(*) LA DÉMILITARISATION DE LA CULTURE
Jean-Paul Sartre in Situations, VII
France-Observateur, 1962, p.322-331.
10.06.2022
La culture, ce n'est pas à vous que j'ai besoin de dire ce
qu'elle est, ce qu'elle signifie pour chacun, même pour
l'homme le plus inculte. Et je ne vais pas non plus me
lancer ici dans des méditations philosophiques. Mais je
vous dirai seulement ce qu'un jeune homme soviétique
a dit devant moi au cours d'une discussion pu blique sur
la poésie: «Je suis technicien et j'ai besoin de la poésie
pour faire correctement mon métier technique». Et,
certainement, la tech nique est culture elle-même: mais
ce mot que je trouve à la fois tout naturel et très beau
montre que toutes les formes de la culture sont
complémentaires et que la rigueur scientifique réclame
en chacun la présence d'une autre ri gueur, plus difficile,
qui l'équilibre la rigueur poétique. D'autres diront mieux
que moi les terribles ravages que fait la guerre froide
dans les domaines de la technique et de la science,
comment leurs objectifs réels sont tordus et faussés,
quelle vaine dépense d'intelligence et d'ar gent il faut
aux chercheurs à l'intérieur d'un bloc pour découvrir ce
qu'ils trouveraient plus aisément avec le concours des
chercheurs de l'autre .
Je veux me maintenir dans mon domaine; la poésie, les
lettres et, plus indirectement, les arts. Ce jeune
technicien, vous le voyez, a besoin de poèmes , il en
absorbe et, si je puis dire , il les consomme. La vraie
responsabilité, pour nous autres, hommes de culture,
elle est là: nous devons empêcher qu'il absorbe des
poèmes em poisonnés. Car c'est notre culture, celle que
nous produisons aujourd'hui nous-mêmes qui s'infiltre
lentement chez les générations qui nous suivent.
Vainement on dirait que les grandes œuvres du passé
peuvent servir d'antidotes: elles le peuvent, certes, à la
condition qu'une propagande belliqueuse ne les ait
truquées, à la condition qu'on ne s'en serve pas comme
d'une machine de guerre contre les hommes qui sont de
l'autre côté du fossé.
La culture c’est, à mon sens, la conscience en
perpétuelle évolution que l'homme prend de lui même
et du monde dans lequel il vit, travaille, et lutte. Si cette
prise de conscience est juste, si elle n'est pas
systématiquement faussée, nous laisserons, malgré nos
erreurs et nos ignorances, un héritage valable à ceux qui
nous suivent . Mais si nous subordonnons notre travail
(*) A Desmilitarização da Cultura
Tradução: Rita Bittencourt
Comunicação: Eliana Sales Paiva
Revisão: Frei Hermínio Bezerra
15.08.2023- Apresentação texto em Sala de aula-UECE
Das contribuições dos estudantes surgirão as NOTAS.
Sobre a Cultura, não é para você A desobjetificação
da existência e nos paradoxos da cultura
contemporânea que preciso dizer o que ela é, nem o
significado que se impõe para cada um, nem mesmo
para o homem mais inculto. E também não vou me
lançar aqui em meditações filosóficas. Mas, eu direi
apenas o que um jovem soviético disse na minha frente
durante uma discussão pública sobre poesia: “Sou
técnico e preciso da poesia para fazer meu trabalho
técnico adequadamente”. E, certamente, a técnica é a
própria cultura: contudo esta palavra, que eu acho ao
mesmo tempo bastante natural e muito bonita, mostra
que todas as formas da cultura são complementares e
que o rigor científico exige para cada um, a presença de
outro rigor, mais difícil, que a equilibre com rigor
poético. Outros dirão melhor do que eu dos terríveis
estragos que a guerra fria causou nos campos da
tecnologia e da ciência, com os seus objetivos reais são
torcidos e distorcidos, aquele dispêndio em vão de
inteligência e dinheiro, que foi necessário para
pesquisadores dentro de um bloco descobrirem o que
eles querem encontrar mais facilmente com a ajuda de
pesquisadores do outro grupo.
Eu quero optar pelo meu campo de domínio: a poesia,
as letras e, mais indiretamente, as artes. Este jovem
técnico, como se viu, ele precisa de poemas, ele os
absorve e, se me permita dizer, ele consume-os. A
verdadeira responsabilidade, para nós, homens de
cultura, está aí: nós devemos impedi-lo de absorver
poemas envenenados. Porque é a nossa cultura, aquela
que nós mesmos produzimos atualmente e que está
lentamente se infiltrando nas gerações que nos seguem.
Dirão em vão que as grandes obras do passado podem
servir de antídoto: certamente podem, desde que a
propaganda bélica não as tenha manipulado, desde que
não sejam usadas como máquina de guerra contra os
homens que estão do outro lado do fosso.
A cultura é, na minha opinião, a consciência em
constante evolução que o homem toma de si mesmo e
do mundo em que vive, trabalha e luta. Se essa
conscientização for acertada, se não for
sistematicamente distorcida, nós deixaremos, apesar
de nossos erros e ignorância, um legado válido para os
quais nos seguem. Mas, se subordinarmos nosso
à des impératifs belliqueux, nous ferons de nos enfants,
qui consommeront des vérités empoisonnées, des
fascistes ou des désespérés. Prenons - y garde, ce
danger est menaçant: le nombre de ceux qu'on appelle
chez nous blousons noirs, ailleurs hooligans, est en
croissance. Nous pouvons et devons dire de ces jeunes
gens quels que soient leurs que nous sommes
responsables d'eux, que, en ces quinze dernières
années, nous n'avons pas su leur donner cette
conscience lucide d'eux mêmes, de leur classe, des
aliénations dont ils souffraient, que nous avons laissé
ces violences nues et sauvages faute de les éclairer et
de les diriger.
Vous connaissez ce tour de passe-passe: on prétend
défendre la culture quand, en vérité , on la mobilise; on
déclare partout qu'on fait la guerre pour la sauver
quand, en vérité, elle est entièrement soumise aux
intérêts guerriers. Le truc est simple: on joue sur les
deux caractères contradictoires contradiction féconde
quand elle se développe librement qui définissent
ensemble toute culture: le particularisme national et
l'universalité au moins potentielle. La profondeur d'une
oeuvre vient de l'histoire nationale, de la langue, des
traditions, des questions particulières et souvent
tragiques que l'époque et le lieu posent à l'artiste à
travers la commu nauté vivante où il est intégré. Qui
comprendrait Mickiewicz sans connaître la situation de
la Pologne au XIX siècle ? Nous, les Méditerranéens , ce
que nous appelons avec tant de superbe «civilisation
gréco-latine», ce n'est que notre particularisme et la
parenté de nos langues tant italienne ou espagnole que
française. Et j'ai senti, en U. R. S. S. , au cours d'un récent
voyage, que le public était d'abord sensible à une
certaine qualité que l'étranger pressent sans toujours
pouvoir la définir: l'aspect proprement russe d'un livre ,
d'une mise en scène , du jeu d'un acteur.
A cause de cette particularité toute ceuvre tend la vers
l'universel. Avons- nous assez dit, chez nous , à la fin du
siècle dernier, que Tolstoi, Tchékhov, Dostoievsky
étaient incompréhensibles aux «Latins» et qu'ils avaient
«l'âme slave». Et , finalement, soixante ans plus tard , il
faut reconnaître que tout le monde a l'âme slave en
France puisque nous avons accueilli ces grands auteurs
et que nous en avons fait notre patrimoine. Cela veut
dire que l'aspect _ proprement russe d'une ceuvre,
reprise par un Français à la lumière des moeurs et des
soucis français , dévoile à son lecteur des aspects jusque
- là inconnus ou obscurs de lui - même ou de son pays.
De même , les Américains nous ont «donné» Faulkner,
à nous autres Latins», mais et c'est l'aspect
complémentaire et inverse de l'universalisation nous le
leur avons bien rendu; il nous a aidés à mieux nous
comprendre, cet homme du Sud, hanté par les
trabalho a imperativos belicosos, faremos com que
nossos filhos consumirão verdades envenenadas,
fascistas ou desesperados. Estejamos atentos - esse
perigo é ameaçador: o número daqueles que são
chamados de jaquetas pretas em nosso país, em outros
lugares hooligans, exemplifica que o número de
arruaceiros está crescendo. Nós podemos e devemos
dizer desses jovens, _ seja qual for a sua origem/crimes
_ que somos responsáveis por eles, e que nos últimos
quinze anos não fomos capazes de dar-lhes essa
consciência lúcida de si mesmos, de sua classe, das
alienações das quais sofreram, e que deixamos para eles
esse crime de violência nuas e selvagens
[eminentemente] por falta de esclarecimento e direção.
Nós conhecemos esse truque: nós fingimos defender a
cultura quando, na verdade, a mobilizam/moldam;
declara-se em todos os lugares que a guerra está sendo
travada para salvá-la, quando, na verdade, está
inteiramente sujeita a interesses bélicos. O truque é
simples: jogamos sobre os dois personagens
contraditórios _ a contradição fértil quando ele se
desenvolve livremente _ que definem conjuntamente
qualquer cultura: o particularismo nacional e a
universalidade, pelo menos, “em potencial”. A
profundidade de uma obra vem da história nacional,
do idioma, das tradições, das questões particulares e
muitas vezes trágicas que a época e o lugar colocam ao
artista através da comunidade viva em que ele está
integrado. Quem entenderia Mickiewicz sem saber a
situação da Polônia no século XIX? Nós, os
mediterrâneos, àquilo que chamamos com tanta
soberba “civilização greco-latina", é apenas nosso
particularismo e o parentesco de nossas línguas, tanto
italiana quanto espanhola e francesa. E eu senti, na
URSS, durante uma viagem recente, que o público era,
inicialmente, sensível a uma certa qualidade que o
estrangeiro imprime sem sempre ser capaz de defini-lo:
o aspecto propriamente russo de um livro, uma
encenação, a atuação de um ator.
Por causa dessa peculiaridade todo o trabalho tende
para o universal. Já dissemos variadas vezes, em nosso
país, no final do século passado, que Tolstoi, Chekhov,
Dostoievsky eram incompreensíveis aos "Latinos" e que
eles tinham "a alma eslava". E, finalmente, sessenta
anos depois, devemos reconhecer que todos têm a alma
eslava em França, desde que acolhemos esses grandes
autores e que fizemos disso nosso patrimônio
(herdado). Isso significa que o aspecto _ propriamente
russo de uma obra, retomada por um francês à luz dos
costumes e preocupações francesas _ desvenda ao seu
leitor aspectos até então desconhecidos ou obscuros -
de si mesmo ou de seu país. Da mesma forma, os
americanos “nos deram" Faulkner, para nós “latinos" _
mas este é o aspecto complementar e inverso da
universalização – retribuímos a eles o benefício; assim,
ele nos ajudaram a entender melhor, este homem do
problèmes raciaux; mais en nous comprenant par lui,
nous avons dévoilé des aspects de son ceuvre que les
Américains ne pouvaient connaître. Ce qui fait
comprendre la phrase célèbre d'André Gide: «C'est en
se faisant le plus particulier qu'on devient le plus
universel . » Entendons particulier dans le sens national
et historique, bien sûr, et non dans le sens d'un
subjectivisme idéaliste .
Mais la tactique guerrière, en temps de guerre froide,
consiste à séparer ces deux aspects d'une œuvre pour
les opposer l'une à l'autre. Au lieu d'un passage
dialectique qui transforme le particulier en général , la
culture en guerre commence par affirmer sa
particularité (elle est gréco - latine ou européenne , ou
occidentale); après quoi elle décide que cette
particularité n'est rien d'autre que l'universel par cette
simple raison qu'il y a une seule culture et, partout
ailleurs, la barbarie . Cela revient à refuser l'universalité
au nom de l'universel. Ainsi, l'humanisme bourgeois
peut s'offrir le luxe d'être en même temps raciste; il dit:
Tous les hommes sont mes frères et il ajoute en a parte:
seuls sont hommes les bourgeois. A partir de là , la
manoeuvre consiste à truquer les grandes oeuvres avec
le concours des critiques et des journaux inspirés. Voyez
Kafka: cet écrivain génial était juif; il était tourmenté à
la fois par le sort de la communauté juive Prague, du
temps des Habsbourg et , plus tard , dans les premières
années de la Tchécoslovaquie bourgeoise; rongé par des
conflits familiaux, par des contradictions d'ordre
religieux, il a porté un témoignage d'autant plus
universel qu'il est plus profondément singulier. Mais
qu'ont fait nos critiques ? Ils ont piégé ses livres dans l'es
poir qu'ils éclateraient dans les mains du public
soviétique. Ils ont commencé par déclarer que la
bureaucratie était un défaut nécessaire du socialisme -
comme si ce vice n'était pas inhérent à toutes les
sociétés industrielles après quoi ils ont fait de Kafka le
dénonciateur des bureaucrates . Il n'y a plus , après cela,
qu'à l'en voyer, si l'on peut dire, chez les Russes, en
espérant que chaque lecteur reconnaîtra son pays dans
l'univers du Procès . Cela ne serait rien si cette agression
préméditée ne provoquait , en U. R. S. S., un réflexe de
défense qui, lui aussi, bien que parfaitement
compréhensible, est un réflexe de guerre: puisque ces
livres nous insultent , dit - on en Union sovié tique, nous
n'avons nul besoin de les traduire. Le résultat: il y a près
d'un demi-siècle que Kafka écrivait Le Procès et le public
de ce grand pays, à l'avant-garde du progrès social,
scientifique et technique, ignore souvent jusqu'à son
nom. Cet auteur subit un double dommage à l'Ouest il
est faussé, tordu; à l'Est, on le passe sous silence. Mais,
inversement, nous souffrons, nous, partout, du tort que
nous lui faisons: nous le déformons à l'Ouest et à l'Est
par nos passions partisanes et nous ne bénéficions nulle
part de sa vraie universalité, c'est-à-dire
Sul, comprometido por problemas raciais; mas
entendendo-nos através dele, nós desvelamos aspectos
de sua obra, que os americanos desconheciam. Isso
gestando sentido a famosa frase de André Gide: “É
tornando-se o mais particular que se torna o mais
universal”. Entendamos particular no sentido nacional
e histórico, sobretudo; e não no sentido de um
subjetivismo idealista.
Mas a tática de guerra, em tempos de guerra fria,
consiste em separar esses dois aspectos de uma obra
para opor um ao outro. Em vez de uma passagem
dialética que transforma o particular em geral, a cultura
em guerra começa afirmando sua particularidade (é
greco-latina ou europeia, ou ocidental); depois disso ela
decide que essa particularidade não é nada além do
universal pela simples razão de que há apenas uma só
cultura e, em todos os outros lugares, a barbárie. Isso
equivale a recusar a universalidade em nome do
universal. Assim, o humanismo burguês pode se dar ao
luxo de ser racista; ao mesmo tempo, em que ele diz:
Todos os homens são meus irmãos e acrescenta: só os
burgueses são homens. A partir daí, a manobra consiste
em aparelhar as grandes obras com a ajuda de críticos e
jornais inspirados (envenenado/cooptados). Vejamos
Kafka: este escritor genial era judeu; sentia-se
atormentado tanto pelo destino da comunidade judaica
de Praga, na época dos Habsburgos e, nos primeiros
anos da Checoslováquia burguesa; consumido por
conflitos familiares, por contradições religiosas, ele deu
uma testemunha ainda mais universal, pois é mais
profundamente singular. Mas, o que fizeram os nossos
críticos? Eles ardilosamente prenderam seus livros na
esperança de que viessem a causar indignação no
público soviético. Eles começaram declarando que a
burocracia era um defeito necessário do socialismo_
como se esse vício não fosse inerente a todas as
sociedades industriais_ após a qual fizeram de Kafka o
denunciante dos burocratas. Depois disso, só restou
enviá-lo, por assim dizer, para junto dos Russos,
esperando que cada leitor reconheça seu país no
universo de O Processo. Isso não significaria nada se
essa agressão premeditada não provocasse, Não seria
nada se essa agressão premeditada não provocasse, na
U.R.S.S., um reflexo defensivo que, também, embora
perfeitamente compreensível, é um reflexo de guerra:
uma vez que esses livros nos insultam, diz-se na União
Soviética, não temos necessidade de traduzi-los.
Resultado: há quase meio século Kafka escreveu O
Processo e o público deste grande país, na vanguarda do
progresso social, científico e técnico, muitas vezes
ignora até mesmo seu nome. Este autor sofre um duplo
dano: ao Oeste Kafka é ridicularizado e distorcido; no
Leste ele é ignorado/silenciado. Mas, inversamente,
nós, em todos os lugares, sofremos do mal que
causamos a ele: deformámo-lo no Oeste e no Leste
pelas nossas paixões partidárias e não nos beneficiamos
de sua verdadeira universalidade; em outras palavras, a
de la valeur qu'il prendrait pour chacun si on le lais sait
vieillir dans les esprits et les cœurs toute liberté et,
comme dit Marx à un tout autre propos, sans addition
étrangère.
Je cite un romancier, mais je pourrais montrer sur des
exemples tirés de disciplines anthro pologiques le grave
tort que ce bellicisme culturel fait à l'humanité entière.
Des techniques nouvelles _cybernétique, méthodes
sociologiques, psychanalyse_ ont été conçues et mises
au point dans l'Occident capitaliste. Et il ne fait aucun
doute que certaines d'entre elles ont été inventées
précisément contre le marxisme . Est-ce à dire que tout
est faux en elles? Non, évidem ment puisqu'elles sont
efficaces, puisqu'elles servent le patronat, il faut
qu'elles aient quelque vérité. Cela veut dire que le
marxisme seul peut les intégrer, discerner le bon grain
de l'ivraie , assimiler le vrai, s'enrichir par là et mener en
conquérant la lutte idéologique. Mais, précisément
parce qu'il connaît l'intention première des chercheurs,
il se tient sur ses garde, il exclut, il excommunie quand
son immense vitalité lui permettrait de retourner ces
techniques contre ceux qui les ont inspirées . Le résultat,
c'est que la culture est coupée en deux : il y a deux
vérités inertes côte à côte qui se condamnent l'une
l'autre et qui sont incomplètes l'une et l'autre quoique
dans des sens très différents .
Le moment historique est tel, aujourd'hui, que la lutte
idéologique consiste pour l'idéologie marxiste à tout
prendre, à tout dissoudre en soi, à tout transformer.
Mais cela implique nécessairement qu'une force si
puissante et qui pourrait être irrésistible renonce à la
méfiance envers tout ce qui n'est pas originellement né
d'elle, c'est-à-dire finalement envers elle-même. En
d'autres termes, réclamer l'unité de la culture, c'est la
réclamer dans ses contradictions vivantes et ce n'est
pas, tout au contraire, abandonner la lutte idéologique.
C'est la guerre qui tue la lutte idéologique puisqu'elle
remplace l'affrontement par la séparation et la
condamnation réciproque. M. Khrouchtchev a parlé ici
même de la coexistence des régimes, il a déclaré avec
raison que cette coexistence ne peut être qu'une
compétition sur tous les plans, mais que cette
compétition doit être pacifique. J'applique ce qu'il nous
a dit à la culture et je conclus qu'elle doit être
compétitive, que son unité synthétique implique
justement en chaque cas une compétition qui doit, à
mon avis, se terminer au profit du marxisme.
Revenons à Kafka. Nous aurons l'exemple d'une vraie
compétition culturelle. J'ai demandé à un de mes amis
soviétiques: Pourquoi ne pas le traduire? Il m'a répondu
: On va bientôt commencer la publication d'œuvres
minimes, mais, vous comprenez, la critique d'Occident
l'a tant déformé qu'il apparaît à beaucoup comme notre
ennemi juré. J'ai répondu : Et pourquoi, de votre côté,
partir do valor que seria necessário para cada um se o
deixasse envelhecer em mentes e nos corações em
completa liberdade e, como Marx diz com um outro
propósito: sem adição estrangeira.
Eu cito um romancista, mas poderia aproveitar
exemplos de disciplinas antropológicas, do perverso
dano que esta ambientação do belicismo cultural
causou à humanidade. Novas técnicas _cibernética,
métodos sociológicos, psicanálise_ foram concebidas e
desenvolvidas no Ocidente capitalista. E não há dúvida
de que alguns deles foram inventados precisamente
contra o marxismo. Isso significa que tudo está errado
neles? Não, evidentemente, já que são eficazes, já que
servem os chefes, devem conter alguma verdade. Isso
significa que só o marxismo pode integrá-los, discernir
o trigo do joio, assimilar o verdadeiro, enriquecer-se por
isso e liderar enquanto conquistador a luta ideológica.
Mas, precisamente porque ele conhece a intenção
primária dos pesquisadores, ele fica de guarda, ele
exclui, ele excomunga quando sua imensa vitalidade lhe
permitiria transformar essas técnicas contra aqueles
que as inspiraram. O resultado é que a cultura é cortada
em duas: há duas verdades inertes, lado a lado, que
condenam uma à outra e que são incompletas uma e
outra, embora em sentidos muito diferentes.
O momento histórico é tal, que hoje, a luta ideológica
consiste, para a ideologia marxista, em assumir tudo,
em dissolvendo tudo em si mesmo, em transformando
tudo. Mas, isso implica, necessariamente, que uma
força tão poderosa e potencialmente irresistível
renuncia à desconfiança em relação a tudo o que não
nasce originalmente dela; ou seja, em última análise, de
modo diverso, mas inseparavelmente em direção a si
mesmo. Noutros termos, reivindicar a unidade da
cultura é reivindicá-la em suas contradições vivas e não
é, ao contrário, abandonar a luta ideológica. É a guerra
que mata a luta ideológica, porque substitui o
nivelamentoto pela separação e condenação recíproca.
O Sr. Khrushchev falou aqui sobre a coexistência de
regimes e ele declarou, com razão, que essa
coexistência só pode tornar uma competição em todos
os níveis, mas que essa competição prime pela
pacíficação. Aplico à cultura o que ele nos disse e
concluo que se ela deve ser competitiva, que sua
unidade sintética implique precisamente, em cada caso,
uma competição que deve, em minha opinião, terminar
em favor do marxismo.
Retomando a Kafka. Teremos o exemplo de uma
verdadeira competição cultural. Perguntei a um dos
meus amigos soviéticos: Por que não traduzi-lo? Ele me
respondeu: Em breve começaremos a publicação de
obras mínimas, mas, você entende, a crítica ocidental
distorceu tanto que parece a muitos como nosso
inimigo jurado. Eu respondi: E por que, do seu lado,
n'avez-vous pas écrit des articles de critique marxiste
pour le revendiquer? Là encore, vous auriez gagné car
vos méthodes vont plus loin dans l'explication que celles
des critiques occidentaux. Ou plutôt elles iront
beaucoup plus loin quand vous leur aurez pris ce qu'ils
ont de vrai en rejetant le faux. La vraie compétition
culturelle, en un mot, c'est de supprimer toutes les
douanes et les barrières de la culture et de jeter ensuite
ce défi pacifique: A qui, de vous ou de nous, appartient
Kafka c'est-à-dire qui le comprend le mieux? A qui
profite-t-il le mieux?
Non: nous autres, hommes de culture et je m'adresse à
tous ceux qui m'écoutent - nous savons bien qu'on ne
doit pas défendre la culture. La défendre, c'est en vérité
s'en servir pour justifier la guerre; contre qui la
défendrait-on, en effet, sinon contre des hommes? Mais
justement, qui donc la fait sinon les hommes eux-
mêmes? Je suis de ceux qui préfèrent une vie humaine
à la cathédrale de Chartres. Parce que la cathédrale, si
nous mourons pour elle, ne refera pas des hommes
pour nous remplacer; et parce que les hommes, s'il en
demeure et si la cathédrale s'effondre, peuvent refaire
une cathédrale comme le prouve l'exemple de Varsovie.
La culture est faite par les hommes et pour les hommes.
La défendre contre eux, c'est la transformer en idole,
c'est aliéner l'homme à son produit. Et si le canon se met
de la partie, s'il envoie ses obus gréco-romains contre
les canons asiatiques, il est à craindre, pour finir, qu'il
n'y ait plus, à Angkor ou à Athènes, que des pierres
dispersées par les bombardements.
La culture n'a pas à être défendue. Ni par les militaires
ni par les politiques. Et ceux qui s'en prétendent les
défenseurs sont, en vérité, qu'ils le veuillent ou non, des
Comment? Ce n'est pas à moi de le dire. Mais à tous:
tous les anthropologistes, tous les écri vains, tous les
artistes connaissent cette fission culturelle qui
correspond si rigoureusement à la fission de l'atome;
c'est à eux d'empêcher l'explosion. A eux de chercher
les moyens pour rendre au monde des idées et des
formes son unité, ses contradictions fécondes, ses
compétitions pacifiques et, en dernière analyse, sa
puissance créatrice. Ici comme en tous les do maines,
les pays décolonisés ou en lutte contre l'impérialisme
nous seront d'un précieux secours. A eux chez, les
problèmes culturels sont autres: il ne s'agit pas d'une
guerre idéologique; s'ils sont en lutte c'est contre la
culture de leur ex métropole qui leur a imposé très
souvent sa langue et ses idées; et leur but'est pas
simplement de la rejeter ni de retourner sans plus à
leurs anciennes traditions mais de forger avec et contre
le passé précolonial et ce qu'ils jugent encore valable
dans les arts et les idées de la puissance qui les
opprimait une culture révolu tionnaire et toute
présente qui se forge en même temps que leur unité
nationale défenseurs de la guerre. Quand les soldats de
você não escreveu artigos de crítica marxista para
afirmar isso? Mais uma vez, você teria vencido porque
seus métodos explicando diferentemente dos críticos
ocidentais. Ou melhor, vocês irão muito mais longe
quando aceitarem o que há de verdadeiro enquanto
rejeita o falso. A verdadeira competição cultural, em
poucas palavras, está em suspender de todas as
alfândegas o controle e as barreiras da cultura; então
lançando este desafio pacífico: A quem, de você ou de
nós, pertence Kafka, ou seja, quem o compreende
melhor?: Quem mais tira proveito dele, ou, quem
melhor adianta-se dele?
Não: nós, homens de cultura, dirijo-me a todos aquele
que me ouvem _ sabemos muito bem que não devemos
defender a cultura. Defendê-la é, na verdade, usá-la
para justificar a guerra; contra quem seria defendida,
de fato, se não contra os homens? Mas, precisamente,
quem a faz senão os próprios homens? Sou daqueles
que preferem uma vida humana à Catedral de
Chartres. Porque a catedral, se morreremos por ela,
não fará homens para nos substituir; e porque os
homens, se sobrarem e se a catedral desmoronar,
podem reconstruir uma catedral, como prova o
exemplo de Varsóvia. A cultura é feita por homens e
para homens. Defendê-la contra eles é transformá-la
em ídolo, é alienar o homem de seu produto. E se o
canhão se envolver, se ele enviar seus projéteis greco-
romanos contra os canhões asiáticos, é de temer, no
final, que não reste nada em Angkor ou Atenas, além
de pedras dispersas pelo bombardeio.
A cultura não precisa ser defendida. Nem pelos
militares nem pelos políticos. E aqueles que afirmam
ser seus defensores são, na verdade, gostem ou não,
defensores da guerra. Quando os soldados do
imperialismo defendem o Partenon, na verdade é o
Partenon que defende o 'imperialismo'. Não devemos
proteger a cultura, o único serviço que ela espera [e]
cabe a nós, intelectuais, prestar-lhe: devemos
desmilitarizá-la. Como? Não cabe a mim dizê-lo. Mas
a todos: todos os antropólogos, todos os escritores,
todos os artistas estão familiarizados com essa fissão
cultural que corresponde tão rigorosamente à fissão do
átomo; cabe a eles impedir a explosão. Cabe a eles
buscar meios alternativos de restaurar ao mundo das
ideias e formar sua unidade, suas contradições
frutíferas, suas competições pacíficas e, em última
análise, seu poder criativo. Aqui, como em todas as
áreas, os países descolonizados ou em luta contra o
imperialismo serão de preciosa ajuda para nós. Para
estes, internamente, os problemas culturais são
diferentes: não se trata de uma guerra ideológica; se
eles estão em luta é contra a cultura de sua antiga
metrópole que muitas vezes impôs sua língua e ideias
sobre eles; e seu objetivo não é simplesmente rejeitá-lo
ou retornar sem mais delongas às suas antigas
l'impérialisme défendent le Parthenon, en réalité, c'est
le Parthenon qui défend l'impérialisme. Il ne faut pas
protéger la culture, le seul service qu'elle attend, c'est à
nous, intellectuels, de le lui rendre: il faut la
démilitariser.
Ils seront nos plus importants alliés , précisément parce Esses serão nossos aliados mais importantes,
que le problème culturel ne se pré sente pas à eux selon precisamente porque o problema cultural não o se lhe
les mêmes clivages . apresenta, segundo a mesma clivagem.
.....................................................................................
Une réunion mondiale des hommes de culture pour le
désarmement culturel , c'est cela , je crois , quelle qu'en
soit la forme, qui permet trait le mieux de rétablir l'unité
culturelle que nous avons perdue, par l'union contre la
guerre de tous les hommes de culture .Cette réunion
dont je soumets l'idée au Congrès peut prendre des
formes diverses ce peut être un Congrès mais n'y en a -
t - il pas trop déjà ? et tout aussi bien une rencontre
restreinte de quelques individus mais nous ne croyons
ni les uns ni les autres , ici , à l'importance des
personnalités». Que reste-t-il? Ce que Vigorelli
proposait ce matin : il souhaitait que les écri encore
vains d'Afrique, d'Amérique et d'Asie consti tuent , dans
leurs pays et sur leurs continents, des communautés
organiques semblables à la nôtre; il espérait , en outre ,
quand la chose serait faite, que chaque communauté, y
compris la communauté européenne des écrivains,
déléguât un petit nombre de ses membres pour
rencontrer les délégués des autres. Sans être
exactement mandatés, tous ces hommes auraient cessé
de ne représenter qu'eux-mêmes: ils se sentiraient
responsables envers leur continent.
Par ce débat, l'on pourrait établir les bases d'un
programme à proposer à toutes les nations: suppression
de tout protectionnisme culturel, publication des
oeuvres importantes qu'elles soient ou non
contemporaines en toutes langues, sous le contrôle des
hommes de culture qui devraient à la fois prendre en
chaque cas la responsabilité de proposer les ouvrages à
l'éditeur et, par des avant-propos ou des articles
critiques, les expliquer au public selon l'idéologie
admise , dans l'intention de les rendre acces sibles au
plus grand nombre tables rondes fréquentes (entre
écrivains , artistes , entre critiques et critiques d'art),
contacts privés, obligation pour tous de défendre
chacun. Nous avons un courant très puissant à
remonter: la guerre froide n'a fait que peu de morts,
mais elle a congelé la culture universelle. Mais si
vraiment , pour la première fois dans le monde, les
hommes de culture s'unissaient, je suis convaincu que
nous arriverions rapidement au dégel .
tradições, mas forjar com e contra o passado pré-
colonial e aquilo que eles ainda consideram válido, no
campo das artes e das ideias do poder que os oprimiu,
uma cultura revolucionária e eminentemente
presentes que é provoca, ao mesmo tempo, a sua
unidade nacional.
.......................................................................................
Um encontro mundial de homens de cultura para o
desarmamento cultural, é, acredito, qualquer que seja
sua forma, o que permite melhor servir para restaurar a
unidade cultural que perdemos: com a união de todos
os homens de cultura, contra a guerra. Esta reunião, no
qual a ideia que estou submetendo ao Congresso, pode
tomar várias formas, pode ser um Congresso, _ mas já
fazem muitos? _ ou também uma reunião restrita de
alguns indivíduos, mas não acreditamos em nenhum de
nós, aqui, na importância de "personalidades". O que
sobrou? O que Vigorelli propôs esta manhã: ele deseja
que fossem escritos novamente na África, América e
Ásia, constituíssem em seus países/continentes
comunidades orgânicas semelhantes às nossas;
também esperava, por outro lado, quando a coisa
estivesse em processo adiantado; simultaneamente,
cada comunidade, incluindo a comunidade europeia de
escritores, delegasse um pequeno número de seus
membros para se encontrar com os delegados dos
outros. Sem serem exatamente mandatário, todos
esses homens teriam deixado de representar apenas a
si mesmos: se sentiriam responsáveis pelo seu
continente.
Através deste debate, poderíamos estabelecer as
bases de um programa a ser proposto a todas as
nações: abolição/supressão de todo o protecionismo
cultural, publicação de obras importantes _quer sendo
essas ou não contemporâneas_ em todas as línguas, sob
o controle de homens da cultura que,
concomitantemente, assumam o compromisso, em
cada caso, de propor as obras à editora/editor e, por
prefácios ou artigos críticos, explicá-los ao público de
acordo com a ideologia aceita, com a intenção de torná-
los acessíveis ao maior número pessoas _mesas
redondas frequentes (entre escritores, artistas, entre
escritores, artistas, entre avaliadores e críticos de arte),
contatos privados, obrigação de todos defenderem
cada um. Assim teremos uma corrente muito poderosa
a reestabelecer [a avaliação]: a Guerra Fria não causou
apenas algumas mortes, mas congelou/fixou/reprimiu
a cultura universal. Mas se realmente, pela primeira vez
no mundo, os homens de cultura se unindo, estou
convencido de que, chegaríamos rapidamente, ao
degelo/desobjetificação/possíveis engajamentos.
Extrait du discours prononcé à Moscou devant le Trecho do discurso proferido em Moscou ao Congresso
Congrès mondial pour Le Gésarmement général et La Mundial de Desarmamento Geral e a Paz. (1965)
Paix .

REFERÊNCIAS

CONTAT, Michel – RYBALKA, Michel Les Écrits de Sartre: Chronologie Bibliofraphie Commentée. Paris: Gallimar,
1970
1) Texto completo, em italiano, sob o título Coesistenza pacifica e cultura”. IN: IL FILOSOFO E LA POLITICA.
Roma: Editori Riuniti, 1964. P. 277-287 da edição em brochura incompleta em SITUATIONS, VII. Além do
corte indicado p. 330, faltando uma página no início, bem como uma longa passagem antes do primeiro
parágrafo da p. 324: [1965].
2) Extraído de Bad tradução alemã, "Die Abrüstung der Kultur: Sinn und Form, 14. Jahr, Heft 5-6, 1962, p. 805
815. Discurso proferido em Moscou no Congresso Mundial para Desarmamento Geral e Paz (9 a 14 de
julho de 1962).
3) Texto incompleto, em francês, La démilitarisation de l aculture. IN:SITUATION, VII. Paris: Gallimard,1965.

• Examinando o problema da cultura tal como surgiu no contexto da Guerra Fria, Sartre toma principalmente
o exemplo de Kafka para mostrar como a cultura foi mobilizada para fins partidários. A cultura não deve
ser defendida [...] a cultura não deve ser protegida, o único serviço que ela espera cabe a nós, intelectuais,
prestar-lhe: precisa ser desmilitarizada. Sartre procura convencer os marxistas soviéticos de que eles têm
tudo a ganhar com a integração da cultura ocidental, em vez de rejeitá-la completamente.
• Referindo-se à tese Khruchevista da coexistência pacífica baseada na competição pacífica, propicia Sartre
declarar: Eu aplico o que ele [Khruchev – desStalinização (1952-1960)] nos disse à cultura e concluo que ela
necessita ser competitiva, que sua unidade sintética implica precisamente em cada caso a competição que
deve, em minha opinião, terminar a favor do marxismo.

. SARTRE, Jean-Paul. SITUAÇÕES VII: Problemas do marxismo – 2. IN: Coleção Estudos e Documentos. Rio de
Janeiro-Br: PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, 1976. Trad.: Valentina Trigo de Sousa.

• Ressalta-se que nesse volume foi incluído questões que incide análises polêmicas, discutíveis, porém
inegavelmente lúcida, do filosofo. A luta de classes e a sua inelutabilidade/invencibilidade, problemas da
cultura, a liberdade de expressão e as condições de sua existência, além de ocorrências de relevo como,
por exemplo, os acontecimentos de Budapeste em 1956, são alguns dos aspectos focados nesse volume.
Observa-se: em todos esses problemas que Sartre se pronuncia enquanto testemunha crítica do nosso
tempo, com aquela arte propriamente sua de, analisando o concreto, mostra os problemas de fundo que
nele se encarceraram e ele repõe a discursão com argumentos irrefutáveis (pelo menos, para o seu
tempo). Por isso o desafio de relê-lo: Com quem Sartre constitui interlocutor? A quem mais tira proveito
dele, ou, quem melhor adianta-se dele?

Foto do evento em Moscou do Congresso

Mundial de Desarmamento Geral e a Paz. (1965)
Identidade visual do evento, produzido por Picasso

Logomarca do evento anterior, ocorrido em 1950

Mário de Andrade, também participou de uma
edição do evento no ano de 1962