santes, não citamos Looking Backward de Edward Bellamy (1888) nem
Un
the labouri:C <5l:ss;~: j ;J
1 10
ners ~n ~n Enquiry into the Sanitary Condirion °!
reat Bntam, apresentado ao Parlament o em 1841 voyage à Te"e libre de Théodor Hertzka (Viena, 1893): as duas são por demais
15 ,., . da
· 0 ...ap11a1, anexo 10. cenu:adas na questão jurídica e econômica para caber aqui. Sobre o problema
; _R .
16. Cf. por exemplo as Ob · .
1 ~topia, cf. ,1. O: HERTZE LLER, The History of Utopian Thought, 1926
System, onde Owen denunc 13 · servat!ons on the Effects o[ the Manufactur 11J PIUYER, L urop1e des utopies; O. RIESMAN , Some Observations on Commuru
ty
trabalho industrial . Lembrai'.'
mos também as análises d ; pa_pel ahenador do ans & Utopias, Yale LawJoum al, dez . 1947.
e ouner e sua obsessão pelo "trabalho agradável' ·
8
O URBANISM O
- O URBANISMO EM QUESTÃO 9

·ardim, mesclado de pequ~nos bosque~", _esc~eve Proudhon . o ar,


25
l. o modelo progresszs· ta 21 e d1stnbu1dos a todos. este, diz
É
J 1uz e a água devem ser igualment
Pode-se defini-lo a partir de obras tã~2 diferentes quanto as de a n
Godin, "o símbolo do progresso . ,
Owen Fourier, Richardso n, Cabet, Proudhon . Em segundo lugar, ~ p_aç_o_ urbano e tra çado_ co_r:i forme un:!_a
_ 'rodos esses autores têm em comum _uma mesma concepção do análise das f~ - ~uman~- Uma...clossificaçã0-rig0rosa..instala..em
l mem e da razão, que subtende e deterrmna suas _propo_stas relativaino í~ Õ habitat, o JI.a.balho?_a_cultura _e oJ ~e_r._Eoun er_cl]_ega
iho .d d Quando fundam suas críticas da grande cidade industria]
à c1 a e. do indivíduo "alienado " , e quand o se propõem como obje.
escândalo
-ãt['-;-::-Ioc alizar- separadameJJ-te __as_çhversas formas d~ tr:tbalho (indus-
tóal Jib.eraI...agrícola) . ·
. homem consumad o, isso se dá em nome de uma concepção ' Essa lógica funcjpnaL deve...traduzir-se numa disposição simples,
tivo 'nd~ 'd humano como tipo ' independe nte de todas as contin ue impressio ne irnediat~ ente os . olhos e os satisfaça., No sis~ema e
do I w1 uo , l d ·
• . diferenças de lugares e tempo, e suscetive e ser definido q temúnolo gia de Founer, as cidades do sexto penado, dito do
gencias e .d des-tipos cientificam ente dedutívei s. Um certo raciona. ?.:arantis mo" , são planejada s segundo o visuísmo (garantias dadas
em necess1 a ºbilita 1 bl
lismo, a ciência, a técnica devem possi _r reso ver pr? ;mas colo. à paixão sensitiva da visão), de onde "veremos brotar o princípio
'al"26 .
cados pela relação dos homens com fio me10d e ~nt; s1. I ss~ p_ensa. de todo progresso soei
menta otimista é orientado para o uturo, ~mmat ºhi?et ,ª. idéia de ~ p o r t â ncia atrib~íd~ imyr_:ssã? vis~_al in~ c~_ ~em .?
rogresso. A revolução industrial é o acontecim en o s onco-chave pap_eL.da-est étiea-na-c oncepçao -da- ordem progressista. É. preciso, no
~ue acarretará O devir humano e promover á o bem-est_ar. Essas pre. entanto sublinhar a austeridad e dessa estética, onde lógica e beleza
missas ideológicas pemútirão que chamemo s de progressista o modelo . c . ~ c i d a d . e_ progfessista ~ecu~_a__ .9u~qu~~ herança, artística d_<:
passador- para-subm ete.c,se_ exclus~vamente as leis de uma geometna
. d , • " · dd "
que inspiram.
Ele pode ser deduzido a prion as umcas ?r_o_Pne a es do •~_aE......Arr.anjos_nov.os,- simples e racionais, substituem as d!_sp~:
homem-tipo. Considérant coloca o problema sem ambiguidade : siç~a.n :wn_t9 • _tradicionais. Considérant não encontrará termos
- 0 bastante condesct: ndentes para qualificar os lamentos estéreis de
Dado O homem, com suas necessidades, gostos e inclinaçõe~ inatos, de111- Victor Hugo diante do desaparecimento da pitoresca Paris medieval.
minar as condições do sistema de construção melhor apropnado a sua natureza. Em certos casos, a ordem específica da cidade progressista é
expressa com uma precisão de detalhes e uma rigidez que eliminam a
Chega-se assim à
possibilid ade de variantes ou de adaptações a partir de um mesmo
solução da bela e grande questão da arquitetôni ca hum~_a , calcu_lada com modelo. Tal é, por exemplo, o caso dos desenhos nos quais Fourier
base nas exigências da organização do homem, respondend o _a mt egral!dade d~ representa a cidade ideal com seus quatro anéis concêntricos, " cada
necessidades e dos desejos do homem, deduzida de suas necessidades, seu s dese1~ um distante do outro mil toesas", suas vias de circulação minuciosa -
e matematicamente ajustadas às grandes conveniênc ias primordiais de sua con,
mente calibradas , suas casas, cujo alinhamento, gabarito e até tipo
tituição física" .
de muro estão de uma vez por todas calculados.
Dito de outra forma, a análise racional vai pemútir a determi· Os edifícios são, exatamen te como os conjuntos urbanos, protó-
nação de uma ordem-tipo, suscetível de aplicar-se a qualquer agrupa• tipos definidos de uma vez por todas, visto que constituíram o objeto
mento humano, em qualquer tempo, qualquer lugar. Pode-se reconhe• de uma análise funcional exaustiva. Assim, Proudhon escreve: "Preci-
cer nessa ordem um certo número de caracterís ticas. samos descobrir os modelos de habitação ". E Fourier provê seu "falans-
Em. primeiro lugar, ,.o__espaçO-d.o_m_o_delo_ p.rQ&!essista é ampla• tério", modelo de habitação coletiva, de oficinas-modelo e de cons-
~ente-aber.to.-r-0mpida....p.0L vazios e verdes. Essa é a exigência .d1 truções rurais-tipo , exatamen te como Owen preconiza um tipo de
_!:iS!ene. Como dizer mais claro que Richardso n, cujo p rojeto explí· escola e Richardso n um tipo de hospital ou um tipo de levanderia
municipal .
cito na Hygeia'1A é "uma cidade que tenha O coeficient e mais baixo
possível de mortalidade"? O verde oferece particular mente um quad'.o _Entre .. os....div.erso.s edifícios-t ipo, o alojamen_to padr.ão- ocupa, na _
important
. i:once.gç_ªº-..I!.[.ogr_e.ssis.ta,_umJ ~gar ----- e e privile_&ad ~ As fórmu-
~ara os. momentos de ,lazer, consagrado à jardinagem e à educaçao -- -- - -
Sistemática do corpo. 'Precisamos transform ar a França num vas1o

. 25 . J. PROUDHO N , Du príncipe dei /'art et de sa destination sociale,


Pans, 1865 , p. 3 74.
_21. O plan~ desta obra não vai nos permitir analisar as relações do pri· 26. CH . FOURI E R Des modijications à introduire dans l'architecture
. .
-urbanismo progressista com O racionalismo da filo so fi1a il umuusta.
22 u ' lt ' - . . des vi/les, Paris, 1845. No s'i stema de Fourier, "a civilização" corresponde à socie-
_ • ma ~ una WELLS A Modem UtoP~·
versao e dada por G . H.
• dad~ contempor ânea. Fourier procura promover cm segu ida o "garant ismo "
trad. fr .. Une utop1e modeme, Pequim, 1907 _
(so~:eda_de das garantias), que deve pre ceder, por S!Ja vez, os períodos superio res
243. LV. CdONSID.ÉRANT, Description du phalanstere • 2ª· ed ·, Paris,
2 - on res, 1876.
1~' do soc1antism o" (79 período) e do "harmonism o " (89 período).
i?j;; :

O URBANISMO O URBANISMO EM QUES TÃO


11
10
o de uma comuna... sistema de valores comunitários , as séPti cos e rep
las são notáveis: "O conhecimento da organizaçãlho (etc.) e, antes d m Fourier, é um d ás . res-
õe se do conhecimento do modo de traba e
e·vos que se escon e por tr de fónnulas amáveis ' pel as quais se quer
·
comp . modo de construção da moradi a onde o ornem será Alo.
h Sl ' ao tecnocra ti smo desp ót'1co dos sansimonistas a defesa d0
d t . opor consu-
. d midor e a pre~u~ação par~ ~om ele.
tudo, ", pois a tarefa do arqw· teto " não é _mais a ~ cons nnr o casebre
0
JADO ico de fato, que ula
dissim , em t d
agiota ou do marquês 0 autontansmo ·polit o as essas
d proletário a casa do burguês, a mansao do l · democrátic .
a, está ligado ao ob"1e ti vo
e° 0 paláci
o ~nde o homem deve alojar-se". Assim_ fala Cons
que nos mtere ssa
idéran t21:
tratar é da Propos tas, uma
.
tennm o
b
ogia
.d d mento máxim o. Pode-
comum, mais ou menos e~ a~n u o, o rendi para a rentabilidade
E Proudhon afinna: "A primeira coisa de nao hesita em comp arar,
28 . Duas fónnulas diferen~es destacam-se de imediato: mos vê-lo em Owen, que
habitação"
~d~ptos d~, diversas a esperar dele, o bom tratam . ento dos instrumentos mecânicos com
solução coletiva preconiza~a por F~uner e ~el?s tdual da casinha, é também a obses-
iação e de coop eraça o, soluç ao mdiv "o bom tratamento dos mstrumentos vivos ". Essa
formas de assoc s de rendin lento as vantagens
feita a meu modo, onde moro sozinho, no centr
o de um pequeno são de Fo~rier,,, que tr~~uz em. t~nno ios históricos pre-
água, sombra, grama do "gar~t1smo e da hann orua sobre os estád
murado de um décimo de hecta re onde eu teria
por Proud hon. Mas o fato essen cial é a impor, cedentes .
e silêncio", preconizada de um protó-
a partir
tância dada ao alojamento e à concepção deste o destin ado à
tipo: a casa individual de Richardson, com seu teto-t erraç 2. O modelo culturalista
ório no andar de cima e seus banJ1eiros, , n e de William
helioterapia, sua cozinha-laborat O segundo modelo é extraído das obras de Ruski
é dotada do mesmo valor universal do falanstério. mos o modelo Morris; é ainda reencontra do no fim do sécul o em Ebenezer Howard
. Se, em lugar de analisar os elementos, considerar este modelo não conta co~
1
31
bemo s que, ao contrário - df 1 o pai da cidade-jardim . Fato notável,
progressista enquanto éonjunto, perce es industriais, nenhum representante francês. Seu ponto de partida crítico não é mais
do centr o das grand es cidad to humano, da cidade .
cidade ocidental tradicional e mais ou menos / a situação;- do -indivíduo, . mas a do agrup amen
mais numa soluç ão densa , maciç a e utável como no
ele não se. constitui
entad a, atom izada : na Dentro desta, o indivíduo não é uma unidade interm alidade pró-
orgânica, mas propõe uma localização fragm es, auto-s ufi- m?<1elo progressista; por suas particularid ades e sua origin
ou comu nas, ou falang contrário,· um ele-
maior parte dos c·asos , os bairros, chegu e .ª pna, cada membro da comunidade constitui, pelo
ente justap ostos , sem que sua soma de que falam os
cientes, s!o indefinidam
livre preex iste às um- mento insubstituível nela. O escândalo histórico
uma entidade de natureza diferente. Um espaço P~idários do modelo culturalista é o desap arecim ento da antiga
verde e de vazios.
dades disseminadas por ele, com uma abundânci a..de urudade orgânica da cidade, sob a press ão desin tegrad ora da indus-
iamen te .urban a. O conce ito clássico ~a
qu.e exclJJtuma_atmosfer.a..propr e-cam po, cuJa trializa_s:ão.
cidad
cidade desagrega-se, ao passo que se estimula o de E em grande parte o desenvolvimento dos estud em a imagem
os históricos e
sorte veremos mais adiante. da arqueologia, nascida com o Rom antism o, que fornec
existência coti·
Apesar dessas disposições, destinadas a liberar a nost~gica do que, em tennos hegelianos , pode
ser chamado a "bela
e cidad e industnal, tipo de evocação nas
diana de uma parte das taras e servidões da grand -se corno totalidade" perdida. Na Franç a, encon tra-se esse
progr essist a. apres entam
JlS..diferentes- f-orma s-d-o-modefo~-
?.t., A limita ção exerc e-se, nu~ P~:
sist.emas_ __lim{(adores .e_c.e{ll'Jt.S.!!!.C ial prede ternu n nd '
me1ro n1vel, pela rigide z de um quad ro espac
cidade, esses "orna·
Fourier regulamenta até os embelezamentos da inhar-
dos "com itês de aparato", vão cn~c~- 3o. "Vê-se que nossas ciências não sabem de forma nlguma encnm
mentos forçados" que, sob a égide ·no d· ·
o ao progresso real, à sociedade das garantias, que reme rnna as
concê ntrico s em oposi ção à "licença anárquica s cm
rn isérias .
dlrcça-
tar os diferentes anéis civilizadas e elevar ia o produto de metndc
pum cima, de acordo com
que deve ser asse·
atual" . Num segundo nível ' a orde:n espacial prova
este
o~ quadro de produ to aplicado à França:
nte polít ica. Esta toma .
gura da por uma limitação mais propriame crn PA 2 bilhões
a fonna do paternalismo (em Owen ou Godi n) ora a forma do socla0 cni aJtlARCADO 39 períod o
' . om períod o 4 bilhões
li smo de Estado (cm Cabet, por exemplo 29 ); às vezes , enfim , e cmCi BÁRIE - 49
59 período 6 bilhões
crn G VILIZAÇAO 9 bilhÕllS
69 períod o
cni s~AN TISM o 15 bi1l1~es ..
MO 79 períod o
crn liAi~NTIS 24 b1lhocs
lllÜNISMo 89 período
(l 'onarchl.e industrlel/c et scfentifique, p. 48.)
27. Loc. cit., p. 29. Tomollo W, cujn 21,1 cd i\·iio terá
0

28, Loc. ci~. , p. 351.


, foi título &~ E, I-IOWARD publica cm 1898 19 º
2· c_om
29: A lcúna de Cubet tem um regime partlculurmcntc nutorit!ÍJIO, cffO,
fornecido a Cabei por Napol vra
0
tltulo n!~ Clties of Tomo "ow e será trnduzid a
Ut6picQ . ,el-Jord/ns de demain . 'Por seus compo
para o francJ s cm
nontcs socialistas_e :cu c~ulcr
cS!abclecido por lcar, ditador cujo modelo foi . d'tn ta na cm' çno. .dns pn-
. a 1me
ram prime iro Kropo tkin , depois L MUMFORD, numn5~orY rnei--_ • Por
"113 I01d
urn lad o, por sua repercussão prátic 1
. .
~o~o bem mos~a tui uma verdadc ua _e iar
oi Ü~ve:ude, cujas ~áiise
ºP. ' 1922 d
s,
(reedita a por The
às vezes rápida
Viking
s,
Press,
s4o m~lto
Nova York,
sugestivas: The
1962).
nc1ra .entrc 0en•citles inglesas 1 por outro esta obra consti
Pré-urbanismo c o urbani~mo. Preferimos trntú-l
a com O ur bamsmo.
a;
O URBANISMO

12 O URBANISMO EM QUESTÃO
13
32
obras de Victor Hugo e de Michelet ,• Mais tarde ' La cz·te· antiq to, para poder realizar a bela totalidade cultural .
Fustel de Coulanges é em parte construida sobre esse tema. No ue de entanr anismo onde cada um mantém seu papel ori ,~oncebi_da como
as descrições literárias das cidades medievais ou antigas não sue~tanto,
SCltar uI1l / g culturalista deve apresentar, também, um g al, ª ~idade do
1
nos fran~ses ne~uma ~roposta do pré-urb~sm o. Na lnglater arn JllO ~~nações espaciais e de características materiais certo numero de
dete1u ....o- contrári o da~ gl. omeraçao ·
- do modelo progress·
de Ruskin e Morns apóiam-se em uma tradição de pensame t0ra, as .
is ta, essa cidade
desde o começo do século, analisou e criticou as realizações ~ ~~~'
A - - -b . • -- . . .. . .
ariiesÕLtudo,.~ czrçy.1!,~CrJta no mtenor de limites .
zação industrial, comparando-as com as do passado. Séries de c ª ci~. _Eé~ ::-,..,t0 fenÔJJl_~.lliLMtu.rnJ,
nq~ 0 .
.ela deve formar um contrast preciso~.
t d . e sem ambi-
foram assim opostos dois a dois: orgânico e mecânico, quali~n;eitos .: ·dade mm a..natureza~_cµ M · h
Jo es a o mais selvagem tenta-se conservar·
guJ-.-- ~ wm:
quantitativo, participação e indiferença. Acha-se já ali em gª ivo e nasflouvelles,..-v~ am-- _,om s- e ~ga_ª P:opor verdadeiras "reservas';
famosa distinção entre cultura e civilização, que exercerá em ~nn~ ª .::~:MaJ.d.iear.' As dimensoes da cidade sao modestas , sp·ua das nas ·
m

~--~-A:, .
tais como Oxford, Rouen.' Beauvg;s V
um papel tão importante na Alemanha, na filosofia da história gu,da c1'dades . que, . E
medievais = , eneza,
sociologia da cultura. e na uziram Ruskin e Morns. ste bane de sua utopia as grandes c·d d
se d d é ali d .d 1 a es
Os ensaios de Ruskin e Morris têm por antecedentes O livro d tentaculares. Lon re~ . re ~~ a ~o que foi o seu centro e todas
Pugin: Contrasts or a parallel between the Noble Edifices in the Midd/ as antigas aglomeraçoes mdustna1s ali perdem seus subúrbios. Assim
Ages and Contrasting Buildings of the present Days showing a/ a população é ao mesmo tempo descentralizada, dispersada por um~
presents decay of Taste, assim como os Ensaios de Th. Carlyle. A parti: multiplicidade de pontos e, em cada um deles, reagrupada de modo
de 1829, este havia oposto, em seu artigo Signs of the Time , o meca- mais denso.
No interior da cidad~nenhu m tr_aço de geometrismo.
nismo moderno e o organicismo do passado. Os mesmos termos serão
retomados um pouco mais tarde por Mathew Arnold, para quem, Dêem uma volta em torno de seus monumentos edinburgueses ... tabu-
leiros, mais tabuleiros, sempre tabuleiros, um deserto de tabuleiros. . . Esses
em nosso mundo moderno, a civilização inteira é, num grau bem mais tabuleiros não são prisões para o corpo, mas sepulturas para a alma,
considerável que na civilização da Grécia ou de Roma, mecânica e exterior, e
35
protesta Ruskin, em uma de suas conferências . M.o.rris. e ele preco-
33
tende a tornar-se assim cada vez mais •
I!~~ a irregularidade e a assimetria, que são a marca de uma ordem
.A crítica sobre ·ª_q:ualJ .e.pous.a_ ~sJ.~ _Qd~lQ__é,_pois,_na origem, orgânic.a,_quet-dizer, inspirada pela potência criadora da vida, cuja
.nostálgiça~r-um--IPoviroento..ao_q.u.al_º-.,P-ré-1.afaelismo deu, no caso . exp,r~.ssão-mais-elevada-é dada-pela inteligência humana. Só uma ordem
pàrti~ das-artes-plástieas;- a- primeir-a- formulação e a primeira uíís- orgânica é susc~tível .de integrar as heranças sucessivas da história e
t1;,a_ção~.,...ela....n.QS..tuJa_.a..p,os..s.ibffi.d,ade_deJazer_um -estádio-ideal passado de-leyar.em.cgnsideração as_particularidades da paisagem.
reviver., ..e -vê-os.. meios--disso.....numa volta às formas .desse passado. O .. fu!i Ruskin e em Mortis, o estético exerce_o_ pap__eJ q~ exercia
ponto capital ideológico desse m~~lÕ .nffo é mais o conceito de pro· a higiene em Owen. Founer e Rfch ardsan ·
gresso, mas o de cultura.
"Os falanstérios de Fourier e todas as coisas desse gênero não ct· ~ma parte considerável das características essenciais da beleza está subor-
implicavam nada além de um refúgio contra a pior indigência", es· mad~ a expressão da energia vital nos objetos orgânicos ou à submissão a essa
energia de objetos naturalmente passivos e impotentes 36 •
creve William Mortis nas Nouvelles de Nulle Part. Não se pode expre~-
sar com mais brutalidade a diferença ideológica que opõe os dois A deformidade espalhada pela sociedade industrial resulta de
modelos; .,no____modcle eultttra:lista, a f)feeminência--da_s_ J_!.ecessidades ~: p~ocesso letal, de uma desintegração por carência cultural. Esta
mat.enaiL.de.sap..ar.e.c.e__diante..-d.as...n.ec~.si.dades espirituaiSJ. E, port~~' ro e ser combatida por uma série de medidas coletivas, entre as
fácil prever que o planejamento do espaço urbano vai ser feito ali e qu ais se · - .
insp· d Impoe particularmente o retomo a uma concepção de arte
acordo com modalidades menos rigorosamente determinadas. No Ira ª pelo estudo da Idade Média.

Se a arte que agora ' no fu t uro,


· esta, doente deve viver e não morrer, devera,
Vir dopo
. t
vo, ser deS inada ao povo e feita por ele; 7 •
de
32. Este, em sua Histoire de France (t. 3 1837) escreve: "A [orm:eci· · por excelência de afirmar uma cultura, está liga da
- arte , meio
a, tradiEssa
Paris não é só bela mas verdadeirament e orgânica,', (p. 375; grifo nosso), an
y çao e só pode desenvolver-se pela mediação de um artesanato.
pando assim a terminologia de Sitte e sobretudo a de Wright · Muna '
33 · MATIHEW ARNOLD, Cu/ture and Anarchy (1869) , ed.
p. 10. ·0
. 3~. Ru~~n- e Morris estão ligados ao movimento pré-rafaelista. O pri;;t),
mflu~nciou de 1mc10 os ~uturos pré-rafaelistas com suas Peintres Modemes (1 ente, 35
depois defend~u-os muitas vezes publicamente, antes de escrever, finalm G. P. 38 , · J. RUSKIN, Eloge du gothique, trad . fr., 1910, 2~ confe rência,
ies P;:~aphaé/ztes em 185 3. O segundo foi fortemente influenciado por 1
osse 1• que ele conheceu em 1856, depois da dissolução da PreraP ~ ·oso
~;ure
~~- Idem, p. 278 _
Brofherhood_ (1851). O próprio pré-rafaelismo está ligado ao despertar re!Jgt tect · W M:OR RIS, Collected Works t 22 p 133 (TheProspectso fA rch z"-
Ure;nCiv;i·
de Oxford e a renascença gótica inglesa. lZation). , · • ·
O URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO 15
14
de padrõe s do pré-urbanismo só deram .
tEm..matér-ia -de-construção,_nad a de protótipos, nem Na prática , aliás, os tmodelo
'gnifi d aliz enseio
~ exprim indo assim sus. as, empree ndidas
Cada_c onstruç ão deve ser diferen te -das outras a um número ins!da Sic_:m e e ~ealm ações concret
as construções
'êspecificidade. O destaque é dad? ~lo_s _prédios -comun
itários e cu!~ numa escala reduzi . ao, essenc1 _ente, na Europ~ ,
ento da morad ia mdivid ual. A suntuo sidade e New ~ar~ _e ,~e Godin no falansM ~o de Guise ; nos
-turais em detrim de Owen e~ de Owen,
a simplic idade destaº Estados Urudos, as colorua s · fundad as pelos d1sc pulos
reqti~ te arquitetural daqueles contra stam com
1

duas morad ias semelh antes : "Elas pode~ r e de Cabet. Sam:-se que todas se de_se~t ruturara m mui rapi-
No entanto , não vai haver de Fourie
a de vê.Jas pelo caráter limitad or e repressivo de
parecer-se no estilo e modo de ~r, _mas pelo ~e?os gostari damente. Q. fracasso é_ explic_ado
nst1ca s e ocupaç ões dos .acão,- e_pnnc 1palme nte
• por seu rompim ento com a reali-
com diferenças capazes de convrr38 as caracte • nra~ni7
su......, _.. _ _ t
que as habita m", especifica Ruslcin : _ • . dade sóçio;e_conon uca con emporanea.
'- A cidade do model o_ culturalista-.opoe-se a cidade do
modelo ~ ssas experiências pertencem, a nosso ver, às curiosidades socio-
apresentam
; progrJ sis!a _por_ se_u- ~ijma propriamen_te urb~o . No plano político , lógicas. Em compe n~ção , os ~odeio s . do pré-urbanismo
as demo- o ~0~~1d eravel. Com
_ ef:ito, por sua
·• a-idéia -de comun idade e de alma coletiv a tenrun a em fórmul hoje um interesse _ep1!temoló~c
a no 1magin ar10, anuncia m o proprio método
i cráticas. No plano econôm ico, o antiind
ustrialismo é manifesto e a origem crítica e fé mgenu
ento
tas seguirã o, no século XX, um movim
. de rend~ e~t~, mas do P?,nto de do urbanismo, cujas propos
:produção não é encarada em termos 41
relação com o harmo ruoso dos mdiv1d uos, que gozam análogo. São model os de modelos .
vista de sua
entant o, para garantir o fun-
de uma vida feliz e plena de lazeres". No
\pionamento do modelo culturalista segundo as norma s pré-industriais
insidiosamente. e. A CRÍTICA SEM MODELO DE ENGELS E DE MARX
gue acabamos de definir, a limitação reintroduz-se aí
te só se efetua com a condiç ão de
,!\1 integração do passado no presen ianismo, Ao contrá rio dos outros pensadores políticos do século
XIX,
!iminar o imprev isível. É disso que dão testem unho o maltus Marx e, mais
e apesar de seus emprés timos dos socialis tas utópico s,
k que as cidades estão sujeitas, e o ostracismo, que aplica
ial
as
nos
transfor-
modos ~xp_l ici~e. _Enge ls criticar am.as grande s cidades industr iais contem-
b ações técnicas introduzidas pela revolução industr porâneas sem recorre r ao mito da desordem, nem propor
sua contra-
tem curs~ n~sse ':1?delo .
Ide produção. A temporalidade criado ra não paljiãJ,.Q.ID.9. delo..dã .:êiêlãde :lütura . .
a, fecha-s e a histonc 1dade. história.
/fundado sobre o testem unho da históri A cidade tem, para eles, o privilégio de ser o lugar da
pnmef ra-fãs e,íl burgue sia se desenvo lve u e exerceu
Foi ali- que, numa
42 industrial,
* * * seu papel revolucionário . É ali que nasce o proletariado
r a revolução
ao qual vai caber principalmente a tarefa de executa
bem ção do papel
Os modelos progressista e culturalista não se apresentam, socialis ta e de realiza r o homem univers al. Essa concep
todos os textos , sob uma forma XIX é, pelo contrár io, para Engels e Marx,
entendido, em todos os autores e em histórico-da-cidade do séçulo
faça de defensor criador a e que deve
tão rigorosa e contrastante. Por mais que Proud hon se a expressão- de-um a-orde m- que foi a seu tempo
indivíd uo médio, seu
do funcionalismo e raciocine em termos de ser destruída para-ser ultrap·assada.
da cidade ordem
individualismo o impede de determ inar com rigor o plano Eles não opõem a essa ordem a imagem abstrata de uma
r, o promo tor das cidade s-padrõ es, quer parado xalmen te cidade , para eles, é apenas o aspecto particu lar de um problema
ideal. Fourie nova. A
critica a ordem de sem clas~s.
assegurar o prazer e a variedade aos habita ntes destas; ele geral e sua forma futura está ligada ao advento da socieda
eita, das "cidad es civiliza das que se conhec e de antes de qualqu er tomada de poder revoluc1_?·
"monó tona", imperf É impossível e inútil,
39 • O própri o Ruskin ass~ ta-se tiva de um~ açao
cor ao se ter visto duas ou três ruas" nário, tentar prever o futuro planejamento. A perspec
sistema gotico. lizador mas rrreal,
com sua tendência passadista e chega a questio nar o transformadora substit ui para eles o modelo , tranqüi
é o ponto import ante, t9_c!,Q§...e_s~ p~sadores os. A ação revoluc ionária deve, em ~u dese~vo l:
~ntud o, e este d_os socialistas utópic
d,!d~_q g l'uturo em termos ~ model o_._E!n Jodos os caso~ , o históri co, realiza r a implan tação socialis ta, dep01s comumst a.
imagµi~ vunent
proces so_ou erol?le ma, é s_empra .
. ª, ~idaqe, ao in_yé.!..._qe_S!lL ~ como 0
futuro perma nece aberto .
!!!!a coisa, um objeto rep_rod utív.el. É extrai da . d çora-d e-sua- contrib uição- à- sociolo gia urbana,
colocada c_Qmc;>._.J -É_p.or isso qllf' ' f dO Problema
etimol ógico, utópl~ ~ · ><,--i em ace
temp.oralidade- concreta--é- tor na-se,- .Õosen tido e Marx
· de Engels
~ ssmal_ada ffiIDS .acima ,_a atitude
_4.Yª( dizer,_d.e_h!g3! nenhu m~.

41 · · e O pré-urba nismo é
· A continuidade ideológica entre o , urbamsmo ro ~arte essista, a coin-
real das vezes
cid' n~ caso das garden-cities inglesas. Ao contrano, do lado
38 J. RUSKIN, Les Sept tampes de l'architecture, trad. fr., P· 320·
,
~ Loc. cit., p. 18. fo: .eia na
P
ideológica entre urbanismo e pré-urbanismo éproposi 0
~ª-t
da unidade de
terJllO ' ita. Le Corbusier recorre a Fourier somente a
harb1taçã .
.. ~ Como le~bra L. Mumford, o próprio Th. More, inventor do
ído esse neologisJ11º; o, . 847
. MARX, Mam-
utopia ' revel_ou O J~go de palavras com o qual foi constru 42 ios do comunismo 0 ),
(sem lugar, de pari !iesro do · CC. . ENGELS , Os prindp
:1:!at pla etimolog1a: eutopia (lugar agradável) e outopia partido comunista (I 848).

O URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO
16 17
44
rb.an:o_@Iacteriz~se - essenci~ ente- ·pelo· pragmat~s':W. As certezas . 1 mente criminoso " • No correr do século XX _
~e exatl·d-oes de um modelo sao recusadas em - beneficio de um fut Uro siJllP es to consecutiv o à Revolução de Outubro ond afora o breve
, .
indetermin ado, cujos contornos so apare~ra ~ p~ogressiv amente, na mom:smo 4s' Bukharin e Preobrajensky reto~arã;, ~o A.B.C. do
medida em que se desenvolver a ação coletiva. s~un, em La Qu estion comus1·ção adotada por Engels em "La question du Iogemnegnot~-?samente
a Pº . entes da uniao ·- soVIe· ·1·1ca como os da China Popul ar estarao_tanto
du logement43, Engels não traz nenhuma_ ~anacéia, nenhum~ solução os di ng . .d d , '
no
v1V1doai pelo proletana do. E!e to de edificar c1 a es novas , as voltas com modelos e preocu-
.
te Ónca
para um problema cruelment . e . mome n . . 46
rocura garantir aos, proletário s, por qu quer meio,
al .
uma espéci·e par-se com tipo1ogia .
ape nas P preocupaç
-
ao com o OJamento , a que
d mínimo existencia l; dai sua
e momentan eamente a - urbana. "N o momento , a única
questao
ele reduz ANTIURBANISMO AMERICANO
tarefa que nos compete é um simples remendo social e pode-se até D. O
simpatizar com as tentativas reacionári as", escreve ele sem ambigüi. A maior parte dos autores que, na Europa do século XIX criti-
dade. As "casas para operários" preconiza das por certos socialistas pare. caram a grande cidade iridustrial, nã? ~o~am rne_nos marcados po~ uma
cem-lhe pavorosas, pois elas dissimul ~ s~~ inspiraçã~ paternalista longa tradição urbana; através da histona, as cidades européias apare-
sob a aparência de uma solução revolucio nana .. A defimr prematura. ceram-lhes como o berço das forç~ que transformam a sociedade.
mente tipos e padrões que serão f~rç?same nte. ~adaptad os e anacrõ. 0 inverso aco~tece ~o~ Estados
Urudos, onde a _época heróica dos
nicos em relação às estruturas econonuc as e sociais do futuro , é prefe. pioneiros está_ lig~da a una~em de u1:1a ~atureza vugem. Assim, antes
rível, pura e simplesmente, instalar os operários nas casas e nos belos mesmo que ali seJam percebido s os pnmeuos contragolpes da revolução
bairros dos burgueses. industrial, a nostalgia da natureza inspira naquele país uma violenta
A posição de Marx e de Engels pretende-s e radical em seu desejo corrente antiurbana .
de indeterminação. ,No entanto, encontra-se ne@s_uma im--ª@rrl célebre O ataque é impiedoso , mas não recai sobre nenhum modelo de
a~rc.a_do-1utu~ -d-a- cidade:.C~ J?~ ~.:.~d_o- da~ up:essã~ substituição. Uma tradição antiurbana começa assim com Thomas A.
da diferença entre a cidade e o campo . 43!. Sem duVIda, essa c1dade- Jefferson, para continuar com R . Waldo Ernerson, Thoreau, Henry
-Z-ampo pode evõcãr o modelo das cidades verdes de Fourier ou até Adam, Henry James, e terminar paradoxalmente com o maior arqui-
de Proudhon. O próprio Engels observa que "nas construçõ es-modelo teto da Escola de Chicago, Louis Sullivan. Os trabalhos de M. e L.
(dos primeiros socialistas utópicos Owen e Fourier), a oposição entre White 47 analisaram notavelme nte as etapas dessa corrente , em relação
a cidade e o campo não existe mais" . Mas a noção de " supressão da à qual os celebrantes da cidade american a, de Walt Whitman a William
diferença" não pode, em Engels e Marx, ser levada a uma projeção James, só representa m umas vozes perdidas no "deserto da cidade",
espacial. Ela deve ser essencialmente entendida do ponto de vista d_o completamente submersas pelo "estrépito antiurbano do panteão
47
desequihbrio demográfico e das desigualdades econômic as ou culturais literário nacional" .
que separam os homens da cidade dos do campo: ela corresponde ao A grande cidade é assim sucessivamente criticada sob uma série
momento da realização do homem total e possui, sobretudo , um de ângulos diferentes ; em nome da democraci a e de um empirismo
valor simbólico. político por Jefferson; em nome de uma metafísica da natureza por
Emerson e sobretudo por Thoreau ; em função , enfim, de uma simples
s 48
Depois de Engels e Marx, a recusa de um modelo só será ~ u-
mida raras vezes. Ela vai ser reencontr ada no anarquista Kropotkin ~, analítica das relações humanas pelos grandes romancista s. Todps esses
para quem "regulamentar, procurar prever tudo e organizar tudo sena autores, em uníssono, colocam ingenuam~nte suas esperanças na
I ~ ã o de uma...esp.écie_JlJl esfado mral, que eles pensam_se~, com
al~mas rese~~_f_O_!!lQ.filÍVel . ç:_0]11 o desep.volvimento econ~rmco da
sociedade industrial- e- que-- sozinho . pemlite assegurar a _lib~~dade,
43 . Zur Wohnungsfrage , H edição alemã, 1887. Trad. fr ., Edition_s
Sociales, Paris, 1957. Esta obra é uma coletânea de artigos essencialmente pole· ª manuest!Ç ão da personalidade- .e-até-- a verdadeira sociabilidade.
micos escritos em 1872: são respostas aos "embustes sociais" publicados por um O antiuifüi.nism~ americano não tem o alcance das correntes
médico~ou dhoniano, sob forma de artigos, no Volksstaat. de pensamento examinad as acima; não se erigiu, em momento algum,
31i. A supressão da diferença entre a cidade e o campo não é um obje·
tivo con niente a Marx e a Engels. Está especialmente desenvolvido, em term ~s
análogos, pelo socialista cristão Ch. Kingsley. Num ensaio, Great Cities, ee
·
pre d.1z " uma comp 1eta mterpenetra çao .
- da cidade e do campo, uma co mpletad 4 4. Les temps nouveaux, 1894, p. 51. munisme
fusão de seus diferentes modos de vida e uma combinação das vantagens e no 4 ~- N. BUKHARI N e E. PREOBRAJENSKY, L 'A .B;C. du Co%
63 ·
Cap'.
cada um, tais como nenhum país no mundo jamais viu". Não parece duVJdoso 1/~. edição integral, traduzida em francês, François Maspero, Pans,
que essa perspectiva seja um resultado da observação do desenvolvimento dos ' La question du logement".
suburbs, nos quais muitos bons pensadores do fim do século XIX coJocara.!11 4 52 the American
6. Cf. P. GEORGE, La ville, P.U.F ., Paris, 19 · ·
suas esperanças. Cf. A. F . Weber : "r o desenvolvimento dos suburbs que.nos
Cities"47 . M. e L. WHITE, "The American I_ntellectual versus
oferece .ª base sólida de uma esperança de que os males da vida urbana seJ ~~'. 196 1.REAU Walden , 1854.
na ~edida _em que resultam de uma superdensidade, em grande parte elunin 4 ~he Future Metropo/is, Nova York, Braziller,
· Cf. R . W. EMERSON , Nature , 1836, e H. THO '
dos , loc. c1t., p. 475 .
O URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO
~. 18
19
aqui, devido à sua
em métod o. DeVl·a , no entanto , ser
1 mencionado
ui XX s6 editada em 1917, compõe-se de uma b .
0 bra, . sé . reve introduça-
influência sobre o urbanismo americano do séc o . ada por uma rmponente ne de ilustraçõe o, acom.
Panhbtiveram uma grari d e no t one
. d ade a partir s,d que foram expostas
ili~segundo Le Corbusier, e
1904 · Descobre-se

uma tenJa~va de ordenação _e _u_ma _conjugação das saiu _ .. .


II. QURBAm,SMO aluções plásticas. Uma regra urutana distribui por tod çoei U[JiHa.nas e
das ssma escolha de volumes essenciais e fix a os espaço os os_bauros da cidade
~gu_1nd0 necess idades
ª rnerdem prática e as injunçõe,s de um sentido poético spropno do arquicct o'º .
o urbanismo difere do pré-urbanismo em dois pontos impor. de o
'tantes. Em lugar de ser obra de generalistas (hlstoriadores, econo. A influência de La cité industrielle foi considerá I b .
- d ·t t " . . s ve so re a pn-
/~stas ou políticos~, _ele é, sob suas du~ formas, teórica e prática, meira geraçao os arqu1 e os rac10nalistas" i. Mas estes teriam de
~ apanágio de espec,ahstas, geralrnent~ arqu1t_:tos. . ,, esperar o fitn da guerra de. 1914, , e .a dupla solicitação d o progresso
'- "O urbanista não é outra coisa senao um arqmteto , afirma técnico e de bc~rtas pesq~1~as p 1astica_s de vanguarda, para dar sua
Le Corbusier. Além disso, o urbanismo deixa de inserir-se numa visão expressão acl~ .ª a ao mo~ e.º progr~ss1st~ do urbanismo. Apesar das
global da sociedade. Ainda que -o -pré-urbanismo tenha estado ligado situações po 1ticas e econonucas muito diversas, uma imagem anál
história49 , o urbanismo é da cidade futura p . ogla
é extraída das pesquisas empreendidas , quase sunu
8 opções políticas ao fongo -de toda a sua , B . -
despolitizado. _Essa transformação do urbanismo pode ser explicada tarieamente, nos a1ses aixos por J . P. Oud , G. Rietveld e e. Van
52
pela evolução da sociedade industrial nos países: ~apitalistas. Depois Eesteren, na Alemanha pela Bauhaus de Gropius , na Rússia pel
construtivistas, na França por A. Ozenfant e Le Corbusier. os
da fase militante, heróica, do século XIX, as sociedades capitalistas
liberalizam-se e suas classes dirigentes retomam,. cortando-as de suas _A partir de _1928, o . modelo_ progressista encontra seu órgão de
raízes, certas /déias e propostas do pensamento socialista do século XIX. difusao num movrmento mternac1onal, o grupo dos C.l.A .M_ sJ. em
Além disso, essas idéias vão ser aplicadas. Ao invés de ser acan-
tonado na utopia, o urbanismo vai destinar a seus técnicos uma tarefa
50. LE CORBUSIER , Vers une architecture , p. 38 da reedição Vin ccnc
prática. Fréal, 1958.
No entanto, o urbanismo não escapa completamente à dimensão 51. O _conceito de arquitetura rarcionalista foi utilizado pelos historia-
do imaginário. Os primeiros urbanistas têm um poder reduzido sobre dores da arq~utetura (em especial B. Zev1) para designar o movim ento que se
o real: ora têm de enfrentar condições econômicas desfavoráveis, ora afirma, depois d_a gu~rr~ de 191~ . em favor das forma s puras (co ntra a .--1,1
nouve~ e sob a ~~~enc1a do cubismo); ele proscreve qualquer decoração e oma-
se chocam com todo o poder de estruturas econômicas e administra• ment~ça~ d~s ediftc1os, e preconiza a exploração radical das fontes da técnica
tivas herdadas do século XIX . Desde então sua tarefa polêmica e cria- e da Industria. Seus principais partidários foram Gropiu s, Le Corbusicr. Mi,·, Van
dora afirma-se num movimento utópico . der Ro~e, Oud e Mendelsohn. A arquitetura racionalista chegou numa segunda
e o motivo por que, apesar das diferenças assinaladas acima,
nd
~ a até os E~tados Unido~, pouco antes, mas principalmencc depoi s da Segunda
uena MundJal. Os arquitetos racionalistas criaram o "estilo incernac1onal "
e se bem que nã'o se possa falar de urna continuidade ideológica cons- (e?resro consagrada por H. R . HITCHCOCK e PH. JOHNS ON em The Inter-
cientemente assumida entre pré-urbanismo e urbanismo, este último 1
na º~ftyle, A~chitecture since 1922, Nova York. Norton . 1932) .
também atribui em seu método um papel ao imaginário. Reencon· y ld · Segumdo a obra terminad a pela Deutsches Werkbund de H. Van de
traremos nele, sob uma forma modernizada, os dois modelos do pré- e; t:ne 9
desenvolvendo idéi~s que ele mesmo já resumira em 191 O. Gropius funda
-urbanismo. e da indú,8 _Bauhaus de ~eunar. Esta célebre escola obje tiva a sintcsc das artes
desr ª
t.ria, elaboraçao, por um trabalh o de equipe. de norm:i.~ e de padrões
t co:ados, no ,c~so das artes aplicad as e da arquitetura. à produção em ,érit:.
chamadesse espmto ~ue a Bauhaus tentará defi nir um estilo. Encrc os prof~sso rc s
UMA NOVA VERSÃO DO MODELO PROGRESSISTA 1
A, Doesbois ': .Gropius: _P. _K lee , W. Kandin sky, Moholy-Nagy. Malev itch i: Van
a Bauh rg arao conferencias. O urbanista do grupo é L. Hilberscimcr. Em 1926.
A versão nova do modelo progressista encontra uma pruneu
. .a
1930. ;:s tr~sfere-se P_ara Dessa u. Mies Van der Rohe assum e sua dirc\' :io _i:m
na Alema~s~ fecharao_a escola em 193 2. Com_o B. Z:vi observou co~1 JUSttç~:
expressão em lo cité industriei/e do arquiteto Tony Gamier. E51 a Crô.!!iys é '- J~vem naç.ao Uldu stnal, o urbamsmo e ensinado ofic1almencs.
bu1ier cÕnt~MeD~ialmente um profe ssor. A situ ação ó inve rsa na França : L.: Co r-
SJ: uara um polemista e um ou1sider. .
. -(.f~ Nilo estamos de acordo com N. BENEVOLO que , em_ Le o,igi;i 0
llloderna) re' grupo ~os C.1.A .M. (Co ngressos internaciona.11 de a.rqu1tccura
cJtll 11rbónlt~let1 modtr1111 (Laterza, 196 3), data de 1848 a despolitizaçao do p<º 1; . Corbu&ler Rune não so europeus como V. Bourgcois, Grop1u s, H1l bc rseum r, Le
mento relativo ao plamijamento urbano. De modo geral a abordagem do, 1_P : Unidos (N, letveld, Sert, Van Eesteren mas também rcprescntanccs dos E, cados

urba11-1i •·
..s
'
· íl uma teoria das relações sociais
· re~pello
diz mau qu e a um a P01· 11-,
JJ ib_sorvidos
eutra w· ' ...
• lener), do Brasil (Cos ta) . do J apão (Sakakura ). ~ [ C. De líll CIO
propriamente dita. Ma s eu.a vbiio global da cidade subsiste at é o começo .
século XX. W11Jlam Mo rri , é um admirável exemplo. Os proje tos técnico, t; Pruneiro
sua Plel4dê
Pi:!º problema da habitação, os C.l .A.M . colocaram o urba~1s_mo no
de suas preocupações a par ti.r do co ngresso de 1930. daca cm que
•ln.em II at~nçJo de Benevolo a partir de 1848 constituem tão-somenc~ ·:.1 rolWI n., nela Volt~u a Van Eesterc n, que era ent ão chdc do d~partamcnto de
ca.so_ - partic-ularmt nte espe tacu lar (devido ã revolução industrial) - de uf'.1 tJII 1933, ~ I da Cidade de Amste rd ã. Os arqui cc tos dos C. l. A.M . elabora'.am.
prillca, que 1empre t'Xu-ti u ; tende II confundir urbanismo e gênio civil . arta de Atenas ou Town Planníng Chart duiantc se u 4\> co ngresso,
5 == +
>
O URBANISMO EM QUESTÃO
1 O URBANISMO
21
20
Assim, a indústria e a arte juntam-se em seu inten . ·
põe uma fonnulação doutrinária sob o nome d duplo desdobramento na escala mundial co fi to do universal
1933, e~t~~ /s~~ constitui, portanto, o bem comum dos urbanist~
conteúdo é retomado em seus numerosos escnto
e seu ssistas na concepção do homem-tipo do pré-: 1{:1~s1os ur~anistas
Carta d~ d . t d . s progredas as latitudes e no seio de todas as cultura/ aruh no : idêntico
rogreSSistas; seu , o ornem é, para
p . E t etanto tomou-se empresta a a maior par e as citações eJJl to . d fuúdo
respectivos. n r Le éorbusier: um excepcional talento de jomalista Le Corbuster, e
la soma das ,constantes' d·psicofisiológi cas reconhecid . .
que se seremlaª necessidade de travar polêmica sem cessar contra o pe . f' . as, mventanadas P
O or
etente (b1ologos, me 1cos, 1s1cos e químicos , soe·10-1ogos e poetas").
(consed~a l:público francês) inspirou-lhe, por 45 anos, as imagens gente co ,np
passa ismo 54
a Carta de At"-.nas, que ana-
.
Essa imagem
e fórmulas mais surpreendentes . . . do homem-tipo inspira
.
.. hu •-
A idéia-chave que subtende o urbarus~o progr~sSista é a idéia r ITI-ª1lª~ umversais no quadro de quatro grandes
de modemiuuue.
,,,_,, "Uma grande época está surgindo,
. L, ·t
existe um espítito .
,.!~-neElJstdaue
jisa.
fiunr-----
habitar~-trabalhar,.loco _ O corpo e O espmto.
. . mover-se,. cultivar
•.

novo,,, proclama Le Corbusier na revista~ espPrzl nobuveau, ~ue ele a base que deve pennitu a detenrunaça o, a priori com tod
a cer-
d fu dar em 1919 ' com A. Ozeniant. e· ad,o ra, e1e ve essen. Tal é . h " t· 'd , ,,
·,
acabara e n modernidad, · teza do qúe Gropms c ama o 1po 1 eal de localização hum
. e em dois campos: a m ustna e a arte de ' Esse tipo vai ser aplicado, ana ·
de modo klêntico, -por um espaço
cialmente essa • d enva· dos dele). ~ • . ..de.te .
sião O cubismo e os movimento s ~ g e . n . e . o .,.....c~ as mun~ções._topográficas são negadas.
vanguar da (na oca . tr ·
Como no pré-urbanismo progress~tad enco~ da-~ -~01s na base A independêcc1a effi_.relaçao-ao-local- nao resulta mais apenas, como no
do urbanismo progressista uma concepçao a era _m usdn como rup. ~culo~ cei:tez:~e- -deter ..a _verd~de de uma boa fonna, mas
1

tura histÓnca ra ~ n int~r.esse....do
di'cal • Mas -
s urbanistas , . es· ocou-se · _ .das. ~ m das _no~as p_o_sSJbilidades _té~mc~: a arquitetura do bull.<fozer"
t turas-eGenômieas--e-.socia is-para-as_e .struturas tecmcas e_ estetzcas. ~.elan d0-as-n:ontanhas--e---cobrmâo os_vales. Com a condição
~;ámie cidade do século XX é anacrônica, porque não é a cont~m- de preencher suas funçoes e ser eficaz, os urbarustas adotarão O mesmo
• dadeira nem do automóvel, dnem das telas de Mondnan: plano de cidade para a França, o Japão, os Estados Unidos e a África
poranea ver · t ta · ·
· • dalo histórico que eles vão enunciar e en r suprurur. 1 - do Norte. Le Corbusier chega.a.propor praticamente o mesmo esquema
eis o escan aliz ª . r~vo uçao pMa o Rjo e..Argel,_e o. plano para a reconstrução de Saint-Dié reproduz
A cidade do século XX precisa re ar, por sua vez,
industrial: e não basta empregar sistematicamente os maten~s nov~s, em pequena-escala o p.l~o Voisin de Paris dos anos 1920.
e permitem uma mudança de escala e dde tipologia; d Não majs que ao local, o plano da_cidade _progressista não está
aço e concre to , qu anexar os méto os e estan- Jjgado às !imitações da tradição cultu.ral;_.e.le.._só qu.ewer. a expressão
· para obter a "eficácia" moderna,
é pree1so, . . aliza - d f
dartização e de mecanização da indústria. ~ rac10n . çao . as ºD?as de uroa deroifügica liberdade da razão, coloca_da_a_ser:viço da eficácia
-e protç,tjp_os..separa,._aliás,....as-pesquisas das artes pl~ticas. Com efeito, .e da estjjtisa. São esses dois imperativos que conferem ao espaço do
:..os.:membrns-da- Bauhaus, --tanto .qu!JfltO os urban1stas neerlandeses modelo progressista suas características particulares.
ligaram-se ~~_!reitaipente a P. Mondrian: Van D~s?ourg e a_os promo• A preocupação com a eficácia manifesta-se antes de tudo na
vedores-ãó ~ Stijl; os .arquitetos .. urban1stas soV1ébcos graV1taram ~o importâncja atribuída à questão da saúde e da higiene. A o_bsessão
grupo· construtivista, em tomo de Malevitch e Tatlin; Le Corbus1er g.ela higiene polariza-se em tomo de noç.õe.s...d.e..soLe_de ver.de.· Está
foi, com A. -Oienfani, em 1920,,. o fundador do "purismo" . T?dos ligada aos progressos contemporâneos da medicina e da fisiol ogia,
57
-esses diversos movimentos propõem uma nova relação com o obJeto, às aplicações práticas daí tiradas , assim como ao papel novo reser-
·relação fundada numa concepção austera e· racionál da beleza. P~ocu• vado, depois da Primeira Guerra Mundial, à cultura do corpo e à helio-
ram extrair formas universais, segµindo as propostas dos cubistas, terapia. Est.eLObj~tivos _levarão . os urbanistas progressistas a fazer o
nos quais D. H. Kahnweiler observa sugestivamente que queriam dar ~ açoJechad o e,x_plod_ir para desdensificá-lo, para isolar no sol '
do objeto e no verde edüícios que deixam de ser ligados uns aos outros para ,
tomar-se "wtidades" autônomas ...A conseqüênc üunaioLé a abolição'.
uma imagem completa e desprovida ao mesmo tempo de tudo o que é .da..rua,..emgma.tizada._c.o.mo_um_vestígiQ._de barbárie, um anacronismo,
55
momentâneo, acidental, retendo apenas o essencial, o durável • r_e-1'0ltallte-faralelamente;· a- maior~-paFte dos urbanistas preconizarão
!.,.ÇQnstmção..eieva.d_a,,para substituir a continuidade dos velhos imóveis

que tomou a forma de um cruzeiro pelo Mediterrâneo, em direção à Grécia e


Atenas. Os princípios estabelecidos então foram reunidos mais tarde sob ~uas d' . 56 · LE CORBUSIER Maniere de penser l'urbanisme, L 'architecture
formas destinadas ao público não especializado : La charte d'Athenes, l'urbamsme ho°::;ºUrci'hui, Paris, 1946 r~edição ed. Gonthier, 196 3, p. 38. Cf. "Tod.os os
des C.l.A .M , por LE CORBUSIER , Paris, Plon, 1943, e Can our CTtíes Survive 44
por
ens têm O mesmo org~nismo as mesmas funções. Todos os homens tem as
J. L. SERT (vice-presidente dos C.I.A.M.), Harvard Universíty Press, 19 ). mesmas nece SSl'dades. " ln Vers une' architecture, p. 108. . . , . .
_ 54. Em quarenta e cinco anos, observa-se pouca evolução ou transfor· SOiai S?, Cf. REY e PIDOUX Une révolution dons •/'art de bat1r: 1onentatwn
maçao no pensamento urbanístico de Le Corbusier. Hoje suas idéias parece_:11 E hab'•
1921)re dt
·
i,atzons ' · d I tituto Pasteur,
(Comunicad o ao congresso de h1g1ene d O ns _
ultrapassada! em certos países, mas não na França, onde, com efeito, a situa_çao ste supremo fator
e propoem
a vi·dª" _ ,,
uma ,; s autores exaltam "a luz solar
da construçao e a mentalidade do público não mudaram muito de 1918 ate os 1
retom:a-:ção '. rigorosa para o problema da 'iluminação solar das habitaçoes 'que
anos 1950.
55. D. KAHNWEILER, Juan Gris, Paris, Gallimard, 1946.
/
L maJS tarde em La science du plan des vil/es, 1928.
__J
O URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO 23
22
. u'mero·· réduzido de ~nidades ou pseudocidade s verti · nismo rejeitam qualqu er sentimentalismo com respe·t I o ao 1egado esté ·
b:uxos por um n r . ' do. Das ci'd ades antigas . devem ser rep1ane3ada . s s.
cais. Em t . as--Oe-P sieologi a..do. G
_ estalt con.!1ª -
!ª_se ~ma mversã o dos ti·co do passa. . ' que • 0
mantêm o alinham ento, pratica ndo. esse urbanis mo d
termos ~ .-funda -;-ao-invés-de-ped-aças-de.e~paço hv_re desempehha- • e . • e ponta de faca
o espaço que também satlS!az as· dinh eX1genc1as do rendimento · "Quanto mais.
rém éi pi°pêl de figºras .sobre- o--fundo~construido da cid~de, mats
· ganhava" nota Le e b . 61
e1ro
t .. fundo meio-n o-qual- -se-des envolve .a .aglom eraçao nova. Este Haussmann cortava , . , or us1er O
pano de Pans, podará sem hesitaça~o o con3un
1 . ·
omal · do é •~m grande parte, investido pelo verde. "A cidade trans- mesmo autor, em seu " ( . o passadista prose ·t d gl to
,, t · Le e b ·
dos veIhos batrros. p1
" ·t atnbut
novo un ,
formar-se-á, pouco a pouco, num parqu~, an eetpa ~r usier ; e ) orescos, , no a a o-
maiores
opius acrescenta: "O objetiv o do urbarus ta deve ser o de cnar entre a meração progressista . para so manter algumas construções di -.
. estrei·t o" 58 . Ass1m · somos (Notre-Dame, a La, fSamte Chapelle , os Invalides) promovid as a, gm
dade e O campo um contato cada vez mais , b 1 - 1. .
ier e dade de sim o o e a unçao museo ogica ..
vados aos conceitos da "cidade-jardim" vertical de Le Corbus o, como num quadro , que O ur barus· ta
~ na prancha de desenh 'd de. De conformidade com
~ urbs in horta de Hilberseimer. ,, fut
"compõ.e sua . ura. dc1 a
· • •0s
os pnnc1p1
Esse espaço fragmentado não deixa de ser governado por uma os do purism o e do StiJ'I elimina ai-
ativi- do cubismo, e mais·t·am a com , qu
ordem rigorosa que responda a um novo nível de eficácia, o da d
quer et e alh ~e d o 1co em proveit
.
o de fonnas simples , despoja das,
ializad a é também indus-
dade produtora. Com efeito, a cidade industr onde o olho nao possa tropeçar em nenhuma particularidade·
trata-
ento
triosa, quer dizer, para o urbanismo progressista, "um instrum de certa fo~a, de, 62 constru ir o quadro a priori de qualqu er' comp:r '.
o". Para que a cidade possa preenc her essa função de instru-
de trabalh tamento social poss1vel .
sua deve
mentalidade, deve ser "classificada", analisada; cada função µom posi ~ re~<:má or t~ma da fragmentação ; organiza-se
em
lizada. Seguin
~ do ~ Gamie r,_os_l! r_!?anist as
ocupar uma área especia t_Qm_(L.~e-cen.~ros ~~ ~ ufüplos ,_ num movim ento que lembra 0
..c.u.1ºªd _Qsa m~n as de !rabª1h o das zonas ordenado
pro~• tas separam Q9- cub1sm0-Slllt~.t.!~O. Cada um desses focos dissociados é
deha_mta.t,_e_estas-dos-centros cívicos_ou...dos_locais. ddaze r. Cada segundo os princípios de uma geometria simples, que caracte
riza
igual-
umadessas categorias é, por sua vez, dividida em subcategorias também as compo sições das escolas aparent adas com o cubism o. "A
ordenad as. Cada tipo de trabalh o, burocrá tico, a gramá-
mente classific adas e
ão. Não escapa m "cafés, res- g~ometria, dizia Apollinaire, é para as artes plásticas o que
industrial, comercial recebe sua atribuiç tica é para a arte do escrito r." Entreta nto - D. H. Kahnw eiler e M.
... vestígio s da rua atual" que não. devam "tomar de um geome-
taurantes, lojas R~ynal .su~lln! 1aram- no bem - os cubista s cogitav am
Lugares
forma ou ser ordenados, colocados em estado59 de plena eficácia. trism~ _mstintivo, com o qual a matemática tinha pouco a
ver. Pelo
e sociabi lidade" A circula ção, por sua sistas, tais como
projetados par~ diversão •
contrano, . para a maior parte dos urbanis tas progres
conceb ida como uma função separad a que, parado xalmen te, o ponto de encon-
vez, é Le CorbuSter e seus discípulos, a geometria torna-se
conjun to constru ído onde ela se
é tratada fazendo-se abstração do tro do belo e do verdadeiro: a arte é regida por uma lógica matemá
tica.
ndência recípro ca dos volume s edifica dos e das
insere; há "indepe
de geome-
vias de circulação", diz Le Corbusier, e acrescenta: . !'geometria é a base .. . Toda a época contemporânea é, pois,
para as satisfaçõ es com a geometria.
11ª• emmen temente; ela orienta seus sonhos
acordo com análise, procuram
As _aut~~stradas_ (voies autoroutes) recortarão O espaço de s art~s e o pensamento moderno, depois de um século de matemática 63 •
i1!c~da, inteiramente ligada ao solo . .. mas perfei- para alem do fato acidenta l e a geometr ia os conduz a uma ordem
a rede m~1s dueta, mais sirnpl_
estar a maior ou
tamente m~ependente dos edif1C1os ou imóveis que podem palavras.
menor proxumdade'º. A Aind~ não é preciso deixar-se prender pela miragem das
ordena o modelo progres sista é muito elemen tar.
, C g~ometna que
A_ rua não é, portanto, somente abolida em nome da hlgiene o~si st e_ essencialmente na disposi ção dos elemen tos cúbicos ou parale-
época a desord em circula tória".
na medida em que "simboliza- em nossa . • 1epi?edats segundo as linhas retas que se cortam em ângulo reto : o orto-
A orde - · 1"tó-. _aliás, -.
e -- - m_ ~r~ ª ªª: corre muitas vezes o risco de temunar
se pôde gorusmo é a regra de ouro que determina as relações dos
edifícios
· ~ sub1:11ssao mcondici?n~ ao poder- do automóvel, do qual entre si e com as vias de circulação. Le Corbusier afirma : "A cultura é
ina!
dizer,_ ~o sem alguma Justiça, que-sozinho-ternúnaria por determ a~ espaço fragmen -
~a~ eS tado de espírito ortogonal" • Finalmente,
64
a pos1ç~o de ~m grande número -de-pra jetos. ngorosa mente O es-
o, mas ordenado da cidade-obieto corresp onde
-e et ~idade-mst,u"!ento' o modelo progressista é também cidade·

paço di ssoc1ad· o, mas' ge0metricameJ ' .
nte composto, da cidade-espetaculo.
a efi-
sp_ aculo. A estética é um imperativo tão importante quanto
Các1a para esses urbani t · tradição europé ia deu,
em alt 0 s as-arquitetos a quem a
grau, uma formaç ão de artistas . Mas, confor me a seu moder·

. fil
S ~1. Urbanisme, Paris, Cres, 1923, p. 255 . I
S8. LE CORBUSIER 'Maniere de penser l'urbanisme, p. 86. GROPlV ' 2
sofia h · ~ - H. Kahnwe iler censurou com justiça a abordage m cubiS(a da o-
loc. cit., p. 100. ) . Cf. loc. cit., P- 267-


:i··
LoLE CORBUSIER, loc. cit.' p. 74.
e. cit., p. 27 e 77 · Cf· ª tese •mversa in Relatório Buchanan, rn
ais
~;serhana (aliás ignorada pelos

64. Idem.
cubistas
. LE CORBUSIER, Urbanisme , p. 35.
achante, pp. 255 e ss.
o URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO
25
24
. .
0
e os mesmos princípios estéticos, inspi. . em Le Corbusier, um apartamento- tipo, de funções classificadas nuin
O mesmo func1onalis~ alismo presidem à concepção dos ele. no,aço · f ormave, l . F orçoso
·d· tico rac10n , · 1 mírúmo, mtrans é para o ocupante dobrar-se
rados por um 1 e~ - uer dizer dos edi[z'cios repartidos pe o espaço. esp esquema d e cuc
- ul açao
- e ao mo d o de VI'd a em que esse aloiamento'
mentos da compoSiçao, q de um' protótipo· este exprime a verdade ao
implica, · t o d e duzm
e que o arqmt~ · serem os melhor~s
· - correspon ' possíveis. J
A cada destm_'.'-çao tarefa da Bauhaus é, precisame~t~ , a de determj. A ordem matenal que acabamos de definir por sua projeção
de uma f~~çao. ~. os"· elas pertencem, aliás, ã logi.ca ~e _uma pro. no espaço contribui t~bém p~a criar um clima mental particular.
nar _ess~s fo~as t~m c~mpreendida. "Uma prudente hm1tação da Na medida em q1;1e ~01 ~on~eb1da c~mo uma expressão plástica da
duçao mdu stnal b f de edifícios padrões aumenta a qual idade modernidade , suscita a pruneua tentativa uma atmosfera de manifesto.
10
varie~ade a algu~s, .~ ~, escreve Gropius 65 . Durante toda vid a, não A ruptura com o passado é assumida de modo agressivo, provocante,
O
e ~baixa o custo iqw dução industrial da construção sob a forma os novos valores (mecanização , padronização, rigor, geometrismo)
delXOU de en~arar ~ pr~e Corbusier, a industrialização da construção são afirmados num estilo de yanguarda, de certa forma expostos ao pú-
de elementos enhves. :;1presso principalmente nos anos 20 . Na prática, blico cuja adesão deve ser conquistada por uma impressão de futurismo.
é antes um so o, e . ,
~es
suas pesadas const ruç O de concreto ' das quais so as superestrutura • d, •
s A ambição do projeto, sua dimensão histórica criam um sentimento
- • d t 'aliz das constituem muito pouco para a m ustna. Ele de exaltação. Mas o não-conformi smo dos urbanistas progressistas é
sao rn us n ª· ' necessidade
também preconiza a de de fiuur
· pro t'ot 1pos.
· · um"d ades de ameaçado por um novo conformismo . A intransigência deles, a recusa
,.
. - "dades de trabalho, unidades de cultura do espmto e do polêmica em abrir-se para a negatividade da experiência humana, elimi-
habitaçao, um - h · t · · ·
corpo, um"dades agrar , , unidades de circu.1açao onzon
' 1·,lS . ais e verticais. narido todos os elementos suscetíveis de prejudicar a organização
Ele desce, assim, até o detalhe do mais h~de eqmpam~n:º· teórica de um projeto, corre o risco de fixar-se em academismo.
Na medida em que o modelo progressista, em opos1çao ~o modelo Além do mais, não reina na aglomeração progressista um clima
culturalista, privilegia o indivíduo-tipo mais que ~ comumda~e-tipo, realmente urbano. Essa afirmação pode parecer paradoxal se se evocar
é normal que suas pesquisas mais arrebatadas recaiam no habitat. Os as cidades de vários milhões de habitantes propostas por Hilberseimer
primeiros trabalhos dos C.IAM. centralizaram-se nele. A Carta de ou l.e Corbusier. É , entretanto, significativo que uma das palavras
Atenas dá o testemunho. J. L. Sert, na obra onde a resume , intitula mais freqüentemen te utilizadas por este último seja "unidade". Ele
um capítulo: "Dwelling, the jirst urban 'founction' ". chega a afinnar com precisão que os "instrumento s do urbanismo
De modo geral, dois tipos de habitat são considerados paralela- tomarão a forma de unidades" (de habitação, de circulação, etc.). Essa
mente, como na época de Fourier e Proudhon.-D~ .!!!!!-1ª-dQ,_ encontra-Se tenninologia trai bem a atomização, o deslocamento da construção que
a ~ u . - r e s e i : v . a d a - ~ p e_q u_eno número de famí· agrupa no verde séries de arranha-céus ou pequenas cidades verticais.
lias: esta solução é principalmente_estudada__pelos_anglo~saxões, os Finalmente, as aglomerações do urbanismo progressista são
liolandeses e certos....membros-da..Bauhaus ...P..or outro lado, é propos~o locais de limitação 67 • Aqui ainda uma palavra-chave: a eficácia. Este
o_imóvel coletivo_g:igante, que--corresporrde-mais ao-ideal-de uma sacie• ~alor justifica a rígida determirlação do quadro de vida. A inscrição,
_clade modernistª-,,. Protótipos notáveis foram colocados em ponto de rrremediavelmente fixada, de cada uma das atividades humanas em
funcionamento na Bauhaus e por certos arquitetos soviéticos de van· termos espaciais simboliza o papel reificador desse urbanismo de que
guarda, como 01 e Ginsburg, nos anos 20. l.e Corbusier devia ulte· se pode dar uma imagem mais impressionante do que o fez o próprio
rio~ente c_onceber o modelo mais elaborado: a unidade de habitação Le Corbusier: "Nada mais é contraditório .. . cada um bem alinhado
ou cidade ~adiosa, realizada pela primeira vez em Marselha 66 , antes em ordem e hierarquia ocupa seu lugar" 68 . E, de fato, o indivíduo
de ser repetida em Nantes, Briey, Berlim.
uma vez definido em termos de desenvolvimento físico, de funcio-
A cida_de radiosg retoma explicitamente a concepção fourieri st a namento, de produtividad e, de necessidades-tipos universais, que
do falansténo. Construída para abrigar o mesmo número de fam11ias lugar é deixado para o campo infinito e indeterminado dos valores
(~ ~~ ª 2 ooo_ pessoas), oferecendo os mesmos serviços coletivos e ª serem criados e dos desejos possíveis? Até a unidade última do sis-
- smos órgaos, em particular "a rua galeria" a "unidade" é unia tema, 0 apartamento da familia (reprodutora) , não escapa à limitação ;
ersao do falanstério m d · d '
écnica · a inven ã d O erruza a, e marcada pelos progressos da
ível a ~bstitui:ãi da\co?creto _armado e do elevador tornaram P0.5·
e dezessete andar onzontalidade pela verticalidade de um prédio
b 6 7 · O caráter limitador das cidades corbusierianas foi particularmente
de Fourier deixavae~e~ :r::lula ou_ alojame~to familiai, que o siste~: Lem destacado por L. Mumford. Cf. especialmente in The Highway & the City,
onde se alojar segundo s i amente mdetemunad o ("a pessoa encont , º nd res, 1964, o ensaio intitulado The
Marseille Folly : "Em resumo , est e plano,
ua ortuna e seus gostos"), torna-se, pelo contra· com _s~as dimensões arbitrárias, o modo como frustra os ocupantes de qualquer
Possibilidade de insolamento seu fracasso na utilização da luz natural oferece
uma p ,. • • . · ar
er,e1ta demonstração das condições procustlanas que começam a rem
na ~quitetura moderna. Como o antirro hospedeiro grego, o arquiteto da cidade
65. Loc. cit., p. 38 radiosa º . d imensoes
. - . fle
66. A · · . . apela para a violência para dobrar os seres humanos as m -
19S2 pruneua pedra foi col d xtve1sde . . .
en1 seu edif(c10 monumental" (p. 77). Grifos nossos.
· oca ª em 194 7 e o edifício tenn inado
68. Maniere de pense, l'urbanisme , p. 11.

O URBANISMO O URBANISMO E M QUESTÃO 27
26
iali tas ele tem o nome expressivo de célula A . ue realizará com B. Parker a primeira garden-city inglesa de
no jargão_ͺJ efu~a-~ ; um só tempo, o lugar da produção ~l!!J nista q
1,etchworth- . .
a nova C1 a e espécie 'de centro de criação humana, no horizonil!ts Os princípios ideológicos deste modelo são comparáveis aos
eficaz e uma . ta ameaçadora a unagem . alíti. d pai·69 castrad e
d0 qual se proJe , ' an ca ,o 01 e seu precu~sor: ~ totalidade (a ~omeração urb~a) prevalece sobre
0 1 é conservado (em todo caso no mve1 dos Prinieir0 d artes ( os 10div1duos), e o conceito cu~tu:al de cidade sobre a noção
dos filhos. pape ·smo progressista . ) pe1o urbarus · ta , de t entor da v s as ; rial de cidade. Mas enquanto o socialista Ebenezer Howard era,
modelos d o urbaru .d " fi Le er.
rna e O conjunto dos pré-urbanistas, movido em alto grau por consi-
d ..:g assim que O rebanho é conduzi o , c~n essa Corbusier
da e. aliás "o mundo precisa de harmorua e de fazer-se gui ' cornçoões políticas e sociais, a visão de Unwin e a de Sitte são despoli-
ara quem,
Por , b ·t • ilI dera
. das _ em benef'1c10, · · aim en t e em s·1tte, de uma abord agem
· pnnc1p
harmonizadores" 70. Segundo os casos, o ur ~s a-pai asseme.
~ar-se-á a um demiurgo-artista ou terá a pretensao de encarnar a tiZlltéti·ca que todas as fontes da arqueologia e do museu imaginário
de s '
planejamento urb ano vem .
•ap01ar. an o as obras de
"É so' estu dd
tecnologia. 0
ssos predecessores que poderemos reformar a organização banal de
nossas grandes ci.da des " , escreve s 1·tt e 72 .
B. UMA NOVA VERSÃ9 J?<? 11om~~o ÇULTURALISTA no Do mesmo modo, o espaço do modelo cultural opõe-se ponto
1 or ponto ao do modelo progressista. Limites precisos são detenni-
o modelo culturalista toma a fonna propriamente urbanística ~ados para as cidades. A metrópole da era industrial horroriza Howard,
que fixa em trinta mil ou cinqüenta e oito mil o número de habitantes
muito cedo antes do modelo progressista, antes mesmo da criação
do termo ,:urbanismo". Podemos reconhecê-lo, nos planos teórico e de sua cidade 73 • Esta é circunscrita de modo preciso, limitada por um
1prático, na Alemanha e Áustria dos anos 1880 ~ 1890: Segundo uma cinturão ·verde destinado a impedir qualquer coalescência com outras
' lei colocada em evidência por Marx, o atraso mdustnal de um país aglomerações. Uma garden-city não pode estender-se pelo espaço ; só
constitui muitas vezes um fator _positivo na medi~a em que e~ país pode desdobrar-se como células vivas, a população supranumerária
( pode, por isso mesmo, beneficiar-se de um eqwpamento mais ma- indo fundar um novo centro, a uma distância razoável, que será também
l demo e _mais rendo_so que os países ~dustrializados anteriormente, cercado de verde.
•cujo eqwpamento amda nã'o se amort1Zou. No momento em que a Cada cidade ocupa o esp!lÇO de modo particular e diferenciado ;
),'\lemanha, ilustrando essa lei, tende a tomar o primeiro lugar na eco- é a conseqüência do papel que os culturalistas atribuem à individua-
nomia européia, ela se beneficia de vantagens semelhantes em matéria lidade. Na pesquisa da diferenciação, Howard enfatiza sobretudo os
1
de planejamento urbano. A experiência das primeiras cidades indu~ fatores sociológicos; a população deverá ser equilibrada nas diferentes
itriais inglesas não se repetirá; a expansão industrial será acompanhada classes etárias e em todos os setores do trabalho. Sitte, -por seu lado
r propostas que constituirão até, na primeira década do século XX,

E
(fielmente seguido por Unwin, no que diz respeito à organização
ara os urbanistas culturalistas ingleses, um exemplo e um objeto do núcleo central das garden-cities), apega-se exclusivamente aos
estudo. meios de assegurar particularidade e variedade ao espaço interior da
Na época do urbanismo, como no tempo do pré-urbanismo, cidade. Ele recorre à análise das cidades do passado (da antigüidade
0 modelo culturalista nã'o conta com representantes na França. Entre
ao século XV): é ali que, incansavelmente, estuda o traçado das vias
seus _fundadores, destacaremos: Camillo Sitie, 0 grande urbanista de circulação, a disposição e as medidas das praças em sua relação
au st naco que, em 1889, publica Der Stadtebau 71 e cuja influência com ruas que têm acesso a elas, com os edifícios que as delimitam,
será considerável na Alemanha e na Grã-Bretanha. Ebenezer Howard, com os monumentos que as enfeitam. O mestre vienense repete ainda,
o autor socialista de Tomon-ow (1898), que clas~ificaríamos de boa no maior número de casos possíveis, a situação e as dimensões dos
vont~de en~re ~s pré-urbanistas, se não tivesse sido o pai espiritual pontos de abertura. Se o estudo interrompe-se na Renascença italiana,
das c1dades-:1ardins e se - ti . .
d nao vesse tido um papel nos primeuos con· é porque o planejamento das cidades já faz com que ali (infelizmente,
gressos e urbanismo; finalmente, Raymond Unwin, o arquiteto urba· segundo Stite) intervenha a prancha de desenho com vistas a efeitos
de perspectiva.
Da multiplicidade dos levantamentos e análises, Sitte extrai a
69. Uma confirmação de ,. , . defmição de uma ordem espacial modelo. Ao invés do espaço abstrato,
de André Gutton na lntrodu - · /ossa análise e dada pelas próprias paJavrlli
·Artes. Indicando aos futu rosçao e seu Coun d'urbanisme da Escola de Belas•.
- urban ' t
1140
sertTo mais um midlco mas um is as_ sua tarefa, ele conclui: "Então, voce,
procurarão para o homem' 0 amb . pai (liberado do paternalismo, naturalmente),
p. 23 (grifos nossos). iente de paz que lhe é necessário". Loc. cir.. 72. Loc. cit., ed. 1918, p. 118. . .
10. Manlere de penser l'urb l H ?3. O número máximo de habitantes estabelecido para as cidades por
. ? l. Traduzido em fran • an sme • p. 92 e Apêndice 1. nt:ar~ é de 30 000, mais 2 000 proprietários agrícolas. Essas cidades (por defi-
t.tte
tena.
era arquiteto e diretor d~~ eml 1902, com o título Art de bâtir les vi/lei,
sco a Imperial e Real das Artes Industriais de
ç O isoladas umas das outras por cinturões verdes) podem estar eventualmente
~~padas à periferia de uma cidade central (distante de 5 a 32 km) , cuja popu-
açao não deverá exceder os 58 000 habitantes.
p
28
o URBANISMO
o progressista, se recortam as formas
O URBANISMO EM QUESTÃO 29 7
. no qual no mo del •Uni. às vezes ~o~ a ajuda de c?~ceitos hegeliano~marxistas. Assim, apesar
d ispers0, • _ Sitte preconiza um espaço concreto, recortad da divergenc1a de suas pos1çoes e preocupaçoes (nas quais a filosofia
dades das con troçoes, fundo de edifícios. A t& em.matéria de m 0
s
a h,ist6ria da cultur~ ~ a econ~~a política desempenham respecti:
· ·d de de um P-:-- onu
na continm a .. ea . contra "à doença_m.;~j~rri~_~o i~olamento"7'1 . vamente o papel pnncipal), espmtos tão diversos como Max Weber
im..ntus.,,J~re~-ªº-1.-..81:1'- -;-···6· -~·•-·· - ·e1â analise reficwnal A · sombart 77 , ou Sp_e ngler _aprese~tam-nos uma imagem bem semelhant~
. --- . b titu. a análise tipo1 gica p . rua é urn
~1tt: su sd 1 tal as formas diretoras _Il~O são mais as do~ edifíci" da cidade europé_1a ~ré-mdustnal; ela é para os três um lugar e um
~rgl!!?.1~-~ en . .. d, . ... assa
--·-•g·-em
· ~-e-ji · -;-e·.. ,.ontro quer dizer das ru os momento excepcionais onde, graças ao clima particular da comuni-
··
m~
d 1 ais e P.
Q!..§.- .. ~• -:- ·---·d· ·-
-----·ticam€IDte
- u.w, ·- --eliminado
·" : · · - '
do centr
as e
b--.
das pra~s· e o própno ver e,J!!/L . · · · • . o ur ano dade urbana, o indivíduo pôde realizar-se e a cultura desenvolver-se .
p.oLSitl.i:) _cµJ~4q'sim~têJºf-IDaUzado quando aparece, incident~. Na última página de suas ~bservações introdutórias à compilação
..rne.nte,. em algum-bairr.o.re.Sl.de.nciaL . The City de Weber, D. Martmdale resume bem essa visão e os ecos
Esse espaço é fechado e íntimo, pois a nostálgicos que ela encontra ainda hoje :
característica fundamental d~ cidades antigas consiste na limitação dos A teoria da cidade de Max Weber conduz-nos assim a uma conclusão
. pressões A rua ideal deve formar um todo fechado. Quanto bem interessante. A cidade moderna está perdendo sua estrutura externa e form al.
spaços e das un ···
mais as impressões for.em nelas limitadas, ma~s,~~
• dr
75
nos à vontade..se.o_olha.i:.:oio~pode.perdet,se R~m1 0-- .
q~t ' ,. ·
0 sera per,e1to. Sentirn~- Do ponto de vista interior, ela e!tá em curso de degenerescência , enquanto a
comunidade reptesentada pela naçao desenvolve-se por toda parte às suas custas.
~ A era da cidade parece dever chegar ao termo 7 8 •
-~~- ~ paço..deve,"11:lém-do-maisr ser:impr.evis_íve~ e_ diverso, e para
isso recusar qualque!_~~Jtçj9_l!JlMª1Squer_pnnc1p10s de simetria, Dessa vontade de recriar um passado morto, que é finalmen fê
· se~ . !l.S...!!fi.ll:Q~ .d.es_naturais-do.terreno, as-in~idências-do sol, dobr~- o motor ideológico do urbanismo culturalista, devem-se tirar duas\
con~qüências críti~as. _N~m p~eiro nível - metodológico e espe-
-se aos.:v..entos domin_a.!!_~S....Q!l.,..!O_!!!aj~r corifQ!i_o J XJ~tencial do usuário.
O éliiiiâmêntal desse modelo é tranqüilizador, ao mesmo tempo culativo - a valonzaçao mcons1derada do passado leva a uma reifi-
confortável e estimulante; é favorável à intensidade e multiplicação cação do tempo, que é tratado ao modo de um espaço e como se fosse ;
reversível. Chega-se assim, por canais diferentes, ao mesmo resultado
das relações interpessoais, ainda que, no caso de Sitte, a pura estética
seja resolutamente sacrificada, entendida no mesmo sentido vitalista que no urbanismo progressista. Ao utopismo progressista opõe-se º\
- encontrado em Ruskin e Morris. utopism? nos~lgico, e à religião _do funcionalisi_no, ~ culto dos valores
Mas os promotores desses modelo, se bem que essencialmente ancestrais, CUJOS modos de funcionamento a histona e a arqueologia
ligados à história, não fazem justiça à originalidade histórica do pre• desvendaram. 1

sente e à especificidade de seus problemas. S. Giedion não se poupa Se nos colocarmos num segundo nível crítico, o do inconsciente, 1
de acusar Sitte de querer, em pleno século XX, voltar à "cidade medie· o urbanismo culturalista também traduz certas tendências nevróticas. )
val", e trata-o de "trovador"; Le Corbusier mais severo constatará: Em lugar do recurso progressista à imagem paternal, temos dessa vez
"Acabamos de criar a religião dos estúpido;, O movime~to partiu da uma fran~a regressão. E a repetição quase ritual de condutas antigas
Alemanha, em conseqüência de uma obra de Camillo Sitte" 76 . De traduz a madaptação, a fuga diante de um presente inassumível. Em
~~to, 0 urbanista vienense tem tamanha obsessão por- problemas esté· extremo, essa atitude acabaria em perda da função do real, compen-
~ _ formas ~~ passado que chega_ a ignorar complej amente a _ev.o- sada por um comportamento de tipo mágico, de caráter compulsivo.
1~ :"'Oas-con~oes..~trnlh.Q,.JI.S.SllILcomo..os...pr.o.b lemas-da círCU·
~aqao. pr_ó~no Unwm ve bem a contradição e como bom empirista,
tenta concihar o mode1O culturali sta com as exigências ' C. UM NOVO MODELO : NATURALISTA
A do presente.
p~sar d_eb~us esforços, particularmente no que diz respeito aos trans·
sé As idéias da corrente antiurbana americana cristalizam-se, no
po es pu lic~s,_ nem sempre é bem sucedido. No caso das uarden-cities,
o controle exigido na - º' - -0 culo XX, num novo modelo. Muito radicalmente utópico para pres-
facilmente , _expansao urbana e sua estrita limitação nao 53 t ar-se a um a re ali zaçao,
- mas destinado no entanto para marcar o pensa-
econômico ~~;pativeis com as necessidades do desenvolvilllento :~~to de ~a parte dos sociólogos e town-planners americanos, esse
emo.
:e que, definitiv
totalmente a natu am~nte, esse modelo é nostálgico . Para apreen ~
dr ar ~lo fo1 elaborado sob o nome de Broadacre-City , pelo grande
\u;teto americano F. L. Wright. Este trabalhará continuamente de
mente às obras de ~eza sé e~sa nostalgia, transportar-nos-emos rn:nt · 19 a 1935 nesse projeto de localização ideal cuja maquete gigante
dos Primeiros urb~:as· ne ?e_ autores alemães quase contemporane:
aprofundada, conipletad ' ª visao dos historicistas do século XIX é·da
ª por certas aquisições ulteriores, e esclareci -19 77 . ~- especialmente W. SOMBART , Der moderne Kapitalismus'.. 190!·
dung27 '. Munique, t. II, 2~ p. ; e Der Begrief der Stadt und das Wesen der Stadteb1/-
74. Loc. cit., p. 39. , ln Brauns Archiv, vol. 4, 1907.
75. Loc'. cit.,.p. 137 G N ?S. MAX WEBER The City traduzido e editado por D. Martindale e
76. Urbanisme, p. 9'. · euWirth, Collier Book;, Nova York, 196 2.
O URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO 31
30
ões diretoras foram reveladas a par . dos ; mas pensava em uma solução iniversal, destinada a uma aplicação
ele expôs em 1935; s_uas con~pçCity livro cujos temas F. L. Wrighhrt
de 1932 em The Dzsappeanng ' 195979 mundial.
té sua morte, em · O espaço desse modelo culturalista é complexo; certas caracte-
não cessou d_e r~t~m~ :eológicos sobre os quais ele funda Broadacre rísticas suas aparentam-no com o modelo progressista, outras com o
- Os pnnc1~1~s ~scípulo de Emerson. A grande cidade industri~ modelo culturalista . Ele é ao mesmo tempo aberto e fechado, universal
sao os de dumali1e o indivíduo no artifício. Só o contato com a e particular. É um espaço moderno que se oferece generosamente à
é acusada e enarlver homem a si mesmo e perrruT1r um harrno.
O liberdade _do homem. O_s grandes trabalhos do gênio civil (auto-estradas,
natureza
. podel devo.
d F L W 'gh
to da pessoa como ·totalid a e. . . n t des. pontes, pistas de aternssagem) que constituem sua rede circulatória
moso desenvo vunen
- on'mnal e fundamental com a terra em termos que
d s g1 . ' conferem a Broadacre uma dimensão cósmica: cada um está ligado ali
creve essa re laçao o-· .
on e ?en er reconstitui à totalidade do espaço, cujas direções todas estão igualmente abertas
para o leitor europeu, evocam as págmas
. , ·o da cultura ocidental. Mas, para F. L., Wnght, - como para à sua investigação . A relação de Broadacre com a técnica moderna é
o IDICl es Jefferson e Emerson - só é poss1ve l lib erar-se das servi. ain.da_m_ais_ decisiva que no modelo progressista: são o automóvel,
seus roes tr , l aliz - d " .o a~ão, o parkway, a televisão, as técnicas mais avar1çadas de trans-
dões da megalópolis e reencontrar ª.natu~eza ~e a re açao .a demo.
racia". Esse termo não deve, por smal, mduzu em erro e deixar supor .po,rte_e~de- comupicação que µão seu sentido a esse _modo de Jocali-
~a reintrodução do pensamento político no urbanismo : ele implica _zação -d1spersado.
essencialmente a liberdade de cada um de agir à sua vontade. "Nosso O espaço de Broadàcre não é menos particularizado. A diversi-
próprio ideal do estado social, a democracia. ·. . ~o~ originalmente dade topográfica não é negada nele : pelo contrário, a natureza deve
concebido como a livre crença de numerosos mdmduos enquanto ser cuidadosamente preservada em todos os seus acidentes, e _a ar4!.1i:
indivíduos", escreve Wright. "Democracia" designa, para ele, um indi- tetura deixa--de--se r-,-para...F ...L . W.right, um sistema de formas indepen-
. dentes imer.sas·num espaço abstrato,
vidualismo intransigente, ligado a uma despolitização da sociedade,
em benefício da técnica: pois é fmalmente a industrialização que mas- resulta autenticamen te da topografia.. . Sob uma infin ita variedade
pernútirá eliminar as taras consecutivas à industrialização. de..iormas, os edifícios exprimem a natu reza e as características do solo sobre
A partir dessas premissas, F. L. Wright propõe uma solução à o qual eles (se-elevam), eles se tornam uma parte integrante deles.
qual deu sempre o nome de City, se bem que ela elimine não só a
megalópolis mas também a idéia de cidade em geral. A natureza vQlta A arquitetura está subordinada à natureza, à qual deve consti-
a__ser ali um_melo_contínu_o,_no_quaLtodas- as-funções ·urbanas estjo tuir UJn.a_esp.é_cie de introdução. Além disso, a intimidade, a organici-
dispersas e -isoladas- sob forma de unidades reduzidas. O alojamento dade81 e o fechamento do espaço, caros aos urbanistas culturalistas·,
é individual: não, há apartamentos, mas casas particulares , cada u_m, reencontram-se no nível dos edifícios particulares.
nos qu-ªt~9 acr~s 80 de__terreno, que os ocupantes dedicar.
C~I!l .PdO _.IJl.e_
Seríamos, numa primeira abordagem, tentados a definir o clima
~-~~~uJtura (~frôgade privilegia<!~ da ~ivilização dos Jazeres, segundo de Broadacre por seu caráter rural. Mas é preciso levar a. análise adiante .
_.E, L.__Wright) e .aos l~e~ s..diversos. Ora o trabalho está situado ao Constata-se então que , embora concedendo um papel maior para o
lado do alojamento (oficinas, laboratórios e escritórios particulares). progresso técnico 82 , o grande arquiteto americano nunca pronuncia
1 ra se integra em pequenos centros especializados : unidades indui· as palavras rendimento e eficácia; Broadacre torna-se assim , pelo que
sabemos, a única proposta urbanística que recusa completamente a
.riais ou comerciais são cada vez mais reduzidas ao maior volume viável.
!imitação 83 . A obsessão do rendimento e da produtividade que se
des~adas a um mínimo de pessoas. ~ntece o mesm_Q_Çom os central
~~unha no modelo progressista não tem curso aí, não mais que as
hospitalare.s.....e_c_ul:111~,__fl:ljo número ' compensa..a-dispersã'o _e a esc~l
st limitações malthusianistas do modelo culturalista. Curiosamente, esse
~eralmente ~ed11Z!l!!._Tod_as essas célulaL (in.dividnais e sociais) e ª'. modelo naturalista constitui uma resposta possível aos votos formu-
~ das e religadas entre SI por uma..abundante-rede-de-rotas-terrestre. lados por. H. Marcuse em Éros et civilisation • Empregando a terrni-
84
t._~reas: o isolamento só tem sentido se J!.Qd_e_ser-rompido a qualquer
Q!QIDe.nto;.::O=a:rquiteto- americano_imiioin ou _ portanto um sist~flll
aC.ên.trw ' · ' • d, 81. "Orgânico" é para Wright uma palavra-chave , onde se exprime o esp í-
s nontuais inseridns_numa ncad 1~u~
""b""· .
·. ~RQruL .d~~ento ~ ..... - - --- """ n _t~ de sua arquitetura. A liberdade do plano, para ele, confu111de-se com a orga-
cucu1 atona B d
t 'd .~ - ~ Lo__ modelo de uma porção-qualquer t eco,,, nic1dade.
ecic10 uni•or-me- qu d - -- -
mai~ · . e-po e .estender-..se.. iu ecobrir todo- o plane ª nh' . 82. O automóvel por exemplo é em Broadacre um instrumento bem
mais indispensável , mas também mais r~cional, que na aglomeração progressista:
~~mu_idad.:_~ _e-~ ~odeio progressista. F. L. Wright propu ~: ºd réseau routier é seu lugar natural onde ele não provoca nenhum problema
P tar antes seu PíOJeto'l!uma ·regiãtr limitada dos Estados U e engazrafamento ou de estacioname~to, onde ele é totalmente eficaz.
P, 83. _No período _do pré-urbanismo , podi:_mos apr~xim_ar dessas t1;ses
de Kropot~me: _ele não so estigmatizava a rcprcssao e a lim1taça~ em benef1C10
uma VIda livre e harmonio sa, que perm1tma a plena reahzaçao do homem,
. 79. Seguindo-se essa 'li _ 111· adas d'. mas também anunciava Wright pela importância qu e dava à ligação natural com
hvro When De1111Jcracy 8 '/dana S:C• todas as nossas citações serao . 111 ,n!• o solo.
modificada, de The Disap::a;~g~i;ago, 1945, que é uma reedição, ligc!Iª 84 . Trad. fr., Paris, Ed . de Minuit, 1963.
80. Um acre equivale a quaze~ta azes e meio.
o URBANISMO
32 O URBANISMO EM QUESTÃO 33
. M cuse pode-se dizer que os instintos (su
nologia e ideologia de d arvida finalmente têm curso ali. Per. os franceses retiveram essencialmente o papel atribuído ao verde. A
-reprimidos) de prazer ~é e observar que uma forma de coação é . cidade-jardim, tal como é descrita por G. Benoit-Lévy em seu livro
Mas _dev~-s~ ~amame:te ainda que seja pela própria natureza dai Cités-jardins 87 , surge dominada pelo princípio do rendimento e da
reintrodUZ1da msidioi tomo~ a forma rígid~ de uma maquete. Ainct~ eficácia. Baniu-se dela a promiscuidade da multidão, a calçada, os
modelo que no cas nível do inconsciente, uma tentativa corn balcões, o café-concerto? em benefício de uma racionalização das
. perguntaremos se, n O • . d . d o funções feitas sob a égide paternalista da indústria. Imaginaríamos
mais, .f fi almente as tendencias a socie ade à aut .
aquela_ ~ão s:!is: :Oa ortodoxia freudiana, não convém assimu~r estar lendo com vinte anos de antecedência Le Corbusier quando
des~rwç~o e _' d rincípio do prazer com a dos instintos de morte Benoit-Lévy declara que "a ordem das satisfações precisa ser modi-
aqw a liberaçao o P · ficada", que "a cidade alegre, a cidade da felicidade seria então aquela
por onde uma produção racional e próspera seria criada", que a cidade
* * * nova "deve ser a cidade da indústria". De fato, as cidades-jardins
,..,;sm a classificação das propostas do urba francesas são a forma antecipada do que se chamou, mais tarde , de
Como no pré•Urb....... 0 • . · "grandes conjuntos".
. tr· odelos reclama por nuanças e reservas. Assun, o urba.
rusmo
. em es m · t L e
b
· ta comporta muitas vanan es. e or usier propôs · Poderemos, enfun, ser tentados a aproximar do modelo natura-
rusmo progressis . . lista certas propostas de B. Fuller ou de Henry Ford 88 ; estas são tão
. mais radical e elaborada destas, que permaneceu 1dentica acêntricas quanto Broadacre e enfatizam igualmente o papel das vias
a imagem L Hilb · ·
e quarenta anos de combate. . eirseuner, muito pró- de circulação. Mas são regidas pelos imperativos da produtividade;
ao 1ongo d - · ... d' •
ximo dele no início, evoluiu para uma concepçao mais Jar_ meua". caracterizam-se por uma estandartização e uma industrialização inte-
alto que foi signatário da Carta de Atenas e membro mfluente grais do habitat; e o alojamento, ao invés de particularizar-se e enrai-
AIvar A ' sempre praticou um urb arusmo · b,em próX1I1_10
' d? de
dos c .I.A.M., zar-se no solo, como para Wright, é concebido por esses dois autores
Wright; se ele preconiza um ha~itat agrupado e uma certa ~issociação como um puro objeto, móvel e transportável.
das funções, não deixa de repudiar qualquer ordem geométrica abstrata No total, e com as nuanças que acabamos de ver, o urbanismo
85
deste, para aderir estreitamente à topografia . .. toma do imaginário um caminho metodológico semelhante ao do
Na visão culturalista, fica igualmente claro que as garden-cmei pré-urbanismo. Ele cria modelos , e o estudo prévio dos que os prece-
apresentam um certo número de pontos comuns ~om os mo?~lo~ deram permitiu-nos esclarecer melhor as implicações ideológicas.
progressistas. Não é por acaso que, para um grande numero de crit1co1 Esses três modelos (progressista, culturalista, naturalista) não
americanos, garden-city e cidade radiosa sejam assimiladas. Ebenezer tiveram as mesmas ressonâncias na prática. O estudo das realizações
86
Howard não deixou de atribuir um lugar importante à higiene • E seu concretas do urbanismo traz à luz, como se pode adivinhar, à grande
esquema de cidade, com os seis bulevares concêntricos e bairros bem superioridade numérica das aglomerações progressistas. O modelo natu-
delinútados, evoca a precisão das ilustrações de Fourier. Entretanto, ralista só pôde exprimir-se muito parcialmente, sobretudo nos Estados
a garden-city de Howard pertence bem ao modelo culturalista pela Unidos, em formas suburbanas. O modelo culturalista continua a inspi-
preeminência atribuída aos valores comunitários e às relações huma· rar a construção de cidades novas na Inglaterra; fora dali, só deu lugar
nas, e pelo malthusianismo urbano resultante. a experiências limitadas ( certas reconstruções e algumas estações
turísticas).
Em compensação, é preciso evitar assimilar ao culturalism~
as cidades-jardins francesas, que são simplesmente, apesar da denonu· Se o modelo progressista se impôs sob os regimes econômicos
e políticos mais diversos, no entanto tomou formas diferentes à mercê
nação, uma subcategoria do modelo progressista. Dos exemplos in~eses,
dos particularismos culturais, mantidos vivazes, conforme a figura
do pai era assumida pelo capitalismo privado, o capitalismo de Estado
ou o Estado produtor, conforme também às forças de oposição que
ele encontrava. Na Rússia stalinista, como na Alemanha nazista, o
85 · Sua~ realizações na Finlândia estão entre as mais humanas que ;:: urbanismo progressista foi amputado em sua dimensão estética e
dado ao urbanismo pr~duz~. Elas servem hoje de exemplo para os arqu1tenlo cortado em sua ligação com a vanguarda. Esta foi , pelo contrário,
~ue i~erem escapar da influencia do modelo progressista. Entretanto, Aaltº d1 exaltada nos Estados Unidos, onde se refugiou a maior parte dos prota-
::~;u(l~~~-i;~~;m;;
'd d · d . . '
colo_~ados pe_la grande cidade. Seus planejarnent;:fll' ~onistas da Bauhaus: o urbanismo progressista tornava-se ali, como
m a es m ustnais cujo ynatsalo,
lim ,
Rovianemi Otaniemi são de pequenas
. ' • Justamente sublinhou G. C. Argan 89 , um meio de propaganda em favor
. t c a_e ma15 de aldeia que de cidade.
86 · Cf. sua' m 1910
ervençao m · d . 0 deimenti
das idéias liberais. Na França, o tradicionalismo do conjunto da sacie-
"Qu,,;s 58-0 as . • . • enc1ona a mais acima no Congress
... ex1gencias fund • ' · ·pa
um espaço suficiente a l
t amenta1s de uma habitação? São prm~1 tífi'ª 1
sistematicamente atr;ir uz _e ar. Demonstramos que é possível, cien 10cJI'
precisos, dispondo segun~s in u~tr~as dos centros sup,erpopulosos paIªonde' 87. Paris, 1904.
O
população pode se; alojad ª maxima eficácia, de água1, luz e força, ~ s peit0 . 88. Cf. HENRY FORD, My life & Work e BUCKMINSTER FULLER,
d~ trabalho e das distraç~:~ ~asas adaptadas, .baratas, cercadas de jar~in i~fantl Nme Chains to the Moon Southern Illinois University Press, 1963.
nao exceda a 31 7 por m·l ' e tal forma que a taxa de mortahda e 89. Cf. J. C. ARGAN , La crisi dei valori, Quadrum 4, 1957 .
, 1 contra 107 por mil em Londres.,,
34
O URBANISMO
- O URBANISMO EM QUESTÃO
35
virUl~ . polêmica do urbanismo e contribuiu Par
dade conservou ~ enc~~ o sentido. a III. UMA CRÍTICA DE SEGUNDO GRAU:
distorcer-lhe freq~entem:: deve induzir em erro: as variações constata.
O URBANISMO EM QUESTÃO
Esse prote1smo n _ dizem respeito à natureza própria d
, a outro nao o
das de um pais :e
ta ões deste90. o modelo progressista ue
modelo, representam ad? , ~nto dos suburbs e o remodelamento
inspira o novo desenv: ~idades dentro do capitalismo americano•
\a A resposta aos problemas urbanos colocados pela sociedade
industrial não termina nem nos modelos do urbanismo nem nas reali-
zações concretas que inspiraram. Esses modelos (nascidos de uma
maior parte das r::ev:lopment de Filadélfia e o Lincoln Center d~ crítica) e essas realizações provocaram uma nova crítica uma crítica
o La Fayette Par il stra ões espetaculares disso91 . O modelo pro. de segundo grau. _O movimento começo_u_ao_longo_doL anos.--1910,
Nov~ York são dua:ra:o n~s países em desenvolvimento: de modo mas foi depois da Segunda Gue_ITl!_MJJ. mliaL que__ele . conhe~u um
gressista é ree~on_ dificação de cidades-manifestos como Brasfüa9l vêrdadeiro vôo, ligado à atividade prática crescente do urbanismo 94 •
exemplard,. prehsi Éu mª ~stema truncado e degenerado93' fruto do mesmo Essa cnhca, ainda teórica, continua difusa. Orienta-se no entanto
ou Chan 1gar · u• e continua a mspuar · · · p arte d os grandes
a maior segundo duas grandes direções, correspondendo à dicot~mia (progres~
modelo,
. que
ti
dirigiu s
como O bem famoso arce11es. Esse é t arnbém sismo-culturalismo) que colocamos em evidência desde a época do
con1untos ranceses, - • d •al
d ·dades novas nascidas da expansao m ustn , como pré-urbanismo.
ocasoeCl '
Bagnols-sur-Cêze. E d ·
Mourenx ou o novo . o caso os recentes proie-
tos de plan-JP.1amento da costa languedociana e de uma parte das me-
d p . . t M. A. TECNOTOPIA
didas tomadas para o replanejament? e ans, CUJO cen ro ame-
-Montparnasse é uma das primeiras realizações.
Vimos que os urbanistas progressistas, mesmo concebendo de ,
modo novo o espaço global da cidade, não souberam assumir em 1
sua plenitude as possibilidades que a técnica lhes oferecia e não reali- '
zaram a revolução tecnológica, que constituía um dos fundamentos
de sua teoria. A própria lógica do urbanismo progressista reclamava,
então, uma crítica dessa relação defeituosa. Há alguns anos, uma
série de técnicos, arquitetos e engenheiros tentou imaginar de modo
90. A conservação de particularismos locais e nacionais por motiv?s radical a cidade do século XX, em função, simultaneamente, das novas
de doutrina que conhecemos, e a manutenção de órgãos tradicionais, como o sis- técnicas de construção, e do estilo de vida ou das necessidades pró-
tema de largas avenidas herdado do planejamento monumental do século XVIII
não devem dissimular o papel importante exercido, na maior parte das novas cida· prias ao homem do século XX.
des industriais soviéticas, pelos princípios progressistas da higiene ( cf. a importân· Do ponto de vista construtivo, a pesquisa recai particularmente
eia atribuída aos espaços verdes e o modo como são organizados), da classifi· em estruturas físicas complexas ( estruturas suspensas ou triangulares,
cação das funções e da padronização. Cf. sobre todos esses problemas: PIERRE superfícies oblíquas auto-sustentadoras) e em materiais que impli-
GEORGE, La ville, capítulo consagrado à cidade soviética, p. 336, "La ville· cam o seu emprego: redes e entrelaçamentos metálicos, membra-
type", e páginas seguintes.
91. Edificado num velho bairro de casebres, o conjunto residenci~
nas elásticas e plásticas, folhas de concreto. À geometria elementar
La Faye!te (terminado em 1960) deveu-se à colaboração de L. Hilberseimer e sucede uma dinâmica mais complexa. As técnicas de condicionamento
de L. Mies V8:'1 der Rohe, que estabeleceu os dois protótipos de imóveis: torres climático também exercem um grande papel na elaboração dos novos
e casu de do?S andares. O Lincoln Center (ainda inacabado) compreende dois projetos.
teatros, uma opera, uma sala de concerto uma biblioteca-museu e uma esco!J As funções novas da cidade são, confonne à tradição do urba-
d~ arte dramátiC3:. ~esde que foi termin:uio o Metropolitan Opera House, 0 nismo progressista, definidas por uma série de necessidades calculáveis.
Lzn~oln C!nter foi violentamente criticado. A objeção principal é que ele separa
mu1!0 radical, e artificialmente, a vida dos espetáculos do resto das atividades Dois · aspectos são essencialmente destacados: problemas colocados
,Jiac1d,~ . pelo aumento da população do globo e desenvolvimento de uma série
i uro 1;J _Bras_ília, concebida por L. Costa e O. Niemeyer, oferece um exemplo de necessidades específicas resultantes do "progresso técnico", quer
~onstitui :1ssoetação das funções urbanas. O centro administrativo da cidad~ dizer, da automação, da mecanização do trabalho e dos transportes,
1 miu-se livre!::e ~~ ~r~\
0nde O sentimento poético de O. Niemey:r ex~ e das mudanças de ritmo resultantes na existência cotidiana. _
3
; o reinado absoluto d: e. o~s barroc~ para os diversos edifícios na<: andoS Essa polarização tecnologist~ engend~a proposas surpreend:ntes \
! volumes e na organização ~r:icipios da estehca progressista, na dispos)çao sse! que, se fossem realizadas, marcanam efetivamente uma mutaçao na
_\ trabalhadoras, são em co suas re~ções~. As superquadras, destinadas as ela 501
~njuntos habitaci~nais. mpensaçao, ngorosamente comparáveis aos nos
93. Ele é praticado í · fllº
geom~trico, mas geralmente
reduzida, o plano da faculdade
r~:~:
progress!sta, nem mesmo c~or ep gonos que perderam o espírito do urban 15 i
nd0 ~m~re seu sentido literal: o espaÇcala
o,.!' ~ves de fragmentado. Cf., numa es nte
0 94. Com efeito, a crítica de segundo grau desenvolve~-se paralelame~te
e ?roporcionalmente à importância das realizações do urbanismo. Ela tambem
representativo. de Ciencias de Halle aux vins, particu1arrne foi muito mais precoce nos Estados Unidos e na Inglaterra que na França.
o URBANISMO
O URBANISMO EM QUESTÃO 37
36
·dades verticais de P. Maymont ergue 111
- h a As cz te o solo, suspensas em um mastro centra]
localizaçao uman .
·se face . às_preocupa~~~-u~í.Y:ic.as, .. de.. que .se.. pode_p.ensa.r...que- elas-•e0nsti-
no céu liberando totalmen analizações) por cabos supostos9s -tu~mrno_~n tanto,,2~3._()YJF!Jªc.e d9 ur!,,ani~l!li>_•
' todas as c • ·A -- Mas qüãr'é a significação real desse urbanismo, tão mais justa-
or onde passam . "bb é composta de gigantescos fusos pres
idade-ponte, de J. Fitztafgi ºº'mediana solo artificial, lugar da circos rnente aproximado da ficação científica que não recebeu - no que
ia orma , . ~ u. diz respeito a suas formas radicais - nenhum começo de atualização? 99
or cabos a uma P. destre descansará das circu1açoes vertica·
· tal onde o pe . is Na medida em que se trata de encontrar soluções para problemas
ação honzon , poderá contemplar a terra. A localizaça·
al inamente e 1e o precisos, ele constitui incon~estavelmente um terreno de pesquisas
e de ond:• P F .' dman96 compõe-se de uma ossatura uniforrn pleno de interesse e um me10 de luta contra hábitos mentais passa-
tridimensional de Y. ne ma grade tridimensional de múltiplos anctae
, semelhante a u . · distas que oferecem, no campo da construção, uma resistência muito
e continua, tros acima do solo num sistema de estacaria particular. Por exemplo, o urbanisrno subterrâneo apresenta soluções
15
res, repousando a 60 meetros)· a ossatura indefinidamente prolongável notáveis para o planejamento urbano 100 . Explorado numa escala redu-
(distantes de al40 a t· m de terreno · ·
incluindo-se c1·da d es J·á existentes
· '
zida por I. M. Pei para a Praça Ville-Marie de Montréal, inspirou ampla-
· a de qu quer 1po , . . ~ ,
acim hida or elementos-padrões modulado~, cuJa ~serçao é móvel mente o projeto Buchanan para a circulação londrina. E empregado
é preenc P ua,,·na City 97 do japones K . Kikutake, coloca de modo ainda mais sistemático no projeto de V. Gruen para Welfare
totalmente suave. i•11 ' h • ,
ao contrano as
, . d plataformas de concreto sobre o mar, o ab1tat como Jsland ou no de P. Maymont para uma "Paris sob o Sena" 101 .
Mas essa contribuição técnica não deixa de incluir perigos ideo-
- o único a emergir. ~ d ·d
'amos prolongar bem a enumeraçao essas, c1 - ades futu. lógicos: se os urbanistas "visionários" têm o mérito de sustentar uma
Poden 1
. d uais é suficiente anotar algumas caractens 1cas comuns: relação realista e concreta com a tecnologia, sua atitude termina a
stas, as q . f Jib d
od.ªs. propõem-eefteentrações.hu1JU3.I}~ mmt.o artes, .era.ru o a suger- maior parte das vezes em tecnolatria. São assim levados a propor dois
ície !~r.r~~9"..!:.l?.~~~..Y..~l¼bsol-0.,.n.o~a_aJp1_0_~ ~..fo m_o11vo tipos de localização humana que representam duas negações da cidade.
õr que se Jala'"a.pr.QpqsJ.tQ....delas-;--de-urbams~a_espa.cza.L@__tnd1me~- N.um...c.&.s_o..,_a~_hamo~ro_s__dj ante de um lugar indiferf!nc_iado e.i,nde-
siorÜzLÉssa •~.espacialização',?- tem por ..correlativo. uma.desnaturahzaçao.. finido, um receptáculo qµ,alqÜer- ( que . Õ- exemplo de Y. Friedman
çi;·s: ~oonclições d~~~1ü s~{IJEíâ, as quais se estendem na maior parte dai ilustra). N~ outro caso, a p_rç_c_is_ã o !écnica leva ao contrário, por uma
vezes por solos · artificiais e em meio climatizado. Notaremos, final- atitude màís -radical,_ a substituir-- os modelos ainda abstratos e um
mente, o papel atribuído à imagem visual, à aparência plástica dessas tantQ_)(lyes 'êfo . urbanismo .. progressista por verdadeiros protótipos. A
cidades. cidad~ __ :t.Qm_a-se um b~lQ....objeto-técnieo,-, inteiramente detenninado e
É sob este último aspecto que, há alguns anos, elas se introdu- &neeJia.da•• Ela se transforma até, às vezes, em belo objeto estético:
ziram, com um sucesso crescente, na grande imprensa e na literatura eventualidade sedutora e grandiosa que podemos imaginar que abre
de vulgarização científica. A exposição "A arquitetura visionária", para a arte plástica um horizonte novo e dimensões prometéicas. Mas
organizada em 1960 no Museu de Arte Moderna de Nova York, que a cidade não se torna menos objeto desta, segundo um processo que
compreendia um certo número de exemplos de "urbanismo visionário" atinge já em nossos dias certos edifícios. Nada é, a esse respeito, mais
foi o sinal precursor do interesse que o público ia adquirir pela "cidade significativo que ver nos Estados Unidos imóveis receber prênúos de
do futuro". Hoje, o leitor não especializado chego1J a assimilar com· good design industrial 102 , na mesma qualidade de um ferro de passar
pletamente o termo urbanismo a essas imagens futuristas, às quais roupa, um barbeador ou um automóvel.
seus próprios autores dão o nome de "urbanismo de ficção cientí·
fi "98 N .
ic~ · ª ~er~ade,..._as---lllaquete.s_e__Pt.Oj.etos- publicadQs_ !}_Os jornais de l'Architecture d'aujourd'hui, consagrado às Architectures fantastiques e a
~~t~em P~~!palmente, no leitor, uma necessidade_ de sonho,.d~ que r~metemos o leitor para uma apreensão rápida e sugestiva do assunto. Cf.
rru.s.teJio~~~~ ~s de__e~sia; oferecém:lhe ~uin- ;;eio de evadir-sejs ta~bem o Avenir des villes, na coleção "Construir o mundo", dirigida por A.
~!ª··ç_~~~.~!\!~~-habTtãr:ij.usLVÍmipemüiiientefr~traçiÕ. Melhor, Pannaud, Paris, Laffont, 1964.
...... as.~ u ~ a m - n o,.quan.t.Q...a.9Juturo: dÍante de. tanta técnica 99. O deplorado P. Herbé tinha, no entanto, pedido para Y. Friedmann
e·-1e- se····sente ··n· Q, .Just1ficado.
:--·- .- ·- ···- em-·· sua.. denussa
. -Q estudar de modo concreto o recobrimento de Úma parte de um setor parisiense
.. ---- - subrrus•Q· · t ran.9.µ1zad_
---·--- ,,__, ___ por sua rede "espacial".
, 100. As possibilidades do urbanismo subterrâneo já tinham sido postas
ª lu~ em !910, no Primeiro Congresso Internacional de Urbanismo, pelo francês
95. A cidade vertical d p M h bi· Eugene Henard, que propunha soluções válidas ainda hoje.
tantes. A solução construtiv : · ay11_1ont foi prevista para 15 a 20 000 ª 1
tipo, inspirada por pe uisa~ ~ otada foi, ~orno a de vários outros projetos de ~.
5 . 101. Não se cogita morar debaixo da terra permanentemente, mas
veis habitacionais. sq evadas ª efeito por Buckminster Fuller sobre 1111 de c~cular por ali, instalar ali certas atividades intermitentes e estabelecer ali
st
e ac1onamentos ou depósitos que ocupem ao ar livre superfícies vitais.
96. Projetos comparávei f . o. 102. Essa expresssão designa a qualidade estética dos produtos industriais
Hansen, E. Albert. s oram propostos por E. Schultze-FiehtZ,
97 · Projeto fortemente ins · enquanto protótipos padronizáveis e industrializáveis. (Para os edifícios, cf. por
nt exe_mplo O· quadro de honra do Jron and Steel Institute .) Essa assimilação pura
. 98. Cf. o artigo de E S pu-ado na Cidade flutuante de P. Mayrno :
e sunples dos edifícios aos outros objetos da civilização maquinista remonta a
flon de /'espace, que tem um· d CHUL_TZE-FIELITZ, Une théorie pour ['occtiPªe
~ropius e Le Corbusier. :É o sentido próprio da famosa fórmula corbusieriana da
fiction réaJisable de J'urbanism ~s faragr~os intitulado "La cité spatiale, scie~;\ maquina de morar".
e · sse artigo apareceu no n9 102 (jun.-jul., 19 '
o URBANISMO O URBANISM O E M QUESTÃO
39
38
_ do habitante com o habitácul
tradicionalmente a re~ça~ só uma relação de utensilidad ; a{Winiana de evolução e pela imagem do organismo vivo , na dupl a
d lação de suas funções entre si e com o conjunto do meio.
arti~~en te sua rnorad~~ ~o também "o traço fundamental da
corre Diante do desenvolvimento desequilibrado das grandes cidades
(p 'd r lernbrou-nos: hab1_ é a ocupação pela qual o homem tem
He1 ~~~ hurnana" io3. O hab~tar coisas em tomo de si, enraizando -se . dustriais, diante do caráter utópico e apriorístic o das propostas
111
cond1ça ser deixando surgir asb ervações para o caso da vida. Ela· fiO rmistas do pré-urban ismo, uns dez anos antes de o urbanismo pro-
acesso ao , essas o s d - p re ·sta ter começado a conceber e a realizar suas cidades teóricas
Po de rnos transpor
• . 0 terreno de uma fun .
açao. ortanto tor gress~m homem teórico, Geddes afirma a necessidade absoluta de
bém é, por essenc1a, .. ...,fouina, a cidade so fre em relação
' ·
p~r tegrar O homem concreto e completo no moviment o de plani-
tam . 1.. ,...,ento-o~ •-, · - 1- d' al
nantle-se-obje.t o, m.s. L~~· transformaçao ao ra 1c que senã firelll ão urbana. Assrm . sao
- rem. t egra d os o espaço
• :.SUa-signifiicação_onginaL urn!l. ·nova designação. É o movi to pelo e o tempo concre t os .
a- ;cai Geddes, um projeto de criação urbana (remodela mento de bairros
.precise- encontrar- par.:a- ela-_ urna_ tecnotopia e nao - . 1·
tecnopo zs : o lugar, .;! xistentes ou criação ex nihilo ) só pode escapar à abstração se fo r
·
qual ~n- ·tu1amos essa$ cçao
---- ---· .
·Illas não a cidade, da tégucª, ~reecedido por UJI\~ vasta pesquisa sobre o conjunto complexo de
fatores que põe em Jogo.
A UM PLANEJAM ENTO HUMANIS TA t O momento em que o geógrafo deve colaborar com o higienista e os
B. ANTRÓPOLIS: COM VISTAS dois com O sociólogo do concreto' º'.
• t suscitou uma crítica radical que visa Tal é o método dos sociological survey s, que também faz apelo
O urb~SJ?º progrt: : rincípios quanto seu desprezo pelas
à economia , à demografi a e à estética, evitando privilegiar qualquer
tanto a arbitranedade d ,
1 ~e execução. Ela pretende reintegrar setor do real. Pois, segundo Geddes,
realidades concretas, em mv:ntexto global, partindo das informações
0 problema urbano em seu ~ . os urbanistas estão acostumado s a pensar o urbanismo em termos de
t pologia descntiva.
dadas pe1a an _r~ ode ser qualificada de humanista , desenvol- régua e compasso , como uma matéria que deve . ser elaborada só_ pelos enge-
Essa cntica, que P • nheiros e arquitetos, para os conselhos municipais. Mas o verdadeuo plano ...
dO meio · especializado dos urbarustas e d os cons t rotores. é a resultante e a flor de toda a civilização de uma comunidad e e de uma época 106 •
veu-se fora ·'1
~
.c.oresuta d
1 o dora t balho de um conJ'unto de soc10 ogos, hi st ona
·d
ores,
econonus · t as, JU · tas , psicólogos pertencen tes sobretu d o aos pa1se1
· ns . .A_fzistória exerce etn Geddes um papel capital . Seu ser:itido agudo'
• els> presenteT eillpor- c6~ el~fyo urii'séntid Õ não menOs agudo do pas- '.
anglo-saxões.
1os so b os quais· f01·
. • sado_ Seu vitalismo ã esdobra-se num evolucion ismo. Se a criação de
Seu caráter empírito e a vanedade dos angu
empreendida deixam supor sua co?1plexi~ad~. Acr~ditamos, poré~, aglomerações novas supõe o conhecim ento de cada um dos set ores
poder destacar nela, entre outras, tres tendenc1as part1cu_larmente s1gru- da realidade presente , esses setores, por sua vez, só são inteligíveis à
ficativas, que correspondem a três abordagens metodológ icas. luz do passado, de cujos traços são portadore s. Sob forma de história
das idéias, das instituiçõ es, das artes, a integração do passado no projeto
urbanístic o é, pois, indispensável. Todavia não se deve confundir a
l . ~ . localizaçff_g_hwr14IJil_ CQ.f!J5!_ enctm.a..mJ!JJtQ __espaço-temporal: 111~ posição de Geddes com a dos urbanistas culturalistas. É verdade que .
ur_b_
w,is.rJW..da.ront-inuidade. Geddes valoriza como eles o passado, que ele considera um pat ri-
mônio, o lugar inclusive em que o presente se alimenta e mergulha _
A mais antiga dessas tendências procura definir o contexto con· suas raízes; mas não deixa de reconhece r a irredutível originalidade
ereto da localização humana com a ajuda do maior número possível da situação presente, sua especificidade : hoje é um desenvolvimento .
de setores da realidade; esses setores mesmos são encarados em sua e uma transform ação do passado , não sua repetição. Em resumo , ao
dim~nsão lústórica, ligados entre si por uma temporali dade concreta invés do tempo espacializ ado e abstrato dos culturalistas, encontram os-
e cnadora, que seu papel aparenta com a duração bergsonia na. aqui uma temporali dade concreta e criadora.
O promotor desse movimento foi o escocês Patrick Geddes 104 · Por definição, esta escapa à previsão. Assim , quando o to wn-
Biólogo de ~armação, dedicou-se depois à história, à sociologia e
estudo das cidades. Mas seu pensamento devia ser marcado pela ideia
~-º ·planner1º1 tiver reunido toda a informaçã o prévia requerida , as carac-
terísticas da aglomeraç ão a ser criada não serão impostas a ele do
mesmo modo. Ele só vai descobri-las num esforço de intuição , de "sim-
103 patia ativa para com a vida essencial e caracterís tica do local em ques-
p. 192. · M. HEIDEGGER, Essais et conférences, Paris, Gallimard , 1958' tão" 108 , o que equivale precisame nte a uma percepção da temporali -
104. Somos obrigados a . . ente,
uma figura cuja importância ara ev~c~ _aqui, . P?_r demais esquem_auc 105. Cities in Evolution , Edimburgo , 1915 , p. 44 .
arn ari 106. Loc. cit., p. 211.
o urbanismo foi considerávil ª ~1st0na das 1de1as a respeito da c1dade_e P01 .
107. Essa palavra inglesa servirá às vezes para designar aquele que planeJa
França. Limitamo-nos a resun{· e CUJO nome no entanto é pou co conhecido dei
insistir nem sobre a crítica d Ir muito P?r alto o método de Geddes, sem Pt ·a1 n?vas aglomeraçõ es segundo princípios dife rentes dos do urbanismo proriament e
dito.
construtivas que lhe eram a _grande cidade industrial nem sobre certas I e1
as mais caras. ' 108. Loc. cit., cap. 19, intitulado "The Splrit o f Cities".
O URBANISMO O U RB AN ISMO EM Q UE ST,\ O -li
40

dade concreta. Tal movimen~o me~odológico suprime a recorrênc muito maior que no urbanjsmo culturaJ ista ; tamb ~m substi1ue111 o
u
uma cidade-tipo do futuro , mas tantas c1·ct ad,-
ao mo d elo . Na-o existe 1
meio amorfo constitu íd o pelos espaços ve rdes na cid:i de progressisra ;
quantos casos particulares. . . · são estruturados, ligados de modo significativo e não .::asuaJ :\s co ns-
0 pensamento de P. Geddes foi am~li~do e consi~eravelmen-, trUções e ao h abitat. Em resumo, Mumford deseja uma cid ade ao
desenvolvido pelo mais ilustre dos se~s ~1scipulos,_ Le WJs Mumfo/ mesmo tempo m ais urbana e mais rural que :is proposus pel os model os
Este é o exato contemporâneo dos pruneuos urb~stas progressis1~ progressistas. . .
..
Pôde assistir à realização integral da obra deles.. dRico de in fonna Ç0t1 Essa abordagem esquemática mostra a con tribuiç:Io nova de
colhidas pelo mundo e de uma cui tura de hi stona ore de sociólogoi :1 todos esses t rabalhos q ue situam o planejamento mb:1n C? so b o sign o
é um crítico impiedoso. · da continuidade histó rica . social . psicológica. geográfica. E. a pru1c1pi o,
- Assim , L. Mumford ilustrou longamente o papel mut ilador, a ruptura com uma forma de pensamento , o método aprior1s1ico dos
alienante do que chamamos urbanismo progressista . Pôs em evidênc; modelos, no qual a realidade concreta é. segund o as tendénci:is. redu-
os diversos aspectos tomados ali pela tecn_o latria ; cite mos em par~'. zida seja a seu asp ecto tecnológico, seja :i t radição cultural. Não s:ibe-
cular : a ruptura das continuidades uit~rai_s, a desn aturalização d:. ríamos sub linh ar o bastante a impo rt::incia quase revo lucioniria de
7 pensado res como P. Geddes ou L. Mumford. graças aos q uais a com-
·/ zon~s rurais, o servilism~ _do homem a ~aquma atr~vés d_: planos ,e.:_
j c_eb1dos para um uso maxuno do aut?movel. Sua criti ca nao é Lnspira/, plexid ade d os pro blemas colocad os em jogo pela criação e: desen vo lvi-
pelo passadismo, baseia-se num sóhdo conhecimento d a econ omü: mento das novas aglo merações impôs-se à consciência co ntempo ri nea .
da tecnologia contemporâneas. Ele defende o citadin o contra o c:ur Sua influência con tri buiu muito, nos países anglo-saxõe s e so bre tud o
cm nome de um c_onceito de circulação próximo do de Wright e inspi nos Es tad os Unjdos, para a constituição de um imenso L·orpu s de
12
rado pelos últimos progressos do gênio civil ; à rigidez do habitat corbu informação soc iológica relativa à cidade: os urban studies' . Na Franç a.
esses es tudos estão ainda no começo. menos nos setores privil<!giados
sieriano, opõe a suavidade , a alterabilidade e a fle xibi lidade das soL
da geografia h umana e da demografia 113 • o nde os trabalhos franc eses
ções que hoje tomam possíveis as técnicas da construção .
são de auto ridade e já provocavam em seu tem po a ad.miraç:io de
~ Na procura de fórmulas novas . L. Mumford constantemen:1
Geddes.
recone às . lições da história . A cidade bem circunscrita da épo,1
Na prática, o mé todo das sociological surveys, de po is M j:i ter
pré-mdustnal pareceP-lhe uma forma melhor adaptada que a meg:i::•
sido u tilizad o d uran te as primeiras experiencias das cidades-j:udins
polis a um harmonioso desenvolvimento das aptidões individu:ii;,
coleti~as. O esfo_rço deveria, segundo L. Mumford , recair hoje nurr.:
espécie de _PlaneJamento, de adaptação ao presente daquela unida:,
de_VJda social que era a cidade pré-industrial e que , t radicionalmer.:, 1 12. Esses "es tudos urbanos" desenvolveram -se prin ci pa.lmenle no m,: 10
un iversitário e para-univ ersitário , e sp e cialment e a partir d o, r in co úl tim o s anos.
foi O _lugar da cultura. Conseqüentemente , ele preconizou um pc:.
Ded icaram ~m lugar considerá vel às abordagen s econôm ic:1s e adm1 n1 stra t1vas .
nucleismo urbano , com seu correlativo o regionalismo. Afirmand, como tai:n_b c m à sociologia das cla sse s e do trabalho. Consagn.ram :1 tl ,- 1,n,fo
q~ e _' 'o regionalismo pertence ao futuro'" 110 , adiantou-se a uma t,r. e nt.re phzszcal e social p lanning . Para maiore s in fo rmações, rt· m,: tc·mo, :1 0 n0 J ,:
dc nci~ da geografia . econômica atual . Da mesma forma , a his tória J, fevere uo de 1963 ( tomo 6 . nQ 6) da re vista The ,.J m erican Beha,·ioral S cicnrisr
plan~amento das cidades medievais 111 inspirou ampl amente sua i:c:· int_itulado Urban S tudies . En co ntrarem os al i. entre o uuas. uma hst:1 d o , p nm·,:
pa.1s ce nt.r o s de es tud o s. O s autores do artigo Cc ntcrs fo r Ur ban Scu di,·s : a Rcv iew
~c pçao d_: u~a integração da natureza no meio urbano. Para ele . :, c itam 25, e ntr e os quais :
1ardms nao sao levados a penas a exercer, por sua ex tensão , um p3f•· ,
- J o int Cc ntcr For Urban Studies. do M .l. T .
- T he Cc ntc r for Melropoli tan Studi,:s, ti a No rt h we stt·rn UnJ\'t•r,i ty J,·
Chicago .
- T hc ln st itutc of Urban Studi cs. tia Un,ve r,idatl c da Pe nsli v.i n1;i .
109. Alrrn das oc upa õ d . . - Bwcau of Urban rcsearch , da Universidade tl c Prim:et o n.
o ni 11r o de arqu ite tura e dç esb e _profe sso r e esc ritor , L. Mum ford é hJ it -_' - lnst itutc of Go vc rnmc nt al Stu d ie, . da Univt·rsidJtl ,· Ja l';il úú rn ,., ,·11:
e ur. an1smo ·
d a rev ista E ··· · Berke ley.
,l.1Je JOrnal1 stka favo rec ··u · The New- Yorker. ssa 1·:'
no l" •lllpo tlu a1uJJidade. e mau ª ex te nsão e a pre cisão de su as inform3í'' 1 13. Cf. e m part icular. e ntre as ob ra, rcl:lt1vamentc n:cc nt c , :
11 O. Tí,e Cu /Jur e of Ci1 íes . . . . '. b· . A) _ D E GEOGR/\Fli\ : R . IJLAN CHARD . Um· m ~thoJ<" ,k l(~ographic
n,·ro, 1J • J r pa r.i a ,T o n om · ' p. 306 - So bre o movun ento regionalista ,o .. u! ~lnc, Ln La vie urbaine , 1922. ;\! , SOKIU. , L,, ,o ndit,o n, gúol(rnphiqun
. J ld moderna cf • , . d .,1: ·
pu 11' 1," m r rn le Mo nde po ft L : · p ar tic u larm e nt e a sene e "'.' ·. 1 ~~~et ale s du déve~opp..: rnc ~ t url,a111 . llulle 1i11 d e la S ocié té de g.Sugra phi,: d.: Lillc ,
1"l uropc..ces n'~ •o ns , ~,d.. r · avc nir . sob o titul o De l'E urnpe des ~tJ: C A RT - P. LAVEDAN , C, eog,aphie d es villes. PJ ris . (;aJlimanl. 19.1 6 . J. TKt •
· ,,.. . • • e agosto de 1964 )
11 11 Orpo ,; de Gcdde, \t · l · Co n tr ibut io n à l'é tu d c de: , stru,·turn ur b;unt:, , R evu e d .: géugraphle d e
1 is,fo J o n pJ,·o urbJno d l d . . · umfo rd co ntri buiu para dar-n os urni ,,r.;,.,.. ~oJ X X V. Lyo n . 195 0. I'. G EORGt. La d llc. le fai 1 urhai11 à tra va i- le
11 • (,, rmJ Jc p rJ1n1 pu' bi .
• ade \f ·d El II
M. SO KKI . l.-s fo 11d eme11ts h:c/rrriqu cs de la
· e ta . e mos trou q u..: os esp aço , ·, ,.,· gé e, ~a ns, P.U.1-'., 19 52 .
·
n tcn,..« J '" ª'' r o n11d erj ,, ·I

1 1 e pr1vad
º'• ,
~p rese n tavam na c ida de mcd1c, 3I •
·.
u,~~aph re h u maine , P:,ri, . ,\ . Co lin . 195 2. I' . G t-:O RG E. Précis d t' géographle
,u núrb,v , ru rn j n t1co ,
.J, ld '1 • \ f ' J .
·-e; q_u_c e ~ qua lqu e r ou u o mod e lo urba no ant <i;.
rn cx ceçao dt: atin, .1J,··
Krapª~~e . Pam , 1961. - J . ll l· A UJ l·. U-CAKN !l: R " G . Cf lAUOr . Traité d e C,'éu-
ze urba/11 1:, l•~.m . . \ . Culin, l 'Jó3 .
' e · t ,. .nJo era , unpl.cimc rllc no e e wm ce n t ro ~ co nges lionad o, . .a ' ..,
',fu ! J p o " , L oc. c1t , P ~J li) DI: l.>1-. ~l üC K.-\ l· l.-\ o, tr abalho , dt· 1' . C'h o nib :tr t de L.auwc e tl c
. rn ,, r t• rn l:.- m rcJb1i11 o u a 1i · . ampo , ma, do ca m
\\la cq u I pc.
~ ri r Ll r 1n , 11tu1,,'\n púbii t J , b htg 1c ne medieva l mos u ando a a t ivi dade J~ '
. •n O\, ho1p11 a1t, e tc.
o URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO
42 43
. ró rio Geddes no quadro de certos Principa
inglesas, depois pelo P ~r-se aos urbarústas de qualquer tendên dos urbano para º. qu:11_ Mumf?r~ vai_ voltar freqüentemente os olhos, pois,
indianos, começ~ ª :'p gurança elementar contra os perigos ~ª·
1 diZ ele, "o p~c1p10 ~e lirnitaçao ~o?tinua imperativo" e as "limita-
Constitui um tipo e se os õeS de gabanto, densidade , superf1c1e, são absolutamente necessárias
-
Çara as relaçoes • "116 .
• • reais
sociais
modelos. • ·a ao conJ·unto das ciências ( da topo! .
Mas, se a recorrenci . . o~a P o ponto de. vista da con~inuida~e introduziu uma mutação na
. lóaica e psiqmátnca) tende a tornar-se a cond'1,
· , análise socio o- . eflexão sobre a cidade da era mdustnal. Transformou de modo irre-
algéb nca_ a al proposta de planeJamento, esta soma de inf
ã prévia de qu quer 1 - or. :ersível o mét~do do planejam~nto urban?, mas continua ligado a uma
ÇO fi . te para fundamentar uma so uçao : os dados d ideologia próxuna do culturalis~o - _cuJas soluções ele ordenou em
õ s não é su ic1en . /a . a
maç e s uisa oderão inspirar a dois town-p nners_ dois projetos função de um contato global e mais realista com a atualidade.
mesma ~ q t pinteiramente diversos. Podemos entao argumentar
°
de plane.1amen to de p Geddes uma intuição profunda da situação
, 1 -
que ' no pensamen
d
. ' d d
onduzir com certeza a so uçao a equa a. Tal cidade 2 :..Jl,_ pont(} de vista da higiene mental: defesa e ilustração do asfalto
concreta eve e . , 1
de amanhã é hoje totalmente imprevmve , mas ~ma _vez realizada Um__a _oJJt@_~ ndência da crítica humanista estuda a aglomeração
. cer necessária pois é elo de uma evoluçao cnadora. Mas 0 u ~ p e nto-de-vista- de suas ressonâncias sobre o comportamento
vai-nos pare ' "d 8 114
uso dessam tuição tão próxima da defiru
• . a _por .ergson e a recor. human.Q..J )_Ç,,onceito .central é aqui o de higiene mental.
• · m movun·ento criador desse tipo nao se mserem numa ideo- - -- Compreenderemos a orientação desse movimento reportando-nos
renc1a a u . ?
logia e num sistema de valores previ~tos. . , . . . a certas pesquisas da psicologia social, e em particular aos trabalhos
Com efeito O método da intuição geddes1ana e solzdáno com uma sobre a psicologia do bebê , publicados logo depois da guerra de 1940.
concepção do te'mpo e da hist?ria como ~rfr:ção perman~nte e conti- Autores como J . Bowlby e Anna Freud mostravam que a higiene'
nuidade. Constitui assim a antitese da pos1çao dos urbamstas progre; mental não coirlcide com a higiene física, sendo freqüentemente
sistas, para quem a modernidade coloca em jogo um pro~sso de ru~ a condição desta, quando o inverso é falso; para o desenvolvimento
tura e de descontinuidade. Mais ainda, apesar do valor e Interesse qui harmonioso da personalidade e da sociabilidade , um certo clima
atribuem à atualidade, P. Geddes e L. Mumford opõem-se essenci~- afetivo é o único fator insubstitu ível. Paradoxalmente , um lar mise -
mente à ideologia dos urbanistas progressistas, e aproximam-se do; rável, desunido, alcoólico ou delinqüente pode revelar-se um meio
urbanistas culturalistas. Como estes, com efeito, colocam no pri• mais favorável para o futuro da criança que o meio racionalmente
meiro plano de seus objetivos a manutenção de uma tradição cultur~ elaborado e teoricamente satisfatório da instituição especializada 11 7.
(não é por acaso que uma das obras mais importantes de L. Mumfor: Analogamente , pareceu__ 4!:!e a integração do comportamento
intitula-se The Culture of Cities) . Geddes, como Mumford , detesta:: human_o ao meio urbano estava ~s~eDêfalmen te ligada à presença de
o que chamam de megalópolis, a grande cidade moderna onde "só ~ l!_m certo clima exzstenczal, que os urbarústas progressistas ainda não
vive por procuração". E quando, em 1914, Geddes profet iza ju;t,· tinhain. conslderado; um planejamento higiênico e uma distribuição
mente, mas com temor, os tempos da urbarúficação generalização ondi. racional do espaço urbano são em si incapazes de assegurar aos habi-
por ~xemplo, '.'numa . geração, a Riviera será uma cidade praticamcr.:' tantes o sentimento de segurança ou de liberdade, a riqueza na escolha
conh~~a, do tlR?1:na1s monótono,_que se estenderá por várias c~nl_cn~ das atividades, a impressão de vida e o elemento de distração neces-
de quilometros , é para precoruzar, por reação, um malthus1arusr... sários à saúde mental e sua repercussão na saúde física .
~ irlsalubre ~ _ revelar-se mais salubre que o bairro
r~ modelado pelos urbarústas de conformidade com os princípios da
..higiene; as estatísticas psiquiátricas e jurídicas sobre o desenvolvimento
das doenças mentais, do alcoolismo , da delinqüência, da crinúnalidade
114. Geddes foi o p · · d. ,. dão grande testemunho disso. Um caso revelador, entre outros, é o
aos problemas urb~nos N ~merro autor a ~itar Bergson numa obra de ic::;,
história, uma posição ~ró:. ra_n~, Marcel Poete teve, a respeito do te mpo'.: do bairro norte de Boston, nos Estados Unidos. Este North End era
nista" (lntroduction à l'urb~:~ O P~ssado é a escola por _excelência do.. ~ri~
ser sempre vivo que temos de es~• Paris, 1929, p. 95); ou amda : a cidade .' -::
grau de evolução" (ibid ) dar no passado, de modo a poder d1 scernll :. . , ; 16. Loc. cit. p . 407 e 438. Este ponto de vista conti nua se ndo um dos
3
nenhuma influência re~Í ~- · M~ 0 grande historiador de Paris não ex'.r:'.;
Pnnc 1~ 1 e base do planejamento urbano na Grã-Bretanha. . _
Seu artigo sobre '"Les idées ~ urba~mo. Ele ficou fora da ~tualidade pr~t!;: . (Í l . Esses trabalhos foram empreendido s logo em seguida as evacuaçoes
le1co , 1935) deixa O le"t r~omennes et l'urbanisme" (in Mé/anues Pau/ _\ ei-.
F I orna expect . o • · --:. :a~iç _ í:le crianças inglesas das cidades bombard_eadas _durante a guerra. V_erYi·
na r~ça que tentou explicitam atJ~a. Com efeito, Gaston Bardet e O u.-t ar se-a que na maior parte do s casos as restnçoes alimentares e as co nd1 ç0 es
ber~~msmo; ele foi também pr ·rente integrar em seus trabalhos o legado ;. de '
n vi'd a precárias '
causadas pelos bombardeamentos traziam ·
· , para as cnança s
P?s1çao contra as_teorias reifian:e:c~ente o Úni~o, desde os anos 19 ~0, a 1 0~;: _ovas, menores conseqüências que a privação do meio famili~l ou afet i~o :m que
manas) a preconizar um contat e Le Corbus1er e (conforme às ideias be~-.. , t1;111ª?1 sido criadas. As estatísticas sobre as condiçõ_es de vida de delinquentei '.
rda
pennanente" (Probleme, d 'urban~ ve deiro com o real "um estado de ' •:
1
~ st1tutas e inadaptados diver sos, durante os pnmeuos anos de vida, corrob
º
concre~ºi5's Mas as !déias de G.
· Loc. ctt., p. 47.
~';;;tari.s, ~uno~, 194Í) diante dos ~rob
também nao tiveram repercu ssa 0 pr
1
;2; ~ esses resultados. Cf. J . BOWLBY , Maternal Care & Mental Health , O.M.S.,
sene monogr. 2, 1951 .
o URBANISMO
44 O URBANISMO EM QUESTÃO 45
. d municipais e pelos urbanistas um bair r i), C,f'\+. e<- Q_Q f'r-~ veY,:, L '~,'
considerado pelas autond ª ~~ de devido à sua grande densidade suro cação_d_0S.Jl.li.P~9_9-S verde!•--~~p}essã9. . da rua) foram .também objeto de
insalubre,. que desonrav: ª ci( ~~anhado de todas as funções urb~asas) wn.a...análise profunda âo. ponto de vista de suas repercussões sob_r~. o
ruas estreitas, sua desor em, e mai·s baixa mortalidade infantil · ,.coJllportame.nto, hu.mano.
é l que oferece a . e
~o . entanto, . e -~- . menos elevado de toda a c~dade. Além disso0 A indiferenciação e a homogeneidade asseguradas pela estandarif-1
mdice de delinq~~nc1ad E tados Unidos no que diz respeito à deU, zação e pelo zoning surgiram como fatores de monotonia, tédio, e, por 1

detém a taxa m1mmula os Tais·s constatações Gá incidentalmente pren. isso mesmo, até de desdiferenciação psíquica ou de astenia. Opon-'
•· • · e à tuberc ose. .d s.
que~cia sé 1 XIX11ª) foram o ponto de parti a para uma crítica do-se-lhes destacamos o princípio de heterogeneidade {arquitetural ,\
s~ntid~ _no d cu ºbaru·smo 'progressista e suas realizações. Essa crítica funcional e demográfica) do meio urbano 122 . Aos espaços vazios e aos \
sistematica o urd os por um desenvolvunen · t o cons1·deravel
· no, espaços verdes, que são espaços mortos e muitas vezes mortais 123 , opu- 1

passou, huã _udns grezaç:1 a~s trabalhos de um conjunto de sociólogos ; seram-se espaços que funcionam e a que daríamos de bom grado o 1
Estados ru os, 1so de R . H. Haze.
. .
psiquiatras .
119 Ela começou na França, so b o impu · nome de espaços "ativos". O vazio gratuito é fonte de angústia e o ,
. 120 verde pede para tomar forma e ser localizado em pontos "estraté-
mann a propósito dos grandes con1untos. . - . . .
'A áli mostrou assim que a aplicaçao dos pnnc1p1os de urba. ·cos" 124.
.
msmo os .1.
an se
d e AM podia ter resultados muito d·• .
11erentes, segundo as gi ~º pciocípio de desdensifica~CL demegráficriot- op0sto-0_ de
· • 1 · · acotovelamento das pessoas:
popu1açoes - em causa· 0 urbanismo n.r.ogr.ess1sta reve .ar:.~.e-1a particular.
, - - •• . · --r - · - · · - ·- - - _ .
mente inviável_n_o_ i;_a~Q __d_e_ l).a_l2_1j~tes _.c_om_foJt_~s _!igaçoes cornurutá Por mais complexo e avançado que seja nosso mundo, a relação de proxi-
~i~.!".;~A~ Mcepção -do -espaço . p(ÓQr_lQ_ do._u~b~smo progressista-e midade continua a exercer um papel importante no desenvolvimento dos valores,
·-;;-s con_ceitos-chaves que daí de-rivam-(estandart1zaçao, zomng , rnul tieli• das carreiras e dos modos de comportamento'" .

~aço.Jrag mentado,_qu~ _aboliu _a....rua ~ ,-~evelou-se


fonte de di.s.s.o.ciaçãO-Ld.e.s.intW-ação mental; a uma forte estrutu-
118. Cf. por exemplo o artigo de Kingsbury , publicado em 1895, nc ração da cidade corresponde uma forte estruturação psíquica dos
Journal of Social Sciences (t. 33/8) so? o título_ The Tendenc~ of Men to Jr., habitantes.
in Cities : 0 autor cita o caso de uma v1Uva necessitada e responsav~l p~la fam1;, Em uma série de psiquiatras como L. Duhl, de sociólogos como
que uma senhora fi.lantropa tira de seu casebr~ na cidade. A f~m1h a e mstala_,,
numa confortável casa no campo, onde uma vida decente lhe e assegurada. Sei;
D. Riesman, de polemistas como J. Jacobs, essa crítica das regras
meses depois, a mãe e os filhos desaparecem. São encontrados na antiga moradii: do urbanismo progressista é completada por uma crítica do método
não puderam suportar a perda do contato cotidiano com a vida de seu bairro e do processo de limitação em que esse urbanismo implica. Todos
119. Para uma abordagem propriamente psiquiátrica e psicanalítica. cí sublinham o caráter traumatizante e diminuidor de uma planificação
particularmente a compilação publicada sob a direção de LEONARD DUHL. que coloca o habitante diante do fato consumado 127 e leva a tratá-lo
The Urban Condition , Nova York, Basic Books, 1963; cf. também R. DUB0S
Mirage of Health, Nova York, Harpers ; J . MAY, The Ecology o[ Mental Disease, como verdadeiro objeto. Fazer os interessados participar do modela-
Nova York , M. D. Publications, 1958. De um ponto de vista menos especializad; mento de sua cidade parece-lhes uma das tarefas mais urgentes do
e mais sociológico, cf. a compilação The Exploding Metropolis, Nova Yor!· urbanismo.
Doublcday, 1958; Death and Life of Great American Cities de J. JACOBi.
Nova York, Random House, 1961; as obras de H. J . GANS, como Th e Urbcn . @ O zoning estritamente aplicado vem a dar na morte parcial dos
Vil/agers, Nova York, Glencoe F .N.E. Press, 1963; os trabalhos de D. Crane ,\I bauros, cuja ocupação só acontece em horas fixas . 1:, o motivo pelo qual um aut or
Fried, O. Lewis, H. D. Mac Kay, G . B. Nesbitt, G. B. Taylor, H. S. Perloff, el( c_omo J . Jacobs pôde insistir na nece ssidade de conferir a um bairro uma plura-
120. Entre o artigos de R. HAZEMANN, cf. La Liberté concrete, cone, hdade de vocações, incluindo a do habitat e assegurando uma animação simul-
tion de la santé physique et mentale (quelques notions de psychologie de J'hab:· taneamente diurna e noturna.
tation , de l"urbanisme et de l'aménagement du territoire) Revue d 'hygiene_,r (Í23. Cf. J. JACOBS , Io c. cit. O estudo das estatísticas mos trn o uso dos
de r~édecine sociale, 10 de ~aneiro de 1959; Aspects psych~logiques de l~H1.1:; parque'Meito por bandos de crianças delinqüentes e o perigo que represe ntam
d: 1 hab!lalion, ,n Cycle d études européen sur les aspects sociaux de I habrt-· espaços verdes muito grandes e desertos, J. Jacobs faz uma sé rie de sugestõe s
Sevres, out. 1957 ; Lcs irnplications psychologiques de J'habitation popull!l: sobre a localização deles (como pontos entre dois bairros animados. por exem-
Semaine des hõpitaux, n~ 18 , 1959 ; Responsabilités en matiere de ;:int.';. p_lo) e sua qualificação funcional (necessidade de organizar ali in stalações espor-
Présences nO 66, l O tr. 1959. Com exceção desses artigos e alguns outros. a\ tivas e elementos de atração particular).
lica mais aguda do urbanismo progressista e dos grandes conjuntos franc~ses 1'.· 124. L. DUHL, "The Human Measure'", um ensaio de Cities and Spa ce,
f~~ta por _C HRISTIAN E ROCHEFORT cm seu romance Les petits er1fa 1115 J, th e Future Use of Urban
Land, Baltimore, Toe Johns Hopkins. 1963. p. 145 .
siecle. Pans, B. Grasse, 1961. ~ Ibidem
121. Além do caso das po 1 - · • . . , . de com unidJdii
de fortc estruturação social há pu açoes 1m1gradas ongmanas d '~ Numa língua em qu e a palavra trottoir ("calçada"') n:io tem a mesma
O caso d as mmonas
. . , • · · 1•va
por sord · d d ' etnicas ou econorn1ca, ' ,,,· re~s~.nanc1a que no francês, Jane Jacobs fez uma verdadeira ·'apologia do trot-
1 1· '. ane a e a estruturar-se poderosamente Cf H GANS The Hutr.-; ~o,r , que lhe parece o lugar por excelência ond e se experimenta um se ntimento
mp ications of Current Redeveio · ·. · · ' Joumal e.
A mer fnstitute of T,o Pia pment and Relocauon Planmng, . ,1r e ~gurança próprio das cidades; o trottoir é também, segundo essa autora ,
. wn
Changing Pattems ln En r nners 25 ' 1959 ·' R . HOGG ART ' T.}ie Uses o fll ter, .
. Pt1>'· ~trObJeto de uma espécie de polícia espontânea e tácita da parte do s habitantes
1957 ; J. M. MOSLY F,g,~hMass Cu~ture, Nova York , Oxford Univers_1tY , ~ anseuntes ou comerciantes).
1956 . ' am,ly and Ne1ghbourhood, Nova York, UniversitY p 1 cad l 27 . Cf. DUHL (particularmente Urbanization in Human Necds, publi-
o em 1963 por The America,1 Journal of Mental Health ) e J. J acobs . Antes
o URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO 47
46
mudanças profundas, que situ~ o indivíduo que alertavam a _opiniã<: apó~ à con~t~ção de conjuntos como os de
Nossa sociedade sofr~u d decisões que o afetam e de1Xam-no nurn sarcelles. Mas am~a nao foi substitu1do por pesquisas sistemáticas
a uma distância sempre ~a1?r a_s ·to por conseqüência, a uma grande inérciaª
situação de relativa imp~tencia, su~~tam a todos participar mais plenarnent~
ou aplicações p~t1cas; ~o concreto, sua influência manifesta-se só
r 128
preciso encontrar ~ eios qu\~ assim tão vitalmente • em algumas 131 realizações isoladas e de escala reduzida, como as de
de decisões que lhes digam respe1 ~rnile Aillaud .
. d hi ·ene mental desenvolveu-se a partir de : A~esar- de- -su_as--considerações preciosas, . constata-se _que. ess~
O ponto de vi~t~s ~i!larmente agudos hoje em dia: a deün. te.ndência--a Gab~~.zes,p ?~- desconfianç.a__das $J>}:ii.ções progresr
certos proble~as sociai dp sce·ncia das doenças mentais em adultos, sitt.M..Jlffi-...uma. -a~logia- mcondic1onal do -asfalto e--da grande cidade
.. • · ·uvenil a recru e :.._:1:al
quencia J d , 1 eres a evolução da célula fai,llll la. ~ . ,,,.\ -
nota
. roe.tropolitan-a-. Sublinhar o papel social da rua pôde levar a uma prefel
' .
o emprego os az
'd d . " A arquitetura e o urbarusmo
ÇQ!!Lacui a e. al li
r ,..;,,,
_ ~Ll2.!f nm&-J_sao um·
,, 129 rência, ~ar.a ?s jogos das_ ~rianças,. das calçadas aos jardins públicos l
xlell)Jlllio...da.solução do pm.blema..do coo smo. . . temer a mtumd~de entre vizinhos, remante nos suburbs, pôde fazer com:
- Depois dos trabalhos que evocamos;.. daqm para a frente é unpos- que não se avaliasse bem o caráter angustiante do anonimato nas gran-·
, . pel de certas constelaçoes urbanasd no modelamento des cidades. No fmal das contas, certos autores, como J. Jacobs, chegam
s1ve1 ignorar o pa . . , S ·
os sistemas de a opor às "cidades-j~ fan_s " e às "cidades radiosas" a imagem ideal'
e -
e 1 onnaçao men
tal dos grupos e md1v1duos.
,
egun
• bo · .
fonnas adotados, 0 meio construido pode agrr s?. re o psiquismo de uma espécie de J_çªsbah, modernizada e multiplicada por tantos;
!
humano com um poder de agressão ou, _pelo contrano, d~ m!egração bairros quanto fosse necessário> · :.
não suficientemente medidos. Graças a livros de grande difusao como Esse exemplo extremo ilustra a tendência nostálgica de uma
The Death and Life o[ Great American Cities de Jane Jacobs, o ponto crítica que, freqüentemente, procura reencontrar e reestabelecer certas
de vista da higiene mental teve uma repercussão prática n?s Estados fonnas (mentais ou arquiteturais) próprias à grande cidade da era
Unidos, onde inspira atualmente o remodelamento de vários centros industrial; dessa vez, atribuindo-lhes essas mesmas qualidades que ,
de grandes cidades. Além disso, a associação da população aos proçes- para os urbarústas culturalistas, eram próprias das sociedades pré-
sos de planificação já foi objeto de tentativas interessantes, como a -industriais. De resto, a higiene não pode constituir em si um objetivo
130 essencial ou um fundamento para o planejamento urbano. Pode-se
do Regional Plan Association de Nova York . Na França, o ponto
de vista da higiene mental manifestou-se principalmente em artigos até dizer que a vida e a história são feitas de traumatismo e de stresses
superados e ultrapassados: o nível de criatividade mede-se pelo poder
132
de enfrentar situações novas . O ponto de vista da higiene mental
deles, Patrick Geddes já tinha sublinhado a necessidade dos habitantes de inte· traz, de qualquer forma, uma contribuição capital ao nível do método :
ressar-se ativamente pelo modelamento de sua cidade. Ele chamava de civics
essa forma de participação. revela uma dimensão do real, um dado suplementar a integrar, sob
128. ln "The Changing Face of Mental Health", p. 47, publicado in The forma de normas e de princípios, na planificação das cidades.
Urban Condition, citado mais atrás.
129. ln Elimination of Poverty, p. 105, publicado em The social Welfare
Forum , 1961. 3. Por uma análise estrutural da percepç_ão urbana
130. Em 1963, um organismo, o Regional Plan Association de Nova
York,. chamou todos o_s cidadãos da aglomeração para participar diretamente O ponto de vista da higiene mental está ligado a urna psicologia
d~ plano de_ desenvolvimento da região. A televisão foi amplamente utilizada. do comportamento; considera-se a ressonância da morfologia urbana
Citam?s abaix~ a~ns extratos de um folheto que dava para os interessados
uma hm~or"!-açao previa e explicava-lhes como dar sua opinião Título : Goals
fior t e"Eegion Project (~bjetivos do Piano regional). · _Da~ 8 à! 9 horas : audição do programa especial de televisão ; das 9 às
10
de habita:e 1985 havera na região metropolitana de Nova York ... 6 milhões PlahlS. disc_us~ao dos problemas levantados durante esse programa peloRegional
mentares sOsundplement~es. Onde viverão eles? - 2 milhões de empregos suple· v n, A~socra!zon ; das 10h15 às 10h30: preenchimento de questionários relati-

na região
· -
repercutirão no modo de vida d a
metropolitana _ Vo ~s
r:· -:-
e estarao localiz d ?
milhoes de
_ _pessoas que
ts
~s respostas dadas a essas pergun ªe
vivem atualm_ent
::~/ dl~cussao. Antes das sessões, cada participante terá lido um relatório esque-
~co ilustrado com mapas, estatísticas e fotografias, e com a informação neces-
1 para a discussão dos problemas em causa."
Plan Association , organismo -~ ~o~e contnbu1I nas decisões. - O Regwna
u?t milhão de dólares para t et t OJe c~m 33 anos, dedicou cinco anos ,e Ailia 13 ~ Nas suas realizações das Courtillieres à Pantin, ou de Forbach, E.
xima geração, da região metro en _ar determinar o futuro mais provável, na pro- da h?~ nao adotou, no entanto, pura e simplesmente o ponto de vista estrito
três Estados diferentes ad -~~litana que rodeia o porto de Nova York e abran~e cidadgi~ne mental, corno se pode ver na atmosfera um tan~o kafkiana dess~
mudem. ' mi Indo-se que as tendências e a política atuais nao de es, ele fez o papel do urbanista artista e fez de seus conJuntos a expressao
seu temperamento.
Mas o ponto a ser tratado ho'e , O . ··o
nã~ estão satisfeitos com a situ ~- e seguinte: - Se os habitantes da Regi~ n, 0 13 2.. Cf. sobre o assunto, as célebres análises de K. GOLDSTElN em
satisfeitos,. P?dem melhord-la. - ;çao _atual,, podem transformá-la. - Se estao po:-t.
1
rganzsm, American Book Company, 1939, que mostram a significação
cat IV~ da angústia (p. 306 e s.). Uma parte dos conceitos goldsteinianos (reação
~fatio~ seJa mfonnado das preferêar~ isso, e preciso que o Regional Plan Ass; Proas~ofica, comportamento reduzido, etc.) poderiam ser utilizados com maior
ova 0 r!c. . ncias e aspirações dos cidadãos da região
gi~eito pelos fown-planners, assim como suas análises do normal e do patoló~
Modalidades dessa i ,.:
reunir-se h bd nJormação · G · ão "" · Cf. tambem, sobre esse último ponto, a tese de G. GANGUILHEM : Essa,
horas e e omadariamente durante . . rupos de cinco a quinze pessoas II as .p · queiques problemes concernant le normal et le pathologique, Clermont-
st
con ar do seguinte: cinco semanas. Cada reunião vai durar dU errand, 1943.
o URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO
48 49
hwnan o, pondo-se, por exemplo, em e .
sobre o comportament0 ntanto , só propõe m um esboço dele. E qual seria a intensi
e efeito entre os espaços livres (ve d'li, dade
ndo ;ai.est ar se se criasse , um dia, uma cidade wolsiana?
dência uma ligaça- 0 de dcausa lin üência das populaçoes - · ,,
m1antis que r 1e1 o À
ou não) amorfos ~ .ª \di abandonar essa exterio ridade , especificidade da percep ção " urbana " está ligada uma série! -'
recebem . Mas a cntica r. . estudar como a cidade , enquanto e ·se
coloci es d ações comple mentar es. É antes de tudo, como seu corolár
io norma- .
na perspecti.va da conscie ncia,
b'd pelas conscie .• .
nc1as que a h ab'1tarn Enu.
_e n
O
concei to de legibilidade. A organização de uma aglomeração
dade maten•a1 , é perce. I a·tua-se de certa forma no oposto · ssa tiv:ti_sfat.9ria qu_ap..9-_o_ é f~~e_nte leg_ív_el, _o. que não é
exatam ente
da eo _l.: - so dos Conjun tos progressistas, d1f1ce1s de estrutu
abordagem metodológica s1 osta do planeja mento feita a priori, rar (apesar de
obns.
trução do modelo. A pro~oisa (modelo), é aqui substit uída ~u~aaparen te _s_implicidade ).,~_!11 _gr,!ln.de IL_arte devido à gratuid
por/ ade de
tivada, tratada co~o _wna ue decorre do conhec imento do
proposta a ~0ster~orz ero\to deixa de ser objeto na medida
ponto :a s
ua irnplan-tagão. --
Como se organiza essa legibilidade? A existência prova que
não
em quee , preciso pensar em termos de elementos, mas de formas e
vista do ~ab~tante. ºsi~olggia experimental e do questionário, de fundo.
pela mediaçao ~a P d lane,iador um tipo de interlocutor.
0 habi'. ~ 0 papel da forma, longe de ser feito por objetos plásticos,
o é por
tant e t O ma-se diante o P J ' tempos fortes (oposto s a t~mp_os de repo~so): pontos d~
' d
Essa abor agem
foi até aqui essenci• almente desenvolvida no· limites, caminh os, nós de dueçoe s. Uma cidade deve, pois,
referência,
- . al (
.d 133 Limitada à percepçao na me di da ' ser estru-
EstadosdUru os_ 1·ada do contex to cultura l), está ainda no em que
VISU turada sobre fundo neutro , pelo dinamismo de um certo
estádio número de
esta po e ser iso . d figuras significantes que diferem de acordo com a topografia,
- • -á foi entreta nto obJeto
d.a elab oraça0 , 1 e aplicações práticas,
.
espe. lação, sua compo sição, seus interesses. A riqueza da imagem
a popu-
tos setores do ·
projeto de remode l t d será
cialrnen te em cer amen o e Boston função da riqueza e da variedade dos significantes que a
sob a direção de K. Lynch. , compõ em.
_ . . . Vê-se que este método não é exclusivo das duas abordagens
As pesquisas sobre a percepçao da c~~a~e tiveram coi:no p~ir~ des-
critas acima : pelo contrár io, os dados destas são indispensáveis
ltado O esclarecimento de sua especif1c1dade. Uma cidade nao, para
que se manifeste sua contrib uição própria, que é co locar
resu o problema
perceb'd I a
pelos que habitam nela como um quadro ; sua percepção é
. . da morfologia urbana em termos de significações. O horizo
, nte do
para eles , organizada de . modo . radical
. mente
_,, . diferen te, em função de rendimento, a nostalgia do passado , a hegemonia do este ticismo
séries de laços existenc1ais, prático s, e c1.1et1vo~ que_ os unem estra-
a ela nhamente fizeram com que não se justiçasse o fato de
(Em-tão-irnenso-conjunte, sou- cego--a-geometna- mais .ou.-men que o meio
os slJ)jl constru ído, onde se move o indivíd uo, tem como qualida
ql;l;C_ inspiro.lL.a_JllaqY.tle; minha percepção é estrutu rada pela de espe-
nece;. cífica o de ser significante. Ora, quaisquer que sejam os objetiv
sidade de encontrar aí minha casa, os melhor es acessos de um os dos
ponto constru tores da cidade, sejam eles domina dos por uma ideolog
a outro, tal elemento de diversão.) ia pro-
. gressista ou cultura lista, as intençõ es precisam ainda aparece
Essa análise demonstra, como nunca, o erro dos urbarustas r, ser deci-
fráveis pelos habitan tes. Nenhu ma prática das artes plástica
progressistas quando compõem seus projeto s como quadros ou s, nenhum
obras conhec imento da geometria pode conduz ir à concepção
de arte. Os urbanistas culturalistas pressentiram esse engano ; de um pro-
mas JJ!I· jeto legível; só pode fazê-lo a experiência da cidade.
maneceram ainda dentro de uma estética. A consciência de uma Os trabalh os de K. Lynch limitam-se voluntariamente às
irredu• signi-
tível diferença de natureza entre percepção estétic a e percepç ficações mais imediatas, mais elemen tares. Mas parece-nos
ão d, que este
cidade deveria ser uma das chaves do planeja mento urbano campo deveria , no futuro, ser ampliado, de modo a integra
a surgir. r sistemas
Uma fenomenologia comparativa da percep ção do espaço urba,~ de significações mais mediat izados e mais complexos.
e da percepção do espaço estético parece, a nosso ver, um empreen·
dimento desejável, e que seria rico de informações. Não podemo
s con·
siderar o espaço estético como um meio de catarse ou de desa~om

r~ção, assumível pelo homem só na medida em que permanece CONCLUSÃO
sirnb&
lico? Tal é o caso do espaço fragmentado de Picasso ou, mais
aJJ1da.
do espa?o de Wol~, que sofreu uma desintegração mais comple
ta. F0~;e
de deleite nas pmturas de Picasso ou de Braque, o espaço Que significado dar à crise do urbanismo? Por que o planeja
cubi,., -
toma-se, pelo contrário, fonte de angústia nos conjun tos urbanos mento urbano suscita hoje tantas dúvidas e dificuldades?
que. À nossa
pergunta inicial, podem os agora trazer elementos de resposta.
1. Um contra- senso foi cometi do, e continu a a ser, sobre
a natu-
Theob~ ! 3· Cf. os }rabalhos de G. KEPECS : The Languag
e o[ Vision, Chicaf°. ~eza e_ ~ verdad eira dimens ão do urbanis mo. A11esar-das_p
in The '~~; l e Note_s on Expression and Commu nication
r:etef\SÕ!!s
._os teonCQS, o planeja mento das.cidades-não é-o objeto de.
de KE~ L y!~~~p:lls, in the CityscaP\;
Nova y ork, G. Brazillcr, 196 l. E principatmen~ir· ~ - ~uito mais: a própria idéia de um urbanis mo
uma-ciência
M.I.T. Press, 1960 . ·e ~~~~";
MENFELD A Th '
/f
!he Metropolis . ibid.; The Jmage ?f r~e aLi'-
f . 1 nmng, M.l .T . Press, 1963. Cf. tambem · J.
um os nutos da sociedade industrial.
científ ico é

julho de 1943. eory ° ra . N~ raiz de qualqu er propos ta de planejamento, por trás


cionalizações ou do conhec imento que pretend em fundá-l das
City Form, Society o[ Archite ctural Historians Jourr.
a em
o URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO 51

so • . s e sistemas de _valore~. Essas rnoti. . - culturalista, é o passado que unificará uma informação antro-
dem-se tendencia meço da era industnal ; e ligan,.
di~~~ca culminando numa fenomenologia da consciência perceptiva.
ver~ade ,diescti~s apareceram ndo coociedade maquinista. Pode-se esqusee
vaçoes re • ral a s · ta • · · po A aplicação dessas técnicas de infonnação pennitiria elaborar
f , problemática ge alguns desses sistemas an gorucos que }anos que , ao invés de responde: às funções_ele~entares de um h?mem
de _ato a t trazê-las para alismo naturalismo. Fé no progress
mat1camen e cultur ' • dad 0 P 6 • 0 integrariam em sua nqueza e diversidade as necessidades
os· progressismo, . . aversão pela socie e mecanizada e te nc , . . . b d d
dos homens reais, situados_hzc et nunc. E em o caso e uma ver a-
~o:;;d;r total das técni;:;des culturais; aver~o por um mundo d ira reviravolta metodológica.
. das velhas comu
nosta1gia . de uma relação criadora
talgill . com .a natu. e Mas esse planejamento fundado na infonnação ainda não pôde
"d turalizado" e nos ecetivos _ por vezes inconscientes_ eralizar-se. Na prática, choca-se simultaneamente com hábit~s
esna . os fundamentos 1'
reza: tais foram banisIDº· . _ genntais e com a urgência da ação. Com efeito, a maior parte das reali-
do pré-urbanismo e do_ur . da era industrial, essas motivaçoes foram meções urbanísticas atuais . estão- re1ac10na
. das com o que os neuro -
2. Também no início. .deais de aglomeração urbana. za icólogos chamariam de "comportamento reduzido" 134 : a necessi-
objetivadas em modelos ou:po~ ide um lado por uma situação intelec. a:de de remediar de imediato o afluxo demográfico _e o dram~ dos
Essa objetivação exp cula·tu al mas seminaturalizado pelo hábito não-abrigados impede uma planificação global e bem c~idada. Cogita-se
tual nova. A ci'dade ' fatob'c t de ' al . Tal questiona.
r uma crítica ra d ic · ' do que é mais urgente, segundo esquemas pré-estabelecidos. Na França,
era pela prime~a ve~ ~ 1e: gar a uma interrogação sobre os funda.
0
a urgência é a única justificativa de Sarc~lles. . .
mento não podia deixar ci:a~ee foi então substituída por idéia sua. E, Há mais. Imaginemos por um instante o urbanista livre das
mentos. A presenç~ da do como desordem a ordem urbana existente, limitações do tempo e dotado de técnicas de pesquisa muito mais
depois de ter qualifica or-lhe ordens ideais, modelos, que são, refinadas do que as que dispõe atualmente . Peçamo-lhe então para
foram feitos esfo~ço~ para ~p alizadas de imaginários coletivos , construir uma cidade de cem mil habitantes. O conjunto das infor-
com efeito, proJeçoes racion mações obtidas só será utilizável dentro de uma opção P:évia que
individuais. , . ltaneamente racional e utópico, esses mode- nenhuma quantidade de infonnação pode fundamentar : cidade ou
Por seu carater simu _ não-cidade, cidade asfalto ou cidade verde, cidade casbah ou cidade
los revelaram-se po dero SO s instrumentos de açao'd .b ,umi
: exerceram
. _ . . as estruturas urbanas estabeleci as, contn u11am fragmentada, essas opções de base, finalmente, são da competência
mfluencia corrosiva n d b t' 1 e t exclusiva de uma decisão humana. Em matéria de planejamento urbano,
para defmir e ordenar certas nonnas urbanas e ase , par icu ann n1
a ciência do real é tão-somente uma proteção contra o imaginário;
no domínio da higiene. não constitui um fundamento que pennita eliminar o arbitrário.
Só que, construído no imaginário, o mo~elo dá fo rços-:menu É a razão pela qual, na falta de modelo , uma ideologia se rein-
acesso ao arbitrário. Arbitrário que ilude, no mvel da descnça,o, n~ troduz até nas críticas do urbanismo : ideologia progressista nos adep-
pré-urbanistas, mas que anda às voltas com o escândalo ao n1vel_ d,
tos das técnicas com caráter de previsão , culturalista nos antropó-
realização, nos urbanistas . As falanges de Fourier provocam o ~so logos como L. Mumford, naturalista em certos sociólogos americanos ,
mas quando Le Corbusier propõe a substituição de Saint-Dié, destruida como D. Riesman .
por oito unidades de habitação e um centro cívico, os habitantes sen·
É o que ilustram alguns projetos ou realizações inspirados pelo
tem-se ·diretamente ameaçados pelo absurdo . Do mesmo modo Brasüia método crítico. A " nova cidade" inglesa de Stevenage e o projeto
edificada segundo as regras mais estritas do urbanismo progress11t1
francês de Toulouse-Le Mirail são, tanto uma quanto o outro , explici-
é o grandioso manifesto de uma certa vanguarda, mas de modo a]~r.
tamente fundamentados em estudos demográficos, econômicos e eco-
ª resposta a problemas sociais e econômicos precisos. O arbitranr lógicos: a primeira deve ser ligada ao culturalismo, enquanto que o
d?sse tipo de métodos e de soluções vai ser plenamente percebid;: segundo pertence ao progressismo.
dt~te do espetáculo - a que ponto banal - do arquiteto urbarusi,
bnn~do de deslocar em suas maquetes, ao sabor do humor ou i 4. Um falso problema de fundamento está, pois, no âmago
f~tasia, os pequenos cubos que simbolizam moradias, locais de r,, da crise do urbanismo . Os sistemas de valores nos quais o urbanismo
nião, os elementos de uma cidade. se baseia, em última instância, foram simulados pela ilusão ingênua
3 e persistente de uma abordagem científica.
tado : É lógi~o, pois, que uma crítica de segundo grau tenha coni;'
na r:~~~~a~s~~ dominado pelo imaginário, e que tenha pro_cu:;:
As conseqüências dessa ilusão irão surgir à luz de uma compa-
ração com o objeto industrializado. Parece que um conhecimento
o modelo pela u nd_amento ~o planejamento urbano, su,b~titu u0 exaustivo do contexto (serviços exigidos e gestos implicados, do lado
quer projeto <li ~~de de mfonnação. Segundo essa cntic~, ; :
11 do Utilizador ; condições de fabricação , do lado do produtor) deve
gação préVJ'a dpfi _edJamento deve ser subordinado a uma iJl i '· Permitir a detenninação da forma ótima de um ferro de passar, de
- e m1 a ali , di en -
do tempo que privile . ' as, de doi~ modos, segundo a. ~ad; ,
dada ao futuro íntegrgia, Se, !1º espínto progressista, a pnofl f:.
de previsão: p;ev;.,._ ard•se-á à mvestigação as técnicas que têrn cal,:
0 fu wvcS emográfi - co,,
ndamento de qual ica e econômica surgirão enta 0 ir: 134. Cf. K. GOLDSTEIN, loc. cit.
quer Planificação urbana. Se for seguida ª ·
o URBANISMO O URBANISMO EM QUESTÃO
53
52 f .
. tal foi com e eito, a base da te .
uma poltrona . ' a1· e presentes. Cada cidade antiga, ~om suas fisionomias e fonnas pró•
um telefone ou de uitetos racion istas e pe 1a escola°na d rias, pode ser comparada a um livro com sua escrita particular, sua
. l
funcionahsta ança da pelos arq
bº to era redutive, 1
a uma b o a fonna absolutaa P
Bauhaus. Para eles, cada o Je·t· o industrializável. Mas a precanectad ' linguagem "fiech.ªda,, i3s , em sum~ : seu est il o. E o escrito, em cada caso,
. um proto 1p . d bº e
remete necessanamente a uma hngua, a suas estruturas : sistema mais
que coincidia. com h ·e
135 aparece OJ com a cnse. l do o. Jeto em série geral, ap~ágio comum dos particulares , dos clérigos, dos arquitetos
desse platomsrno . s criadores do industria . es1gn 1caram efeti- fi e
ou dos reis que, com suas palavras, fizeram com que essa língua evo-
do industrial design . O f ção de uso dos obJetos , com sua "uten.
, · . v·1saram luísse no tempo.
vamente ofusca dos . com a unalor semiologico exc1us,vament
·
O velho modo de planejamento das cidades tornou-se uma língua
gl . ciando seu v . . e
silidade", ~e ig~n do bem-estar e não fizeram J~S:1~a ao estatuto morta. Uma série de acontecimentos sociais - transfonnação das téc-
a realizaçao umve~s~ do ue é simultaneamente utihzavel na prática nicas de produção, crescimento demográfico, evolução dos transportes,
real do objeto s~1~ª d' q Ora O sentido não emerge naturalmente desenvolvimento dos lazeres, entre outros - fizeram com que seu sen-
e portador de ~gmfic~aliz~s. da· p, elo contrário, esta pretende ignorar tido se perdesse em benefício de antigas estruturas de proximidade, de
r rma mdustn
da boa 10 .d dO aobjeto.,
É a razão pe 1a qu ai ( pnnc1palmen1
· ·
e diferença, de ruas, de jardins. Estes passam a referir-se só a um sistema
O
a densidade d~ senti f ecidos e entre as consciências "saturadas" arqueológico. No contexto atual, não tem mais significação .
nos meios socialmen~et ª~~~e a uma crise do funcionalism o. É par, Mas essa língua morta conservada pela tradição não foi substi-
de bem-estar) se. ~sis e an · tica que O jogo e a zombaria começ~ tuída, pelos urbanistas, por uma língua viva? As novas estruturas
d. imular a carenc1a sem
tos setores da produção mdustn·a1 .
':-S . . urbanas são, de fato, a criação desses microgrupos de decisão que carac•
a mtroduzir-sbe em ceõres podem ser transpostas para o plano da cidade. terizam a sociedade da diretividade. Quem elabora hoje as cidades
fumoseff ~ · o da boa fonna novás e os conjuntos de habitação? Organismos de financiamento
Ela também so freu, através do modelo. ' o traumatism . alm (estatais, semi-estatais ou privados), dirigidos por técnicos cie cons•
re ·to meio de satisfazer rac1on ente as grande;
E era esse, com e1' 1 , O b · d
nga os, aos farmnto;· trução, engenheiros e arquitetos. Juntos, arbitrariamente, criam sua
-
b de base· as que faltam aos nao-a
funçbões urtanas ara que.m temporariamente, Sarcelles representa a língua própria, sua "logotécnica".
de em-es ar P ,
- Mas, além desse funcionalismo, além do ai OJamento,
salvaçao.
·
resll
Sendo os grupos de decisão estreitamente especializados, sua
. . linguagem possui um conteúdo, um campo de significação restrito.
habitá-lo. A cidade não é apenas um obJeto ou um instrumento'. e
meio de realizar certas funções vitais; é também um quadro de r:laçoe; Ao nível da expressão - dos significantes -, ela se caracteriza pela
interconscienciais, 0 lugar de uma atividade_ que consome s1stem~ pobreza lexicográfica (unidades intercambiáveis que devem assumir
diversos significados) e pela sintaxe rudimentar, que procede por
de signos tão complexos quanto os evocados aclffia.
justaposição de substantivos , sem dispor de elementos de ligação;
S O urbanismo desconheceu essa realidade, desconhecendo por exemplo, o próprio espaço verde é substantivado, quando deveria
assim ~té a natureza da cidade. A contribuição essencial da crítiCJ ter uma função de coordenação.
do urbanismo teria sido, precisamente, a de fazer despontar os sigrJ: Nessas condições, não é de surpreender que as mensagens trans-
ficados múltiplos da localização urbana. Pode-se, entretanto, ressalte mitidas pela logotécnica sejam tão inexpressivas. Que significam as
que ela ainda não soube ligá-los de maneira bastante explícita, nur.: barras 139 de escritórios que, como o complexo Maine-Montparnasse,
sistema semiológico global, simultaneamente aberto e unific_ado1. invadem o centro de nossas grandes cidades, ba"am seu horizonte
A idéia de tal sistema não é nova. Já Victor Hugo, num celebri e deslocam sua trama? Nada senão o poder de diretividade. Da mesma
capítulo do Notre-Dame de Paris 136 , não hesitou em comparar a arqw· forma, a monotonia de Poissy exprime essencialmente a ideologia
tetura a um escrito e as cidades a livros. simplista de um grupo de politécnicos . Em certos casos, o conluio
A metáfora de Hugo é coerente. Desenvolvendo-a à luz de~;: entre a economia e a estética pode, dados os dois extremos semân-
quisas contemporâneas 137 , percebe-se que ela esclarece fatos passa ' ticos (infra-estrutura e superestrutura) implicados, chegar a uma men-
sagem totalmente incompreensível - e, na verdade, incoerente.
135 · Expresso de modo particularmen te esclarecedor por Hen l'Y Van 1 i . Em todos os casos, a microlinguagem do urbanismo é impera-
Velde, o precursor de Gropius na Deutsches Werkbund e um dos criadore, ',',
industrial design: "A forma pura coloca-se de imediato na categoria das for~~
tiva e limitadora. Não só o habitante não participou de sua elabora-
t A
e emas. , necess1·d ade que P,rovocou seu nascimento pode ser nova, Parucu,, esu::
ª nossa _epoca! mas, se ela e o resultado preciso e espontâneo de uma vi ;:: }~N. Essais de linguistique générale, Paris, Ed . de Minuit, 1963 ; A. MARTINET,
concepçao racional do objeto, da adaptação mais lógica ao qu e ele defort.J
. lements de linguistique générale , Paris, A. Colin, 1960 ; assim como o con-
para resp~nder_ ao uso mais prático que se espera dele, seguir-se-á que essa iti:i
~to do~ ~igos de R. BARTHES e em particular fléments de sémiologie,
~n:;a de unediato os traço~ mais significativos da grande família que se pediri
mmumcanon s, n9 4 , Ed . du Seuil, 1964.
Oe te~; ªi;:~;\da ;umamd a~e até nossos dias, a das formas pur as ; rfran,t 138 . Cf. R . BARTH ES, Le degré zéro de /'écriture , Paris, Ed. du Seuil,
0
Paris L'b . . d gn ica nada. (Le style moderne contribution de 0 1953.
• 1 rame cs Arts décoratifs 1925 ) • 139. Há um estudo semântico para ser feito da diferença aparente entre
136. Ceei tuera cela ' · , as grandes construções americanas e as grandes construções francesas. As pri-
137 Cf , acrescentado a edição de 1832. . ft
• . para o que se se A J é111ilnrrque, rneuas raramente tomam a forma de barras, mas principalmente a de tomes.
cículos roneotipados, Escola N guel · • ~RElMAS , Cours de s . R JAKO,:
orma Supenor de Saint..Cloud, 196 4 · ·
........____
>
o URBANISMO
54
O URBANISMO EM QUESTÃO 55
. dade a situação dos usuários diante d
a ni,; · ºfi ded relações, criar estruturas flex,·vei·s, urna pré .
- tal é em nossa soc1e
çao : , .
' . 'd M . .
miológicos constitui os. rus a.Inda, está . "'º1 Para definir sistemas •
parte dos sistemas se t O urbanista monologa ou discursa . Pnvado -sintaxe ab e rt a a s1~ 1ca os ainda não constituídos.
da liberdade de respo\~ sem compreender sempre. Em resu'rnº habi. Cumpre a partir de agora estimular a elaboração dessa lingu
, . falta h . E agem
urbamst1ca que. . OJe. . mpreendida nela, a recorrência à análise
tante é forçado da escutividade dialética que a localização urbano, es¼
ªª estrutural pe~ti~á O ~urgirne~to de tramas comuns dos diferentes
frustrado em to a
ria oferecer-lhe.
a deve.
sistemas ~~ológicos 1:Jt~os a aglomeração urbana. A partir daí,
o econorrus a, 0 enge . _eu_o e principalmente o plástico deixarão
E timar-se-á com justiça, ter chegado ao fim a época ern
6
lan~·~ento urb~o era uma linguagem ~a qual ? habitante po~~' .º
de exerbcer _papel ~e~urgico que possuem no momento. A lingua-
0
P .. J t és da palavra. Esse tempo ideal fo1 teoricarnent l gem ~r an1st1ca p~r er ~ e~pecificidade para conquistar um plano
part1alc1par a rda;cadas o da polis grega, da democracia 140. Hoje a e, ' supenor de _generalid~d~; mduetamente, pela referência ao conjunto
por gumas , • . ló . . .' com. dos outros sistemas s1gmficantes, contribuirá para O conjunto da cole-
plexidade dos mecanismos econonucos, tecno gicos e administrativo, tividade e implicá-lo-á.
exige que O cidadão delegue seu_s poderes a _um corpo de especiaJisi~ Quanto ao habitante, sua primeira tarefa é a lucidez. Não deve
_ ao urbanista, no que diz respeito ao plane1an:1ento urbano. Confron. nem deixar-se seduzir pelas pretensões científicas do urbanismo atual
tando O tempo da palavra com o da l~~otécmca, somos remetidos i nem alie_nar_suas liber?ades nas realizações deste. Deve resguardar-s;
ligação essencial da cidade c~m a pohttca: opond?-se _a democracii tanto da ilusao progressista quanto da nostalgia culturalista.
à diretividade constata-se, mais uma vez, que a pnmeua atualmeni,
141 7. Ninguém hoje sabe qual será a cidade de amanhã. Talvez
não passa de uma palavra . _ . . .
Mas O desaparecimento da palavra nao lffiplica_ em s1 no desapa ela perca urna par!e da riqueza semântica que possuiu no passado.
recimento da língua. E é deplorável que a logotécruca do urbanismi Talvez seu papel cnador e formador seja assumido por outros sistemas
de comunicação (televisão ou rádio, por exemplo). Talvez assistamos
seja, até o presente, apenas um fragmento e um simulacro de lingua.
gem, um código prático de especialistas, geralmente desprovido d, à proliferação, por todo o planeta, de aglomerados urbanos indefi-
nidamente extensos, que farão o conceito de cidade perder' todo o
referências ao conjunto dos outros sistemas semiológicos que consti-
significado.
tuem o universo social.
Os urbanistas não têm atualmente à sua disposição esse sistem, Admitamos entretanto que subsista uma realidade comparável
ao que ~hamamos hoje de cidade ; é somente no plano do uso que vai
coerente de significações que, sozinho, permitiria a justificação efeti11
ser poss1vel o paralelo. O fato de que a nova linguagem - vocabu-
de suas criações, mostrando que pertencem a uma linguagem e, de ur
lário e sintaxe - deverá ter sido construída consciente e deliberada-
modo mais geral, à estrutura global de uma sociedade.
mente repercutirá em sua significação: ela corre o risco de abolir a
~ verdade que a própria existência de uma linguagem urbaníf
ilusão tradicional que nos mostra as estruturas urbanas · corno um
tica coerente torna-se hoje problemática pela mutação inacabada d,
certos sistemas referenciais, como os setores do trabalho e dm dado da natureza. E tomar ciência da artificialidade do sistema obri-
lazeres. Somos aqui levados por outras vias à intuição de Engels con· g~á o habitante a manter com ele uma relação de segundo grau 142 .
de_nando como ilusórios modelos do pré-urbanismo, e só vendo nJ Ainda que_ a cidade do futuro funcione perfeitamente, ainda que seja
cns~ ~a cidade um aspecto particular da crise global da sociedal, adaptada as novas condições de vida, como as cidades medievais o
capi!alista. Mas ~ão nos parece necessário seguir Engels até suas con· eram às exigências de sua época, ela só conservará seu valor semioló-
gico com a conivência de seus habitantes, com o jogo ou astúcia destes.
cl~soes. Na sociedade de diretividade, a questão particular do pli
. Até o funcionalismo poderia, a partir daí, tornar-se uma suprema
neJarnento urbano parece-nos, ao contrário do que Engels pensai,
urelevância, urna fonte de encantamento para a consciência lúdica
paraasuª epoca,· ter de figurar entre os problemas fundamentrui·
1 - a não ser que construir, não mais nas dimensões do tablado mas
u:!ea ~o dever ser diferenciada, ela pode, por sua evolução, exere11 e~ c~ncreto, plástico ou metal , cidades-armadilhas e cidades-miragens
ç . !ransforrnadora e criadora sobre o conJ'unto das outras eiir,· nao seJa o destino último do surrealismo.
turas sociais.
Mas_ não c!iegamos lá e cada dia leva-nos adiante na mitologia
A análib-~ precedente pode levar a algumas conclusões prátiC~' do urbarusrno. E para facilitar as tomadas de consciência necessárias
º ur arusta dev d · bali'
parar de repetir r:
exclusivamente e t e e1Xar de conceber a aglomeração ur .:
errnl os de modelos e de funcionalismo. É prect~
rrnu as fIXas que transfonnam o discurso ern objet~
que _escolhemos e reunimos nas páginas seguintes uma série de textos
P:irt1culannente significativos. Eles repartem-se desde o começo do
seculo XIX até 1964. Apresentados sem preocupação de esgotar o
Talvez essa verticalidade ex • . · mo11
aventura capitalista nos Estaifu~ma . 0 mdividualismo e todo um romanus
e, de um ponto de vista mais geral e teórico F . CHÃ TELET: De la poli tiqu e
140. F. CHÃTELET L Un_1dos. . 196! populaire à la politique de pure pratique, Arguments , n<? 27-28 , 1962 .
141. P. LA VEDAN ' a namance de l'histoire Paris Ed de Minuit, d1-
gis. mo.:· tamanha que a g resume 1ªP 1·d armente a situação
' ': "A· corren t e de tr 142. f'. em torno desse relatório que a estética contemporânea está ce n-
i1J:::
( ~da. Aqui _vamos nos referir tanto ao exemplo do escrito quanto ao da pintura
nistraçao." La géographte':e~ar;,7 urb~a se tornará logo um capítulo UL ir
governs? Democracy and Po: ,s, Pans, 1959. Cf. também R. A. DA '1~!
er n an American City, New Haven Prc ss,
c · em particular a obra pictórica de J . Dubuffet) .
O URBANISMO
56
ção, e segund O
num sim ple s de sejo de demonstra ica à Urna aç-
item ,
de lib era da me nte a ordem cronológ s con tinuida~º
que sacrifica senvolvido
a, seg ue m e ilustram os temas de rep res e nes sa intr e
ideológic filós ofos são ali
dução. Pensad ores, po lítico s e
and e espaço as, descri _ s , tan 1o.
ntado
' · di .
D camos um gr d~
quanto tecmcos. e lo que tê Çoes da Cida
pens ad ore s do séc ulo XIX, não só pe da s m de Pitores~
ideal em algumas
nhecidas, esclarecem stas qu
mas porque, mal co novas. Para o século XX res propo a u,.,'.
as ma is erv~m os
hoje parecem f
xões, inéditos e:U rances ' urn lug~··•
série .de ensai os crí ticos anglo-sa Ih ada pelas
. 1mporta•nc1a e, a nossos o os , justific
. , perspectivas %
CUJa .
abrem para o fut uro

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