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Obras do autor

A"' t· ['ave,,,·,. des villes, Édicions Odile Jacob, 1995; ed. por-
metapo rs, ort · .
A,, ta, , /,·s Acerca do Futuro da Cidade, Celta, 1998.
cuguesa: 1YJe r1 0 · . , . .
La République contre la vil/e. Essat sttr l avemr de la France urbame,
I'Aube, 1998.
La Société hypennodeme. Ces événements nous dépassent, feignons d'en
être les o,ganisatetm, I'Aube, 2001, 2005.
Les Nouveaux Príncipes de l'urbanisme. La fin des villes n'est pas à
l'ordre du jour, l'Aube, 2001; l'Aube poche, 2004. .,
Le Mangeur hypermoderne. Une figure de l'individu éclectique, Edi-
cions Odile Jacob, 2005.
Examen clinique. Joumal d'un hypennoderne, l'Aube, 2007.
La Societé évolue, la politique aussi, Édicions Odile Jacob, 2007.
Les Nouveaux Compromis Urbains. Lexique de la vil/e plurielle, l'Aube,
2008.

Colaborações

Demain la vil/e?: urbanisme et politique, Editions sociales, 1975; ed.


portuguesa: O Urbanismo e a Política, Estampa, 1976.
Les Territoires dtt Jutur, l'Aube, 1993.
Le Logement en questions. Continuités et ruptures (coord.), l'Aube,
1995.
Quand les transports deviennent l'ajfaire de la cité, l'Aube, 1999.
Fabriquer la vil/e. Outils et méthodes. Les aménageurs proposent, la Do-
cumentation française, 2001 . ·
Modernité: la nouvelle carte du. temps (co-dir.), l'Aube, 2003.
Politicas Urbanas. Tendências, Estratégias e Oportunidades (artigo),
Fundação Calousce Gulbenkian, 2003.
Modernité: les sens du mouvement (co-dir.), Belin, 2004.
La rue est à naus... tou.s (co-dir.), édicions Au diable vauverr, 2007.
Inovação e Globalização - Estratégias para o Desenvolvimento Econó-
mico e Territorial (artigo), Campo das Letras, 2007.

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novos
princípios
do urbanismo
seguido de

novos •
comprom1ssos
urbanos um léxico

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François Ascher

p10s ·
JT l!il

I!

r an1smo
seguido de

novos

compromissos
urbanos um léxico
PREFÁCIO DE Nuno Portas

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Ad-vertência do Editor

na presente tradução do Léxico que com poe


eolll o ,·icordo cio •tutor,
' , , • • , al
_ No
Vos
Compromissos Urh{lnos exc1u1ram-se os cop1cos resrmos a re idade francesa.
Pr·rnçois
• Ascher viria a morrer
. no
, princípio
. de Junho,- dias depois de ter sido
.
galardoado com O Granel Pnx de I Urbamsme 2009, razao pela qual decidim
,l . os
incluir em c.:xcracexro aque1a que aca bou por ser a sua u uma entrevista.

Titulo:
Novos Princípios do Urbanismo
seguido de
Novos Compromissos Urbanos. Um Léxico
Título origi11nL·
Lcs Nouvcaux Principcs de l'Urbanismc. L, fio dcs villes n'cst pas à l'ordrc du jour
© Êdi1ions de l'i\ubc 2001 cr 2004 pour l'édition de poche
Tmdurão:
~ largarida de Souza Lobo e Ana Valente
e
Les Nouvcaux Comp~omis Urbains. Lexique de la ville pluriclle
© Edirions de l'Aube 2008

Tmduráo:
Margarida de Souza Lobo
Autor:
François Ascher
Prefácio:
Nuno Portas
C11pn:
Nuno Neves
sobre imagem do Google E.,rch
Rroisáo:
Sandra Elias

© Livros Horizonte, 2012

ISBN 978-972-24-1670-2
3.• edição 2012
Paginação:
Estúdios Horizonte
lrnprcss:io:
Rolo & Filhos II, SA
Junho 2012
Dep. Legal n.º 345 185/12
'Y
Reservados todos os direitos de publie:tção
tmal ou pare·m1para a I'mgua portuguesa por
LIVROS HORIZONTE LDA
Rua das C ha ' ·
gas, 17 -1.º De· 0 - 1200-106 LISBOA
E-mail·
• · geral@!'1vros horizonte.pt
IV\Vw.livroshorizonce.pt

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ÍNDICE

PREFÁCIO 11
······················································································
Nuno Portas

NOVOS PRINCÍPIOS DO URBANISMO

INTRODUÇÃO ···· ···· ··························· ······ ...................... .............. .. . 19

1. URBANIZAÇÃO E MODERNIZAÇÃO ...................... ............. . . .. ....... . 21


Cidade e sociedade: uma correlação estreita .......................... .. 21
As evoluções de longa duração da sociedade moderna ............ . 23
As duas primeiras revoluções urbanas modernas ....... ,............ .. 26

li. A TERCEIRA MODERNIDADE ... .. . .......... . .. .. .... . . .. ............ : .. .. . . . . .. . . 32


Uma sociedade mais racional, mais individualista e mais
diferenciada ........................................................................... . 33
O aparecimento da sociedade hipertexto ................................ . 43
Do capitalismo industrial ao capitalismo cognitivo ................ . 49

III. A TERCEIRA REVOLUÇÃO URBANA MODERNA .. .......................... .. 60


A metapolização: as cidades mudam de escala e de forma ...... .. 61
A transformação do sistema das mobilidades urbanas ............ .. 64
A recomposição social das cidades .......................................... . 66
A redefinição das relações entre interesses individuais,
colectivos e gerais ................ :.................................................. . 71
Cidades de todos os riscos ...................................................... . 75

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, S DO NOVO URBANISMO ....................... .
IV. Os PRINCIPIO . .. ........... .
78
8
1. E1aborar e gerir proJ·ectos num contexto mcerro .. ............... . 79
... z. . . g·iar os obJ'ectivos em relação aos meios ..... .. .............. .
Pnv11e 81
3. Incegrar Os novos modelos de desempenho ........ .. .............. ..
Q)
.r::
(J
cn 82
<! . Adaptar as cidades à diversidade das necessidades ............... .
cn 4 84
'õ S. Conc~ber os lugares em função das novas práticas sociais .. ..
(J,
,- 86
...
íõ
u..
6. Agir numa sociedade fortemente diferenciada .............. ..... .. 88
7. Requalificar a missão dos poderes públicos ......... ............... .. 90
8. Responder à variedade dos gostos e das procuras ............... . 91
9. Promover uma nova qualidade urbana ............... ................ . 92
1o. Adaptar a democracia à terceira revolução urbana ............. 93

NOVOS COMPROMISSOS URBANOS


Um léxico

INTRODUÇÃO - AS QUATRO COMPONENTES DAS CIDADES

CONTEMPORÂNEAS......... . . . ........ . ... . ......... . ...... . .. . ...... .. .............. 99


Uma sociedade que mudou muito.................... ....... ............... 99
Uma sociedade que continua a ~udar . .. .. . . . .. .. . .. .. .... .. .... ........ 103
Metropolização e metapolização.............................................. 105
As quatro cidades.................................................................... 106
Os novos compromissos urbanos .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..... ..... ........ 107

LÉXICO ................................................................ ......................... 109

AMBIENTE

AQA (Alta Qualidade Ambiental)........................................... 109


Cleantech ................................................................................ 110

DESENVOLVIMENTO URBANO
Atractividade
e ......................................................................... . 114
eentras comerciais ······............................... ............................. 118
omércio de proximidade • •e• a• a. a• I t I t I • t ■I eI •II•. I •II II t III t I. III t III• I t f 1 1 f I
120

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Logística urbana 122
•• • • •••• • •• •• ••• • • •• ••••• •• •••• • • ••••• ••• • • •• •••••••••• ••••• •• • •• • f ••
9
Polarização/ polaridades .......................................................... . 123
5"'
a.
(")
GovERNABILIDADE CD

Comunidade de aglomeração ................................................. . 125


Democracia participativa ....................................................... . 128
PPP - parcerias público-privadas .......................................... .. 131

MOBILIDADE

Acessibilidade das pessoas ....................................................... 133


Automóvel.............. ................................................................ 137
Intermodalidade ... ....... ... .............. ....... .......... ... .... ..... ..... .. .... .. 139
Mobilidade (central de) ......................................................... 142
Portagens urbanas ... .. ... ....... .. .. .. .. ... ... .. ... ..... .. ..... .. ..... ..... ..... .. .. 144
Transferência modal................................................................ 146

U RBANIZAÇÁO
Densidade urbana. Densificaçáo ············································ 147
Dispersão urbana ................................................................... . 151
Habitat intermédio ................................................................ . 153
Mistura funcional .................................................................. . 155
Moodade social ...................................................................... . 157
Periurbano/suburbano ........................................................... . 159
Ruas, avenidas ................................................ •.. •••••.. ••••••••••... • 161

Bibliografia ..................................... •.. •···..... · ............................ ·.. ·· 167

ENTREVISTA . ,,
''As cidades constroem-se so 6re compromissos .................... .. 171

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Prcf?tcio

François Ac;cher j~i nfio é um autor ucsconhccido dos leitores


portuguc!ics interessados 110 urbanismo contemporâneo: soció-
logo e polic61ogo, ccnlrou nos últimos vinte anos a sua reflexão
sobre a perturbadora dinâmica das formas de vida-e-urbaniza-
ção do Liltimo mc.:io século que.: caracteriza como passagem da
modernidade para a hipcrmodcrnidadc.
A Metapofís que publicou cm 1995 foi, e ainda é, uma obra
de.: rcfc.:réncia incontornável, traduzida e entretanto esgotada em
portugués.
A de se deve.:, nessa e nas seguintes obras, não só a explicação
das razõcs profundas - socioeconómicas, tecnológicas e cultu-
rais pelas quais as cidades que herdamos davam lugar a uma
vcrdadc.:ira mudança de "paradigma" territorial - mas também
a justificação das políticas capazes de conduzir à convivência das
diversidades de assentamento que Choay tinha anunciado como
a passagem de "la vílle a l'urbain".
A pesquisa pluridisciplinar que entretanto podemos condu-
zir entre nós deve muito ao seu impulso reflexivo, o que só por
si era razão suficiente para ter proposto aos Livros Horizonte a
publicação conjunta de duas obras recentes que podem ser lidas

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Jcmcnro e aprofundamento da matéria dad
crJmO comp , . . a no en.
. d 95 agora dirigidas a publ1cos mais recentes ou lllen
,;:u<J e 19 , 05
cc,pccializadns.
A~:,1•m :,e 1·unta, com o acordo do autor, aos Novos Pri,icrp,o•
..
do Urbanúmo, de 2001, o recém-publicado Novos CompronziSio;
UrbanoJ escrito sob a forma de um léxico, de 2008.
E'ita edição é também uma homenagem a dois amigos entre-
ramo desaparecidos: ao Autor, e também ao Editor, Rogério
Mcnde!> de Moura, que, infelizmente, não puderam vê-la
irnpre:,:,a.

A.c,chcr pós cm circulação alguns conceitos sobre a "cidade


contcmporánea" que pela sua precisão se tornaram descritores
expressivos das novas articulações da urbanidade que adapta-
mos e da urbanização em que nos movemos. Recordo os termos
que propõe nos próprios títulos, para não ir mais longe:
"Mcta(polis)" - em vez de mega ou metro - para acenruar
a transversalidade e a extensividade, em vez da grandeza ou dos
limites rígidos que caracterizavam a cidade; "plural" acentuando
a diversidade, a complexidade, em vez da uniformidade ou da
densidade dos seus assentamentos; "compromisso", acentuando
os défices de consenso sociocultural e de governância, em vez da
unicidade das políticas e soluções.
Com a ajuda de Ascher - e (mais tarde) de aurores corno
Sccchi, Indovina, Roux, De Matteis, Velz, Font, Dalda, Sieverrz,
Fernandes de Sá, Domingues ... - também nós prosseguimos
cstas pi5ras de investigação e de aplicações ao longo d~tas
décadas, por vezes entre fogos de "pensamento único": priJneiro,
de defensores (arquitectos, historiadores, políticos) de urn

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modelo formatado e ilustrado da cid~1dc hc.:rd,1c.b 011, ma í i l'cu.:11 •
remente, os de alguns defensores nfio mcno.'l 1111ilat(·nti•; d~,
' (J
sustentabilidade. r,{
.,..
1
A via reflexiva e reformista não nega a.li q11alicbdc1,i 11rhnrn1: 'I

herdadas de séculos de cidades caractcriz:1d:1:, pd:1 comp:1c..:id:id ·


e limites físicos que as opunham sucessivamente ao., ullnpo·
que as alimentavam. Mas, além de sabermos q11c c1, 1 :1:1 n:1o
foram sempre as únicas formas da.'i aglom craçóc'i, deve l <.;r - e
presente que a extensão do fenómeno urhanú no Lthimo ,i;lc1ilo
é não só maioritária como, estruturalmente, irrcvcrnfvcl... como
o Autor o demonstrou.
Por razões em parte semelhantes, também a irrtcu'livd
adaptação dos habitats às ameaças ambicntai.'l que impõem 11cm
dúvida políticas mais eficazes de sustentabilidade nfto tem ne-
cessariamente (e felizmente!) de reconduzir populaçôc,'i e activi-
dades que se deslocaram, ao anterior modelo único da cidade e
da mobilidade oitocentistas.
Daí que a nova cidade "plural" que pode e deve ser acompa-
nhada e corrigida em todas as suas componentes (e náo si> n::t,"I
pericitadinas) exija um nível de "compromisso,, na sua govcr-
nância que possa oferecer aos cidadãos condições mais equili-
bradas e sustentáveis de mobilidade e habitat - e mereça assim
o neologismo de "metápolis"; ou seja, de pólis que inclui dife-
rentes formas sociais e urbanísticas que mais convenham aos
citadinos para viver, crescer e mudar.
Daí também a "diversidade" das soluções institucionais, isto
é, a sua adaptação na territorialidade e competências, às geogra-
fias que influenciam essa mobilidade, às localizaçües das activi-
dades, às preferências de residência e às barreiras naturais
e ecológicas, ou seja, o que caracteriza precisamente uma
"metápolis", muito mais do que a sua dimensão absoluta.

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aso porruguês, além dos receios regionais e
14 N0 e . . , ªPesar
e , l dimensão relanva dos nossos mumcipios .
ravorave d .
da
, a interrnu
... .. alidade raramente eu provas convincentes de 1. ·
(!)
,!;
(.)
mc1p . so 1darie.
(1)
<!
dade e de aproveitamento das economias de escala para a es _
. _ d" . g tao
(1)
'õ ban a Sendo que nas reg1oes rtas metropo 11tanas (do·
U• ur . . . . 1s terços
e:
...
~ da população e ainda mais da economia) se chegou ao gr
u. au zero
de o-overnabilidade coesa. Nem sequer serviu O recu
D ~~
modelo francês, inrermunicipal (em vez de supramunicip J
a no
caso inglês) que, no entanto, Ascher demonstra, neste livro, ser
também insuficiente para a melhor gestão das estrutura5 trans-
versais ou de coesão.
A noção de compromisso urbano que o Autor aponta corno
condição necessária e imprescindível para manter a coesão social
e a complexidade funcional entre formas mais e menos concen-
tradas, percorre os "novos princípios" e é exemplificada em
diversas situações correntes que comenta sob~ forma de "fichas"
no último livro que entretanto foi editado como "léxico da
cidade plural" e que valoriza esta edição portuguesa.

Assim, enquanto por um lado a dita cidade compacta, her-


dada como modelo mas já expandida senão descaracterizada
''à moderna", se desdensifica e encarece, do outro lado, a exten-
siva, herdada do último meio século, rende a condensar-se em
novas polarizações ou linearidades, mantendo custos menores
para residentes e actividades. Os comportamentos ecológicos
, ·
ou economICos (ou ambos) tendem penosamente para a com·
plementaridade, afastando-se da avaliação simplista (rudo bo~
oh·
numa, tudo mau na outra) que se tornou moda em sedes P, .
• . . . •ori carta
ttcas e ambientalistas. Como se a aglomeração hoJe rnat

b
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e o scu Gtpiral fixo fossem descartáveis e a outra, antes única, 15
pudes e ter suportado um século de desenvolvimento sem danos
...,,
maiores.
Aschcr opõe neste livro estratégias real istas cautelosas não o
-
cr,
Ci),,
Q.

escamoteando os custos sociais e ambientais de um ou outro


modelo mas recusando radicalizá-los como se a única solução à
vista fosse a lura de modelos e não a sua compatibilização. Daí
a insistência na complexidade dos factores e na complementari-
dade das procuras e das ofertas; na equiacessibilidade das redes
e polaridades; na intermodalidade e nos avanços das tecnologias
limpas - factores que favorecem a complementaridade dos
modelos e a sustentabilidade do conjunto. O que nem sequer
parece improvável desde que se trabalhe para conseguir os
compromissos na governância. Porque a urgência é a de gerir
proactivamente os recursos de forma intencional e persistente e
não como até agora, deixando fazer e acontecer.
É a esta luz que importa orientar as políticas de transporte,
da casa, do espaço público e dos equipamentos colectivos, da
infra-estrutura e da paisagem ... sendo cerco que quanto mais a
cidade extensiva seja plural e transmunicipal mais essas estraté-
gias terão de ser concertadas e mais ponderadas as aplicações de
recursos.
A estrutura de governo de territórios complexos pede, exige,
complexidade homóloga. A simples soma de municípios tradi-
cionais - desiguais nos recursos per capita, nas mobilidades e na
atractividade de emprego e serviços sociais - não chega para a
desejável coesão da metápolis. Nem a legitimidade democrática
reduzida ao lugar de residência é suficiente para gerir as estrutu-
ras e serviços transversais ou supramunicipais que, não por
acaso, acabam por ser decididas ad hoc ou arbitradas pelo Estado
central. A má experiência portuguesa é um exemplo mas não é

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, . duas metápolis do nosso litoral joga-se di _ .
O
16
a unica: nas a a-e1ia
(J d metade da população servida por mais de meia

de mais e cen.
... •cípios que por razões dessa lógica eleitoral ern
Q)
r rena d e mun l ' vez
õ m as suas interdependências (salvo em r
rn
c::r d e recon hecere aros
rn
'õ casos) gastam os escassos recursos como se fossem cidades

e
...
('0 isoladas dos tempos pré-modernos ou do interior do país.
u.

Um dos méritos deste livro - e por isso o recomendamos,


pensando nos estudantes e recém-formados das mais diversas
disciplinas interessadas nas questões urbanas - é o de explicar as
surpreendentes transformações produzidas ao longo do último
século, as suas debilidades e desafios, em resposta às novas ten-
dências da sociedade que, sendo diferentes de pais para país, de
continente para continente, têm em comum pulsões que desco-
brem uma urbanidade plural mas mais solidária e que apanca
necessariamente para um novo urbanismo ecologicamente res-
ponsável que se redesenhará no território, chame-se metápolis
ou simplesmente ... cidade.

NuNo PoRTAS

D
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NOVOS PRINCÍPIOS D10 URBANISMO

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Introdução

A sociedade contemporânea transforma-se rapidamente e,


arrastados por esta evolução, por vezes avaliamos mal quanto
mudaram, em tão pouco tempo, os objectos de que nos servi-
mos, a nossa maneira de agir, a forma como trabalhamos, as
nossas relações familiares, os nossos lazeres, as nossas mobilida-
des, as cidades onde vivemos, o mundo que nos rodeia, os nos-
sos conhecimentos, as nossas esperanças, os nossos temores ...
No domínio do urbanismo apercebemo-nos ainda mais difi-
cilmente das mudanças porque o conjunto edificado propria-
mente dito evolui de forma relativamente lenta e porque as
construções novas que se terminam cada ano representam
menos de um por cento do parque existente. Além disso,
estamos especialmente ligados aos lugares mais antigos e temos
frequentemente a sensação de que estes apresentam uma maior
urbanidade do que aqueles que a sociedade actualmente produz.
Com efeito, inquietam-nos as formas que tomam as cidades e
todo o tipo de riscos sociais e ambientais que elas parecem gerar.
No entanto, múltiplos indicadores e análises levam-nos
a pensar que as transformações da nossa sociedade em geral e
das cidades em particular estão apenas no começo. As sociedades

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20
ocidentais estão de facto em mutação e entram numa 110
A l , c. d va fase
da modernidade que ve evo uirem prorun amente as forrna
..
Q)
• • A • , •

ensar e de agir, as ciencias e as tecn1cas, as relações


s de
..
.t:
t.) P . . . sociais,
C/)

<t a economia, as desigualdades sociais, as formas de dem .


rJ)
ocrac1a
'õ Estas mutações implicam e tornam necessárias import ·
(.),
antes
..
e
n,
u..
mudanças na concepção, produção e gestão das cidades e dos
territórios· elas colocam na ordem do dia u1na nova revol _
' uçao
urbana moderna, a terceira, após a da cidade clássica e a da
cidade industrial.
A sociedade deve portanto dotar-se de novos instrumentos
para tentar dominar esta revolução urbana, tirando partido
dela, limitando os danos eventuais. Isto necessita, em especial,
de um novo urbanismo em sintonia com as implicações e as
maneiras de pensar e de agir desta terceira modernidade.
O objectivo deste livro é contribuir para a clarificação dos
principais desafios com que este novo urbanismo se confronta
e para a formulação de alguns princípios sobre os quais poderia
ser concebido.
Numa primeira parte, poremos em evidência as relações
estruturais que articulam as cidades e as sociedades modernas,
as revoluções urbanas e os tipos de urbanismo que elas geraram
durante as duas primeiras fases da modernidade. Na ~egunda e
terceira partes analisaremos as principais características da nova
modernidade que se desenha e os principais traços da revolução
urbana que provoca e sobre a qual se apoia. Finalmente, na
quarta parte, apresentaremos dez desafios principais e esboçare-
mos alguns princípios a desenvolver para tentar dar-lhe uma
resposta.

J
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-

Urbanização e modernização

CIDADE E SOCIEDADE: UMA CORRELAÇÃO ESTREITA

Podem definir-se as cidades como agrupamentos de popula- l

ções que não produzam elas próprias os seus meios de subsistência 1


alimentar. A existência das cidades supõe portanto, desde a sua
origem, uma divisão técnica, social e espacial da produção e 1
implica trocas de natureza diversa entre aqueles que produzem
os bens de subsistência e aqueles que produzem os bens manu-
facturados (os artesãos), os bens simbólicos (os padres, os artis-
tas, etc.), o poder e a protecçáo (os guerreiros). A dinâmica da
urbanização está ligada ao potencial de interacçóes que as cida- .
des oferecem, à sua "urbanidade", isto é, ao poder multiforme
que gera o reagrupamento de grandes quantidades de popula-
ção num mesmo lugar.
O crescimento das cidades esteve serr1pre correlacionado ao
longo da história com o desenvolvimento dos meios de trans-
porte e de armazenamento dos bens necessários para aprovisio-
nar quantitativos populacionais cada vez maiores, qualquer que
fosse a estação do ano. Esteve igualmente correlacionado com as
técnicas de transporte e de armazenam.ento das informações

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22 necessárias à organização da divisão do trabalho
. . e das tr
0 cas
como O demonstra o nascimento conJunto da es .
,_ ' cnta d ,
(1)
.r; tabilidade. Finalmente, a dimensão das cidades d e ª con.
u " ependell d
meios de transporte e d e armazena1nenco» das pes
(/)
~ os
.!!? , . _ soas, e111
o ácular das tecmcas de construçao em altura da g _ Par.
U•
e
l'O
' estao urb
,_
dos fluxos e dos serviços (redes viárias, esgotos água ) ana
u.. , , etc. b
como das exigências de protecçáo e de controlo. , ern
A história das cidades foi assim ritn1ada pela história d , .
as tecn1•
cas de transporte e arn1azenan1ento de bens (b) de ·1ncor .
, u maçoes (')
e de pessoas (p). Este sistema de mobilidade, a que chamam;
"sistema bip", está no centro das dinâmicas urbanas da es . s
> Cflta à
Internet, passando pela roda, a imprensa, o caminho-der
-rerro,
o telégrafo, o betão armado, a esterilização, a pasteurização e a refri-
geração, o carro eléctrico, o elevador, o telefone, o automóvel,
a telefonia, etc. O crescimento horizontal e vertical das cidades
tornou-se possível pela invenção e aplicação destas técnicas.
As formas das cidades, quer tenham sido pensadas de raiz
quer sejan1 o resultado mais ou menos espontâneo de diversas
_dinâmicas, cristalizan1 e reflectem as lógicas das sociedades que
acolhem. Assim, a concepçáo das cidades antigas expressava
mais particularmente os preceitos religiosos e militares que
constituíram. as "justificações" primordiais das cidades e dos
grupos sociais que as habitavam. Num mundo pouco seguro, as
cidades medievais refugiavam-se atrás de muralhas e organiza-
van1-se em corporações à volta da praça do mercado, das ata·
laias e dos campanários, expressando espacialmente, numa
muito grande imbricação , as solidariedades e dependências que
. d sociedades
caracterizavam as populações citadinas no se10 as
· d des moder·
feudais. Mais tarde, o desenvolvimento das socte ª ,
, · ' concepçao
nas foi progressivamente imprimindo novas log1cas ª
e ao funcionamento das cidades.

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Agir hoje no campo cio urbanismo requer uma compreensão 23
fina das lógicas em jogo na sociedade contemporânea.
z
o
<
o
(JJ

"'O

As EVOLUÇÕES OE LONGA DURAÇÃO NA SOCIEDADE M~DERNA


~-
:J
o
"§:
o
(JJ

a.
É: habitual caracterizar as sociedades ocidentais contemporâ- o
e
..,
neas pelo qualificativo de "1nodernas" para as distinguir simul- C"
0J
:J
taneamente de um passado mais ou menos longínquo e de cii'
3
o
outras sociedades que funcionam em registos diferentes. Mas
esta noção é demasiado vaga e pouco cómoda ou mesmo ambí-
gua. De facto, é difícil datar o início dos "Tempos Modernos"
que se instalaram progressivamente e de diversas formas nos
vários países do Ocidente europeu e mais tarde na América.
A noção de modernidade foi também usada em contextos e
perspectivas que a tornam por vezes suspeita de abrigar um pro-
jecro hegemónico do Ocidente ou que a culpam por apresentar
ambições demasiado funcionalistas cujos danos pudemos com-
provar, nomeadamente no urbanismo.
De facto, é mais correcto falar-se de "modernização", uma
vez que a modernidade não é um estado, mas um processo de
transformação da sociedade. Poderíamos mesmo dizer que
aquilo que diferencia as sociedades modernas das outras socie-
dades é ser a mudança o seu princípio essencial. Por certo, mui-
tas outras sociedades conheceram e conhecem evoluções, têm
história, mas não se organizam colocando no centro da sua
dinâmica de funcionamento a mudança, o progresso, o projecto.
Pelo contrário, é a tradição que constitui o seu princípio essen-
cial e são as referências ao passado que fundamentam em geral
as suas representações do futuro.

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entes da modernização
24
&oo~~ .
. ação é um processo que en1erg1u bastante a,
A mo d ern1z ltcs
I

..
Q)
.e
, d ue classificamos de 1noderno. Ele resulta da irlt
do peno o q " . . , . ,. . . ' e-
o , d t ês dinam1cas soc1oantropo~og1cas CUJas tnarc
Ili
ci: racçao e r . l as
Ili
'õ encontramoS e
m diversas sociedades, n1as que, ao entrarem e,
n
O•

..
e
t'0 ,. 1·a na Europa no decurso da Idade Média dcra,11
ressonanc
u.
origem às sociedades modernas: a i ndividualizaç:ío, a racionali-
zação e a diferenciação social.
Podemos definir a individualização, etn primeiro lugar,
como a representação do mundo feita não a partir do grupo ao
qual pertence o indivíduo rolas a partir da sua própria pessoa.
o uso do "eu" em vez do «nós", ou ainda a invenção da perspec-
tiva, que se impuseram progressivan1ente no fi1n da Idade
Média, ilustram perfeitamente este processo de individuali-
zação. Falamos igualmente de individualização para exprimir as
lógicas de apropriação e de do1nínio individuais que progressi-
vamente tomaram a dianteira. sobre as lógicas colectivas. Assim,
as sociedades modernas separam e reúne1n indivíduos e não
grupos.
A racionalização consiste na substituição gradual da tradição
pela razão na determinação dos actos. A repetição d~i lugar às
escolhas. Isto pressupõe preferências e projectos individuais e
colectivos; estes utilizam os conhecimentos resultantes da expe-
riência, os saberes científicos e n1obilizan1 as técnicas. A racio-
nalização é uma forma de "desencantamento do inundo" porque
imputa às acções humanas e às leis naturais o que outrora era
atribuído aos deuses.
A diferenciação social é um processo de diversificação das
funções dos grupos e dos indivíduos no seio de uma mesma
soci~d~de. Ela é largamente estimulada pelo desenvolvimento
· e soei"al do trabalho, a qual resu lta, P0 r sua
da divisão té cnica

Scanned by CamScanner
vez, da dinâmica da economia de mercado. A diferenciação 25
produz a diversidade e desigualdades entre grupos e indivíduos
2
e gera uma sociedade cada vez mais complexa. o
<
o
Estes três processos alimentam-se reciprocamente e produ-
...,,5'
IJ)

zem sociedades cada vez mais diferenciadas, formadas por indi- (')
ii'
víduos que são, ao mesmo tempo, mais parecidos e mais õ'
C/1
o.
singulares, com escolhas mais complexas. o
e
..,
É certo que a individualização, a racionalização e a diferen- cr
0l
::J
ciação não são exclusivas da modernidade; foi porém a sua iii'
3
o
combinação que, em circunstâncias históricas particulares,
desencadeou a dinâmica da modernização criando-se uma espé-
cie de ramificação na qual o "mundo ocidental" se envolveu por
volta do ano 1000. Nunca antes qualquer outra sociedade tinha
conhecido esta conjunção, nem entrado nesta espiral de "desen-
volvimento" específico da modernidade.

As primeiras fases da modernização


Se a rnodernidade não é um estado, a modernização também
não é um processo contínuo e nela podemos distinguir três
grandes fases.
A primeira fase abrange aproximadamente o período conhe-
cido normalmente por Tempos Modernos, desde o fim da Idade
Média ao começo da Revolução Industrial. Esta fase assiste
à transformação do pensamento e do lugar da religião na socie-
dade, à emancipação da política e ao nascimento do Estado-
-nação, ao desenvolvimento das ciências e à expansão progressiva
do capitalismo mercantil e depois do industrial. Podemos qua-
lificar esta fase de "primeira" ou "alta modernidade".
A segunda fase é a da revolução industrial, que assiste a uma
reviravolta em boa parte da produção de bens e de serviços no
sentido da sua dependência de lógicas capitalistas; o pensamento

Scanned by CamScanner
ar um lugar central na sociedade eco .
, · passa a ocuP
cecn1co " . ,, " d " «
nst1-
26 dos-providencia. E a segun a ou moder .
tuem-se os Esta n1-
,_
QJ
.i:
dade médià' •
CJ estas épocas corresponderam modos de pens
(/J
<( A cad a uma d ,. , ar
(/J
. tores dominantes e concepçoes de poder, represen-

CJ·
e de cnar, ac , .
e:
Cll
,_
,, da soc1e
taçoes • dade , critérios de eficac1a, formas
_ de organizaça·o
u.
e obviamente, princípios e modos de concepçao e de organiza-
ç~o do território. O estabeleciment~ da primeira e da segunda
modernidades efectuou-se progressivamente, mas a amplitude
das mudanças ocorridas nas diversas esferas da sociedade provo-
cou crises de toda a espécie: económicas, sociais, políticas, reli-
giosas. A concepção, a construção e o funcionamento das
cidades não escaparam a estas transformações e a estas crises.

As DUAS PRIMEIRAS REVOLUÇÕES URBANAS MODERNAS

A cidade da Renascença e dos Tempos Modernos


A primeira modernidade gerou uma verdadeira revolução
urbana. A cidade medieval dá lugar a uma cidade "clássica", na
qual o novo poder do Estado entra em cena de forma monu-
mental e se oferece através da perspectiva ao olhar do indivíduo,
traça avenidas, praças e jardins urbanos que acabam com a
amálgama de ruelas, vielas e hortas, afasta e transforma as
muralhas, redefine e separa o público do privado, os espaços
interiores e exteriores, afecta-lhe funções, inventa os passeios
e as montras. O movimento ocupa um lugar cada vez maior,
as ruas alargam-se e diferenciam-se funcional e socialmente, as
cidades expandem-se, os subúrbios proliferam, agrupando de
uma nova maneira populações e actividades. A arquitectura
constitui-se parai 1 . . . d isto
. e amente como uma d1sc1phna mo erna,

Scanned by CamScanner
é, que diz respeito a um campo específico integrando valores e 27
técnicas novas pronta a mergulhar nas referências antigas, mas
2
permitindo-se também novas liberdades, nomeadamente com o o
<
o
barroco. C/J

Esta primeira cidade é moderna porque ela é concebida "


::!.
::,
C')
-a·
racionalmente para indivíduos diferenciados. As eventuais refe- õ'
f/)

e.
rências dos seus criadores à tradição não são actos repetitivos o
e
...
mas reflectem escolhas racionais com diversas motivações. Esta C"
tu

cidade traduz a instauração do Estado-nação, a ampliação do 2.


f/)
3
o
território, a mobilização de ciências e técnicas novas e a recém-
-nascida autonomia do indivíduo. Esta cidade é também
moderna porque ela é projecto; ela cristaliza a ambição de defi-
nir o futuro, de o controlar, de ser a concretização espacial de
uma sociedade nova; ela é o desenho de um desígnio. De facto,
dela nascerão as utopias, que serão as suas formas-limite.

A cidade da revolução industrial


A segunda revolução urbana começou com a revolução agrí-
cola, que aumentou a produção alimentar mas expulsou do
campo grandes quantidades de agricultores, e com o desenvol-
vimento concomitante do capitalismo industrial. Este duplo
processo provocou um extraordinário crescimento demográfico
nas cidades, desencadeando um crescimento espacial acelerado
mas gerando também um empobrecimento considerável de
uma parte da população urbana.
É neste contexto que emergem progressivamente novas con-
cepções de cidade, marcadas fundamentalmente pelas mesmas
lógicas que as que regiam o mundo industrial que se tinha tor-
nado dominante. O urbanismo moderno (a própria palavra
"urbanismo" aparece de diferentes formas na viragem do século
XIX para o século xx) aplica no âmbito da organização das

Scanned by CamScanner
. ,1 >rindJ>Í<HI q11 · f,m1m c•;r·ahclc.:cidrn, na in<l' .
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d:is inf,Jrm:H/>es e dos htns gnnhn igualmente um novo lugar:
mai.,; importan te. A primeira ncccssic.bJe é, com deito, adaptar
:t.ci cidades tis cx igé11cías c.fo produçáo, do consumo e das trocas

mercantis. Is.cm requer uma malha de grandes vi ~L5 de comunica.


çfto servinc.lo nomcadamcn te as garcs e os grandes armazéns e
toda umn série de redes de águac;, de esgotos, de energia (gás,
dectricidade e vapor) e clt: informação (telégrafo, telefone, cor-
reio pnc.:11mrhico).
/\s exigências de.: cresci mcn to e de funcionamento das cida-
des geraram assim uma forte mobilização científica e técnica
para aumentar o dcscmpt:nho dos transportes e do armazena-
mento de bens, c.lc informações e de pessoas. A clectricidacle
desempenhou um papel dc.:cisivo na libertação das potencialida-
des de expansão das cidades: verticalmente com os elevadores e
horizontalmente com o carro cléccrico, o telégrafo e o telefone
e mai.c; tarefo com o motor de explosão.
A difcrcnciaçáo social também se inscreveu de forma dife-
rente no espaço: com os elevadores, os pobres desceram para os
pisos inferiores, enquanto os ricos ocupavam os andares mais
soalhciros; depois, com o desenvolvimento dos transportes
colectivos e dos cléctricos, formam-se bairros residenciais para
as camadas sociais mais favorecidas e subúrbios industriais para
as fábricas e os operários. Aqui também o papel dos transportes

Scanned by CamScanner
urbanos foi decisivo para tornar possível a expansão dos territó- 29

rios urbanos e a sua recomposição nmna escala alargada.


o
z
Mais tarde, o automóvd individual e os electrodo1nésticos <
o
UI
marcaram o fordismo, ou seja, o sistema combinado de produ- "Q
::i.
::,
ção e de consumo de massa, mais claramente no espaço urbano, o

com os grandes bairros de habitação social ou de moradias, os "ª:o


UI
a.
hipermercados e as infra-estruturas viárias. O quarteto auto- o
e
..,
móvel-frigorífico-aspirador-rnáquina de lavar encontrou-se o-
º'
::!.
assim no centro das transformações urbanas tornando possível UI
3
o
0 trabalho feminino assalariado, o abastecimento semanal e o
alongamento das deslocações. Os bairros n10nofuncionais das
periferias urbanas actuais são disso a imagem.
O desenvolvimento do Estado-providência e de diversos ser-
viços públicos contribuiu igualn1en1te para estruturar as cidades
em redes de linhas de transportes colectivos, de escolas, hospi-
tais, banhos públicos, estações dos correios, equipamentos des-
portivos, etc. Além disso, os poderes públicos foram levados a
agir cada vez mais directamente no domínio do urbanismo
assim como no plano económico e social, nomeadamente para
fazer frente às insuficiências, incoert~ncias e disfunções das lógi-
cas privadas e dos mercados, em particular no domínio fundicí-
rio e imobiliário. Assim, foi criada toda a espécie de estruturas e
de procedimentos para «planificar" as cidades de forma mais
racional, ou melhor, o mais cientificamente possível, para actuar,
apesar das limitações da propriedade privada, para ordenar, ou
seja, para predefinir e impulsionar as expansões periféricas e as
renovacões.
>

As formas urbanas desta segunda revolução urbana certa-


mente que variaram conforme as cidades e os países, tanto no
plano prático como no teórico. Mas todos os pais fundadores
do urbanismo, pelas suas práticas e pelo seu pensamento,

Scanned by CamScanner
e Haussmann, Cerdà, Sitte, Howard e, claro L
30
nomead a.men t . , e
. e inimpelidos, apesar das diferenças que os di .
Corbus1er, rora ,, __ Sttn-
... mesma preocupaçao de adaptaçao das cidad 1
Q)
.e guem, por es ta . . . es <t
()
1/) . d d • dustrial As cidades e o ur ban1smo conhece
c:t socie a e m · ram
1/)
. verdadeira revolução quando comparados com

U•
assim uma as
e
...
«I cidades e com as concepçóes arquitectónicas e espaciais da pri-
u.
meira revolução urbana, conduzindo, in fine, a um urbanismo
fordo-keynesio-corbusiano - expressão de uma racionalidade
simplificadora com o seu planeamento urbano, os zonamentos
monofuncionais, as estruturas urbanas hierárquicas, adaptado à
produção e ao consumo de massas, com os seus centros comer-
ciais, as zonas industriais e as circulações rápidas e, também, de
uma concretização do Estado-providência com os seus equipa-
mentos colectivos, os serviços públicos e a habitação social. Esta
segunda revolução urbana não eliminou totalmente as cidades
preexistentes, ainda que em França tenha sido bastante radical,
desde as destruições maciças de Haussmann às "renovações
bulldozer" ocorridas entre os anos cinquenta e setenta. De facto,
muitas vezes o espaço construído e os cidadãos revelaram capa-
cidades de inércia, de resistência e de readaptação. Assim, uma
vez mais, as cidades demonstraram capacidade para sedimentar
as diferentes camadas da sua história, isto é, a sua função de
palimpsestos: pergaminhos que não mudam mas acolhem
sucessivamente escritos diferentes. Porém, até as partes das cida-
des antigas que foram materialmente preservadas sofreram
transformações profundas e já não funcionam da mesma forma
que anteriormente.
A cada uma das duas primeiras fases da modernização cor-
respondeu uma mutação profunda da maneira de conceber, de
produzir, de utilizar e de gerir os territórios em geral e as cidades
em particular. A Europa ocidental já conheceu, portanto, duas

Scanned by CamScanner
revoluções urbanas modernas. Podemos assim lançar a hi pórese 31
_ agora que se desenha uma nova fase da modernização - de
2
que as mudanças que hoje se esboçam no urbanismo prefigu- o
e:
o
rem uma terceira revolução urbana moderna. (/)

"'O
::i.
:::l
C")
"O
o
(/)

e.
o
e
...
C"
e:.,
:::,

L Scanned by CamScanner
II

A terceira modernidade

A modernidade saiu atordoada do século XX e a passagem


para O ano 2000 foi a ocasião para múltiplas reflexões e comen-
tários, sublinhando ao mesmo tempo os extraordinários "pro-
oressos" realizados nos cem anos que acabavam de se esgotar e
o
os dramas que o mundo conhecera, que eram proporcionais ao
dito progresso e que por isso se colocavam em parte no passivo
da modernidade.
É certo que a modernização sempre foi objecto de reacções
hostis de toda a ordem. No entanto, de há uns trinta anos para
cá, a crítica tomou uma nova forma, dita pós-moderna. Esta
noção junta de facto numa categoria onde cabe tudo, ao mesmo
tempo filósofos e sociólogos que crêem distinguir os sinais de
uma crise radical e de superação da modernidade, e criadores,
em particular arquitectos, que se empenharam num projecto
pós-modernista sob a forma de uma crítica à estética funciona-
lista. Estes movimentos têm o seu interesse, nomeadamente
porque nos questionam sobre as mutações em curso. Contudo,
estas últimas nem anunciam nem prefiguram o fim da moder-
nização, antes sublinham o facto de que a sociedade moderna se
liberta de um racionalismo que se tornou demasiado simplista

Scanned by CamScanner
e das suas certezas, e que se desembaraça das formas de pensa- 33
mento messiânico ou providencial que caracterizavam ainda a
2
ideia moderna de progresso. De certa maneira tornamo-nos o
e:
o
verdadeiramente modernos cada vez mais depressa. De facto, o (/)

...
'"O

reforço recíproco das características que constituem a moderni- s·


C')
ii'
dade dá a impressão de uma aceleração da modernização. õ'
(/)

a.
Entramos assim numa terceira fase ou num terceiro episódio da o

modernização que diversos autores qualificaram de moderni- ...e


0-
0)
::::,
dade "radical", de 1nodernidade "avançada", de «sobremoderni- cii'
3
o
dade" ou mesmo de "baixa" modernidade.

UMA SOCIEDADE MAIS RACIONAL, MAIS INDMDUALISTA

E MAIS DIFERENCIADA

A modernização reflexiva
A racionalização, que é um dos três processos de base da
modernização, continua a marcar de forma cada vez mais pro-
funda todas as acções individuais e colectivas. Ela conduz a uma
"reflexividade" da vida social moderna que se pode definir como
"o exame e a revisão constante das práticas sociais, à luz das
informações que dizem respeito a essas mesmas práticas". Dito
de outra forma, já não se trata apenas de utilizar os conheci-
mentos anteriores a certas acções mas de examinar em perma-
nência as escolhas possíveis e de as reexaminar em função
daqüilo que começaram a produzir. A "reflexividade" é a refle-
xão antes, durante e depois ...
De facto, cada indivíduo, assim como cada colectividade,
é confrontado com um número de situações e de circunstâncias
individuais e colectivas cada vez mais diferenciadas e mutáveis.
Isto tem dois tipos de consequências. Por um lado, é mais raro

Scanned by CamScanner
es possam recorrer a uma experiência dir
34 que os ac tor . ., ecta do
mesmo a um saber operativo Jª constituíd
passad o o U . o Para
...a, e. t ruma situação, pois esta tem cada vez menos hip,
.e
(J
emren a ., . . Oteses,
C/) estatísticos, de Jª ter acontecido ou de se r
e! em termos epetir
C/)

o A acção necessita, portanto, mais frequentemente de urna refie~



e:
...
(1)
xáo específica que permita elaborar uma resposta apropriada e
u.
não de escolher uma de uma panóplia já existente, de recorrer
a uma receita, a uma rotina, a um hábito, ou mesmo a urna
crença ou tradição. Por outro lado, o desenvolvimento da com-
plexidade da vida social, real mas também a revelada por novos
conhecimentos científicos, faz emergir a necessidade de novos
desenvolvimentos científicos e tecnológicos.

Os novos avanços científicos e o uso acrescido das ciências


e das técnicas
As ciências que podem contribuir para a elaboração das
decisões têm tido evoluções rápidas e viram emergir novos
paradigmas. Três avanços importantes que estão em parte rela-
cionados mas que têm origens relativamente antigas e um poucõ
distintas modificaram significativamente os instrumentos da
acção reflexiva: a teoria dos jogos e das escolhas limitadas, as
ciências cognitivas e as teorias da complexidade, do acaso e do
caos.
Os desenvolvimentos que se verificaram a partir da teoria
das escolhas limitadas influenciaram consideravelmente a eco-
nomia, a sociologia, a ciência política e tiveram também muito
rapidamente aplicações concretas. Puseram em evidência,
nomeadamente, que os meios disponíveis para atingir um
determinado fim poderiam ser múltiplos nas situações conside-
radas incertas. Este tipo de abordagem contribuiu para diversi-
ficar profundamente a noção de racionalidade enquanto

Scanned by CamScanner
adaptação dos meios para u1n determinado fim. Estas teorias 35
deseinpenhara1n um papel-chave no desenvolvimento das ciên-
2
cias que serviram como pontos de apoio da informá~ica; tive- o
<
o
ram també1n uma influência muito importante no campo da 1/)

..."C
economia prática e do planeamento. 5'
n
-õ'
O progresso das ciências cognitivas abre igualmente hoje, õ'
C/1
e.
directa ou indirectamente, imensas perspectivas e por vezes um o

pouco inquietantes sobre a possibilidade de explicar os meca- ...e:


O"
0J
::J
nismos do pensamento, de desmultiplicar as suas possibilidades éii'
3
o
ou mesmo de criar quase-sujeitos. A ficção científica já nos
familiarizou com esta angústia. É certo que não nos encon-
tramos nesse ponto, longe disso, apesar da "lei de Moore" (con-
jectura sobre a duplicação do desempenho dos computadores
cada dezoito meses). Em contrapartida, nós familiarizámo-nos
com os processos algorítmicos e integrámos de forma prática
inovações como a distinção entre hardware e software, que,
indiscutivelmente, fazem evoluir os modos de representação, de
raciocínio e de organização.
À racionalidade limitada e às ciências cognitivas é necessário
acrescentar um terceiro domínio onde se produzem há algumas
décadas novos paradigmas, o das teorias da complexidade. Esta
categoria é, evidentemente, um saco onde cabe tudo e engloba
de certa forma as ciências cognitivas. Todavia, ela é mais vasta e
podemos incluir aí também as abordagens resultantes de refle-
xões matemáticas e físicas sobre o caos, sobre o acaso, sobre os
fractais, sobre as bifurcações, sobre a auto-organização que hoje
se difundem em domínios científicos variados, para além da
física e da biologia, directamente ou metaforicamente. Estes
progressos científicos contribuem para a renovação das formas
de representação e de construção de modelos e abrem impor-
tantes perspectivas em matéria de simulação.

Scanned by CamScanner
O rinleiro erro dos pós-modernistas foi provaveI
36
• terpretado esta divers1'dade c1ent1
p . 'fi ca e teór' Illente
terem m_ tca cotn
..
Q,)
~
. d ' dor de un1a crise da razão moderna quando est
m 1ca
O0
es estud
CJ
Ql
4:
sobre a incerteza, a complexidade e o caos constituíram de f: os
Ql , . E " . acr0
'õ de Se nvolvimentos notave1s. sras novas racionalidade ,, _
t.>- . _ s estao,
..
c
Ili
u.
efectivamente, no centro da modern1zaçao reflexiva. A noção d
fe edback por exemplo, central na maioria dos estudos . e
' ~~
ficos que acabámos de mencionar, é assim uma noção-chave
para a acção reflexiva. O feedback é un1a retroacçáo que permite
modificar aquilo que precede pelo que se segue. É um disposi-
tivo de regulação das causas através dos efeitos que implica um
conhecimento e uma avaliação permanentes dos efeitos das
acções. Está na base das abordagens incrementalistas e proces-
suais que revolucionaram muitos domínios de estudo e, em par-
ticular, as relações entre estratégia e tácrica, a gestão das
empresas, o planeamento. É um elen1ento dos métodos ditos
heurísticos que procedem por avaliações sucessivas e hipóteses
provisórias para permitir agir estrategicamente em contextos
cada vez mais incertos. Cada acção baseia-se numa hipótese de
resultado; a análise do resultado de cada acção permite então
afinar ou infirmar essa hipótese. A qualidade e a velocidade de
retorno da informação são decisivas e geram novas técnicas
de reporting que vão ben1 111ais longe do que os "painéis de ins-
,
trumentos de bordo" habituais. O conhecin1ento já não e5ca
separado da acção, esd na própria acção.

A sociedade do risco
Paradoxalmente, de certo modo, em relação ao projecc~
1 . e
moderno o desenvolvimento das ciências e das recno ogias
, f .
tam bem um actor de risco. Na verdade, o nsco e um
, conceito
.
. é aqui1o
mo derno que deve ser distinguido do perigo. O perigo

l
Scanned by CamScanner
que ameaça ou compromete a segurança, a cxisctncia ele urna 37

pessoa ou de uma coisa. O risco é um perigo cvcncunl 111:1is ou


z
o
menos previsível ou quantificável. Um risco pode ser potencial <
o
C/l
(hipotético) ou certo. Numa situação de incerteza a primeira -o
::l.
::l
fase de uma anâlisc racional consiste cm formular hipóteses de o
ir
risco. O risco surge assim quando a natureza e a tradição perdem o(/)
o.
a sua influência e os indivíduos devem decidir por si mesmos o
...cre
e consequentemente tentam ~cdir as probabilidades de se pro- w
2.
duzirem os acontecimentos e as suas eventuais consequências. (/)

3
o
O risco cresce com o processo de modernização pois os peri-
gos e ·o conhecimento que deles podemos ter aumentam.
Por um lado, com efeito, as tecnociências pelos instrumen-
tos com que elas municiam certos actores privados e públicos
criam novos perigos de que são testemunho os problemas
ambientais actuais. Certamente que, ao mesmo tempo, outros
riscos são controlados. Porém "o risco zero" é um horizonte
que recua quando se crê que nos aproximamos. Além disso, os
riscos localizados e pessoais dão lugar a riscos cada vez mais
alargados ou mesmo planetários. O próprio desenvolvimento
dos ·,meios de comunicação e de transporte amplificam a sua
divulgação e conhecimento. A distância espacial e temporal
entre as causas e os seus eventuais efeitos também aumenta,
recolocando de uma nova maneira a questão da responsabili-
dade e da ética.
Por outro lado, o risco aumenta porque o conhecimento
reflexivo transforma a inconsciência dos perigos, a incerteza ou
aquilo que era outrora considerado como a vontade dos deuses
num futuro que em parte se pode conhecer e eventualmente
dominar; o avanço das ciências dessacraliza e "desnatura" assim
os perigos e transforma o destino, o contingente, o acaso, em
objectos de conhecimento, em realidades potencialmente

Scanned by CamScanner
, .. O aumento considerável do "nível,, de d
3S inensuravc>1s. . . . ~ . e Ucação
. •enrífica e da 1nfot maça o difunde socialrn ,
d,l cu ltur.1 c1 . . ente est
. , A sociedade traduz assim cada vez mais as e
knomeno. . . suas difi_
. d os seus rnedos e a sua .insegurança em term os de tts-
culd,\ es,
.
.::o .J ·t em tennos de pengos que ela deverá ide .
~- cos ou se < , , • nt1 6car,
e
~ . e oerir. Isto da onge1n a novos saberes especial· d
~

u. rned 1r ., . . . tza os
(a cindínica ou ciência ~o pengo, a n ~k-management, etc.),
a dispositivos cada vez n1a1s presentes na vida quotidiana e novas
regras de acção, con10 o princípio da precaução, por exemplo,
que se deve aplicar quando os especialistas se declaram incom-
.... petentes ou entram em desacordo .
Os riscos são, portanto, construídos socialtnente e apoiam-
-se no estabelecimento de normas específicas. Eles estão cada
vez mais no centro da vida de cada um e do debate público num
mundo moderno que não pode evitar os perigos mas que pode
tentar decidir aqueles que ele aceita e a que preço.

Autonomia crescente em relação às condicionantes


espaciais e temporais
Os novos meios de transporte e de armazenamento de pes-
soas, de informações e de bens que a sociedade de_senvolve e põe
à disposição das organizações e dos indivíduos permitem que
estes se emancipem em parte dos condicionalismos espaciais e
temporais. Por um lado, a co-presença ou a proximidade já não
são necessárias para um certo número de trocas e de práticas
sociais porque é possível telecomunicar ou deslocar-se cada vez
mais depressa. Por outro lado, a simultaneidade ou a sincroni-
zação das acções são menos indispensáveis, porque toda uma
série de entre elas podem ter lugar de forma desfasada ou assín-
crona graças aos atendedores de chamadas, aos gravadores e.ª
qualquer outro tipo de serviço de mensagens. É cada vez ma.is

Scanned by CamScanner
possível escolher individualmente os lugares e os momentos das 39
suas com u n icaçiio e das suas trocas.
2
O crescimento das possibilidades de acção e de interacçáo à o
e::
o
cn
distância espacial e temporal é tal que os indivíduos podem ter
a impressão de estar em v~hios lugares e cm vários tempos em
~-
"O
:::l
C')
-g:o
simultâneo. Um scnrimcnco de ubiquidade e de multitempora- cn
e.
lidade acompanha assim um duplo processo de "deslocalização" o
.,e
e ele "desmscan
. .
tane1zaçáo ,, . O"
tl)

2.
A deslocalização traduz-se concretamente pelo enfraque- cn
3
o
cimento progressivo das comunidades locais. Evidentemente,
isto não significa o desaparecimento de toda a vida local, das
relações sociais de proximidade, elas escolhas locais; contudo,
o local j,i não é o lugar obrigatório dia maior parte das práticas
sociais nos diversos campos do trabalho, da família, dos lazeres,
da política, da religião, etc. Todavia, os novos instrumentos de
transporte e de co1nunicação abrem as possibilidades de escolha
em matéria de localização da resid1ência e das actividades e
mudarn a natureza do "local": este já não é herdado nem
imposto, mas entra nas lógicas reflexivas, em decisões tanto
mais complexas quanto mais as pessoas ou as organizações dis-
põem de meios para se deslocar e telecomunicar. Isto não deixa
de pôr problemas de coesão social, pois estas lógicas de relacio-
na1nento podem gerar novas formas de segregação.

Uma individualização cada vez mais forte


Na sociedade moderna avançada os indivíduos podem não
somente escolher mas devem fazê-lo pennanentemente. O tra-
balho, a família, o consumo, a religião, a política, o próprio
corpo, tudo se torna ou parece tornar cada vez mais objecto de
decisão. É certo que as escolhas ind.ividuais são sempre, pelo
menos em parte, determinadas socialmente. Mas o sistema no

Scanned by CamScanner
I constroem as decisões é tnais complexo tant
40 qua se . ,, A • o os ind·1 ,
'

o as orgamzaçoes tem mats consciência d v1.


d uos cºm . . e que de .
... e efeito de uma ractonaltdade limitada e e,.
Q)
.e d em sObr O que as
(.)
C/) lhas dependem de um número mais alargado d . suas
<( esco e tnte rac.
lh
_ Tanto as gran des esco as como as pequenas e lh
C/)

(.),
e:
çoes. . . . sco as do
...
(O quotidiano são assim s1ngulanzadas.
u.
A multiplicidade de escolhas com que os indivídu
os se con.
frontam, que é variável confonne os seus meios, dá origem
«perfis" de vida e de consumo cada vez mais diferenciad0
,
ª
s tor-
nando cada vez menos percepttvel a eventual pertença a
grupos
sociais apesar do peso sempre grande das determinações e ,
' 00~
micas e socioprofissionais. Esta diversificação cria problemas
quer do ponto de vista sociopolítico - como representar interes~
ses mais variados? - quer do ponto de vista económico. Torna-
-se, com efeito, mais difícil fundamentar, por exemplo, uma
campanha de marketing sobre algumas categorias-tipo, sejam
elas categorias socioprofissionais, classes etárias, níveis de rendi-
mento, estilos de vida ou perfis psicossociológicos. As tipologias
fragmentam-se em grupos cada vez mais pequenos. Os especia-
listas de marketing, depois de se terem esforçado a dividir o
mercado em «grupos de identidades restritos" e em "nichos",
são hoje obrigados a ter em conta a singularidade crescente das
procuras efectivas ou potenciais dos consumidores. A multipli-
cação das opções e o individual feito à medida (o one-to-one) sáo
o nec plus ultra da indústria e dos serviços. Os produtores e os
distribuidores criam assim megabases de dados, para conhecer
tão individualmente quanto possível os seus potenciais compra-
dores e esforçam-se por diversificar as suas actividades para as
co lar o mais ' 1as
. poss1ve
. , . e aos seus d eseJ' os · As novas.
' suas prattcas
tecnologias de informação e de comunicação têm nesta maténa
um papel decisivo.

Scanned by CamScanner
Uma diferenciação social cada vez mais complexa 41

A diferenciação social prossegue e marca mais fortemente


2
rodas as esferas da vida social. A divisão do trabalho acentua-se o
<
o
C/l
e exprime-se ao mesmo tempo nas especializações profissionais,
~-
"C

mais numerosas e mais precisas, e numa globalização económica .,J


e,
-§:
que a faz mudar de escala. A globalização distingue-se com o
(/1

o.
efeito das fases precedentes de internacionalização da economia o

pelo facto de que já não consiste somente no movimento de


...e
O"
a,
:::,
homens, capitais, matérias-primas e mercadorias, mas por (/1

:?
o
se efectuar através da organização de processos de produção
à escala internacional e por uma mobilidade generalizada.
A globalização, ao associar sociedades locais diversificadas num
mesmo processo produtivo, reforça a diferenciação social com a
diferenciação territorial. Contribui igualmente para a diferen-
ciação cultural porque, num mesmo movimento em que ela
parece de certa maneira "homogeneizar" as práticas e os estatu-
tos difundindo por roda a parte os mesmos objecros, as mesmas
referências e quase os mesmos modos de organização, a globali-
zação alarga também, de maneira inédita, a paleta na qual os
indivíduos, os grupos e as organizações mergulham para fazer
as suas escolhas e desenvolver as suas especificidades.
A diversificação social transforma igualmente as estruturas
familiares e o seu funcionamento. A família-tipo, do casal com
filhos, que constituía a referência económica e política domi-
nante, é hoje minoritária. Mas mesmo as famílias tradicionais
são cada vez mais diversificadas, pois cerca de um quarto dessas
famílias são famílias "recompostas", induzindo uma estrutura-
ção familiar cada vez mais complexa que os demógrafos e os
juristas têm dificuldade em qualificar com crianças que têm até
oito avós, sem contar com os meios-irmãos, os falsos irmãos e as
quase-cunhadas.

Scanned by CamScanner
diferenciação opera-se também pela diversificação d .
42 A . ~h~
, . d vida Os ciclos de vida, outrora marcados por l
tonas e · .A • a gurnas
... s fases mais ou menos 1dent1cas para todos co h
.e
C1)

t)
grand e . . . . , n ecern
1/)
• episódios cada vez mais variados, 1nclus1ve com O r
4: h oJe . etorn0
1/)

o
t),
ao ponto de partida, com o regresso dos Jovens adultos ao dorni-
e:
...n:I cílio parental depois de uma experiência de descoabitação ou
LL. 0
regresso ao celibato dos divorciados. A diversidade aumenta
igualmente em virtude da aceleração das mudanças dos modos
de vida e dos sistemas de valores. Antes, cada geração reprodu-
zia mais ou menos os usos e costumes das gerações precedentes
nas diversas fases dos seus ciclos de vida. A aparição do fenó-
meno dos teenagers nos Estados Unidos no pós-guerra pôs em
evidência o enfraquecimento desta reprodução intergeracional.
Hoje, numerosos observadores consideram, por exemplo, que a
proximidade intrageracional dos adolescentes é mais forte em
muitos domínios, e em particular no lazer (música, desporto,
leitura), do que a proximidade intergeracional no seio de um
mesmo grupo socioprofissional. É certo que as desigualdades
sociais subsistem, algumas aumentaram mesmo, mas para uma
parte cada vez maior da população trata-se de diferenças de grau
e não de natureza e não se agregam para formar categorias
homogéneas. De facto a amplitude das variações de preço da
maior parte dos objectos de consumo aumentou muito
chegando, por exemplo, a mais de um para cinquenta como no
caso do automóvel.
A mobilidade social é o corolário da diferenciação. Aumenta
muito lentamente, mas os indivíduos têm trajectórias de vida e
práticas quotidianas menos determinadas pelas suas origens
sociais do que antigamente. A sua socialização inicial pelo con-
tacto com o meio dos seus pais perde a sua importância ~m
relação a formas mais alargadas de socialização onde os rnetos

Scanned by CamScanner
de comunicação, de inform:,ç:in e de dt.'ilocn~:fio r~rll 11111 p:1pd
cada vez mais signific:nivn. 1-;'.src prncesso :1hr:111gt: l;~11cgori:1,c;
7-
extremas como os jovens dos s11ht'1rhios 0 11 o.e; jovcw; do.'i h:dr'l'O,'i 0
r.:
ricos, cuja soci:lliza\~fto é m:1i.c; r s1Ti1 iv:1 t ,'ic n.::iliz:1 c111 {.'.<>1ll'cXl'oS
~
?.
1nais homogéneos. ::i
o
-õ'
A mobilidade física das pcsso:1s e da i11forn1:1~;:ío p:1nidp:1 o
cn
o.
também de forma acriva na di fcre nciaç:ío social. Fl:1 é, ao 111cs1110 o

tempo, um instrumento e uma res11lr:1111·c. 'lhrna pos,i;ívtis co n-


...CTe
OJ
::,
tactos e trocas cpisôdicas ou n.:g11l:1n..:s indt~pc11dc11rcmcnrc da cn
3
o
proximidade. Alarga, desta forma, as ha.'iC.'i sohrc :ts qu:ti.'i se po-
dem apoiar as clifcrcnciaçf>es e as afinid:idcs.
Os indivíduos surgem assim co mo socialme111·c n111ltipcrtt.:11-
centes e socialmente plurais. As suas pr:hicas, os seus ,'iisremas dt.:
valores, as suas escolhas individuais rtsulrnm de ,'ioci:tliza~~ôcs e.: de
,,
'• circunstâncias diversifi cadas. Por exemplo, o desporto praricado
por um indivíduo terá uma corrclaç:ío mais forte.: com a sua
origem geográfica, a mt'1sica que escuta liga-se sobretudo a uma
classe etária, o seu trabalho clcpcnded numa parte significativa
das origens socioprofissionais cios stus pais, as suas escolhas ele
férias serão fortemente determinadas por uma ncgociaç:ío fomi-
liar, o seu voto político dcpcnded e.lo lugar onde habita, etc.
A diferenciação social parece, assim, pulverizar pouco a
pouco uma sociedade na qual indivíduos mais diforcntes e autó-
nomos já não partilham senão momentaneamente valores
• A • • •
e expenencrns soc1a1s.

Ü APARECIMENTO DA SOCIEDADE HIPERTEXTO

Apesar desta aparente atomi1.ação da sociedade em indivíduos


mais aut6nomos, o social não se dissolveu. Alé1n disso, ao

Scanned by CamScanner
,. d e afirmam por vezes os políticos, os laços soe· .
44
contrano o qu . . , tais
" ram" Claro que certos 1nd1v1duos e grupos
não se rompe · . _ . so-
... . . ,. d'fi uldades graves e un1a franJa nao negltgenciável d
Q)
.r:.
c1a1s tem 1 e a
(,)
,., sta' excluída do 1nercado de trabalho e encontra-
(/)
4: popu1açao e . ,. . . e se
(/)

. "d'1s fili'ada''·
assim e ,
é certo que a d1stanc1a entre os 1na1s ricos e os
(,),
e:(ll . po br·es também atUTlent.ou en1 praticarnente todos 0 s
...
u.
mais
países desenvolvidos e que a sociedade conhece surtos de vio-
lência e de incivilidade. Mas esta1nos longe de cair numa ano-
mia maciça ou de cair na barb.frie. Pelo contnirio, as exigências
de segurança, de civilidade e do Estado de direito vão mais no
sentido do crescimento. As sociedades ocidentais, neste
momento, parecem prosseguir a sua modernização sem sofrer
ameaças essenciais e sem que surja qualquer alternativa radical
verdadeiramente credível. 10 mesmo não é evidente noutras
sociedades que se encontra1n em verdadeiro processo de disso-
lução: seja porque se encontram brutaltnente 1nergulhadas na
globalização e porque conhecem de forma acelerada e acentuada
dramas semelhantes aos que a Europa conheceu nos sécúlos XIX
e xx, seja porque estão excluídas da globalização e se afundam
em fomes, guerras e doenças.

Novos tipos de ligações sociais


É evidente que a busca da modernização nos países já pro-
fundamente modernizados não faz desaparecer os laços sociais.
O social "funciona". Mas as ligações n1uda1n de natureza e de
suporte.
Os laços fortes, muito densos, tradicionais, que ligavam
(uniam) antigamente nas comunidades aldeãs e rnedievais indi-
víduos pouco diferentes, er:am muito sólidos, multifuncionais,
e quase nao · ham necessidade de leis e de aparelhos e5racais·
• ttn
para os codificar e preservar. Os 1nd1v1duos
. . , passavam a sua vida

Scanned by CamScanner
ao lado das mesmas pessoas. Com a transição da comunidade
aldeã ou da vila para uma sociedade urbana e industrial, os laços
z
o
entre indivíduos mais diferentes entre si diversificaram-se, mul- <
o
til
tiplicaram-se e começaram a especializar-se. Todavia, nas cida- ""O
::i.
:::,
des, nos subúrbios e nas povoações do século XIX, o vizinho era ~.
"2.
ainda muitas vezes um colega, urr1 amigo, um familiar, um co- o
til
a.
-paroquiano ou um companheiro de luta. Hoje, pelo contrário, o
e
..,
a vida nas cidades desenvolve-se a uma outra escala e a coinci- CT
0l
:!.
dência das diferentes esferas de relações sociais é cada vez menor. til
3
o
Os vizinhos são menos frequentemente os amigos de infância,
os colegas, os pais ou os amigos. Cada indivíduo relaciona-se
com um número crescente de outros indivíduos, cada dia e ao
longo da sua vida, dentro e fora do trabalho; ele escolhe um ou
vários cônjuges sucessivos, os seus amigos, os seus vizinhos. Uti-
liza nas suas relações uma gama alargada de meios: o uso das
telecomunicações permite diversificar as formas das suas inte-
racções e o automóvel tornou-se a principal ferramenta para os
encontros face a face. As relações económicas e técnicas sociali-
zam também os consumidores através do uso de bens e serviços
comerciais: a nossa alimentação quotidiana, como os objectos
que utilizamos, são muito largamente produtos concebidos e
distribuídos por multinacionais; a menor das nossas actividades
está assim inserida de facto numa multiplicidade de relações.
As relações sociais foram de facto extraordinariamente mul-
tiplicadas. A sua natureza é diversificada e apoiam-se em modos
de comunicação múltiplos: trocar mensagens na internet e
encontrar-se no café são com efeito interacções qualitativamente
diferentes. As relações são igual1nente muito mais "fracas" do
que antigamente e mais frágeis também. Em compensação,
é muito mais fácil estabelecer outras novas. É a "força das rela-
çõ_es fracas,,. O tecido social constituído pelas relações sociais

Scanned by CamScanner
46
contemporâneas muda assim de textura. É cada vez mais con,_
posto por uma multiplicidade de "~os", muito finos, de todos
...
Ql os tipos, que não lhe dão menos solidez mas muito mais subti-
.L:
t.)
C/l
<t leza e elasticidade. Constituído por fibras diversas é também
C/l

t.),
social e culturalmente heterogéneo.
e:
...
(1l

u.
Uma estrutura social ent rede
As estruturas sociais que emergen1 hoje, baseadas em laços
fracos e muito numerosos e entre organizações e indivíduos
muitas vezes afastados uns dos outros, são de tipo reticular.
A sociedade é estruturada e funciona como uma rede, ou, melhor
como uma série de redes interligadas que asseguram uma mobili-
'
dade acrescida às pessoas, aos bens e à informação. É a generaliza-
ção desta mobilidade que torna obsoletas as estruturas areolares
antigas baseadas em processos de "difusão,, limitada no espaço e
sobre áreas de mobilidade restrita. Esta organização em rede gera
de facto uma nova solidariedade, no sentido em que cria um
sistema de interdependências entre indivíduos. Depois da "soli-
dariedade mecânica" da comunidade aldeã e da "solidariedade
orgânica" da cidade industrial, emerge, assin1, uma terceira soli-
dariedade, a solidariedade "comutativa", que põe em contacto
indivíduos e organizações pertencentes a uma multiplicidade
de redes interligadas. O desafio para a democracia é, portanto,
o de transformar esta solidariedade comutativa, de facto, numa
solidariedade "reflexiva", isto é, numa consciência de pertença a
sistemas de interesses colectivos.

Uma multiplicidade de pertenças sociais


O social compõe-se hoje de indivíduos de "múltiplas per-
tenças", ou seja, que se constroem cada um em vários campos
sociais distintos. Destes, os campos mais importantes são 0

L
---
Scanned by CamScanner
trabalho, a família, o lazer, a vizinhança, a.li organizaçfü.:.li religio- 47

sas e sociopolíticas. Antigamente, nas comunidac.k:s aldcá.'i, estes


z
diversos campos sociais confundiam-se cm grande parte. Com o
o<
o desenvolvimento da sociedade urbana e i11dustri:il di.:cruararn- .,,
<n

:::.
-se as primeiras dissociaçôcs, mas ainda se .'iohrepunliam em ::J
e,
-§:o
grande medida. Hoje, as suas intersecções sfto cada vez menos (/)

a.
numerosas; formam uma csp~cic de "folhado" .'iodai e sfio os o

próprios indivíduos que os lig:irn, passando de um plano para o ...e



w
::J
outro, várias vezes por dia. üi'
3
o
Os indivíduos deslocam-se real ou virtualmente em univer-
sos sociais distintos que eles articulam cm configurações dife-
rentes para cada um. Eles formam um hipertexto, ;t semelhança
das palavras que estabelecem a ligação entre um conjunto de
textos informatizados. O hipertexto é o processo que permite,
clicando sobre uma palavra de um texto, aceder a esta mesma
palavra numa série de outros textos. Num hipertexto, cada
palavra pertence simultaneamente a vários textos; cm cada um
deles participa na produção ele sentidos diferentes interagindo
com outras palavras do texto, mas segundo sintaxes que even-
tualmente variam de um texto para outro. A numeração elas
imagens abriu a possibilidade de construir igualmente hipcrmé-
dias que estabelecem ligações entre textos, documentos sonoros
e imagens (o prefixo hiper é aqui utilizado no sentido matcm~i-
tico de hiperespaço, isto é, de espaço a n dimensões).
Os indivíduos estão, portanto, cm campos sociais distintos,
assim como as palavras nos diferentes documentos de um hiper-
texto. Eles interagem num com os colegas, segundo uma
"sintaxe" profissional, num outro com os seus pais segundo
uma "sintaxe" familiar, num terceiro com os parceiros segundo
uma "sintaxe" despornva,
· etc. 5~ao os "·me11v1
· 'd uos-pa1avras" que
constituem eles próprios as principais ligações entre estes

Scanned by CamScanner
"textos-campos
· sociais". Passam de um campo a 0 Utro s .
48
ndo-se seJ·a telecomunicando. Quando um ern , eJa
d es1oCa ' pregad0
...
(1) telefona para a sua casa do seu local de trabalho, de cerro mod
.r:
(.) " ,, o,
rtJ
<l: ele muda de texto .
rtJ
'õ Os diversos campos sociais são de naturezas diferente A
CJ•
e: · par-
...
(ll

u.
ticipação dos indivíduos em cada um deles pode ser m .
ais ou
m enos voluntária, durável. As interacções podem aí ser e ,
cono-
micas, culturais, afectivas, recíprocas, hierárquicas, norrna~
lizadas face a face, escritas, faladas, telecomunicadas
' , etc.
Os campos são de escala variável (do "local" ao "globar') e rnais
ou menos abertos. As redes que estruturam estes campos podem
ser em estrela, em malha, hierarquizadas. E os indivíduos fazem
code switching, isto é, tentam fazer malabarismos com diferentes
códigos sociais e culturais para poderem passar de um para 0
outro.
Esta metáfora do hipertexto permite igualmente renovar a
identificação e a análise das desigualdades sociais. Com efeito,
os indivíduos não dispõem todos, por razões diversas mas larga-
mente explicáveis pelas suas histórias sociais, das mesmas possi-
bilidades de construir espaços sociais a n dimensões ou de passar
facilmente de um plano social para outro. Para algumas pessoas
o "folhado,, de redes está completamente esmagado: os seus
campos económicos, familiares, locais e religiosos sobrepõem-se
muito consideravelmente. Assim, os excluídos do mercado do
trabalho não são geralmente multipertencentes: habitam na
maioria dos casos nos subúrbios, vivem de uma economia
"informal" local e não encontram habitualmente senão pessoas
do seu bairro. A possibilidade de se deslocar numa séri~ ~e
campos abre potencialidades que não são igualmente aces~ive~s
a todos. Esta multiplicidade pode também trazer a certos indi~
I ~~ª1
viduos problemas psicológicos complicados e tornar

Scanned by CamScanner
constituição do seu « eu" . M as a sociedade hipertexto renova
49
profundainente as modalidades de constituição do social como
identidades pessoais. z
o
<
o
(/j

'"O
::::!.
::,
o

Do CAPITALISMO INDUSTRIAL AO CAPITALISMO COGNITIVO "ª:


o
1/)

a.
o

.fu mudanças económicas em curso tornéllll evidente que as ...eC"


o,

sociedades ocidentais começam a sair do industrialismo, ou :!.


VI
3
o
seja, de um sistema económico baseado principalmente na
indústria definida como "o conjunto das actividades económi-
cas que têm por objectivo a exploração das matérias-primas, de
fontes de energia e a sua transformação, assim como os produ-
tos semiacabados e bens de produção ou de consumo" e que elas
entréllll numa economia cognitiva baseada na produção, apro-
priação, venda e uso de conhecimentos, de informações, de
procedimentos. Isto não significa que a indústria tenda a desa-
parecer. Mas, da mesma forma que, com o capitalismo indus-
trial, a agricultura ficou dependente do modelo industrial que
lhe te~á redefinido quer as suas finalidades quer os seus métodos
e valores, também a produção industrial depende cada vez mais
das lógicas e dos poderes da economia cognitiva. Para o dizer
mais concretéllllente, o desempenho de uma empresa industrial
depende hoje em dia em primeiro lugar da sua capacidade de
conhecer os mercados, de mobilizar as ciências e as técnicas,
de inventar respostas, de 4esenvolver capacidades criadoras, de
organizar processos, de gerir as reacções perante os aconteci-
mentos, de analisar custos, de coordenar acções, de gerir a sua
comunicação por ocasião de uma crise. O carácter estratégico
da economia cognitiva é, de certa forma, confirmado pelos
comportamentos das grandes empresas dos países desenvolvidos

Scanned by CamScanner
. ,,dos sectores que pareccn1 deixar a \)roclt .
50 em d etermu1·• lÇao
·a1
maten para outros_ e para o resto do mundo - e que sf\
"'- con-
...
(1) cen eram nas I1ovas
, · cecnolooias
" atraindo capitais e ncssoal
r ,
qt1al'1_
.e
u
1/) ficado de todo O mundo para assegurar o seu desenvolvimento,
<t
1/)
'õ Esta nova "economia cognitiva" aparece como a expressão da
U•
e:
...ltl fase contemporânea de modernização no domínio da econo-
u.
mia. Dito de outra fonna, a economia cognitiva esti para a
"sociedade hipertexto,, e para a "so t·d ·dd
l anc a e comur:uiva11

como a economia industrial esteve para a "sociedade urbana11 e


para a "solidariedade orgânica" e como a economia de mercado
de dominante rural esteve para a "comuntrnl
·Jd"e e para a "solida-
riedade mecânica" (cf. tabela da p. 59).

O fim do futuro previsível e planificável


O sistema fordista, apesar de alguns sobressaltos e de algu-
mas crises, tinha globalmente funcionado bem durante mais de
meio século. Este sistema estava baseado numa previsibilidade
baseante grande do futuro. As empresas podiam portanto pro-
duzir antes de vender, amortizar as variações do mercado com
stocks e investir por períodos bastante longos. Os trabalhadores
podiam contar com o crescimento para esperar a médio prazo
um aumento do seu poder de compra e uma melhoria das suas
condições de vida. Consumiam os bens que produziam. Esta-
vam protegidos em caso de doença e não tinham inquietações
com a sua reforma. Certamente que nem tudo estava bem no
melhor dos mundos como o testemunharam, nomeadamente,
as lutas sociais. Mas a representação que a sociedade ocidental
tinha de si mesma era globalmente opcimista.
Este sistema apoiava-se na possibilidade de limitar as incer-
tezas. A planificação era um dos instrumentos-chave, a nível
nacional, nas empresas, para o desenvolvimento urbano e 0

-- Scanned by CamScanner
ordenamento do território. Entrou progressivamente em crise 5 ·1

a partir do final dos anos sessenta. A produção de massa, repe-


z
titiva, entrou em confronto com a diferenciação social e com a o
<
o
diversificação da procura. As tecnologias e os modos de organi- (1)

'"O
:::!.
:,
zação que tinham assegurado o crescimento da produção e da n
-g:
produtividade atingiram os seus limites. As receitas keynesianas o
1.11
o.
tornaram-se contraprodutivas nas economias mais aberras; as o
e
....
intervenções dos Estados-providência tornaram-se demasiado O"
Q.)
:,
dispendiosas e geraram toda a espécie de efeitos perversos. vi' l 1
3
o
A globalização, a aceleração dos movimentos de capitais, as
políticas de transferência das regulações para os mercados não
fizeram senão aumentar as incertezas. O conjunto destas evo-
luções convergentes pôs em causa as formas fordo-keynesianas
do industrialismo. Os seus dispositivos, baseados no desempe-
nho por repetição (a rotina tayloriana e o consumo de massa),
sobre racionalidades simples, moldadas segundo um ideal de
prcvisibHidade (a programação e a planificação linear), entra-
ram assim em crise, uns após outros, juntando-se ainda à inse-
gurança e à instabilidade criadas mais geralmente pela
dínámica da modernização, mas criando de igual modo as
condições para o aparecimento de uma nova forma de econo-
mia mercantil.

Uma nova economia do conhecimento e da informação


A expressão "nova economia" é muito usada hoje em dia, no
entanto ela é um alforge onde rudo cabe. Engloba os sectores de
produção das novas tecnologias de informação e de comunica-
ção (hardware e software), a net-economia, isto é, as actividades
económicas direccamenre ligadas ao uso da Internet e, de forma
mais am pia, a economia cognitiva, ou seja, as indústrias e os
serviços nos quais predominam a produção, a venda e o uso dos

Scanned by CamScanner
. da informação e dos procedimentos
52
conhecimentos, . . . 0 desen.
. d ta econorrua inscreve-se no processo d
volv1mento es ,. . . e tnoder.
... . ~ ta' em ressonancia com o aparecimento da 50 . ,L
(1)
J;.
n1zaçao e es c1e~de
(J
cn
<t hipertexto. .
cn na verdade, de uma economia cada vez ma·
"õ Trata-se, 1s refle.
U•
e: . mobiliza sob diversas formas o progresso das e·,· .
...
ta
u.
xiva que . enCJas
, ·cas·
e das tecn 1 · através do desenvolvimento de máquinas ,L
caua
vez mais sofisticadas que integram muitas tecnologias da infor.
mação e da comunicação (TIC), pelo emprego de uma mão-
-de-obra globalmente cada vez mais qualificada e cujas tarefas
são cada vez menos repetitivas, pelo recurso a métodos de gês-
táo que exigem uma informação rápida e abundante para fazei
frente a incertezas cada vez mais numerosas e a escolhas mais
complexas. A característica essencial desta nova economia é
que uma parte crescente das actividades económicas e dos
valores que ela produz depende do capital cognitivo incorpo-
rado nos homens, nas máquinas e na organização. Os modelos
industriais de performance tornam-se inutilizáveis e o valor do
capital difícil de calcular pois é em boa pane consriruído por
"activos intangíveis", ou seja, por saberes e saber-fazer, por
modos de funcionamento, relações pessoais, criatividade, etc.
A nova economia est,Í também mais individualizada, ramo
ao nível do consumo como da produção. Os consumidores
exigem produtos cada vez mais diversificados e específicos,
o "industrial feito à medida"; o conhecimento das suas necessi-
dades singulares torna-se assim uma das chaves da competitivi-
dade do comércio, dos serviços e da indústria. A evolução da
produção industrial testemunha igualmente o proces.so de indi·
vidualização, quer se trate das qualificações, dos esraruros e das
carreiras dos trabalhadores, dos modelos de organização, do
funcionamento por projectos onde cada um encontra UIIlª

\
Scanned by CamScanner
posição temporária dentro de um colectivo de trabalho, da fle- 53

xibilidade ou da dessincronização de horários de trabalho ...


2
Por fim, esta nova economia é também mais diferenciada. o
<:
o(1)
A divisão do trabalho não deixa de se aprofundar, as qualifica- -e
~-
::;
ções dos trabalhadores são mais numerosas e as especialidades (')

"§:
das empresas mais apuradas. Esta evolução é acentuada pela o
(/)

a.
externalização crescente que é praticada pelas grandes empresas. o
e
Com efeito, os progressos das técnicas de transportes e de comu- a-
0.)
:;
nicação fazem baixar os custos das transacções e contribuem (/)

3
o
para melhorar o desempenho do recurso ao mercado. A sub-
contratação, as joint-ventures, as parcerias e as franchises substi-
tuem o antigo modelo organizacional da grande indústria.

Uma economia mais urbana


A produção e os serviços saem da empresa dando ao contexto
espacial uma importância económica nova. Antigamente, de
facto, a maior parte da actividade das grandes empresas proces-
sava-se no interior das suas instalações. Hoje, com a externaliza-
ção de uma parte crescente da sua produção e dos seus serviços,
a actividade processa-se cada vez mais fora das suas instalações,
transformando de facto as cidades e os territórios em espaços
produtivos. Isto aumenta a importância das "externalidades" de
todo o tipo e gera novas responsabilidades para os poderes
públicos que devem contribuir mais do que antigamente para
criar um ambiente material, económico, social e cultural propí-
cio para as actividades económicas. Mas as recomposições e
reconversões rápidas e brutais ·das empresas, a mobilidade dos
capitais, a aceleração dos ciclos dos produtos e o desenvolvi-
mento dos meios de transporte e de comunicação modificam
também as qualidades esperadas dos territórios e tornam muitas
vezes obsoletas as antigas especializações industriais locais.

Scanned by CamScanner
54
O desenvolvimento económico das cidades baseia-se
. 'b•1·d d ., efectiv
m ente, cada vez mais na sua acess1 i 1 a e, ou seJa n a.
...
Q) onexão coin as grandes redes de transporte terrest , ª sua
.s::
o c re e aér
1/)
<l'. no seu potencial em mão-de-obra qualificada. A at _ eo e
1/) , . racÇao das
'õ camadas J·ovens da classe media e alta transforma-se a .
O•
e
, ssun nu
...
ro elemento central das políticas urbanas que colocam , rn
LL
. . no centro
do desenvolvimento local a qualidade de vida, os equip
, . . arnentos
educativos, a cultura, os lazeres e a propna imagem da cidade.
O uso dos meios de transportes rápidos e das telecom .
un1ca.
çóes pelas empresas contribui também para reestruturar as
cidades e os territórios. O desenvolvimento da net-econom1a.
(comércio electrónico de retalho e entre empresas, 0 chamado
"e-comércio", e-formação e tele-ensino, e-recrutamento e e-
-pessoal temporário, e-saúde e telemedicina, e-banco/seguros,
e-bolsa, e-segurança e televigilância, e-informação e telejornais,
etc.) muda os critérios de localização das actividades e participa
nomeadamente na reconfiguração das centralidades e das espe-
cializações comerciais. Os centros de negócios vêem o seu papel
reforçado pelo acolhimento das actividades muito qualificadase
com uma alta intensidade informacional. A logística torna-se
uma função-chave nos processos de produção e suscita novos
tipos de equipamentos multimodais e multisserviços (as plata-
formas logísticas). Os aeroportos rodeiam-se de uma gama
muito variada de empresas atraídas pelas sua acessibilidade
tanto aérea como terrestre.

O papel das tecnologias da informação e da comunicação


A dinâmica da economia capitalista prossegue e desempenha
. que uma
um papel crescente na sociedade, nomeadamente por d
,. b' de pro u-
. parte crescente elas actividades humanas sao o Jecto ., eda
çóes e de serviços mercantis. As tecnologias da infonnaçao

Scanned by CamScanner
comunicação desempenham um papel-chave nesta dinámica. 55
Não mudam de forma autónoma a sociedade mas, agarradas e
2
aproveitadas pelos actores económicos e pelos indivíduos- o
<
o
-consumidores, podem contribuir para lhe dar novas formas //1

~
::;,
porque lhe estão particularmente adaptadas. Com efeito, por o
-§:
um lado inscrevem-se activamente nas dinâmicas de racionali- o
//1
o.
zação, de individualização e de diferenciação da sociedade o

hipertexto; por outro lado, são instrumentos e suporte de um


...er:r
QI
2.
capitalismo cognitivo que pode aproveitar - em todos os senti- IJ)

3
o
dos da palavra - os progressos muiro rápidos das suas perfor-
mances. Estas estão muito ligadas à numeralização que, ao
modificar de forma decisiva a produtividade na produção, a
acumulação e a circulação de informação, contribuem de forma
determinante para a dinâmica do capitalismo cognitivo. As TIC
participam também activamente na aceleração de todos os
movimentos de pessoas, de informaçáo e de bens, sendo enten-
dido que tudo aquilo que produz a diferença, sobretudo cm
1
~ termos de velocidade, se inscreve particularmente bem nas lógicas
capitalistas que se baseiam na concorri:ncia e na acumulação.
~, Estas tecnologias estão longe de ter esgotado as suas poten-
cialidades. Elas ocupam progressiva.mente, como aconteceu
it anteriormente com a electricidade, uma posição genérica, ou
seja, elas penetram em todos os sectores económicos e em todas
1
~
· as esferas da vida social. Já não existe praticamente nenhuma
indústria, ciência ou tecnologia cujo desenvolvimento não
dependa do uso das TIC, em particular nos novc;>s domínios
como por exemplo na genómica e a cognítica.
Neste contexto a Internet desempenha um papel pivô, funcio-
nando como uma espécie de metamédia que associa e articula
diversos modos de produção e de circulação de informação.
Assistimos, de facto, à "convergêncià' em volta da Internet de

Scanned by CamScanner
todos os meios de con1unicaçáo e ao aparecimento de ob·
56 . , · 1 ._ Jectos
que 1.ntegram nos o bJectos moveis a te ev1sao O t l e
novos . , . , ' e erone, 0
... dor a agenda, o livro, a 1naqu111a fotografica ea ,
comPuta ,
Q)
.r:
(.J
maquina
(/)
<t de filmar.
(/)

C)•
e:
...
10 As novas regulações do capitalismo cognitivo
u..
A acumulação e a concentração de capitais contii
1ua111 e
aceleram-se no contexto da globalização e da nova eco .
, . . nom,a
cognitiva. Mesmo nos dom1n1os muito recentes, as actividades
organizam-se ou reorganiza1n-se a nível n1undial à volta de
algumas das principais empresas do seu sector. Os processos de
crescimento e de crise são acelerados e não nos podemos deixar
enganar nem pelo fenómeno das start-up, cuja existência inde-
pendente é muitas vezes breve, nem pela proliferação de peque-
nas e médias empresas das quais muitas dependem de facto dos
grandes grupos, mais ou menos directa e duravehnente. Não se
deve, portanto, confundir o fim do industrialismo com o fim da
economia capitalista. As leis económicas não são novas mas
aplicam-se num contexto diferente. O mercado é talvez mais
transparente, os custos de transacção mais fracos, as informa-
ções menos assimétricas, os sistemas de adaptação da oferta e da
procura mais sincronizados, as origens do valor diferentes, os
modelos de desempenho renovados: só falta que a dinâmica de
acumulação prossiga e tem todas as possibilidade de assim con-
tinuar durante algum tempo.
A economia cognitiva conhece e conhecerá portanto o~ múl-
tiplos disfuncionamentos do capitalismo, as suas oscilações e
crises de todo o género - económicas, sociais, ambientais -
enquanto os interesses sociais se multiplicam e as concorrências
entre empresas e entre territórios aumentam. Deve, portanto, ser
"regulado" pois não pode funcionar de forma duradoura sem

Scanned by CamScanner
instituições representando as diversas colectividades sociais e ter- 57

ritoriais, sem regras comuns, sem poderes colectivos.legítimos e


2
capazes de fazer respeitar estas regras, sem intervenções correcto- o
o
<
ras e de compensação, sem modalidades de gestão de conflitos. .,,
ti)

No entanto, as regulações desenvolvidas no período prece-


~-
:J
(")

-§:
dente funcionam cada vez pior no contexto do capitalismo o
(/l

a.
cognitivo, entre outros motivos porque a globalização continua a o
...e
minar as bases nacionais dos Estados--providência, torna inefica- C"
D)
2.
zes as políticas keynesianas, porque a relação salarial fordiana (/l

3
o
perde terreno perante contratos de trabalho muito mais instáveis,
os investimentos privados a longo prazo tornam-se cada vez mais
raros, os ciclos dos produtos encurtam-se e porque emergem
novos problemas sociais e novas desigualdades. Contudo, um
novo tipo de regulação parece delinear-se, a qual podemos quali-
ficar de "regulação de parceria", na rnedida em que os actores,
com lógicas diferentes e com interesses eventualmente divergentes,
ou mesmo conflituais num certo número de pontos, esforçam-se
ou são obrigados a fazer diligências en1 comum, a negociar com-
promissos duradouros e a criar instituições colectivas.
O capitalismo cognitivo apoia-se também mais fortemente
ainda que o capitalismo industrial na bolsa de valores e no capital
financeiro, mas estes são hoje em dia largamente alimentados
pelas poupanças dos assalariados e dos trabalhadores indepen-
dentes que utilizam os valores bolsistas para garantir mna parte
crescente da sua protecção social e em primeiro lugar para
financiar e garantir as suas reformas. O fordismo tinha feito dos
trabalhadores de massa consumidores de massa. Hoje, os traba-
lhadores-consumidores tornam-se accionistas, directamente pela
compra de acções, indirectamente por aplicações das suas caixas
de reforma. Os "fundos de pensões" ganham, assim, uma maior
importância social e económica e tornam-se, nomeadamente,.

Scanned by CamScanner
. .d res do sector .imobiliário. Por outro lado .
58
randes mvestl o , , . 'a crise
g d idência que e tambem uma cnse do seu lllod
do Esta o-prov ' o de
.... . ~ do seu desempenho, leva os poderes púbI·
Q)
.e
organ1zaçao e · . icos
(.l
. . locais a recorrer cada vez mais a actores privados
(/J
cd'. nac10na1s e para
1/l do O tipo de prestações, livre de subvencionar

e.,.
assegurar to estes
e: eles que devem comprar os seus produtos e se .
...ca ~o~OU aqu ~
u..
ços. & concessões e as parcerias público-privadas multiplicarn-se
sob formas diversas. A globalização, o enfraquecimento das bar-
reiras alfandegárias, a aceleração dos movimentos de bens, de
homens, das informações e dos capitais, necessitam igualmente
da criação ou do reforço das instituições supranacionais de
regulação, enquanto os poderes públicos locais vêem o seu papel
económico e social reforçado num contexto de concorrências
inrerrerritoriais, intensificadas pela internacionalização e o desen-
volvimento de meios de transporte e de comunicação.
& parcerias entre diferentes tipos de actores são uma forma
"reflexiva" de regulação mais adaptada a uma sociedade aberta,
muito diversificada, móvel e instável. As instituições produzidas
por essas parcerias trazem uma estabilidade relativa num con-
texto mais marcado pelas incertezas de toda a espécie.
A amplitude das mudanças sociais, económicas, culturais,
políticas, territoriais, geradas pella emergência da sociedade hiper-
texto e do capitalismo cognitivo, confirma a tese da entrada das
sociedades ocidentais numa nova fase do processo de moderniza-
ção. Esta, como as duas precedentes, tornam necessárias e geram
mutações múltiplas. Assim, a sociedade hipertexto e o capitalismo
cognitivo provocam uma terceira revolução urbana moderna,
É esta última que vamos agora caracterizar para deduzir, dos pro-
blemas específicos que ela coloca e dos desafios mais gerajs da
sociedade moderna avançada, princípios e métodos de acção para
ª concepção, a produção e a ges1tão das cidades.

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· ~ ocidental
Fresco esquemático da du1âtru'ca d a mo dern1zaçao · e d o contexto
das três revoluções urbanas modernas
- COMUNIDADE SOCLEDADE INDUSTIUAL SOClEDADE HIPERTEXTO
Laços sociais Pouco numerosos, Mais numerosos, Muico numerosos, muito
curtos, não de vários tipos, variados, mediatizados
diversificados, pouco evolutivos, fortes, e directos, frágeis,
mediatizados, estáveis, em via de especialização especializados
forces e mulrifuncionais

Tipo de Mecânica Orgânica Comutativa


solidariedade
Territórios Muito a utárcicos Integrados num Abertos, múltiplos, em
sociais (espaço e fechados, com conjunto mais alargado, mudança, de escala variável
das relações centragem local entreabertos, (do local ao global), reais
sociais) com base nacional e virtuais

Morfologia Alveolar Areolar Reticular


socio-
territorial
Paradigmas C renças Razão universal Complexidade, incerteza,
dominantes Tradição e continuidade Funcionalidade auto-regu lação, flexibilidade
Destino Simpliíicaçáo Governância
Força, aucoridade, e especialização
sabedoria Democracia
representativa

Acções Repetitivas e rotineiras Racio nais Reflexivas

Costumes, chefe Estado e leis Sistemas estacais


Regulações
Subsidiários, direico
principais
e conrracos, parcerias,
opinião pública

Agrícolas Industriais Cognitivas


Actividades
económicas
dominantes
Forres componentes Diversificado e híbrido
Cultura De dominante local
socioprofissionais (mulciperrença social
e cultural)

Estrutura urbana Sistema metapolitano


Tipo urbano C idade mercantil
hierarqu izada
dominante
e cidad es ind ustriais

M w1icípios, distritos, Aglo merações, países,


Instituições Freguesias, concelhos e
adm i n istraçáo regiões
distritos,
centralizada Estado- Estado- nação-providência
Estado-nação
-nação-providência. O rganizações internacio nais
Pactos, alianças e supranacionais
e tratados O NG

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III

A terceira revolução urbana moderna

A primeira modernidade e a sua revolução urbana tinham des-


pertado novas concepçóes, que qualificaremos de paleourbanismo,
e as primeiras utopias; a segunda modernidade e a sua revolução
urbana produziram modelos e deram o seu nome ao urbanismo.
A terceira modernidade e a sua revolução urbana começaram
a fazer emergir novas atitudes em relação ao futuro, novos projectos,
modos diferentes de pensamento e de acção: é o que daqui em
diante qualificaremos de neo-urbanismo ou de "novo urbanismo"
(ainda que esta fórmula tenha ganho um sentido particular nos
últimos anos, nomeadamente nos Estados Unidos 1).

1
O New Urbnnism norte-americano remete, de facto, para crês tipos de práticas: estilo
estético, desenho urbano e modos de urbanização. A estética proposta é uma arqui-
ceccura do tipo contextual, muitas vezes pastiche e kitsch; o desenho urbano privilegia um
urbanismo de ruas, de espaços públicos, de altas densidades; o modo de urbanização baseia-
-se em princípios de mistura funcional e social, no uso dos transportes públicos e na luca
contra a expansão urbana. Uma cana procura codificar o New Urbnnism, cujos princípios
estão evidentemente longe de serem novos, mas que rompem com as formas urbanas que
se desenvolveram nos Estados Unidos no interior e nas proximidades das grandes agl~me·
rações. As suas referências iniciais foram Seaside (uma estação balnear baseante chique)
e Celebrarion (a cidade privada concebida e realizada pela Disney). Contudo, os promoco·
Ar , ,. b . tentam escapar a esta imagem de cidade para a classe me'clia, baseante
res dO JVew ur amsm
, . d f: . d
proXJma, e acto, dos modelos impostos pelas gated comm1mities (as Cida es pnva .
. das ame·
ricanas), e convencer-nos de que o seu projecto pode servir também para requalificar e
regenerar zonas degradadas.

Scanned by CamScanner
Esta terceira revolução urbana está já amplamente instalada: 61
numa trintena de anos as evoluções foram consideráveis nas
2
práticas quotidianas dos citadinos, nas formas das cidades, nos o
<
o
meios, motivos, lugares e horas das deslocações, nas comunica- (1)

"C
:::!.
ções e nas trocas, nos equipamentos públicos e nos serviços, na ::J
e,
"§:
tipologia dos lugares urbanos, nas atitudes em relação à natureza o
(1)

Q.
e ao património, etc. Apareceram inovações de grande impor- o

tância na vida urbana, como sejam o videogravador, o telefone ...e


cr
CJ
::J
móvel, os computadores pessoais e a Internet; a difusão do (/l

3
o
segundo automóvel e do TGV contribuiu igualmente para
modificar profundamente os territórios. Porém, estas evoluções
estão apenas a começar. Tendências pesadas estão, efectivamente,
em curso, sustentadas e determinadas pelo novo processo de
modernização. Trata-se de identificar estas tendências com a
maior precisão possível, não para prever ou decidir o futuro,
o que seria ilusório, mas para avaliar os tipos de impactos que
são susceptíveis de provocar nas cidades e nos modos de vida
urbanos, e para elaborar, em consequência, instrumentos sus-
ceptíveis de ajudar a gerir da melhor forma estas evoluções
estruturais.
Cinco grandes evoluções parecem caracterizar a terceira
revolução urbana moderna: a n1etapolização, a transformação
dos sistemas urbanos de mobilidade, a formação de espaços-
-tempo individuais, a redefinição das relações entre interesses
individuais, colectivos e gerais, novas relações com riscos.

A METAPOLIZAÇÁO: AS CIDADES MUDAM DE ESCALA E DE FORMA

A metapolizaçáo é um duplo processo de metropolização e de


formação de novos tipos de territórios urbanos, as metápoles.

Scanned by CamScanner
. a rnerropolizaçáo con10 a procura da e
Podemos d efin 1f . . on-
62 . zas humanas e matena.is nas aglomera _
rracáo d e nque . Çoes
cen · É um processo reconhecido em todos os p ,
mais importantes. e d" ai-
·d mesmo se assume rormas 1versas que têrn
ses desenvo1v1 os, . . . a
cificidades reoiona.is e nac1ona1s. Resulta prin .
ver com as espe i:, c1-
balizacáo e do aprofundamento da divisão d
palmen re da glo , , . o
ua balli ,
o a es cala mundial, o que torna necessanas e mais com_
...
.. aalomeraçóes urbanas capazes de oferecer um mer-
peauvas as t, . •
cado de trabalho vasto e c:Uvers1ficado, a presença de serviços
de muito alto nível, um grande número de equipamentos e de
infra-escruturas e boas ligações internacionais. Os empregos, 0
comércio, os equipamentos sanitários, educativos, culturais e de
lazer das grandes aglomerações atraem igualmente as popula-
ções mais qualificadas.
A mecropolizaçáo, tal como o crescimento precedente das
cidades, apoia-se no desenvolvimento dos meios de transporte e
de armazenamento dos bens, das informações e das pessoas
(o sistema bip) e nas tecnologias que aumentam o seu desempe-
nho. Assim, a rapidez de deslocação das pessoas nas cidades
europeias aumentou aproximadamente trinta por cento numa
quinzena de anos, enquanto, no mesmo ten1po, se desenvolvia
o telefone portátil e o uso da Internet, dos compact-discs e as
transmissões por satélite e se generalizava o uso dos congelado-
res e dos fornos microondas. Estes meios de transporte e de
armazenamento, com um bom desempenho e cada vez mais
individualizados, dão novas formas às aglomerações urbanas.
Constituem-se assim as metápoles, isto é, vastas conurbaçóes,
extensas e descontínuas, heterogéneas e multipolarizadas.
O processo de urbanização e de crescimento das cidades,
que acompanhou as duas primeiras fases da modernização e
lhes serviu de ponto de apoio, prossegue, portanto, mas sob

Scanned by CamScanner
novas formas. O crescimento interno das aglomerações, por 63

expansão para as suas periferias imediatas e por densificaçáo, dá


z
o
amplamente lugar a um crescimento externo, ou seja, pela <
o
absorção na sua zona de funcionamento quotidiano, de cidades, .,,..,
(/)


de vilas e de aldeias cada vez mais distanciadas. Os limites e as (1
-õ'
diferenças físicas e sociais entre cidade e campo tornam-se cada o
(/)

o.
vez mais ténues. A dilatação dos territórios urbanos praticada o
e
..,
usualmente pelos citadinos enfraquece a importância da proxi- O"
o,
~

midade na vida quotidiana: o bairro é muito menos o lugar de cii'


3
o
integração das relações de amizade, familiares, profissionais,
cívicas; os vizinhos mais próximos são cada vez menos os ami-
gos, os pais, os colegas, salvo nalguns guetos de ricos e de pobres.
O local muda de natureza e de sentido: é cada vez mais esco-
lhido e abrange apenas realidades sociais fragmentárias. De
facto, mesmo os habitantes das cidades privadas norte-americanas
(as gated communities) vivem à escala 1netapolitana: deslocam-se
muito, quotidianamente e cada vez mais longe.
As formas metapolitanas, muito ligadas aos meios de ·trans-
porte e de comunicação, são gravadas progressivamente sobre
rodo o território, canto nas zonas que incluem cidades muito
grandes como nas cidades médias. As estruturas das redes de
transportes rápidos (em hubs anel spokes, ou seja, em centros e
raios) marcam cada vez mais os sistemas e as redes urbanas.
As pequenas e médias cidades esforçam-se assim por se ligar o
melhor possível às aglomerações 1nuico grandes para beneficiar
ao máximo da sua urbanidade (do seu potencial).
A metapolização, tal como a globalização, induz um duplo
processo de homogeneização e de diferenciação: homogeneiza-
ção, porque os mesmos actores económicos ou o mesmo tipo de
accores económicos estão presentes com as mesmas lógicas em
todos os países e em rodas as cidades; diferenciação, porque

'==
Scanned by CamScanner
r ,. . interurbana se alarga e se anima, acentu d
64
a concorrenc1a an o a
,. . das diferenças. As escolhas que os actores l .
importanc1a . oca1s
... f: r sáo assim cada vez mais numerosas e O cont
Q)
,J; po dem aze ,, " l bal" f: acto
o . , •os «locais com o g o az aparecer as difer
r/)
<t dos ternton ,, . ,. . enças
r/)
• a' intervenção. E esta dupla d1nam1ca de homog .


e encoraJa ene1-
e:(O zação e de diferenciação que constitui o quadro das políticas do
...
LI-
desenvolvimento local e que abre um espaço de debate, de tran-
' . /
,
sacçao, e de parceria entre actores econom1cos moveis e acto res
locais. A globalização activa a~sim o local, ao mesmo tempo
pelas comparações que sáo estabelecidas e porque lhe deve a sua
existência. E é, em última instância, a diversidade dos territó-
rios que faz mexer os homens, os bens, os capitais e as informa-
ções.

A TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA DAS MOBILIDADES URBANAS

A globalização e a metapolizaçáo alimentam-se das tecnolo-


gias de transporte e de comunicação e estimulam o seu desen-
volvimento. Mas contrariamente àquilo que se teme ou espera,
estas tecnologias não põem em causa a concentração metropo-
litana nem substituem as cidades reais pelas cidades virtuais.
O uso das TIC "em particulat não se substitui em termos de
igualdade aos transportes: o face a face, os contactos directos,
continuam a ser meios de comunicação privilegiados; a acessi-
bilidade física, a possibilidade de encontro, são mais do que
nunca a principal riqueza dos lugares urbanos. Assim o teste-
munham a subida mais rápida dos preços do imobiliário na
proximidade das infra-estruturas de transportes assim como
ª concentração espacial das actividades direccionais, do comér-
cio e das actividades de lazer. De certa maneira, assiste-se mesmo

Scanned by CamScanner
a ulll paradoxo: o ckscnvolvinwnrn das rdccomu11icaçõcs bana- 65

liza e ;teaba por dl'sv:tlnrizar rudo o que é audiovisual - que se


2
mcdiati,.a e se armazena focilmcntl' - c valoriza económica o
<
o
CII
e simbolic:tntc111c aquilo que n:ío se rclccomunica (ainda?),
1· ,, - , . .
..."O
(1 ::,
o <. 1n.:cto , as sensa\:ocs rac1e1s, ollacrivas, gustativas, os aconre- ()
-õ'
cimcnros, :ts lt·sr:1s ... O hoom das acrividadcs desportivas e da o
C/1
o.
rc.:srauras·ão de laz<.'r, o succ.:.-;so dos cinc111:1s multiplcx, o crcsci- o

menro das mohilidacks ligadas aos cnconrros familiares e de


...e
a01
2.
amizade, a i111por1Jncia que ganham os gr:111dcs aconrccimcntos u,
3
o
cksportivos e os fos1 ivais, s:ío ou nos tantos índices da importân-
cia renovada do face a focc e <.b experiência clirectn na vida
urbana.
Todavia, as tdccornunicaçéks contribuem para a transforma-
ç:ío do sistema das mobilidades urbanas, dos bens, das informa-
çôcs <.: das pessoas e ele novas estruturações espaciais. Assim,
o comércio clccrrónico subsrirui uma parte da mobilidade dos
consumidores pelo transporrc.: de informações via Tntcrnet e pela
deslocação comercial e.: profissional de um distribuidor ao domi-
cílio. Isto é susccptívcl de induzir a prazo modificações importan-
tes na localização de uma parte das lojas, uma vez que os bens de
consumo já não necessitam de estar disponíveis nos centros
comerciais de rendas altas, mas cm armazéns e na proximidade
das plataformas logísticas. O aumento dos fluxos de entrega a
domicílio modificad igualmente os problemas e as 1noclalidades
de gestão da circulação urbana e de estacionamento, favorecendo
nomeadamente o desenvolvimento de sistemas de localização
e de orientação por satélite. Mas o comércio electrónico não subs-
titui o comércio "tradicional,,; ele recompõe-se. O crescimento
do consumo continua em paralelo com o do e-comércio. Toda-
via, a atractividade das lojas coloca-se em novos termos: os con-
sumidores devem poder encontrar aí produtos, informações e

Scanned by CamScanner
. tar sensações que não procuram no e-comércio. É ist
66 expenmen . " , . ,, o
. desenvolvimento do comercio-lazer , dos acom
que exp11ca o . e-
...l1l . omerciais dos show-rooms, dos obJectos em "liv
.e omw~c ' re
()
!/) ,, das grandes superfícies onde se podem experimentar 0
<! coque , , s
!/)

e os materiais e até aprender a usa-los.
(), pro d ucos , .
e:
... uso dos meios de transporte rap1dos e das TIC põe assim
C0
u.
0
em causa os antigos sistemas de centralidade e as organizações
urbanas radioconcêntricas. O centro geométrico das cidades
deixa de ser O lugar mais acessível, nomeadamente para os cita-
dinos dispondo de automóveis. Assistimos, portanto, nomeada-
mente 110 domínio comercial, à multiplicação de polarizações.
A terceira revolução urbana não gera assim uma cidade vir-
tual, imóvel e introvertida, mas uma cidade móvel e q:lecomu-
nicante, feita de novas arbitragens entre as deslocações das
pessoas, dos bens e das informações, animada por acontecimen-
tos que exigem a co-presença e na qual a qualidade dos lugares
mobilizará todos os sentidos, incluindo o tacto, o paladar e o
olfacto.

A RECOMPOSIÇÃO SOCIAL DAS CIDADES

A individualização do espaço-tempo
A acenn1açáo da individualização leva a mudanças na maneira
como os citadinos organizam os seus territórios e os seus horários.
Eles procuram dominar individualmente o seu "espaço-tempo" e,
para o conseguir, utilizam cada vez mais intensamente todos os
instrumentos e tecnologias que aumentam a sua autonomia, que
lhes abrem a possibilidade de se deslocarem e de comunicarem 0
mais livremente possível. Os meios de transporte individuais
(automóvel, mota, bicicleta, patins, etc.) exprimem, cada um

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:l s11:1 111:111t:ir:1, '."il':t cxig~ru.:ia c.:n.:sn.: 111c cl<.: :111tonomi:1 e de 07

vdoc.:id:,d<.:. ( ) ,e; ol>jcc.:ros pnrr:frds <.:, cm primeiro lugar, os tdcfo-


z
rws, rcsrt:m1111h:1111 cs1·:1 n1cs111:1 proc11ra do "ond<.: c.:tr q11t:ro, quan- o
<
o
(/)
do c.:11 q11 ·ro, co,110 c11 quem". Esr-:1 cxigê11d:1 ck: autonomia
~--o
::,
rorna-.i;c l:tlllhérn 11111:1 ohrigaçfto 11:1 medida cm que a sociedade o
-a·
se organiza sobre a has<.: dc.:,c;ra i11divid11:1liz:t<r:fto. A hi.c;tória recente o
(/J

o.
do n.:k:111{wd a.i;sirn o 1cs1c1111111ha: pouco a pouco, torna-se indis- o
e
...,
pc11s:1vd para se p:1rricipar 11:1 vida 11rhan:1, e aqueles que c.l<.:scja- O"
QJ
::l
ria111 dispc11s:í-lo s:io progrc.:,i;siv:11w.:nt<.: obrigadas a adquirir um. (/J

3
o
/\. flc.:xihili<lade e a pcrsonali'l,:tçfto cn.:sccntc cio.e; horários ele traba-
lho ilustram igu:tlmc.:11te a maneira como a sociedade se organiza
hoj<.: com base numa individualização crescente, inclusive para
maximizar as pe1f<Jn1u11,,ces económicas.
O desenvolvimento dos meios de transporte e das telecomu-
nicações ahr<.: igualmente a cada indivíduo equivalências e
ligaçé>cs direcras cntr<.: o espaço e o tempo: as distâncias físicas
não se traduzem j:í cm períodos Ílxos de deslocação, mas mudam
confr>rme os modos de transporte e.: de comunicação e conforme
as horas; cnda vez mais os citadinos podem escolher os lugares e
os momentos das suas actividadcs; podc.:m também escolher
entre uma mudança de lugar (uma deslocação) e uma mudança
de tempo (uma dessincronizaç:ío). De facto, os instrumentos,
técnicns e modalidades que permitem modificar os tempos e os
lugares das actividadcs individuais e colcctivas constituem um
dos traços principais da nova revolução urbana moderna. O uso
do correio clcctrónico ilustra perfeitamente esta evolução, já
que permite a transmissão acelerada de informações e a sua ges-
tão dessincronizada a partir de qualquer lugar conectável.
Todas estas técnicas são ao mesmo tempo técnicas de des-
sincronização e de ressincronização, de desJocaçáo e de "recolo-
cação". b êxito obtido pelo par microondas/congelador, que

Scanned by CamScanner
T
. l'amos , ilustra-o bem: ele favorece a autonon-.·
antes assina ~,,1a
68
. dos indivíduos e, ao mesn10 tempo, torna possíve·1s
al 1mentar
..,..
Q)
e . ,
re1e1çoes
colectivas feitas com pratos individuais diferentes
" . ,. •
ü(/) ,E o 1nscrum
. ento por excelencia da fam1lta contemporânea.
~

na qu al os indivíduos se esforçam por "ser livres em conJ· un-


(/)

tJ•

..
e:
(0

u. to,, . O telefone portátil é ao mesmo tempo um instrumento


de deslocalização e de relocalização: permite, por exemplo,
a organização rápida e à última hora de reuniões e de festas
rave...
A preocupaç~o de poder escolher o lugar e o momento das
suas actividades é também uma resposta à incerteza da vida
quotidiana, menos rotineira e feita cada vez mais por micro-
acontecimentos e é, ao mesmo tempo, um factor de desrotini-
zação e de aumento das incertezas. A flexibilidade torna-se
uma noção-chave no trabalho e fora dele, porque permite a
adaptação a um contexto mais variado e a circunstâncias
. , .
menos prev1s1ve1s.
Isco gera uma crise dos modos de regulação antigos. A sirene
da fábrica, o sino da igreja ou a can1painha da escola já não
marcam o ritmo da vida urbana e os serviços de previsão de
trânsito revelam-se cada vez mais incapazes de prever os dias e
as horas dos engarrafamentos. Os períodos de abertura do
comércio e dos serviços alargam-se para permitir que todos lhes
tenham acesso em qualquer momento, enquanto, nalguns
países, as cidades e os diversos actores sociais procuram instalar
novos dispositivos que assegurem a todos o acesso à cidade e aos
seus serviços: gabinetes do tempo, esquemas directores tempo-
rais, centros comerciais e de serviços abertos vinte e quatro
horas por dia. A sociedade suscita igualmente todo o tipo de
acontecimentos que têm, entre outros méritos, o de permitirª
"relocalização" e a "ressincronização" colectivas, desde a escala

Scanned by CamScanner
do bairro à escala planetária, desde a refeição anual entre vizi- 69

nhos até às taças desportivas mundiais, passando pelos festivais,


2
o
feiras, colóquios e congressos, etc. e::
o
CI)

"
:::!.
::,
Os novos tipos de serviços públicos C')

-§:
o
A individualização da vida urbana provoca também uma CI)

ci
crise na concepção e no funcionamento dos equipamentos o
e
....
e serviços públicos. De facto, assim como os produtos priva- C"
e.,
::,
dos são confrontados com uma segmentação dos mercados cii'
3
o
cada vez n1ais fina e flutuante, que os obriga a desenvolver um
marketing personalizado, também os serviços públicos, tradi-
cionalmente concebidos na base de uma mesma prestação
para todos, deve1n enfrentar mna inadaptação dos seus equi-
pamentos e prestações perante a diversificação de necessidades
sociais. O caso dos transportes públicos ilustra particularmente
esta crise e a necessidade de desenvolver novas concepções.
Com efeito, nas 1netápoles os citadinos deslocam-se cada vez
mais em todos os sentidos, a qualquer hora do dia e da noite,
de maneiras diferentes e variáveis consoante os dias e as
estações do ano. As deslocações pendulares casa-trabalho
tornaram-se minoritárias assim como os movimentos radio-
concêntricos. Ora, os transportes públicos, comboios, tram-
ways, autocarros clássicos, foram concebidos segundo o
modelo "fordiano,,, ou seja, com base num princípio repetitivo,
de produção em massa e com economias de escala: o mesmo
transporte, sobre o mesmo itinerário, para todos e ao
mesmo tempo. Este tipo de transporte continua a ter um bom
desempenho, mesmo do ponto de vista ecológico, nas zonas
densas e nos grandes eixos. Mas isto não representa senão uma
parte minoritária e decrescente dos. transportes. Os habitantes
das metápoles que não dispõem de um meio de tr_a nsporte

Scanned by CamScanner
. . l particular de u1n auto1nóvel, ficam, portan
ind1v1dua ' e em . , to,
70 . !'mirados porque a cidade lhes e cada vez llle
cada vez mais 1 ' . , • nos
... , l s transportes colect1vos class1cos, apesar de lh
Q)
.s::.
acess1ve com o , es
CJ mais indispensavel. Sendo pouco provável
1/1
<t: ser cad a vez a
1/1 . . . ,. das necessidades en1 termos de mobilidade pel

CJ•
dimmu1çao o
e: , roximidade das cidades antigas para a maior pan
...til
u.
regresso a p , . . , e
da população, é_necessano desenvolve~ serviços publicas de
e mais individualizados servindo o conjunto dos
transp Ort .
territórios metapolitanos, combinando os diversos meios de
transporte e utilizando as possibilidades que oferecem as TIC,
de maneira a aproximare1n-se de um serviço "porta-a-porta»,
que está para os transportes como o one to one está para 0

marketing.
A crescente autonomia dos indivíduos é acompanhada pelo
aumento da sua própria dependência de sistemas técnicos cada
vez mais elaborados e socializados. Os menores actos quotidia-
nos dependem assim de dispositivos complexos e geralmente
mercantis. Estes constituem de facto pontos de apoio para as
desigualdades sociais, podendo mesmo duplicá-las criando
novos handicaps. As dificuldades económicas e/ ou culturais
nalguns grupos sociais ou grupos de idade en1 utilizar estas
ferramentas são factores de desigualdade, que tornam ainda
mais importante o desenvolvimento de novos tipos de serviços
públicos adaptados às cidades da terceira revolução urbana.
A complexidade das práticas sociais e das necessidades e a indis-
pensável individualização das prestações tornam igualmente
necessário o recurso a princípios de equidade mais do que a
princípios de igualdade quando da criação destes serviços e para
ª imputação do seu financiamento.

Scanned by CamScanner
A RED.EflNIÇÁO DAS RELAÇÕES ENTRE INTERESSES 71

INDIVIDUAIS, COLECTIVOS E GERAIS


2
o
<
o
CJ)
A diversificação dos interesses
~.-o
• ::::1
A terceira fase da 111odernizaçáo caractenza-se, norneada- e,
-õ'
mente, por laços sociais mais "fracos", menos estáveis, n1as o
CJ)

a.
muito mais numerosos e variados, in1bricados nas nuHtiplas o
e
~

redes da sociedade "hipertexto". Neste contexto, os grupos O"


ll)
::::1
sociais, entendidos como grupos de pertença, cujos men1bros (/)

3
o
pa.rcilhan1, de forma durável, un1 grande número de caracterís-
ticas (rendimentos, cultura, nível de fonnação, etc.), tende1n a
perder a sua i1nportância objecciva e subjectivamente. Os indi-
víduos têm assi1n un1 menor sentimento de partilhar com wn
mesmo conjunto de indivíduos un1 grande número de interes-
ses em vários domínios. Isco complica profundamente o funcio-
namento da democracia representativa que está baseada
precisamente na capacidade de representar um grupo de eleito-
res entre duas eleições. Isto põe em causa igualn1ente todas as
organizações que pretendam integrar posições sobre u1n grande
número de questões num mesmo conjunto ideológico ou nu1n
mesmo programa. Esta evolução cem múltiplas consequências
que participam na terceira revolução urbana 1noderna.
Em primeiro lugar, torna necess,-iria uma refundação da
arquicectura institucional do território e uma renovação das
modalidades de funcionamento da democracia en1 geral e
da democracia local em particular. O encaixe dos diversos níveis,
segundo o princípio das bonecas russas (desde o bairro até à
Europa, passando pelo município, a aglon1eraçáo, a província,
o cantão, o distrito, a região e a nação), j~í não é viável a médio
prazo se considerarn1os as suas formas actuais. Numa sociedade
a n dimensões e em territórios que mudam de tamanho e de

Scanned by CamScanner
e e as práticas e as rnobilidades individ .
72
natureza conrorm . . . tta1s,
, ·io elaborar d1spos1t1vos de natureza estatal
torna-se necessar . • , . corn
... . ente flexíveis, baseadas n1wto mais fartem
Q)
.e
escalas re Ianvam . . ente
(J
. , . da subsidiariedade, e penn1trndo consultar
110 pnnc1p10 . . as
(/)
<(
(/)
,. e os actores de un1 modo 1na1s contmuado e s b

t.l·
popu Iaçoes ' . , . o
e:(O formas diversas. A democracia electron1ca apresenta certamente
...
u.
.
pengos, porque ela pode não deixar tempo suficiente parae a(
reflexão e O debate, 1nas abre tambérn possibilidades para
enfrentar os novos desafios da de1nocracia.
Em segundo lugar, a dinâmica da sociedade hipertexto
obriga a renovar profundan1ente as modalidades de definição
dos interesses colectivos e de construção das decisões públicas,
quer se trate do interesse geral à francesa, ou do interesse comum
anglo-saxónico. O "nimbismo" (not in my backyard, "onde qui-
serem mas em minha casa, não!") e o aumento do contencioso
no domínio do ordenamento, re~ectem a crise das legitimi-
dades públicas, a diversificação e a instabilidade dos interesses
colectivos.
Por fim, em terceiro lugar, assiste-se ao aparecimento de
novas formas de segregação social. Estas são produzidas por
vários tipos de factores . En1 prin1eiro lugar, há uma tendência
para a formação de guetos de pobres, nos quais são reagrupadas
por diferentes mecanismos econón1icos, sociais e políticos
populações excluídas do desenvolvimento económico, ou seja,
rejeitadas pelas mutações sociotécnicas. O desenvolvimento dos
meios de transporte dá a seguir possibilidades novas de escolha
das localizações residenciais provocando reagrupamentos de
populações sobre bases que poden1 pôr em causa a coesão social
e urbana. Assiste-se em certos países à formação de bairros pri-
vados rodeados por muros. Estas tendências para a frag~entaçáo
social e para o endausuramento espacial reforçam-se com ª

Scanned by CamScanner
tentação de ruptura do pacto social e dos laços de solidariedade 73

locais e nacionais. Este movimento é acompanhado, com efeito,


2
aqui ou ali, em particular nos Estados -Unidos, pela recusa cada o
e::
o
C/J
vez mais explícita do pagamento dos irnpostos locais com o pre- "'C
::::!.
::J
texto de que estes bairros se poderiam tornar progressivamente (')
-õ'
auto-suficientes. Finalmente, um terceiro processo participa de o
C/J
e.
certa maneira na segregação social: referimo-nos ao aumento o

das velocidades de deslocação. Uma mesma «força segregadora"


..e
O"
D>
2.
diferencia socialmente o espaço: ao nível do edifício na cidade, C/J
3
o
onde nos deslocamos a pé, a seis quilómetros por hora, ao nível
dos bairros numa cidade onde nos deslocamos de autocarro ou
de metro, a vinte quilómetros por hora, e ao nível do municí-
pio, onde nos deslocamos de automóvel a cinquenta quilóme-
tros por hora. De facto, o aumento das velocidades de deslocação
obriga a pensar em termos novos as questões de mistura e de
diversidade social nas cidades contemporâneas.

Uma democracia mais processual e mais deliberativa,


uma solidariedade mais reflexiva
O desafio para a sociedade moderna avançada é, portanto,
o de renovar as concessões e as modalidades do político, da
política e da construção das decisões públicas, em particular no
campo das políticas urbanas. Não é este o lugar para avançar
com propostas concretas. Mas é claro que a democracia será
tanto mais eficaz quanto mais estiver em fase com as estruturas,
os modos de funcionan1ento, os tipos de representação caracte-
rísticos da sociedade hipertexto. Isto supõe uma democracia
mais procedimental, mais reflexiva e mais "compreensiva", quer
dizer, que leva em conta a maneira co1110 os próprios indivíduos
representam para si mesmos as suas situações, os seus compor-
tamentos e as suas próprias acções. O lugar que o debate deve

Scanned by CamScanner
, ,id-l política con10 no funcionamento I
r n·lo so na ' · eos
74 ocupa ' • 'bl' e esnt~tis não põe e1n causa a democr· .
aparelhos pu icos . .' . ' .·, s e ., ,·esn . t ·t·d ,1c1a
. . . rearas rnat0nta11.1, •l , ,onsao1 1 ade d
represenn1nv,1, .1s t, . « . , . • ,, os
.. esn den1ocrac1a 1nodel n.1 .1v.:1nçada deves .
eleitos. Todav1.1, ' . c1
. . . d liberativa, porque, nu 1na sociedade hiperrcxr
muito m,us e - , . . o
. , procrr· n1 ,ívd, nao so a 1na10na dos problen,·•s a
comp lexa e tm t, ' 1 - - . • ' e
- ·n previstos e portanto nao sao obJecto de un1
resolver sao 1 1
mandato por parte dos eleitores, con10 tarnbé1n as maiorias
, • sa-0 cada vez nrnis raras, enquanto as minorias variáveis
esrave1s é

se aoreoam de formas diversas de acordo con1 as circunstâncias.


" . " deve ter en1 conta que actualtnen te a acção política
o político
se constrói hoje, pelo menos a nível local, tnais pelas dinâmicas
dos projecros que pelo curnpri111ento de un1 programa, mais
por soluções ad hoc que pela aplicação de normas, mais por
consensos parciais do que por grandes acordos globais. Também
as regras maioritárias e a responsabilidade dos eleitos não devem
cortar a direito quando existam desacordos sobre pontos impor-
tantes, senão in fine, quando todos os outros n1eios para alc:111-
çar um consenso alargado falharen1. A legitimidade trazida pela
negociação de uma decisão pública e a sua eficácia são tanto
maiores quanto mais ela for elaborada mediante um processo
que tenha reunido os seus proragon isras à volta de um desafio
comum. Este suplemento de legi timidade obtido pela negocia-
ção é particularmente ncccss~irio nun1a sociedade com referên-
cias e códigos diversificados que se vão n1ultiplicando. É esta
a vantagem de uma governância inreractiva cm relação aos
métodos tradicionais de governo.
As chamadas reivindicações de classe, da 111esma forma que
0
individualismo, tal qual ele se institucionaliza accualmentc,
n_ão devem ser consideradas como egoísn1os, mas como expres-
soes das novas estruturas sociais que necessitam de redefinir as

Scanned by CamScanner
suas noções de solidariedade e de responsabilidade. Assim, mais 75

do que falar en1 declínio moral, é necessário vislumbrar,


2
juntamente com esta modernidade avançada, uma "transição o
<
o
(/)
moral" que determine a emancipação dos indivíduos perante as
...3·
"'C

obrigações impostas pelas regras "superiores" e as definições o


"§:
normativas do valor dos co1nportamentos, e que fundamente o o
(/)

a.
respeito pelas regras, códigos e valores colectivos na reflexão da o

sua necessidade para a sociedade. Está claro, cont~do, que nem


...e
C"'
0)
=,
todos os problernas poderão ser resolvidos através do debate e iii"
3
o
que, para alguns de e~tre eles, os conflitos serão inevitáveis ou
, , .
ate necessanos ...

CIDADES DE TODOS OS RISCOS

Se como afirma o ditado medieval, "o ar da cidade liberta",


a contrapartida é que a cidade é tan1bém o lugar de todos os
perigos, físicos e morais. De facto, as cidades sempre foram
ambivalentes do ponto de vista da segurança, garantindo ao
mesmo tempo protecçóes diversas, mas suscitando igualmente
toda a espécie de perigos. Esta dupla natureza da cidade é con-
firmada hoje pela dinâmica de modernização que continua a
modificar as relações da sociedade e dos indivíduos face ao
acaso e aos perigos, que se transformam e1n riscos. A socie-
dade moderna re1n efectivarnente como característica o tentar
sempre controlar o futuro, e para isso procura conhecer e
medir as probabilidades de que aconteça este ou aquele acon-
tecimento, para daí deduzir as suas escolhas. O risco, que é
uma noção característica da modernidade, invade hoje todas
as p rá ricas sociais e dá 1ugar a urna "sociedade do risco": tanto
os indivíduos, corno os actores económicos e sociais fazem do

Scanned by CamScanner
. estão-chave e permanente da sua vida e d
76
nsco uma qu as suas
acções.
..
Ql
,r; O p~
doxo da modernização reside no facto de que O d
~~
CJ
u, . to dos conhecimentos e das técnicas e a circulaça-0 -
<( volvimen ace1e-
u,
da das informações aumentam os riscos· 0 pro

CJ•
rada e alarga · gress0
e:
..
ro
u.
das ciências faz aparecer sem cessar novos riscos ligados à poluição
à emissão de gases carbónicos na atmosfera, ao uso de sistemas d;
refrigeração, etc. Os progressos da infonnação conduziram também
à difusão imediata das notícias do dia, contribuindo para dar 0
sentimento de um mundo urbano perigoso. Contudo, o aumento
do risco não se reduz muito certamente ao sentimento de que a
sociedade é mais perigosa, pois, por um lado, as exigências em
termos de segurança aumentam e, por outro, certas inseguranças
aumentam efectivamente. Hoje, o poder das técnicas é de facto
uma faca de dois gumes: abrem novas possibilidades, mas também
aumentam os danos que podem provocar. Além disso, a sociedade
hipertexto emergente dificilmente encontra novas formas de regu-
lação e assistimos num certo número de países ao aumento da "vio-
lência urbanà' e de toda a espécie de delitos.
Estas novas relações com o risco, com a incerteza e com o
futuro fundamentam em grande parte o êxito das problemá-
ticas em termos de desenvolvimento sustentável porque, parale-
lamente, a procura do processo de modernização continua a
transformar a relação da sociedade com a natureza. Actualmente,
aquilo que é "natureza" é vivido como qualquer coisa que está
inserida no social, que implica a tomada de decisões, que pode
e deve ser dominada e protegida. A noção de "património natu-
· assim uma atitude profundamente mo derna de
ral,, exprime
apropriação da natureza pelas sociedades humanas.
A mudança rumo à sociedade do risco, isto é, o lugar cres-
cente ocupado pelas preocupações em termos de segurança

Scanned by CamScanner
física, econótnica, social e familiar resulta portanto ao mes1no 77

tempo do crescin1ento das incertezas de todas as espécies e da


z
o
ambiçflo sempre tnaior de realizar projectos, de pôr em prática <
o
(/)
estratégias, de dominar o futuro. Por essa razão, os indivíduos, "O
:::.
:J
assi.m cotno os actores sociais e econó1nicos, procuram cada vez C')

"§:
mais tudo o que possa proteger, tranquilizar e produzir confian- o
(/)

o.
ça. É neste quadro de referência que se deve situar o ((princípio o
e
.,
da precauçáo'', que conhece hoje um tal êxito que se torna par- O"
ll)
2.
ticularn1ente difícil pô-lo em pr::Í.tica. O princípio da precaução (/)

3
o
surge, com efeito, quando h~í. incerteza sobre as consequências
possíveis de uma decisáo, seja porque não conseguimos conhe-
cê-las ou 1nedi-las, seja porque os especialistas não estão de
acordo. Quando os impactos são conhecidos ou conhecíveis
não há necessidade de invocar o princípio de precaução, porque
nos encontramos no contexto de um exercício normal de esco-
lha e de responsabilidade. E é preciso não confundir o facto de
se ser precavido com a aplicação do "princípio de precaução».
Este remete especificamente para os procedimentos a adaptar
quando não o sabemos: ele transfere desce modo para o político
todo o peso da decisão, da medida suspensiva ou dilatória ou da
assunção do risco.
Risco e princípio da precaução constituem assim elen1entos
determinantes do contexto no qual actuam hoje os poderes
pttblicos, os urbanistas, os ordenadores do território e todos os
actores privados e associativos envolvidos na produção e na ges-
tão das cidades.

Scanned by CamScanner
IV

Os princípios do 11ovo urbanismo

A terceira revolução urbana mocterna, que se desenha com


a nova fase de modernização das sociedades ocidentais, gera
mutações profundas nos modos de concepção, de realização e
de gestão das cidades. A evolução das necessidades, dos modos
de pensar e de agir, das relações sociais, o desenvolvimento de
novas ciências e tecnologias, a mudança da natureza e da escala
dos desafios colectivos, dão assim lugar, pouco a pouco, a um
novo urbanismo que qualificaremos de neo-urbanismo, para o
distinguir do paleourbanisn10 da pri1neira revolução urbana
moderna e do urbanismo, cujo conceito propriamente dito foi
inventado por ocasião da segunda revolução moderna.
As categorias que antes estavam no cerne da concepçáo das
cidades devem, assim, ser revisitadas para serem actualizadas ou
postas em causa. Que se passa hoje, efectivamente, com a noção
de limite e como conceber os espaços quando se esbatem as
distinções entre a cidade e o campo, o público e o privado, entre
interior e exterior? Que se passa com as noções de distância, de
continuidade, de densidade, de diversidade e de mistura,
quando as velocidades de deslocação de bens, da informação e
das pessoas aumentam de forma considerável? Que se passa

Scanned by CamScanner
com os equipamentos colectivos e os servicos urbanos numa 79
sociedade com práticas e com necessidades c~da vez mais varia-
z
das e individualizadas? Como decidir e agir para O bem da o
<
o
colectividade numa sociedade em mudança e diversificada? (/1

"O

Como conceber e realizar cidades produtivas, atraentes e equi-


~-
:::i
(')

"§:
tativas no contexto da sociedade hipertexto e do capitalismo o
(/1

cognitivo? Q.
o
e:
....
É a estas questões que nos propomos tentar responder, iden- e;
Q)

tificando dez desafios principais e apontando a forma pela qual ~.


1/l
::,
_,
o
um novo urbanismo poderia fazer-lhe frente.

I. ELABORAR E GERIR PROJECTOS NUM CONTEXTO INCERTO

Do planeamento urbano à gestão estratégica2


O urbanismo moderno definia um programa a longo prazo para
uma cidade e determinava os princípios da sua organização espacial
(sob a forma de planos directores, por exemplo); depois desenvolvia
os planos de urbanismo visando fazer entrar as realidades futuras
num quadro predefinido. Os planos destinavam-se a controlar o
futuro, a reduzir a incerteza e a realizar um projecto de conjunto.
O neo-urbanismo apoia-se numa atitude mais reflexiva,
adaptada a uma sociedade complexa e a um futuro incerto.
Elabora uma cidade de múltiplos projectos, de natureza variada,
esforça-se por os tornar coerentes, constrói procedimentos estra-
tégicos para a sua aplicação conjunta e leva em consideração na
prática os acontecimentos que se produzem, as evoluções que se

2 Estratégia: conjunto de objectivos operacionais escolhidos para levar a cabo uma política
previamente definida.
Gestão: aplicação de um conjunto de conhecimentos sobre organização e administração
para garantir O funcionamento de uma empresa ou de uma instituição e para com eles
elaborar e realizar projectos.

Scanned by CamScanner
as mutações que se avizinham, pronta a rever, se
80 desenham,
, .
d fi . . d'
b'ectivos que e n1u ou os meios 1sponibili-
necessano, os J O •
... . . ·a1 te para os realizar. Converte-se numa gestão
Q)
.e
zados 1n1c1 men .
o , . b na que integra a dificuldade crescente de reduzir
(/)
<t estrateg1ca ur ª . ,
(/) . os acasos numa sociedade aberta, democratica e

O•
as mcertezas e '
e: celeração de uma nova economia. O neo-urba-
...
(O

u.
marcad a pe1a a
.
msmo arti'cula de uma forma nova o longo e o curto prazo,
através de múltiplos avanços e recuos, a grande e a pequena
escala, os interesses mais gerais e os interesses mais particulares.
I • I • •

É ao mesmo tempo estrateg1co, pragmat1co e oportumsta.


A noção moderna de projecto está mais do que nunca no centro
deste urbanismo. Mas o projecto já não é apenas uma intenção
traduzida num desenho. Ele é também um instrumento cuja elabo-
ração, expressão, desenvolvimento e execução revelam as potenciali-
dades e as limitações impostas pela sociedade, pelos actores em
presença, os lugares, as circunstâncias e os acontecimentos. O pro-
jecto é igualmente um instrumento de análise e de negociação.
Desta forma, o neo-urbanismo revoluciona as antigas crono-
logias que encadeavam o diagnóstico, a identificação das neces-
sidades e elaboração eventual de cenários, a programação, o
projecto, a realização e a gestão. O neo-urbanismo substitui esta
linearidade por elementos heurísticos3, iterativos4, incremen-
. 5 6
tais e recorrentes , ou seja, por actos que servem ao mesmo
tempo para elaborar e testar hipóteses, através de realizações
parciais que modificam o projecto e tornam possíveis procedi-

3
Método heurístico: que serve a descoberta, que procede por avaliações sucessivas e hipó-
teses provisórias.
4
Iteração: método de resoluçao
• d e uma equaçao
- por aprox1maçoes
. - sucessivas.
.
5
Incremento: quantidade à qua1se acrescenta uma vanavel
. , em cada ciclo de um c1rcutro
· ·
d e um programa.
6
Série recorrente· aqu I d .
. · e ª em que ca a um dos seus termos é uma função dos termos 1me-
d1atamence precedentes.

L Scanned by CamScanner
mentos mais cautelosos e duradouros através de avaliações que 81
7
pressupõem feedback e que se traduzem eventualmente pela
2
redefinição de elementos estratégicos. o
<
o
A gestão urbana estratégica não é, portanto, um urbanismo (/)

"'O
-,
aligeirado e de ideias frágeis; encontra-se no oposto das teses 5'
(")
-a·
espont3:11eístas, dos postulados do caos criativo, das ideologias o
(/)

o.
simplistas do predomínio do mercado. Pelo contrário, ela pro- o
cura explorar os acontecimentos e as forças mais diversas de ...e
O"
Dl
:,
forma positiva em relação com os seus objectivos estratégicos. (/)

3
o

2. PRIVILEGIAR OS OBJECTIVOS EM RELAÇÃO AOS MEIOS

Das regras exigenciais às performanciais8


O urbanismo moderno assegurava os meios para realizar os
seus projectos através de regras simples, tão imperativas e estáveis
quanto possível: zonamento, funções, densidades, alturas, etc.
As regras eram de natureza exigencial, ou seja, elas fixavam ao
mesmo tempo os objectivos e as formas de os alcançar.
O neo-urbanismo privilegia os objectivos, o desempenho da
realização e encoraja os acrores públicos e privados a encontra-
rem as modalidades mais eficientes para a realização destes
objectivos para a colectividade e para o conjunto dos interve-
nientes. Isso necessita de novos tipos de formulação dos projectos
e das regulamentações. É preciso encontrar meios para qualifi- _
car e quantificar as características desejáveis de um lugar, o seu

1 Feedbttck: regulação das causas pelos efeiros. Modificação do que precede pelo que se
segue. Ver contra-reacção e retroacçáo. , , . . . .
e Exigencial: que diz respeito a uma exigência, isto e, que e imposto por uma d1sc1plma,
uma submissão, uma ordem, uma lei.
e •a1 1 ·ona com O desempenho, ou seja, com o resultado optimizado
Penormanc1 : que se re ac1
, .
que uma maquina, · ou u ma organizaça·o pode obter.
um ser vivo

Scanned by CamScanner
. biente, ~1 sua acessibilidade, a disponibilidad
82
contexto, o seu ~Hll . • e
. . colectivos e serviços urbanos. Esta complcx·
de equ1pan1enro5 . . , . ,_
... , d· rn as tornou-se parttculacn1entc necessana pel
Q)
.e:
ficaçao ,1s no 1 , . , . , . a
(.J
e/) . 'd d rescente dos rerntonos e das prat1cas urbanas ' pelo
<{ d 1vers1 a e c
(ll
xigências qualitativas, pela dificuldade crcscent"

U•
aun1ento das e' '-
e
...
l'0 em aplictr con1porramentos igualitários e pela necessidade de
u.
os substituir por abordagens mais subtis e menos preconcebidas,
baseadas em princípios de equidade. Os chamados planos de
urbanismo "qualitativos,, inscrevern-se nesta nova perspectiva de
regras que privilegiam mais o projecto que os meios, inclusive do
I • • I •

ponto de vista arquitectonico e prusag1st1co.


Este urbanisn10 de desempenho deve esforçar-se por pro-
duzir nonnas simulranean1ente facilitadoras e restritivas. Exi-
ge, por isso, competências técnicas e profissionais muito mais
elaboradas; com efeito, ele exige não sornente capacidades no-
vas para definir projectos de forma mais substancial, mais
estratégica, mas também conhecimentos e instrumentos para
integrar as lógicas dos actores, para avaliar as suas proposições,
para julgar a sua conformidade no que respeita aos objectivos
e à sua eficiência para a colectividade, para identificar e medir
os seus efeitos plausíveis. Este urbanisn10 é também muito
mais criativo, porque mobiliza múltiplas inteligências e lógi-
cas variadas, em particular as dos actores que realizam as ope-
rações urbanas.

3· INTEGRAR OS NOVOS MODELOS DE DESEMPENHO

Da particularização espacial à cidade de todas as redes


O urbanismo moderno, muito marcado pelo pensamento
taylorista e fordiano, procurava melhorar o desempenho através

Scanned by CamScanner
de ·connmi:1s de esc1la, d:1 simplifü.::1~·:in e rqxtiç·:1n das fitn çôcs 83
urbanas 1..: pcl:t s11:1 :tl·~-rr:1~·;10 a espaços reservados. O zo namcnro
z
e :is gr:mdcs 11rh:mi·,.a\:tll'S L'X(H1..·ss:1m muiro forrcmcnr csrn o
<
1 • o
1og1c:1. C/l

() m:o-- urhanismn integra novos modelos de produrividadc e


~-
~
(")

'§:
ck g<.:st:1o, os contriburos das cknci:1s de nrga niz:1ç:10, :1s rccno- oC,)
e.
lo~ias de inf-c.ll'l\l:1ç:1o e de comunicat,::1o; procura menos a sim- o
...e
plillcaç:fin de realidades complic:1d:1s e 1..·sforç 1-sc acima de rudo O"
lll
~

por conjugar tcrrirt'nios e siru:1çfü:s complexas. O bom desem- C/l


3
o
penho ou mC'smo :1 sua durabilidade ohrêm-sc m:1is pel:t varie-
dade, pela 1-kxibilidadc L' pda rcacrividadc.
/\s soluções úni cas e monofuncionais, fr:ígcis e pouco adaptá-
veis dão lugar a muiras respostas mulriFuncionais e redund,H1-
tes, mais capazes de enfrentar as evoluções, a variedade de
circunstâncias, as disfunções e as crises. Os bons desempenhos
urbanos são mais frequentemente baseados na colaboração e na
coordenação de potenciais localizados variados do que na mas-
sificaç:1o. As economias de variedade predominam sobre as eco-
nomias de escala.
Isto deve traduzi r-se por uma maior diversidade funcional
das zo nas urbanas, por uma multicentralidade, pela polivalên-
cia de uma parte dos equipamentos e serviços e por um refor-
ço do papel cios transportes e das diversas redes que, mais do
que nunca, asseguram a eficácia do conjunto dos sistemas
urbanos mctapolicanos. Os lugares de conexão entre as dife-
rentes redes ganham uma importância acrescida e fazem da
intermodalidade dos transportes um aposta-chave das dinâ-
micas urbanas.
As limitações duníveis e_não circunstanciais da econonlia
dos recursos não renov,íveis, da preservação dos patri1nónios
naturais e culturais e da luta contra o efeito de estufa criam

Scanned by CamScanner
igualmente externaJidades que m~difica~ o~ cálculos econó.
84
micos e as escolhas urbanas e que 1nfluenc1arao provável e pro-
..
QI
.&:.
gressivamente as formas urbanas, favorecendo as mudanças de
o
1/1
<! uso, uma reutilização intensiva das zonas já urbanizadas e urn
(/)

O•
maior controlo do consumo do espaço.
..
e:
(,:J

LI.
Os profissionais do urbanismo serão levados a introduzir nas
suas práticas o uso destes novos modelos de desempenho e a
utilizar as potencialidades das TIC nas suas próprias activida-
des. Os bancos de dados urbanos e os modelos de simulação e
visualização a três dimensões abrem, com efeito, possibilidades
consideráveis que "retroagem" nos conteúdos dos próprios pro-
jectos. O progresso das ciências e das técnicas nos diferentes
domínios do urbanismo tornarão necessária a renovação dos
perfis profissionais e dos tipos de dispositivos pluridisciplinares
permanentes (serviços técnicos locais, agências de urbanismo,
organismos de ordenamento do território, gabinetes de estudos
multidisciplinares). O desafio é o de assegurar ao mesmo tempo
a continuidade e a capitalização das experiências e dos conheci-
mentos e o funcionamento por projecto que permitam associar
especialistas de alto nível.

4. ADAPTAR AS CIDADES À DIVERSIDADE DAS NECESSIDADES

Equipamentos e serviços: do colectivo ao individualizado


O urbanismo moderno privilegiava soluções permanentes,
colectivas e homogéneas para responder às necessidades e à pro-
cura de habitação, do urbanismo, dos transportes, dos lazeres e
do comércio. A produção em massa, repetitiva, de serviços per-
mitia amortizar equipamentos dispendiosos: o mesmo serviço
para todos e geralmente ao mesm.o tempo.

Scanned by CamScanner
O neo-urbanismo e os serviços públicos urbanos devem 85
hoje considerar o processo de individualização que 1narca a
2
evolução das nossas sociedades. A diversificação das situações o
<
o
e das necessidades tornam assim necessária uma maior varie- (/)

-o
dade e uma personalização das soluções. Esta evolução não é
~-
::,
C')

-g:
nova: os equjpamentos colectivos banhos/duche transforma- o
(/)

o.
ram-se nas casas de banho familiares e depois por vezes na o

individual; o relógio e o sino, . antigamente equipamentos ...e


C"'
0)
::,
colectivos, converteram-se no relógio individual; o telefone (/)

3
o
passou igualmente de equipamento colectivo a equipamento
de locais privados e depois com o telefone móvel ao equipa-
mento da pessoa.
Esta personalização dos serviços precisa de redes e de sis-
temas técnicos mais complexos, que recorrem de forma deter-
minante às novas tecnologias da informação e da comunicação.
Nem todos os equipamentos colectivos tradicionais se tor-
naram obsoletos (universidades, hospitais, estádios, etc.),
porém, eles devem integrar de uma nova forma esta noção de
serviço individualizado e apoiar-se em técnicas avançadas
de transporte e de telecomunicação. Isto gera novos disposi-
tivos complexos, de que são testemunho por exemplo o
sistema que associa - graças a um uso intensivo dos transpor-
tes e das telecomunicações - centros hospitalares que reagru-
pem todas as dlsciplinas com um alto nível de especialização,
os hospitais de proximidade, a hospitalização no domicílio,
os serviços de cuidados ambulatórios, os serviços de atendi-
mento móvel de urgência, os centros de saúde e a medicina
privada. No domínio dos transportes desenvolvem-se igual-
mente «centrais de mobilidade" que recolhem e põem à dis-
posição dos citadinos uma informação em tempo real sobre
os horários dos transportes colectivos, as disponibilidades

Scanned by CamScanner
rres a pedido, dos parques de estado-
, xis dos rranspo
86 dos ta ' d do trânsito, as tarifas, etc. Estes dispositi-
menco, o esta o lh d . d· ,
... na ossibilidades de esco a os 1n 1v1duos e
QJ vos alargam as P . d d
.r.::
(.) , l vos tipos de serviços a apta os a uma
~
r/l tornam passive no
1.1)
. dade de situações.

(.)•
grand e vane
e:
...
nl
u..

ER OS LUGARES EM FUNÇÃO DAS NOVAS PRÁTICAS


5. eONCEB
SOCIAIS

Dos espaços simples aos espaços múltiplos


o urbanismo moderno desenvolveu a cidade com base numa
partilha dominante, atribuindo de preferência ao "público" ares-
ponsabilidade dos espaços exteriores, das grandes infra-estruturas
e dos equipamentos colectivos, e predominantemente ao privado
as superstruturas. Os limites e definições do privado e do público
diferem de um país para o outro, mas foi globalmente este mes-
mo modelo que estruturou a maioria das cidades ocidentais.
O neo-urbanismo é confrontado com a interferência deste
modelo. Um número crescente de infra-estruturas e de equi-
pamentos combinam intervenções públicas e privadas por
meio de formas diversificadas de parcerias, de concessões e de
prestações cruzadas de serviços. Os ·estatutos jurídicos e
práticos dos espaços são cada vez menos homogéneos e já não
abrangem as distinções acesso público e privado, acesso livre e
reservado, int~rior e exterior, infra-estrutura e superstrutura,
equipamento e serviço. As novas tecnologias participam nesta
recomposição: permitem, por exemplo, dissociar a produção,
0
transporte e a distribuição dos diversos fluidos (água,
electricidade, telefone), minando as antigas bases das formas
de fu nd onamento dos serviços públicos; elas possibilitam

Scanned by CamScanner
modificações nos modos de cobrança das taxas de utilização 87
de certas vias de comunicação e a partir daí contribuem para a
2
evolução da concepção e do financiamento das infra-estruturas; o
e::
o
finalmente, pela Internet, criam novos tipos de "quase-espaços" C/1
"'tl
:!.
públicos "virtuais" que penetram no seio dos lares e das em- ::;
(")
-õ'
presas. o
(J)

A sociedade hipertexto, que separa os campos das práticas a.


o

sociais, mobiliza as TIC para tornar possível a pertença simultâ- ...e


O"
QJ

nea a vários tipos de espaço: assim, o uso dos equipamentos 2.


C/1
3
individuais portáteis permite desenvolver actividades de natu- o

reza diferente num mesmo lugar; permite trabalhar num


transporte, telecomunicar a partir de um espaço público, etc.
O neo-urbanismo deve esforçar-se por ordenar estas possibili-
dades, por conceber espaços sociais e funcionais múltiplos a
n dimensões, hiperespaços combinando o real e o virtual,
propícios tanto à intimidade como a sociabilidades variáveis.
As novas tecnologias da informação e da comunicação impri-
mem ·nas cidades a marca das suas estruturas e em particular a
distinção entre hardware e software.
A consideração das práticas urbanas leva os criativos a inte-
grarem cada vez mais fortemente os condicionalismos de explo-
ração e de gestão dos espaços e dos equipamentos urbanos. Isto
contribui para redefinir as fronteiras e as modalidades de exercí-
cio dos diversos ofícios do urbanismo porque este deve integrar
mais directamente as exigências da gestão futura dos espaços
que ele próprio contribui para produzir.

Scanned by CamScanner
EDADE FORTEMENTE DlPERENCIAOA
6. Ac1R NUMA soei
88
9
... b tancial ao interesse processual
Q) Do interesse su s . ..
J:
(.) . derno construiu-se sobre concepçoes subs-
ti) 0 urbanismo rno ,.
<t
ti) . . d . . se geraJ ou do interesse comu1n. E necessário
'õ tanc1a1s o interes .
e
()•
isso as decisões públicas, os planos, com as
...
(C
enten der que por . ,, , .
u..
. . . e proibições, as real1zaçoes publicas, as excep-
suas O 6 ngaçoes . .
.. d' ·e de usar livremente a propnedade (serv1dões)
çoes ao lfel o . . . ,
· çóes e os impostos eram Jeg1t1mados por mteresses
as expropna . .
colectivos que eram considerados como supenores aos interesses
individuais.
A sociedade hipertexto, feita de múltiplas pertenças, de
mobilidades e de territórios sociais e individuais de geometria
variável, confronta o neo-urbanismo com uma diversidade de
interesses e com uma complexidade de desafios que se concreti-
zam cada vez mais dificilmente em interesses colectivos estáveis
e aceites por todos. Os eleitos locais, o Estado, os urbanistas e
todo o tipo de especialistas cada vez menos podem pretender
basear as suas acções e as suas propostas num interesse geral, ou
comum, objectivo e único. Além disso, o desenvolvimento das
ciências e das técnicas põe em evidência complexidades irredu-
tíveis aí onde antigamente não havia senão complicações a sim-
plificar: a especialização em que se baseava a chamada decisão
de interesse geral é substituída pela controvérsia entre peritos,
o que faz confrontar os decisores com o espinhoso princípio
da precaução. Uma decisão já não pode ser considerada como

9SubstanciaJ: que pertence à substânc ia, à essência, à coisa em si.


ProcessuaJ:
. que permite decornpor um programa em modulas, , .
em procedimentos, ·isto e,•
em maneiras de procede · •
r para at1ng1r um resultado na condução de uma operação com·
pIexa.
Uma forma de agir process aJ · •1 .
.. • u pnvi eg1a a maneira de fazer; urna forma de agir substano
•ai
pnvi1eg1a o resultado.

Scanned by CamScanner
sendo de interesse geral ou comum apenas cm virtude da sua 09
substância objectiva. É a maneira, o "procedimento" segundo o
2
qual ela foi elaborada, e cventualmcntc co-produzida pelos o
<
o
acrores envolvidos, que lhe confere no final o seu car:ktcr de r.n
'"C
:i.
interesse geral. As divergências e os cnnAiros resolvem-se assim :,
(")

menos por maiorias, porque são cada vez mais circunstanciais, "E:
o
r.n
n.
e mais por compromissos que permitem tratar uma variedade o
e
de situações colcctivas. -,
a
O>
::!.
O s procedimentos ele idcntificação e ele formulação cios (/)

3
o
problemas, de negociação cios seus termos, ganham, portanto,
uma importância crescente e decisiva. A participação - sob
diversas formas - neste processo, desde o início, dos habitan-
tes, dos utilizadores, dos vizinhos e de todos os actorcs impli-
cados torna-se essencial. Já não se trata apenas de debater
opções diferentes, de melhorar as soluções propostas, mas de
co-produzir o quadro de referência e a própria formulação dos
desafios.
Estas diligências procedimentais modificam a natureza da
intervenção dos peritos e cios profissionais e, mais particular-
mente, as tarefas dos urbanistas. Estes devem inscrever a sua
intervenção em processos de longo prazo, que por vezes se
adaptam mal às lógicas do mercado e às mudanças políticas
locais. Além disso, cada vez menos podem adaptar a sua inter-
venção ao interesse geral e são levados a pôr as suas competên-
cias ao serviço de diversos grupos e actores. Isto introduz de
uma nova forma as questões da ética e da deontologia neste
domínio profissional.
O neo-urbanismo privilegia a negociação e os compromissos
em relação à aplicação da regra maioritária, o contrato em rela-
ção à lei, a solução ad hoc em relação à norma.

Scanned by CamScanner
I

MISSÃO DOS PODERES PUBLICOS


7· REQUALIPICAR A
!)0

... ,, ' gttlaçáo


U)
Da administraçao a rc , .
.i=
u . , blicos administraram o urbarnsmo moderno
Ili
<{
Os po dc1es pu ,
(/)
' • . e_ e assegurarru:n a aplicação das leis, dos planos
'õ 0 que s1gn1nca qu .

e: s das missões de interesse geral e o funciona-
..
(O
e dos rcgu 1amen to , " . . ,,
u.
. iços no plano urbano. Esta adm101stração era
mcnro dos sei v . .
urbanismo que pro1b1a e controlava ao mesmo
coerente com u m
roJ·eccava que aplicava princípios e soluções, e que
rempo que P '
para O fazer tinha uma tend~~cia estrutural para negar as espe-
·r, · 1 des d"s· cidades ' dos s1t1os, das culturas ou para as reduzir
Cl lCIC a , "
a uma simples decoração.
o neo-urbanismo esforça-se por construir os problemas caso
a caso e por elaborar as respostas específicas para cada situação.
Acumula e mobiliza a experiência, os saberes e as técnicas, não
para aplicar soluções repetitivas, mas para aumentar as suas
potencialidades de adaptação a contextos particulares, mutá-
veis, incertos. Age no seio de um sistema complexo de actores
cujas lógicas são variadas e funcionam num meio cada vez mais
aberto. Para isso, é necessário produzir quadros comuns de
acção e regras do jogo que não se oponham às lógicas dos acto-
res, mas que as conciliem e as utilizem em benefício dos seus
próprios projectos e produzam sinergias 10 ; o neo-urbanismo
arbitra quando as situações pareçam inextricáveis e quando as
auto-regulações falham.
O neo-urbanismo privilegia, deste modo, a regulação sobre
a administração. Os poderes públicos procuram assim garantir
0 funcionamento "regular" dos sistemas de actores urbanos;

agem de forma a limitar os disfuncionamentos e as incoerências.


,05• .
tnergta: acção coordenadª d e vános
. ó rgaos,
- associação
. de diversos faccores que cooperam
para uma acção, com um efeito único.

Scanned by CamScanner
ln1pubinn:un a gc:sr:iu proccdimcnral de interesse geral. Tanto 91
quanm possin:I. mandam fazer cm vez de fazerem, para explorar
2
mdlwr as compercncias e o desempenho dos especialistas. Mas o
<
o
r.unhl'lll conrrolam. avaliam, corrigem, compensam e even- .,,
U)

m:tlmc,uc sancionam. Isso necessira de compcrências técnicas, ~-


::,
(')
-õ'
de sisrcmas de observação e de bases de dados basrante mais o
U)

dahoradas do que aquelas de que as administrações, com uma a.


o
e
..,
acrividac.k que L'ra muito mais "normalizada" e repetitiva, dis- C"
QJ
::,
punham. O nco-urbanismo provoca assim uma requalificação U)

3
o
<las missücs e do pessoal que trabalha por conta dos poderes
públicos.

8. RESPONDER 1\ VARIEDADE DOS GOSTOS E DA PROCURA

De uma arquitectura funcional a um desenho urbano atraente


O urbanismo 1noderno apoiou-se em arquitecturas e formas
urbanas que correspondiam à sua ideologia funcionalista e
esforçou-se por as generalizar. Pôs em prática concepçóes glo-
bais da cidade, mesmo totalitárias, não hesitando, em cercos
casos, em fazer tábua rasa do passado ou em propor fazê-lo. No
entanto, desenvolveu também a noção tipicamente moderna de
"património", conservando cidades que o tinham precedido,
vestígios, monumentos comemorativos e eleme~tos especiais
pelo seu valor arrístico.
En1 contrapartida, o neo-urbanismo admite a complexidade
e deve propor uma variedade de formas e de ambientes arqui-
tectónicos e urbanos a un1a sociedade cada vez mais diferen-
ciada na sua composição, nas suas práticas e nos seus gostos.
Confrontado com uma cidade cada vez mais móvel, na qual os
accores podem progressivamente escolher os seus lugares, o

Scanned by CamScanner
eduzir. Esforça-se por propor uma espé .
rbanismo d eve s . .. . c1e
92 neo-u . ,, ue 0 fereça comb1naçoes variadas de qu .
. d "' hsca , q a11-
de cida e ª Para isso, não hesita em utilizar as formas anti-
...
Q) dades urbanas. , .
~ . aculares, bem como os arquettpos modernos
tJ
1/l 1
gas e os estl os·dvern as ideo1og1as. . 1•fi d .
c:l'.
simp 1 ca oras e totalitária
1/l
'õ Tendo rompi o e001 . . s
tJ•
e d pta-se à complexidade das cidades que herdou
...
(O do progresso, a a . .
u. . . Patrimonializa assim cada vez mais o edificado
e Joga com isso. .
. . musealizando-o e integrando-o na nova econo-
ex1stente, seJa . ..
mia. cul tural e turística urbana, seJa reutilizando-o e afectando-o
a novos uso S• O neo-urbanismo procura tanto quanto possível
..
utt11zar as
" icas do mercado para produzir ou conservar os
di'nam
valores simbólicos da cidade histórica.
O novo urbanismo aproveita a variedade das arquitecturas e
das formas urbanas para fabricar cidades diversificadas, ampliar
as escolhas, tornar possíveis as mudanças à escala metapolitana.
Ao fazê-lo, ele dá de certa maneira uma importância renovada à
questão dos estilos arquitectónicos, emancipando-os em parte
das escolhas urbanas funcionais e morfológicas. Mas inscreve
também estas escolhas estéticas, quando implicam espaços pú-
blicos, nos procedimentos do debate democrático, modificando
o quadro de acção dos criativos e a sua relação com o público e
o político.

9. PROMOVER UMA NOVA QUALIDADE URBANA

Das funcionalidades simples a um urbanismo multissensorial


O urbanismo moderno desenvolveu um funcionalismo bas-
tante elementar, quer pela escolha de funções ( trabalhar, habi-
tar, divertir-se, abastecer-se, deslocar-se ...) quer pelas formas de
lhe dar resposta.

Scanned by CamScanner
O neo-urbanismo desenvolve uma abordagem funcional 93
1nuito 1nais fina, tendo em conta a complexidade e a variedade
2
das práticas urbanas e respondendo com soluções tão multifun- o
<
o
cionais quanto possível. Confrontado com exigências cada vez (1)

maiores e con1 múltiplas formas de concorrência entre espaços, ~-


"O
:::,
e,
-õ'
tenta oferecer nos lugares públicos e nos espaços exteriores uma o
C/l
o.
qualidade equivalente àquela que é oferecida nos espaços priva- o
e
dos e nos espaços interiores. Leva em consideração as dünensões ~
O'
a,

multissensoriais do espaço e procura trabalhar não só o que é 2.


"'
3
o
visível mas tambén1 o sonoro, o táctil e o olfactivo. O desenho
multissensorial das cidades permite criar ambientes diversifi-
cados, mais confortáveis, mais atractivos e mais cómodos igual-
mente para as pessoas que sofrem de deficiências sensoriais
e motoras.

I O. ADAPTAR A DEMOCRACIA À TERCEIRA REVOLUÇÃO URBANA

Do governo das cidades à governância metapolitana


O urbanisn10 moderno precisava de mod~s de governo de
cidade firmes, decididos e dispondo de poderes fortes para ser
capaz não somente de impor regras e de as fazer respeitar mas
tambén1 para dinamizar a mudança de forma voluntária. Esta
autoridade assentava nos apoios sociais locais de toda a espécie,
con1o a escola, a igreja, o comércio local. Este tipo de governo
das cidades foi assegurado de forma mais ou menos centralizada
conforme os países.
O neo-urbanismo é confrontado com grupos sociais diversi-
ficados, com indivíduos de pertenças múltiplas, com territórios
soc1'al e espac1a
. lmen te heterogéneos , com uma vida. associativa
pro l1'fi camas muitas
. vezes efémera, com O enfraquecimento dos

Scanned by CamScanner
94 , que erarn os professores, os padres, os comer-
med .ta d ores locais
. d ba.LITO os porteiros, etc. Deve apoiar-se em lógi·
c1antes e ' cas
...
Q) técnico-económicas privadas, as quais diferem bastante profun-
.e
u
·is culturas e das maneiras de fazer públicas. Preci·sa
damente d e
(/J
e:(
(/J
'õ de novas fonnas de concepção e de realização das decisões

e:
...
CII públicas, permitindo consulta~ e as_sociar habitantes, usuários,
u.
vizinhos, accores, os peritos mais vanados a montante e a jusante
das tomadas de decisão.
o aoverno
o das cidades dá assim lugar à governância urbana,
que podemos definir como um sistema de dispositivos e de modos
de acção que associa às instituições representantes da sociedade
civil para elaborar e realizar as políticas e as decisões púbicas.
A oovernância urbana implica um enriquecimento da demo-
º
cracia representativa com novos procedimentos deliberativos e
consultivos. Necessita ao mesmo tempo de urna relação mais
directa com os cidadãos e de novas formas democráticas de
representação à escala das rnetápoles - que é a escala a que se
devem tomar decisões urbanas estruturantes e estratégicas. Este
nivelamento da democracia local é um dos elementos-chave do
futuro das cidades e mais alargadamente das sociedades ociden-
tais. Existe, efectivamente, um risco muito forte de que a auto-
nomia crescente dos indivíduos e a força crescente da economia
de mercado agravem as desigualdades sociais actuais ou mesmo
que suscitem outras novas. E a democracia de vizinhança sem a
democracia metapolitana não pode ser suficiente para fazer com
que os citadinos adquiram consciência de que as suas sortes
estão ligadas. E1n contrapartida, o debate democrático sobre o
futuro e sobre a gestão da sua metápole pode contribuir para
desenvolver esta solidariedade reflexiva, necessária em todas as
escalas, da mais local à mais global, e da qual depende o futuro
das nossas sociedades.

Scanned by CamScanner
Em conclusão, para n:sumir c qualif,car este nco-urbanismo 95
que hoje se cshoya, pelo menos no mundo ocidental, pode1nos
dizer que é: 2
o
<
o
- um urbanismo de dispositivos: não se trata tanto de fazer (/)

"O
::.
planos, quanto ele organizar os dispositivos que os elaboram, ::i
n
ii'
os discutem, os negoceiam e os fazem evoluir; o
(/)

o.
- um urbanismo reflexivo: a an,Uise já não precede a t:egra o
e
....
nem o projccco, mas csuí prcscnrc permanentemente. O conhe- C'
O)
::,
cimento e a informação são mobilizados antes, durante e depois (/)

3
o
da acção. Reciprocamente, o projecto torna-se também plena-
mente um instrumento de conhecimento e de negociação;
- um urbanismo de precaução, que dá lugar às controvérsias
e que procura os n1eios para ter cm consideração as externali-
dadés e as exigências do desenvolvimento sustent.í.vel;
- um urbanismo concorrente: a concepção e a realização dos
projeccos resultam da intervenção de uma multiplicidade de
accorcs com lógicas diferentes e da combinação das suas lógicas;
- um urbanismo reactivo, flexível , em sintonia con1 as dinâ-
micas da sociedade;
- um urbanismo multivariado, composto por elementos
híbridos, ele soluções múltiplas, de redundâncias, de diferenças;
- um urbanismo cstilisticamentc aberto, que ao emancipar o
desenho urbano das ideologias urbanísticas e político-culturais,
deixa lugar para escolhas formais e estéticas;
- um urbanismo multissensorial, que enriquece a urbani-
dade do lugar.

Dito de outra forma, o neo-urbanis_mo é portador de uma


atitude particularmente ambiciosa que necessita de mais conhe-
cimentos, de mais experiências e de mais democracia.

Scanned by CamScanner
pz

N 0\10S COivfPRO íISSOS URBAl~OS


-m léxico

- Scanned by CamScanner
11111

I n u ·rJ duçáo
"

A f,i (J{ JA'fH(J CO M P0J 1 E T ES


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l1·11·m,,1> n 111w1 ·.,,de&1de urbana, que mudou muito nas


1í ld mw>d .:11,;JJ~l '1 d1~an0-; t: qu e está. ainda, com é evidente, em
1

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1 1:

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·w1 1:1nrr> '> dtt, c.:mpr<:gad<Vi e do!i quadros aumentou. O craba-
Hu, r◄ ·minín<J ~1 ,·,ab1ría<lo contin uou o seu desenvolvimento ape-
·;ar da , rhe d.o ·,npr~go c1uc.: se traduz num desemprego maciço e
,f,mh ·1 parn c.xn;3f> Citcgoria.s da população. A maioria dos jovens
t -rmítw ,, t tn íno '>Ccun<i1río. O número de estudantes duplicou
,;m (f!JÍnz,;• :mo•i e LJltn1pai-s~a os dois milhões, mas os activos não
r1.•pf'. ·..t:nt.:1 m m:1Í'>do ljlLC metade dos inactivos.
A ">frtJtura dcmogrMica evoluí também bastante rapida-
111 ' IH , A c,pt rança de vida aumenta: a das mulheres ultrapassa
;:,,~'>nl. <)tj ,,ícc;nça .ano~. Dentro de uma vintena de anos as pessoas

Scanned by CamScanner
. d # senta anos constituirão um quano da
,oo com mais e ses . popula-
, __ 1 A5 de menos de vinte anos, que representavam
çao toLaJ • .. _ . ~ •, Peno
da populac.áo em 197), nao serao Jamais d0
de um terço · , . . . . que
dimen5áo média das famílias d1mmui. Cada
um quarto. A , Vti
. e ílias se recompõem e o numero de divórcios foi rn
ma1s a.s 1am , u-1
.up .1cado po r quarro em trinta anos. E cada vez mais freque
1 . nte
eracóes coexistam. Surgem novos modelos farnil·
que quatro g , . , . La-
res. O número de pessoas que vivem sos duplicou em vinte anos
e ultrapassa os seis milhões de adultos.
O consumo e os patrimónios das famílias experimentam
igualmente grandes transformações. Mais de metade das farní-
lia_s sáo proprietárias da sua habitação e 40% dos inquilinos
habitam em bairros s,ocíais. 80% dos fogos dispõem de todo 0
conforto face a somente um terço em 1970. A superfície média
habitável por pessoa ultrapassa os trinta e cinco metros quadra-
dos. Mais de 80% das famílias têm um automóvel contra menos
de um terço em 1960; 30% têm já dois automóveis. O poder de
compra por pessoa foi multiplicado por duas vezes e meia em
trinta anos. A parte da alimentação diminuiu no orçamento das
famílias e constitui menos de 20% das despesas; em contrapar-
tida a dos trans portes aumentou mais de um terço, atingindo
15% das suas despesas totais. A isto juntam-se as despesas em
telecomunicações, nova entrada orçamental e em crescimento
rápido.
O trabalho continua a ser o modo de integração social domi-
nante, mas o tempo que lhe é consagrado não representa mais
do que ·12% da vida acordada dos indivíduos. O tempo livre
aumentou 20% numa quinzena de anos. O audiovisual passou
a ocupar um lugar central na vida quotidiana: 95% das famílias
têm um televisor, um terço têm dois, dois terços têm um video-
gravador; cada televisor está ligado em média cinco horas por

Scanned by CamScanner
p

dia e é visto por um pouco mais de três horas por pessoa. o 10 1

decurso da sua vida, um francês passa mais tempo diante da


z
televisáo do que no trabalho. Mas todas as acrividades de lazer !:)
e::
o
têm tendência para aumentar; especialmente os citadinos prati- ("')
e
:;
CéUTI mais desporto, têm mais actividades arrísricas amadoras, -::,
...,
o
visitam n1ais museus, viajam cada vez mais frequentemente e 3
para cada vez mais longe, saem mais para ver amigos e comer
com eles.
Mais de 60% das famílias têm um computador pessoal, SO~n -
e
o
têm acesso à Internet e mais de 80% têm um telefone porrácil.
Ora estes objectos tornados indispensáveis no quotidiano não
existiam há menos de trinta anos.
A França já não é verdadeiramente um país rural: 90~b da
população vive em cidades. Mas é cada vez menos um país de
pequenas e médias cidades porque as grandes aglomerações
urbanas alargam-se e atraem uma parte crescente das acrivida-
des. O habitat individual estende-se por periferias cada vez mais
longínquas. As distâncias percorridas cada dia pelos citadinos
aumenta: aumentaram mais de um terço numa quinzena de
anos. Dois terços das deslocações locais são feitas de carro.
Os centros comerciais integrados proliferam enquanto o
pequeno e médio comércio não representa já mais do que um
terço da distribuição. As salas de cinema multiplex reconfigu-
raram completamente a oferta.
Os valores e as ideologias evoluíram também rapidamente.
O Partido Comunista passou de mais de 20% dos votos, há
quarenta anos, a menos de 5%. O número de sindicalizados
diminuiu para metade, caindo para menos de 10% dos assalaria-
dos. Os ritos religiosos diminuem de igual modo: menos de
dois terços dos recém-nascidos são acrualmente baptizados
contra mais de quatro quintos há trinta anos, enquanto o

► A
Scanned by CamScanner
· ros tendo lugar na igreja caiu de 9501,1 para
102
m'1111cro de casamen ,
menos de 50%.
...cu . fonn-ições parccc111 gerar uma complc:xi-
.t::
..rodas estas tr,11 15 • . . • .
(.) . sodnhdc e a muluplicaçao <las diferenças
CI)

e:! dadc crescente '•11 , · "


CI)

o
, .
As propnas est , ,
d 'gtt·tl,l·Hks s·ío 1nais variadas, mesmo se o "nível
·· . .
(.),
e:
...
(O ·J . 'd' ,, ·itimcnrou ' 1>orquc a <l1st:1nc1a entre os extremos
de vi a me 10 ,
u.
aumentou co 11 s.1·(tcr·wdmcntc.
, Os mais ricos são relativamente
. · r'icos e os mais 1,obres são rclariv::uncnte cada vez
I vez 111.1 15
caca

mais poo1. 1es. Situ·tções
q -
• de grande pobreza reaparecem
. também
de forma significativa e perdudvcl. O desemprego afccta dirccta
ou indirecramcnte mais de urna família c1n cada quatro. Um
quarto dos menores de vinte cinco anos estão à procura de um
einprcgo. Por outro lado, os inquéritos de opinião mostram que
,nais franceses têm o sentimento de pertencer a uma classe
média e se identificam socialmente n1enos pela categoria socio-
profissional. Porém, os franceses têm tarnbém o sentimento de
que a sociedade é cada vez mais injusta e de que as distâncias
sociais têm mais tendência para au1nentar. O sentimento de
insegurança tornou-se, por outro lado, um dado importante da·
vida social e polític1; é multiforme e cresce en1 todos os grupos
sociais. ConcuJo, a intervenção dos poderes ptíblicos e os seus
esforços de regulação nunca for:un tão importantes: a quota-parte
dos impostos aumentou perto de un1 quarto de h:i vinte e cinco
anos p:ua cí e um activo cm c.'lda quatro depende do Estado.
A estas evoluções internas é preciso juntar as transformações
do contexto internacional, que não for.un n1cnores, quer se trate
das mudanças sociopolfticas <los países do antigo bloco soviético
e do lugar conquistado pela China na cena n1undial, quer da
globalizaçáo cconómic~ que se acelerou extraordjnariamcnte.
Esta lista das evoluções e n1utações da sociedade francesa
está longe de ser exaustiva. No entanto, é importante sublinhar

Scanned by CamScanner
>

que as mudanças que se produziram desde 1968 são provavel- 103

mente mais importantes do que aquelas que tiveram lugar entre


z
0 fim da Segunda Guerra Mundial e 1968. Que acontecerá nos o
<
, . ~
o
,.,,
proximos anos. C')
o
3
~
...
o
3
vi'
UMA SOCIEDADE QUE CO NTINUA A M UDAR o
(li

(ll

...e
O'
c:i
Estas mudanças na sociedade francesa, como as de outras :::,
o
(ll
sociedades ocidentais, inscrevem-se numa evolução de muito
longa duração, a "modernização", que se acelerou nestas úlrimas
dezenas de anos, mas que está em curso há séculos e que é devida
à acção combinada de várias dinâmicas.
Em primeiro lugar, a evolução da sociedade é animada por
um processo duplo, que é ao mesmo tempo de individualização
e de socialização: os indivíduos aspiram a mais autonomia mas
ao mesmo tempo inscrevem-se mais em redes sociais complexas
e dependem de grandes sistemas técnico-económicos. Este pro-
cesso de individualização transforma as estruturas familiares e
profissionais. Inscreve os indivíduos em redes feitas de uma
grande multiplicidade de laços sociais fracos: cada um conhece
mais pessoas mas tem com elas relações menos intensas. Toda a
espécie de objectos e de técnicas, mas mais particularmente os
meios de transporte e de telecomunicação, são utilizados pelos
indivíduos para tentar dominar tanto quanto possível os seus
espaços-tempo, para tentar fazer o que querem, onde o querem,
quando o querem, com quem o querem ...
Em segundo lugar, os domínios da vida social dissociam-se e
rearticulam-se mais individualmente: cada um tende a diferen-
ciar os seus comportamentos e os seus projectos nas diversas
esferas da vida social - trabalho, família, vizinhança, amizade,

Scanned by CamScanner
104
compromisso social, etc. - mas cada um passa também constan-
temente de um para o outro, jogando com os valores e os códi-
...
Q) gos destas diferentes esferas da vida quotidiana .
.t:.
o
U)
<! Em terceiro lugar, assiste-se também à busca da "racionaliza.
U)

O•
ção", quer dizer, por um lado, ao enfraquecimento das tradi-
e
...
('0
LL
ções, costumes, rotinas e à mobilização, cada vez mais direcra
e quase permanente, das ciências e das técnicas para qualquer
acção; por outro lado, as ciências e a investigação desempenham
um papel crescente na sociedade e mais particularmente na eco-
nomia. A tal ponto que se fala de uma "sociedade de conheci-
mento" .
Por fim, o quarto e duplo processo de modernização é a mer-
cantilizaçáo, que é acompanhada por uma "regulação" crescente,
de que é o corolário: a economia ganha importância, aumenta
sem cessar o campo das relações comercias e inventa novas mer-
cadorias; mas o seu desenvolvimento torna necessário o reforço
da regulação pública, por um lado para promover, garantir ou
proteger o mercado, por outro lado para o compensar ou para
corrigir alguns dos seus efeitos. Assim, contrariamente a uma
imagem liberal ingénua, a expansão do campo da economia
para a sociedade gera intervenções públicas. Da mesma forma,
de resto, que as aspirações a mais direitos individuais têm neces-
sidade de poderes públicos capazes de os promover e de os
defender.
Esta dinâmica de modernização gera uma sociedade cada vez
mais complexa. Os indivíduos levam aí vidas por vezes variadas
e que mudam ao longo de todo o seu ciclo de vida. Têm interes-
ses heterogéneos conforme reagem enquanto habitante de um
bairro, citadino de uma aglomeração, trabalhador de um sector
de actividade, membro desta ou daquela rede ou grupo de
actividades. O que não deixa de complicar o funcionamento da

Scanned by CamScanner
--,

'-lcrnuLT;l
, ·i11, pol'tjue se: torn·t' 111 -~11·s, d·1e,
nct·1 para estes ·m d.1v1'duos 105
1.,·1,crc111•s -, rcp1·esc11tar.
. Isto
· ulJi·,·ga os poderes pu, 61 1cos. a desenvol-
z
ver lll IH)V~•s formas de acção, para promover uma «governa- o
e:::
o
bilkk1dc'' ú lj>:t'I, de co11struir consensos tão grandes quanto possível Cll
C1
o
l' 11 :lpl)i:11'--Sé cn, maiorias rtd hoc, cm função dos desafios. 3
...
"'O
o
3
(ll
Cll
o
Cll
rvt11.'l'JlUl'Ol.li'.,\~:Í\O 1~ Ml!.'rA POLIZAÇÁO ...e
r:r
Q)
::,
o
Cll
t) pro ·csso de urbanização, que acompanhou a modernização
desde n :,;u;1 origem, continua. A concentração espacial das rique-
'/:IS hun1:u1;1s e maLcriais continua a ser com efeito uma necessi-
d:1d · no quaJro da busca da Jivisáo elo trabalho e da globalização,
que {: a sua nova escala. A urbanização passa para o estádio da
lllCt ropoli·,,a~::to, ou seja, de um crescimento urbano organizado

'-k111 ro, :\ volia e a partir das aglomerações mais importantes. Este


prol.'.c:sso torna-se possível nomeadamente graças ao desenvolvi-
mento das r~cnicas de transporte ele telecomunicação. Formam-
-s · :1ssi111 "mcdpolcs", quer dizer, vastos territórios à escala dos
quais s · organiza a vida urbana, doméstica e económica, formando
11m csp:t\:U urhani1.ado extenso, descontínuo, heterogéneo, poli-

11ud ·ar, tJllC intcgr:t 110 mesmo conjunto cidade densa e neo-
~rural, pequena cidade, vila e subLJrbio.
/\s ddadcs c:ontemporâncas são assim profundamente hete-
rogéneas, rcílcctindo uma sociedade complexa e de indivíduos
con1 aspirações e c:o m pdticas múltiplas. Colocam problemas
de urbn11ismo muito dih.!rcntes e necessitam de soluções adapta-
das a contextos variados. Fazem apelo à criatividade. É com esta
hctrrogcncid.idc <. ue é preciso fazer a cidade e as soluções não
1
cstfio gcralmcnrc 110 regresso às formas urbanas antigas e em
pnrtkular à continuidade do edificado e à densidade.

Scanned by CamScanner
,.
'

106 As QUATRO CIDADES

...
(li
.r: Simplificando ao máximo, podemos distinguir, no seio das
u
li)
<t metápoles, quatro grandes tipos de cidade e de modos de vida
-~o
U• que mais ou menos lhes correspondem.
e:
...
r,)

LL.
Uma parte da população gosta da cidade, faz um uso inten-
sivo dos seus equipamentos e para isso está pronta a sacrificar a
sua superfície habitável privativa. Trata-se sobretudo de cama-
das médias altamente qualificadas, de jovens e de seniores com
um forte capital cultural. Estes grupos estão em expansão e acti-
vam muito o mercado imobiliário das cidades-centro. Repre-
sentam cerca de 40% da população.
Uma segunda parte da população gosta muito menos da
cidade, todavia necessita dela. Localiza-se portanto na sua
periferia em habitat individual, com um jardim privativo, se
possível. Trata-se sobretudo de famílias com crianças, perten-
centes às camadas sociais modestas e médias. Estes suburbanos
desloca1n-se muito tangencialmente em relação à aglome-
ração, nomeadamente para irem para o seu trabalho ou aos
centros comerciais. Frequentam menos os equipamentos
metropolitanos mas têm necessidade de poder aceder perió-
dica e facilmente ao centro. Estes suburbanos representam
perto de 40% da população.
Uma terceira parte da população escolheu viver no campo
aproveitando ao mesmo tempo o quadro metapolitano.
Portanto, estes "rurbanos" deslocam-se muito. Estão em geral
multimotorizados. São ao mesmo tempo portadores de um
imaginário anticidade. Muita gente partilha este sonho, mas o
número daqueles que passam ao acto é mais baixo porque é um
modo de vida muito caro. Pode-se considerar que abrangem
cerca de 10% da população.

Scanned by CamScanner
Po r fim, uma qua rta parrc da popula ft é vcnL1dl'ir,1mL n I e 1O/

colocada a residi r nos grandes conjunros de hab ir.1 .:m :ori.11.


Um bo m número dos eus habi ran rc yj, ·c q u:i.c prc, o nt:scc.:s
bairros, ainda que eles estejam gcr,1lmen rc ubcq uip,Hlos. Frt·-
quentam pouco o centro da cidade e rêm <lificul l.u-k c rn se.:
.,
o
deslocar e em aceder ao mercado de emprego. Esce. b:1 irros :1co- 3
e,,
lhem cerca de 10% da população. o
r~

Üs N OVOS COM PR0 ~1 ISSOS ºR.B O

Fabricar a cidade é, portanco cer em co nsid~raçii o cs r:1


diversidade de situações, de espaços de modo de vida . É cc rrn
que nem todas as procuras podem ser ridas em co n idera ~·;io
porque a cidade não é uma soma de inte resses parri cul:trcs.
No entanto, nomeadamente do ponco de Yista do d<.:sc nvo l-
vimento durável, há necessariamence compromissos va ri ados
nestes quatro tipos de cidade entre o desenvolvime nto eco-
nómico, a equidade social e a preservação de recursos não
renováveis.
É preciso, portanto, acabar com uma representação nosníl-
gica da cidade europeia que considera que rodo o urbano deve
ser denso e conrínuo. É cerro que a continuidade espacial e a
densidade têm o seu interesse e o seu charme. Podem também
ser vantajosas do ponto de vista ecológico. Mas as cidades são
igualmente feitas de espaços completamente diferentes. Assim,
a velocidade das deslocações e o uso das telecomunicações gera
ou torna possível outras forma urbanas que os urbanistas devem
levar a sério. Não é muitas vezes o caso porque eles têm dificul-
dade em admitir que este urbano extenso e descontínuo faz
pane da cidade do século XXI.

Scanned by CamScanner

108 Esta cidade do século XXI não pode ser senão diversidade e
• I •
portanto compromisso entre as procuras e as praticas variadas
de que ela é O objecto. O urbanismo não pode, assim, ser uni-
forme. Contudo, deve ser voluntário, porque as dinâmicas
sociecais têm tendência a produzir espontaneamente etos e
injustiça.
O urbanismo interpela assim os políticos. Exige que tenham
ambições e projectos. Porém, implica também a arte do com-
promisso porque cada situação, cada aposta urbana, necessira
de ter em conta interesses variados e a construção de acordos e
de maiorias ad hoc.

Scanned by CamScanner
Léxico

AMDIENTE

AQA (Altu Qualidade Ambiental)


!lo f'difkio AQA, sucede-se o bairro AQA que, para além das
J1111s q1111lidr1clcs ecológicrts, vai cw encontro do interesse dos poderes
p,íúlicos, de uma procuni solvente e dos urbanizadores privados
à pmcum de ''projcctos urbanos".

Rótulos, normas, regras e procedimentos esforçam-se por


definir os objectivos e os meios para alcançar uma "alta qualidade
nmbiencal". No início dirigiam-se aos edifícios. Agora abrangem
bairros ou mesmo cidades inteiras. Este alargamento é inceressan-
re, porque :1 crítica que foi por vezes formulada a propósito desces
procedimentos é que, se favoreciam o desenvolvimento de toda a
espécie de técnicas, de produtos e de modos de organização, não
se inseriam sempre o suficiente numa pcrspccciva sistémica.
A cidade durável não resultará com efeito da simples adição de
edifícios ou de b:iirros duráveis. Mas a dinâmica AQA deveria ser
1;usrenrnda nos anos vindouros nomeadamente pelo desenvolvi-
mento da.li cleantechs, que são susceptíveis de oferecer resultados
pontuais seguros e tangíveis a relativamente curto prazo.
O conceito de bairro AQA conhece por outro lado um claro
êxito e está incluído no registo das "boas práticas" por realizações
exemplares, nomeadamente na Alemanha, em Inglaterra e na Sué-
cia. Estes bairros têm em comum o serem particularmente econ6-

L
Scanned by CamScanner
110 micos em energia para o eu fi.mcionamenro (ou mesmo de serem
de energia positiva), de recidarquase rudo e de limitar, tanto quanto
possível não somente o uso mas a posse de um automóvel privado.
Encontram a sua clientela principaln1ente entre as camadas sociais
com uma alta qualificciçio que trabalhem no centro das cidades.
Esce nicho de mercado parece bastante pronus.sor. Não está
muito afastado do da gencrificação. De facto, vários bairros AQA
estão em zonas de reabilitação. Os promocores privados interessam-
-se desde há pouco tempo por este "produto ,, que permite ultra-
passar a escala do imobiliário e vender o urbano. As e.xigências
ambientais são também suscepóveis de legitimar densificaçóes que
facilitam em seguida as negociações entre actores privados e autori-
dades locais. Os lucros adicionais obtidos por estas densificaçóes
podem, por exemplo, permitir a integração da habitação social
nestas operações ou o financiamento de alguns equipamentos.
O objectivo AQA é também mobilizado para legitimar o
relançamento de uma política de cidades novas, nomeadamente
na região da Íle-de-France.

Cleantech
O lugar ocupado pela questão do efeito de estufa está a modifi-
car a maneira como a nossa sociedade aborda e trata os desafios
ecológicos. A economia cleantech (produtos industriais integrando
técnicas que lhes conferem um bom desempenho ecológico) poderia
assim constituir uma alternativa poderosa para soluções defendidas
pelos militantes da ecologia baseadas em mudanças nas formas de
produzi,; de consumir e de habitar.

O aquecimento do clima do planeta, devido ao efeito de estufa,


ele próprio provocado pelo lançamento na atmosfera de C02,

Scanned by CamScanner
p.1R"l.-e não oferecer dúvidas do ponto de vista científico. São- 111

-llie já auibuídas carásuofes (inundações, secas, incêndios)


2
e as p re,·isões para algumas dezenas de anos são inquietantes. o
<
o
fJl
Ecologistas têm-se esforçado desde há muitos anos por aler- ("')
o
1r a opinião e os poderes públicos a respeito disto. Receberam 3
...
"O
o
no-s úlcirnos anos o reforço de novos actores implicados na pro- 3
/fj
duçáo d e energia: em França, por exemplo, as companhias de C/l
o
(;/l

clecrricidade ,iram no alerta sobre o efeito de estufa um meio ...e


O"
0)
mu.i eficaz para pôr na ordem do dia a questão da energia :::,
o
C/l
nuclear: mas os produtores de petróleo, Estados e grandes
empresas soubçram também explorar habilmente as preocupa-
. · es a respeiro dos recursos fósseis, que são limitados e cujo uso
e.mire muito co 2 , para fazer subir os preços.
A opinião pública, por seu lado, revela-se particularmente
2ensÍ\~ a quescáo climática. As questões ecológicas tendem assim
a não ser já ,ist:as nem como uma ameaça planetária longínqua,
para gerações que ainda não nasceram, nem como um problema
de poluição ou de acti,idades incómodas, insalubres e perigosas a
nh-d local, mas como um fenómeno já muito grave e muito
ameaçador. A ligação da questão ambiental ao "tempo que faz",
qucr dize.r! a uma preocupação de rodos os dias, já transparece
nesta sensibilidade de massa à questão do efeito de estufa. Efecti-
'"2Illente, hoje, ~e uma estação está avançada ou arrasada, já não é
,culpa da bomba atómica, como o foi antigamente, mas do co 2 •••
Este novo contexto escá em vias de mudar profundamente
a maneira como se colocam as questões ambientais. A prioridade
""gás com efeito de esrufa:., está em vias de se impor. Esta tende a
relegar para segundo plano as outras questões ecológicas (água,
biodiversidade, poluições locais, etc.). É suficientemente forte e
rem origem em meios suficientemente diversificados para incitar
muito vn-amenre os poderes públicos a intervir neste domínio

Scanned by CamScanner
112 e a tornar muito legítima toda a espécie de regulamentações das
actividades emissoras de gás com efeito de estufa. Constitui-se
...
Q)
.e: assim um novo mercado, em particular graças às regulamentações
(.)
(/)
<t públicas. E empresas que antigamente não tinham senão um
(/)

(.), interesse comunicacional para fazer esforços ecológicos encon-
e:
...
ca
u. tram agora aqui vantagens directas: a produção de produtos e
serviços económicos em emissões de gás com efeito de estufa
tornam-se mais rentáveis para um maior número de actores.
Esta dinâmica é suficientemente forte hoje em dia para que
nos interroguemos sobre o lugar que poderá ter na economia
dos _países desenvolvidos a médio e longo prazo. Poderá com
efeito estar na origem de um mercado considerável, porque
todos os sectores de actividade são utilizadores de energia ou de
bens que a consomem. O ·mercado das cleantechs (produtos
industriais que integram técnicas que melhoram o seu desem-
penho ecológico e económico) é constituído ao mesmo tempo
por produtos e equipamentos novos e pela renovação do parque
de equipamentos antigos não conformes ecologicamente. Por
outro lado, as inovações científicas e tecnológicas parecem
potencialmente imensas, tanto para a produção como para o
armazenamento e para as economias de energia, tendo o baixo
preço desta última deixado este domínio grandemente ao aban-
dono. As cleantechs poderiam juntar-se às tecnologias da infor-
mação e da comunicação e constituir um recurso-chave da nova
economia do conhecimento e do ambiente.
A força deste movimento já começou a modificar a maneira
como nós colocamos os problemas ecológicos. A quantidade de
emissão de gás com efeito de estufa tende a constit~ir a unidade
de medida não somente das regulamentações públicas, mas do
próprio mercado. Os diversos sistemas de taxas existentes ou em
criação não farão mais do.que reforçar esta ligação. As inovações

Scanned by CamScanner
1 -
poderão ser medidas à luz deste critério de rejeição de co 2, o que 113

poderia estimulá-las cm sectores que tenham dificuldade em re-


2
novar a procura dos consumidores. De uma certa maneira, as o
<
o
cleantechs poderiam também desempenhar o papel positivo de C/l
(")
o
uma crise económica suave, desvalorizando capitais industriais 3
...
"O
o
ecologicamente não conformes e renovando as bases do lucro... 3
C/l
A eficácia deste capitalismo ambiental poderia provocar C/l
o
C/l

decepçóes importantes junto de todos aqueles que pensavam ...e


c;-
Cll
que a cornada em consideração dos riscos ecológicos ia obrigar :,
o
(/)

as nossas sociedades a transformar em profundidade as suas for-


mas de produzir ou de consumir de um modo geral e de cons-
~
truir as cidades em particular. A ideia de que era preciso, por
+
',
razões ecológicas, promover modos de viver mais colectivos
tinha assim federado actores diversos, uns porque os co~sidera-
• I • •
vam como mais econom1eos em energia, outros porque eram
mais conformes com concepçóes urbanas, societais ... ou com os
seus interesses enquanto transportadores colectivos. Mas a via
tecnológica de redução das emissões de gás com efeito de estufa,
cada vez mais desenvolvida pela própria dinâmica capitalista,
tem todas as hipóteses de ser fortemente competitiva em relação
à via societal e "alternativa". Assim, o estímulo da renovação do
parque automóvel com veículos mais económicos em carbono
economiza as emissões de gás com efeito de estufa em propor-
ções sem comparação com, por exemplo, o que se pode esperar
da transferência modal ligada a um desenvolvimento acelerado
dos tramways nas grandes cidades ou à proibição do acesso auto-
móvel ao centro das cidades. Além disso, a passagem da ec_o lo-
gia para o mercado é nos países ocidentais politicamente mais
fácil, mesmo que seja potencialmente pesada em consequências
sociais. As inovações ambientais têm com efeito um custo e esta
,,,,
nova economia arrisca-se também a estender o campo das

Scanned by CamScanner
114
desigualdades a este domínio. Os produtos clean arriscam-se a
ser sensivelmente mais caros e contudo serão "obrigatórios''.
...
Q) Modificarão a estrutura do orçamento das famílias .
.e
u
Vl
<t Resulta desta análise que se pode colocar a hipótese de que
Vl
o
e.,.
a luta contra o efeito de estufa não produzirá necessariamente
e:
...
m
u..
grandes alterações nas dinâmicas e formas urbanas. Obrigará
principalmente os citadinos e os transportadores das metápoles
a renovar os seus equipamentos de transporte e a comprar mate-
riais clean. Contudo, favorecerá também uma certa coagulação
da dispersão urbana, o reforço das microcentralidades, a con-
cepçáo de casas individuais, de loteamentos e de bairros AQA.
Legitimará a densificaçáo das primeiras coroas, o encerramento
e a gentrificação das cidades-centro. Mas as vinhetas verdes,
criadas por iniciativa dos poderes públicos locais ou nacionais,
serão também factores de renovação do parque automóvel por-
que será preciso, para os dependentes do automóvel, comprar
um carro clean para ir até à cidade-centro ... O efeito de estufa
poderá assim, de forma surpreendente e decepcionante para
uma geração de militantes e urbanistas, confirmar à sua maneira
o modelo da metropolização capitalista.

DESENVOLVIMENTO URBANO

Atractividade
O desenvolvimento local passa hoje cada vez mais pela capaci-
dade de atrair as camadas médias jovens e qualificadas. O que não
deixa de colocar toda a espécie de problemas.

Tradicionalmente, os economistas distinguem dois grandes


sectores de actividade numa cidade: o que produz os bens e

L_ ◄
Scanned by CamScanner
p

serviços consumidos pdos seus próprios habirnnres e O que 115


"exporta" bens e serviços. O desenvolvimento deste segundo
sector desempenha um papel-chave diro "multiplicador'' porque z
o
<
os seus empregados se fornecem também localmente. As estra- ~,
o
n
o
tégias de desenvolvimento local apoiam-se, desta forma, tradi- 3
"C
cionalmente no apoio a estes sectores exportadores. ~
o
3
A mobilidade crescente de homens, bens e capitais dá uma
importância acrescida a uma outra noção, a atractividade.
Trata-se de atrair empregos e investimentos, ou seja, de con-
vencer os decisores a "localizar" as suas escolhas de investi-
mento na sua cidade. As cidades constituem assim uma espécie
de mercado para os investidores. Estes esforçam-se por nego-
ciar toda a espécie de equipamentos, de serviços e de vanta-
gens. As cidades por seu lado envolvem-se mais nas diligências
de promoção, fazem marketing estratégico, conduzem opera-
ções de comunicação.
No contexto de metropolização e de globalização, a concor-
rência entre as cidades aumenta também para novas escalas. Em
França e ainda mais em Portugal o nível da aglomeração é mui-
tas vezes demasiado débil para intervir eficazmente.
Dado o estádio de desenvolvimento e os recursos do país, as
cidades francesas não estão envolvidas senão numa parte deste
mercado de emprego e de investimentos em busca de localiza-
ção, dado que o custo do trabalho não é um dos critérios prin-
cipais de escolha da localização. É razoável que elas esperem
atrair ou fixar um~ parte das actividades com uma alta qualifi-
cação e por outro lado actividades que estejam ligadas a caracte-
rísticas muito particulares de um dado território (uma
competência local específica, um recurso natural).
Por outro lado, a importância tomada pelo "conhecimento"
e a inovação na economia contemporânea aumenta o papel da


Scanned by CamScanner
-1 ·iacivicbde e confere um papel-chave aos traba-
\' ~quL a t' ""\ c1 , .
. l . ente ,1ualificados capazes de sair das rotinas d
fü,ld )íc'. ,\ t,un . _ , e
.t' . drnfios de se adaptar a sttuaçoes específicas
i,lrntt t a1 o. ·' · ' ,
ell.' 1rorma1..tzM
. ns
u,
<iuestóes
• ,
de encontrar soluções novas, de trans-
, . I< "·t·"s O sociólogo norte-americano Richard Florida
t((lr (t'( (1() )~ n . •
fala, ., este- propôsito, ele "classe criativa". O conceito é talvez
lis utí"d do ponto de vista científico, mas a fórmula dá uma
b\,~\ idda do que rêm em con1um toda a espécie de empregos
que"' rnconcr~mos tanto no artesanato, quanto nas pequenas e
m~dbs empresas, na grande indt'1stria, nos serviços privados,
nas administraçôes. Segundo Florida, esta classe criativa repre-
sent~\ria peno de um terço dos activos nos Estado Unidos.
A atractivicbde urbana depende assin1 de variáveis que deci-
dc-m escolhas residenciais e profissionais das camadas sociais
qualificacbs, geralmente móveis, e jovens "criativos" em parti-
ubr. E_1;tes s~io atraídos, evidentemente, pela presença de certas
acti\'idade económicas que os podem empregar, pela qualidade
de \'ida urbana, pela dimensão e variedade do mercado de
emprego, pela presença de equipan1entos colectivos públicos ou
pri\'ados de alto nível e pela imagen1 dos territórios que habi-
tam e frequentam (<la região ao bairro).
Esras camadas sociais não representam senão uma parte
minoridria do emprego, mas constituem um recurso-chave do
drsenvol\'imento. Não somente geram numerosos empregos
induridos, mas animam uma dinân1ica de desenvolvimento.
Isto pode colocar problemas difíceis porque os poderes locais
podem ser levados a fazer muito para atrair e fixar um grupo
social minorit~irio e fuvorecido, enquanto, por outro lado, gru-
pos sociais locais e tnodestos têm necessidades importantes não
satisfeitas. A questão da habitação ilustra, infelizmente, muitas
vezes este problema. Antigamente era preciso ser capaz de

Scanned by CamScanner
abrigar os operJrios para ajudar o desenvolvimento local. A habi- 117
tação social era então também urna ncccssic.Jadc económica.
z
Hoje, tende muitas vezes a não ser já apreendida como uma CJ

questão social, ou como um problema de solidaricdaJe. O que ~


o
o
não facilita as coisas, dado que, ao mesmo tempo, os recursos 3
'O

em fogos adaptados aos modos de vida, aos valores e aos recur- ê3


3
sos das camadas médias qualificadas tornam-se um desafio- ~·
o
f/1
-chave do desenvolvimento. e
É cerco que a classe criativa gera empregos de base e tem um e-
:,
o
f/1
efeito multiplicador importante, nomeadamente nos serviços.
A sua presença pode portanto fornecer empregos pouco qualifi-
cados e ajudar a reduzir o desemprego local. Mas não é fácil
politicamente co1nunicar o que se faz para atrair populações
mais favorecidas enquanto, por outro lado, se colocam graves
proble1nas sociais.
A atractividade de um território não passa somente pela sua
capacidade de sedução da classe criativa. Um certo número de
actividades pode ainda ser atraído por recursos locais específi-
cos, não deslocalizáveis. Estes estão muitas vezes ligados seja a
uma produção agrícola específica, seja a uma história industrial
local, que c~nstitui efeccivamente um recurso produtivo directo
(redes de subcontratadores, por exemplo) ou que podem ser
utilizados como imagem de marca. É aquilo que poderemos
designar por "o efeito regional", ou seja, uma qualidade ligada a
um local específico.
A noção de regional apresenta por outro lado um interesse
muito particular num mercado aberto, porque permite cons-
truir uma espécie de monopólio e de protecção contra os con-
correntes. É uma das razões pelas quais as medidas do tipo
DOC (designação de origem controlada) são combatidas pela
Organização Mundial do Comércio.

Scanned by CamScanner
ni'l de consumo contemporânea a marc
Ora, nc~ta eco n(,J ' . . a
1m , apel crescente e a espcc1fic1dadc de um terri-
cJc;,c.:rnpcn h~tumr
,,.., . " . disso
uíno poL1e ~er . O
ínsrrumcnto. Pode-se mesmo formular a
, . ..
.&;
.,,
-✓ . , d. . no nicho cstrateg1co mundial que o topo de
-1'. h1potci,c e que, ., _
lh . . • para um país como a I-irança, a noçao de região
·~ gama con~ntu1 ,
,.,
e; • . . Lltilizada como marca bem para alem do domínio
-
u.
p<JL1c.:na ser J • • •

, 1 O l ixo mercado prom 1ssor, podena servir-se de ima-


agnco a. L • ,
., ,, rc'' "' locais·
p<.;íl,<, uC m,L ..._, ' ' "venha viver, trabalhar e produzir 'aqui'
o 1 ,,
porque isto não existe noutro ugar...

Centros comerdais
As dinámicas comerciais desestruturaram e reestruturaram as
cidades em função das suas próprias lógicas. Mas a redefinição das
estratégias dos actores comerciais, obrigados, nomeadamente, a subir
de gama do ponto de vista urbano, constitui uma ocasião nova para
os poderes públicos focais, que devem ser capazes de utilizar esta
oportunidttde no quadro das suas pr6prias estratégias urbanas.

O desenvolvimento da sociedade de consumo fez do comér-


cio um sector decisivo das dinâmicas urbanas. Infelizmente, as
implantações comerciais foram muitas vezes consideradas como
um maná para os poderes públicos locais que, para o receber,
Fizeram muitas concessões aos investidores privados. As diversas
leis respeitantes ao "urbanismo comercial" nada mudaram neste
domínio. Os hipermercados, os centros comerciais, as superfí~
cics especializadas de toda a espécie implantam-se assim essen-
cíaJrncn tc cm função das lógicas dos actores comerciais e muito
pouco cm função de políticas urbanas volu.ntaristas ansiosas por
.
integrar O comércio na cidade, ou mesmo de se servir dele para
oric.:ntar e gerir o desenvolvjmento urbano. As famosas e por

Scanned by CamScanner
1
vc·,t•,-, l ' :ll 1Sl'l'<)Íicns \.· nrrndas de cidade" testemunham este dei- 119
x:11' 111uh1r.
Hoje, nssiste~sc à s:u11raçáo de um certo número de equipa- z
o
<
o
1nc1l!'os comer 'i:lis, que lev:1111 os :1ctorcs privados a modificar as (/1

(')
o
s11:1s csrt':trégí!ls concorrenciais e a concepção de alguns destes 3
...o
"'C

cq11lp:lllH:11ros. Â ac('ssihilidadc automóvel, que durante muito


1·c:mpo assegurou um elemento importante da atractividade dos ª·
(/1
(/1
o
(/1

CL'lltTOS co mcrcinis, já nfio é suficiente. Com efeito, os consumi- ...e


C"
dori:s frcq11cnr:1m um número crescente de centros e têm alter- QJ
:::,
o
(/1
n:,rivas novas com a renovação de um cerco comércio de
proximid:uk: e.: o desenvolvimento do e-comércio. Neste con-
tc:xro, :1ssisl'ê-sc a uma relativa subida de gama dos centros
·omcrci:lis e :1 novos arranjos que pretendem criar ambientes
m:iis urbanos e menos exclusivamente funcionais. Diversos ser-
viços pt.'1hlicos e privados, acrividades de lazer e um pouco de
nrquitccrurn e de dl'sign são utilizados para o fazer.
lsm representa ao mesmo tempo um perigo e uma oportuni-
dade para os p~deres públicos locais. Um perigo, se forem estas
lógica.e, que mais uma vez definem sozinhas as principais evolu-
çôcs urbanas. Uma oportunidade, se os poderes públicos se
apoderarem desta dinâmica para tentar concretizar os seus pró-
prios projcctos urbanos. Os actores privados dispõem com
efeito de meios de investimento não negligenciáveis, têm uma
verdadeira capacidade para criar fluxos e para qualificar espaços.
Mas têm rnmbém lógicas próprias com restrições, prazos, mo-
dalidades de funcionamento e critérios de avaliação que estão
muito distanciadas das dos actores públicos. Aproveitar a opor-
tu 11 idade do seu reposicionamento em termos da concorrência
entre centros comerciais para se servir disso nas políticas urba-
nns locais implica, portanto, para os poderes públicos, como
para qualquer ppp (parceria público-privado), ao mesmo tempo

- Scanned by CamScanner
·imcnto e o ter t.:m consideraçflo e::stas l(wiCíl , ,
1 20 um rccon heC o R priva.
ro lado, a afirmação de um,1 cstraté,,j, u
das e, po r ºLit- t, 1 r1
l 1ana
... . A'1 estão as duas condições de hasc que poderão a,· utIar a
Q)
.e 1
e ar,1.
u
cn .. . .1 conccpçáo de novos centros comerciais ou a r•·n
~ negoc1a1 , . ... OV:t-
,.,,
o çáo de centros antigos, de maneira a fazer deles ccntralidadci,
U•
e
...
(IJ ~ exclus·, vamente
nao e
comerciais, acessíveis de outras forrn-is , para
u.;:
LI.

além do automóvel, dotados de espaços púhlicos de qualidade,


bem inseridos no seu contexto urbano.

Comércio de proximidade
Os comerciantes de proximidade oferecem não somente serviços
úteis para os citadinos mas desempenham também um papel impor-
tante na animação da vida urbana e na qualificação e segurança
dos espaços públicos. Porque não ajudá-los?

O comércio de proximidade desapareceu em grande parte


com a evolução dos modos de vida urbanos a partir da década
de 1970. O abastecimento das grandes superfícies tinha então
revelado um muito melhor desempenho para os consumidores
do ponto de vista do custo como do tempo passado a fazer as
compras.
Hoje, por razões variadas, o nicho do comércio de proximi-
dade e de recurso parece ser um pouco mais promissor: a vida
dos citadinos tornou-se muito irregular e os seus horários sáo
mais tardios; as famílias são mais pequenas e a funcionalidade
dos grandes abastecimentos nas grandes superfícies é menos
evidente; a evolução da logística diminui a distância entre os
custos da distribuição pelos diferentes tipos de superfícies
comerciais; certos consumidores experimentam um desencanto
ª respeito das relações impessoais nas grandes superfícies

► ◄
Scanned by CamScanner
comerciais e procuran1 reatar os laço, d pr xim1 \a<le. p \f rn\H \
lado, assiste-se ao desenvolvimento d0 n "ª· ''rni- I< e ' {Hrali 1,\-
:
dcs", ligadas às mobilidades urbanas, qu a. i,tm e 'll\ ;f h~ ,
serviços (independentes ou franchi ados p0r g-ran l ~ _ ·k 1\ lc~)
em cruzamentos importantes e paragen. de transpon?s ,l •rli\', K
~,,
Este novo comércio de proximidade po{k onsrit ulr \ln\,\ l
'
l
ferramenta muito útil na qualificação d0 e~p,w urh,\Ih' L' 1,,1 -~
,l
segurança do espaço público. Conrudo, não aprt·:-. nt , , ., : "n~<\
superfícies limitadas porque não concorre verdadt>irt1mctHl' , HH
as ouuas formas de distribuição. ln. creve-. e milL n, c,,i,,1 h-
ferramentas dos citadinos para um certo tipo de n. 0 n~als op ,,..__
cuno (que ilustra a designação de ront t'>Úent str1,•_; no ,1 1,p,\1, ).
1

É preciso, portanto, evitar reservar sisternaticam ·1u • r \\ il t-Sh'


comércio de proximidade o rés-do-chão d0s imó,·eis \\1 · 1.llfidl-
mente serão preenchidos em permanencin arris anch,-sL' 1\ 11 ·M
com uma boa parte das fachadas fechadas e ohc'rras pnr gt ~/#li,
.. Em contrapartida, é preciso concc1ur,,-\o ele- m.111 ir,, qu, 1

funcione tanto quanto possível ao mesmo tempc\ romn Hll \ ,\


centralidade de proximidade, que rem ponanro mna Cl'rt ,\
atraccividade própria, e como equipamenm onde se r ~ira qu,rndn
., se passa, o que supõe a sua localização j11nto c\os t\nxL,s.
Mas este tipo de comércio encontra por velc•s Lliltru\dadi·s
para conseguir uma rendibilidade rnínima. C01H1hln, t:I · as~r-
', gura também uma função urbana de animação e d ' st·~11r,rn,·1\
pública que não é negligenchivel. mas que ~ uma t'Xtc"dnr\dad .,
ou seja, que este seu benefício está fora do merendo. Seriu, p,w~
V
,• tanto, normal que os poderes públicos finan ' h\.'. c1n, suh uma
;;,
forma ou outra, esta função, que para eles é gratulrn. nc
hcrn, d \
mesma forma que certos agricultores devem . er cnnsidc•rad,\s
.
..ri.,· como ujardineiros" e "conservadores" do rerrlréwk1 rur,1\.
os comerciantes de proxi1nidade poderiam ser nnsldc•r ,dn.,
I.

Scanned by CamScanner
122 como os po rtel·ros dos bairros urbanos, e ser subvendonado~, de
alguma forma, por esta razão .
...
Q)
.e
(J
1/)
<%:
1/)
'õ Logística urbana
(J.
e
...
(ll
As entregas colocam enormes problemas de circulação e de polui-
u.
ção. Ora, a fluidez dos transportes de mercadorias numa aglomera-
ção tornou-se um elemento-chave da sua produtividade, fazendo
da logística urbana um grande desafio.

Fazer ou mandar fazer? A resposta a esta pergunta que tanto


as empresas como os particulares colocam em numerosas cir-
cunstâncias depende, em grande parte, daquilo a que se chama
"custos de transacção", ou seja, os custos induzidos por um
eventual recurso a prestações exteriores. Os progressos no domí-
nio dos transportes e das telecomunicações favoreceram, assim,
nestes últimos anos um poderoso movimento de "exterioriza-
ção", que tem modificado as próprias formas de divisão do tra-
balho e da organização industrial. Cada vez mais componentes
e serviços são produzidos por subcontratados. Por esta razão a
dimensão dos estabelecimentos industriais diminuiu. Movi-
mentos de bens, que antigamente tinham lugar no interior das
empresas, desenvolvem-se hoje no exterior, transformando em
parte os territórios urbanos em espaços de produção. Por outro
lado, o desenvolvimento das entregas, canto às empresas como
aos particulares, é feita igualmente através do "e-comércio".
A fluidez dos transportes de mercadorias torna-se assim um
elemento cada vez mais directo da produtividade das cidades,
que os responsáveis locais devem ter em consideração enquanro
tal. A congestão do tráfego pesa sobre o desempenho econó-
mico das cidades e das suas empresas.

Scanned by CamScanner
d
p
7

Porém, o desen-loJvím.en o da ~>uba,ntratação, dos senriços e 12'7

do e-comércio aumen ta a·) entreg.as ck f<,rma qua".e e-.1.'po ncn-


cial. Ora, c.sta.S colocam enorme, prr>bl~m2: de d rcufa.çãn e de
poluição. É preciso não ~omem:.e re--§!L?rru:ntá-la.:, ma:-, também,
de forma mais p osíti-:a, tornar a :,í uá-fa, na per:-pec j-·,a de uma -::::
.,
e
verdadeira ·, jsáo Jogís ica â e-,cala da agi0mc:-ra:.çáo n() eu cr,n-
-
junro. É preciso pensar o aha.-.redrrn:-n:n cnmn um Hu7.o conti-
nuo da cidade. É preciso u:-na ·,rerdackíra pr11í ica fogfatíca e
...,-
,,.o-
local.
Por outro lado, é ne.u~s-.á1k, sublinha- q ,e o d~~nvolvi-
menro do comércio elecrróníco participa ,2.c-ro!uçáo das formas
urbanas e do fu ncíonamen o da.3 dcb...de, dz formas ·,ariada.s;
enrra em concorréncia com al~1.1n) mmircir.r radícíonaíE; sub~-
riruí deslocacóes in d i·.riduaís ,r-.,
~
nor d~foa.cfy:;--~
.. de i:.ra .'.vo:-cadores
~

profissionais; p ermite especializar e é~~oo....1 r,> focais eh: arma-


zenamenro dns proliuros; x.i,ara os loo...is de "'e-,1.;po~içár,"' dos
locais de venda e d e arroazenarru:nw.
Enfim, as cidades c:k-,c:m le:sl2J em considera~ os proble-
mas com quesáo confronr.ado,m "ffah2°J-1a.do-e:.c6 mo-:ímento":
assim como os "'crabalha.dor~ em r1.0"';ím::nro"'. /-,..5 rn.2f. comam-
-se, efectivamente, urn e:.P2-ÇO de -rah?Jho e C'.::ta é uma dím.en-
sáo que os poderes púhHro> locais ck-.-..-,ão. d!: fomi.a progres.si7~
ter em consíderacáo
.. .

Polarização/polaridades
O centro antigo da; aglm-aerttçhn ?W/J a;;~gura maiJ tÚJ que um
número limitado de fow;âe; pur~vL a; e;tnaura.: urbanas rá/J cada
vez mais multipolares. úmtwlo~é n~ee1-w o p1/urim r ainda melhtr~
o espaço metapolítano para benefiâar de eanv.,-,11iai de escala e de
transportes e para axi.alímr:, ranto quanw po.:.:fuel aI deslr;ctlfbe.I.

- Scanned by CamScanner
124
Antigamente, 0 centro de uma cidade era definido geome-
tricamente. Era O lugar mais acessível para todos, o mais bern
...
G) protegido e O mais rico simbolicamente. Todas as actividades e
.r:.
o
Ili
<t: funções urbanas tentavam localizar-se aí, conferindo-lhe urna
Ili

O•
densidade elevada e uma certa mistura funcional. Depois, 0
e:
...
10
u.
desenvolvimento da economia mercantil seleccionou progressi-
vamente as funções que aí se podiam localizar.
O que deu origem aos centros em grande parte desapareceu.
Primeiro que tudo, o lugar mais acessível de uma aglomeração
já não é o centro geométrico mas a sua via periférica. Por outro
lado, é com esta que se articula um bom número de actividades
que antigamente estavam no centro antigo. Em seguida, o de-
senvolvimento da divisão do trabalho tende a diferenciar a loca-
lização das actividades e das funções urbanas. Cada actividade
tem a sua zona, o seu centro ou mesmo a sua cidade: tecnopolo,
zona logística, cidade administrativa, cidade-saúde, centro de
lazer, etc. Finalmente, a acessibilidade física não é já tão neces-
sária para todas as actividades. O face a face e o encontro directo
conservam certamente um grande interesse e são talvez mais
valorizados. Por outro lado, existem muito mais meios de co-
municação e de troca, ou seja, de deslocar informações, pessoas
e bens. O encontro directo, num mesmo lugar, já não é indis-
pensável para um certo número de actividades. A densidade já
não é necessária para dispor de um potencial de contacto, de
escolha, em muitos domínios; a velocidade e a autonomia das
deslocações fazem concorrência, para certos contactos, à proxi-
midade física e à mistura funcional.
Neste contexto, é preciso abandonar uma representação da cida-
de baseada num modelo radioconcêntrico simples e, de forma mais
geral, de um sistema sociopolítico cidade-centro/periferia. As aglo-
merações urbanas têm estruturas metapolitanas e multipolares.

► ◄
Scanned by CamScanner
A noção de polarização pode assim co mpletar utilmentc a de 1Z9
centralidade. Um dos desafios, nomeadamentt= do ponto de 1/Íb-
ta do desenvolvimento durável, é o de p0Jarí1.ar tanto quanto ,~
_;
,.,
'J
possível as actividades urbanas e as deslocações. O ínteres-J{: da '/}
,.,
'j
polarização é duplo: concentrando actívídades nos pálo9 susdta ...3
economias de deslocação; permite concentrar ou rebater a5 dc~-
locaçóes sobre eixos e portanto desenvolver infra-es trutura5
pesadas e transportes colecrivos; finalmente, torna pw,5ívd o
desenvolvimento de vários subsistemas radioconcénrrícos e por-
tanto a criação de eixos principais, ou mesm o de ~tru turas
urbanas de tipo "placa giratória e raios" (modelo inspirado no
transporte aéreo que organiza os transportes a partir de urn
número limitado de grandes centros repartidores) .

GoVERNABILIDADE

Comunidade de aglomeração
É preciso recompor e democratizar profundamente as ínJtítui-
çóes territoriais porque uma França urbana e metropolizada não
pode enfrentar os desafios contemporâneos com uma arquítectura
institucional neo-rural que data da Revolução Francesa.

A escala da vida urbana não cessou de aumentar. O quo ti-


diano dos citadinos é cada vez mais muJricomunal*, e a maioria
de entre eles já não trabalha na sua comuna..,.., de residénda.
A economia local funciona igualmente para o essencial à escala
de grandes aglomerações que são os territórios pertinentes para
um número crescente de infra-estruturas, de equipamentos e de
.., No original multicommunal (N. da T.)
•• No original communt. (N. da T.)

Scanned by CamScanner
, ll l 1-- •t1li;t,HI t'.~1,1 t'\1dhH.' u :'t .~11:1 m 11wlr , 1l ,
' , . '\ IIS1..',\ '· lH '- 1 f O1.~
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\nlptlSlúS l',\pl l ' I
,• \ \ 1 •,:(,\ ntlllS 1d,1 '"' llH'SlllO t'tn l't)!Hp l'IP d(\~rt~n..
d c•l)\<ll' l';llHI '"· 1 e.
....
'1 _ , t,irst. .·i~cv,,h,,·,,c·~.
llH~ll(() U) , 1• ~ ,
' li\ rlc:llt), !I d St..' 'Ili 1'11 t·, :1,: 10 l'.Ol)ltOtt rnuitns
1 1
ro Por 11111 11\l 1'" tU ·
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o\ ·I ' ~ 1' )l\\111\:IS, C' I\I I' li' ( ind:11· o Ul'h tnl."tl\o, d:rndn ..
l'.<lt.llpc'l'<.'lll .tl~ • •" l <
. 1,·1td I· de· ,,,,lítkns qu' cnn111dn 11, o po<k~m )irr
-lhe ti 1' 'SIH'I\~., 1 •I '
l , .,r· .,.11 ,w 11 tc 1..',HH\'hldns e n::di'1,ndns scn, o a 1111111
r :v ,0;1Vc.'1 e e tl • ·
- ,,,., 1· ,. ,11,irn hLt. P,H' nutro Indo, ns lnstlt'llk(\cs d,,
cs,.::1 1:1 ur1):1111i • ,, • • t ,. , • ,.
.. • l e ,111 l)'\l't in1l:u · :1s '\•pm11nidnd1.:~ lk aglonH.'l':l\:iío"
. 1, :11.
:lU1lll\\l'I. '
1

q~ic IH·rd.:ll'lll\\ utn:1 pnrtc· d 1s 1.c·pm1wcL'nci 1s l'otnunnis, s. \\ com-

pc' :s,,..,...1_., !H>I' ckitns l'Ol\lltnnis e.: n H) rc'Sttlt tl\l, pnrcanto, dil'ct.: ra..
mente dtl suldgi,, u1tivc rsnl. ()s sc·11s lks:dins, :-is suns polltlcas c
1

os seu · ot\:llltl'lltnS s:io mal cnnlwl'idos 1wlos ciradinns t.' .~iin


ohjc(to 1.k pmtl'OS ckb:1rcs dt·11wn:hk1.)S, quer :ltll\'S lJllCI' depois
d;1s cki~·Clcs ... lh dcims que t~m assctlt'o n<.'Sl":IS insdndas da
aglomcra\·:hl :tgcm cm h11wJn d:lquilo qu~ dcs considc.·ram st.:r
os intt·rcsscs dos que ns l'.kg<:r:tm. lsr1.) 6 normal. mns privilegia
pesadamcl\lc a cs1..·:da d:, vi1.inh:m,·u rcsidt:n ·ial, pon1uc os dta~
dinús que trab:1lh:tm ou lJlll' t~m a ·rividad<:s numa comuna
onde n:fo habitam 1úio vornrn aí. Rcsulram dc..:sra sicuaçflo dis•
funcionamentos gravcs porque as ·omunidtnks de aglomeraçrro
tendem a nftn ser sen:io lugares c..k nq~odaçüo enrrr conn11u1s à
procura dos s1..:us denominadores comuns. Os projecros de intc~
resse colcctivo silo pnuco susttntados porque os seus benefíci()s
são pouco locali1,:ivds dirccramcntê - t: portanr0 têm poucos
benefícios deirorais din:ccos - , o que d,t origem a fraquezas
inquietantes para o futuro no domínio das infra~cstrumras e
••,.Nol original ii1tei t ·l)mmt1//illl\' 'N l·t . , )
•• \ • t: • 1•
No original c'(1111m11II,1I1.., ._ (N. d it T)


Scanned by CamScanner
dos grandes equipamentos. A habicaçno social r 1n,h, m :-pfr1 1

muito con1 esra situaçáo porque numerosos pre.11ld nrri.11\ sc•n~(-


vcis às opiniões do seu eleitorado, recusam assumir u ,'111.i jlill'l1 '

de responsabilidade na matéria.
A eleição para o poder universal das insr~)ucin.~ lç, uglonw,· 11_- in
aparece portanto, mais do que nunca, com<, 111na nc·Ct.','1,'l id ,d,•
urbana, económica, social e democráric.-1. É précl,'/o 91H' n, dl'd -
sóes de interesse supracomunal'+'* sejam roma la.11 por deiro,1 1 11j 1

reeleição dependa do que eles tiverem t~ito pela cidmle l111 cim "
não por esta ou aquela comuna. tvtas esra reforma chnc I h l
dezenas de anos con1 a oposição dos seus presiden1cs 911c• 1c• nw111
ver-se desapossados de uma parte do seu poder. De 1·:1uo, n SL'llíl"
do, onde os senadores presidentes ele comuna sfin n1111w1'1l,•;n.'I,
sempre bloqueou rodas as disposições legislativas q11 c Iam 110 s1:•11-
údo de um pouco mais de supracomunalidade. A sun rcc wm dn
democratização das instâncias da aglomeraçüo csní cons11'11(d;1
sobre uma dupla argumenraçáo: a defesa das compc1ênd:1.~ do
presidente "mais próximo dos hahirnnces" e a j:i m1dro grn1Hlc
complexidade do sistema insritucional terrirnrial an q11:1I 11ll11 L1
preciso juncar um escalão suplcmcnrar. N'las n;ío é IWl!t'Ss:irio
cocar nas comunas: ainda ficariam 36 000, recorde n111ndl11I pnr
habitante, é cerro que para competências redu·Lidns mns p:1r 111111:1
mobilização democrática de peno de 500 000 c.:011sclheiro,'i 11111ni ..
cipais! Além djsso, este escalão suplt:mc.:nrar d:t :1glontl.!nt\~o }tl
existe. Trata-se de o democratizar e de lhe dar mai,'I lmpor1 ~tH'it1
porque a aglomeração é mais imporra11re. Por out rn ludo, ~· é:
preciso insistir neste ponto, a existência de eleitos d:1 aglnnwrn~:: o
responsáveis perante os eleitores da aglomcraç:1o n:ío s11pl'inil1·i:1
de forma alguma as comunas e os presidentes.

• No original mnim . (N. da T:)


'' No original suprncommrmnl. (N. da T.)

Scanned by CamScanner
d apresentar esta reivindicação de uma ir, .
Mas quem po e . d , . ;, O 'd sn•
128 . , de aglomeração mais emocrattca. s prcs1 entes da
cu1çao eram fervorosos partic · Ianos
' · d.e uin·i · I
...
Q) cidade-centro, que . , t,\
.e.
o ., ,, um pouco 1nenos porque as suas populaçõ ,
1/)
<{
corma Jª o sao C6
1/)
reri ' l ente minoritárias nas aglomerações.

<>
são agora geram ,, *
e . al ente a questao do departamento . As populaçõc
...
(1)
Resta 1gu m ,, . s
u.
. ,, , sobrerrepresentadas, o que nao detxa de ter conse-
rurais estao a1 ·
" . no exercício de al011mas
quenc1as o-
das suas competências , na,
medida em que tem poderes alargados. No contexto de uma rrfor-
ma de conjunto é provável que ele pudesse ser substituído, por
wn lado, por aglomerações urbanas desenhadas de forma ampla e
democratizada, por outro lado, por "regiões", forn1a iniciada pela
antiga Delegação do Ordenamento do Território e da Acção Re-
gional e que poderia ser também sistematizada e democratizada.
A região da Ile-de-France coloca problemas particulares.
O poder da região deveria ser reforçado; mas, na sua falta,
poder-se-iam conservar aí os departamentos.
É portanto claro que uma reforma constitucional é necessá-
ria para modificar o conjunto da arquitectura institucional ter-
ritorial, porque uma .França urbana e mctropolizada não poderá
enfrentar os desafios contemporâneos con1 uma arquitectura
institucional neo-rural que tcn1 origem na Revolução Francesa.
Mas como chegar aí?

Democracia participativa
A "participação'' dos habitantes, dos usudrios d,1 cidade e dos
actores da sociedade civil na concepção dLts decisões locais, e mesmo
na sua realização, é uma necessidade para adaptar a democracia

• No original dép,mrmenr. (N . da T.)

Scanned by CamScanner
7

,,,resentativa às exigências da socied,1de contemporânea. Mas nno 129


rer •
é uma alternativa. E um seu complemento. Contudo, a p,trticipa-
z
o
çáo traz com ela um projecto de sociedade funcionrindo mais por <
o
C/1
compromisso e por consenso, e menos por conflito. C")
o
3
..,
'O
o
A democracia representativa está baseada no princípio da
delegação: ao votar, os cidadãos delegam numa pessoa que ª·
C/1
C/1
o
1/)

será a portadora das suas opiniões e dos seus interesses. Eles e


..,
a
Q)
confiam-lhe um "mandato", mas este mandato tornou-se difí- ::,
o
1/)

cil de estabelecer por antecipação por várias razões. Em pri-


meiro lugar, a sociedade torna-se complexa, a gama de opiniões
e de interesses é mais alargada e mais variada e cada um reage
em função de critérios diferentes (rendimentos, género, idade,
profissão, família, etc.) segundo os problemas e as circunstân-
cias. Conceber um programa eleitoral compatível com esta
variedade torna-se estruturalmente difícil. Em segundo lugar,
muitas das questões às quais um eleito tem de responder
durante o seu mandato não se colocam, nem poderiam mesmo
ser imaginadas no momento da sua eleição. Como pode o
eleito, neste contexto, assegurar que ele é fiel ao mandato que
lhe foi confiado? Por fim, em terceiro lugar, os eleitos, quando
asseguram o poder executivo, não são j~í somente os mandatá-
rios dos seus eleitores, mas são os portadores dos interesses
gerais da sua colectividade. Devem portanto ser capazes de
fazer emergir e admitir estes interesses gerais, o que é neces-
sário tanto do ponto de vista da democracia como da eficácia
da sua acção.
A democracia representativa pode portanto ser cada vez
menos reduzida às suas fases eleitorais, do progr~tma eleitoral
inicial à prestação de contas do mandato. Os programas eleito-
rais devem ser mais estratégicos e menos do tipo catálogo: os

>
Scanned by CamScanner
. . _d- _, .,0 \n t>f '\l\ , 'lnp ~nh.H ~' nnlh , l\\._\is Sl\hrr
ca.nd1d~1.to~ .._\clll,'- \
130
_ l _ t""r,io de "l ·i"lir dt., l\\' ,'l'b1 \ ~\~ dt· ·b\, -~ l' On~
tonn.1 que · '" l
.. ' tl · d-ts {\llt'Sl'í . e $ n:.l l' l h. t'm ~ ·r :mt. ·ina(hs
creras p01~ nnn " .. . . , t- • ••
. . .. bre - ,1u.tis ·l ~ se ,tp \.\r.\,J p:u t b ; 'r v;1l •r \l\tt
As m:uona . o ·1• ,
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resses o-er:ll!'i ,-,r·-ín:is k ~l ·ordn \.: ,ln ~ pn.,hh.•mas r n "'""
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(.),
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· - d" procediment< -s <.l ' tnqu 'ntt,,
s1tarao t:
0 • 1.._'t,n~u t~\, dt

·1· -:- ~ de n·....><~ ·i.1 .·.h", ctd~t, '2 1n.lis d.lbt.'l-.\llus.


mo 6l I Z~ly-l0 '-
A ''modcrni~ 1çjo.. d.1 d ~nlulT,\ ·i,1 t ·pt't'scn ,\tiva. l\t:l:tssit~\
portanto do descn\-olvimc ntú de ~~wnm$ din.'r$:\s dr "pnrrid~
pação .. na conccpçào d ~1s Jecisôt:S d.1 Pl'J ub,·.h, · dl,~ :\ctorrs
da sociedade ciYil. i'.. fas é pn.'(iso ser prud ·ntc l:l'll\ n uso dt·sta
noção de particip~1ç io, tüo funJ ~inH~ntand~ t'~~\ uma altl' rna-
tiva ao sistema reprcsen~ltiYo tn~i~. pdo contdri(l, um •nri-
quecimento. Por outro lado , as tnndalidad ·s ' a pdti ·a da
participação conscituen1 iguahnentc probkrn.\~ difkds. sl.'ndo
grande o risco de que os accore · mais pn~par:iJo!\ ou os mais
disponíveis p~tra a particip~tçio tenham um peso qut n:·lo
corresponda ao que des efucti\·atnente r~pr ' St:nt,un numa
comuna.
Falar de democracb parti ip~tth ,\ n~io fo1. portanto grnndt
sentido. Contudo, é preciso insistir na impordncia l.'rcsct'ntt'
deste "momento participativo· . que s~ inscreve igualmente
nun1a redefinição das forn1as de construir o interesse geral.
Esta nova 'governabilidade urbana" kva com da. mais ou
menos explicitJmente un1 projecto de sociedade qu~ fund -
na mais pelo compromisso e pelo consenso e tnenos pdo
conflito. Por outro lado, a parti ipaçfu.) iinplica igualrnentc
relações novas entre decis~ío e peritos, na 1n~dida cm qu~ cstt'S
últimos não são jci definidos e n1onopolizados I elo poder
executivo.

Scanned by CamScanner
PPP - parcerias público-privada,
A associação de actores públiws e priw1dos ; nn1J/1Ji 1'P~ ,: 11raí~
sdria no orde1111me11to. Mas o proreun de [> pp e uma fi,n 11 m,,.,1
de acç1ío pttblica qu.e introduz 11a prdprM roncrprrln rins , n 'tffH
públicos lógicas p1·ivad11s. Por es111 mznn ela trm r J'l ,J/hJ r?iro ,!.
mente em discussão. Pode srr u1nfl oportunidMil' par. , rrdr wu nj
serviços públicos, mas necessita, por outro l,ull'J. de um rc(orr,1 rli1
especializaçíio pública.

A associação de actores privados e púhlit.o ~ uma 1~·,rn111l,1


praticada desde.: há muito no ordename nto. l:l g.inh.1 11m.1

nova importância no mundo cm ge ral e ru Fr;rn~ ., c rn j)JI I i-


cular, nomeadamente com novas fo rm as jurídiL,1~.
Dos foros enfitêuticos específico ar~ ao conrraw ele p,,rt t'-
ria, estas formas têm em comum o confiar a u m grupo de or1cr.1-
dores privados uma missão global de finan ci:101<.:nro, cerne.: ·p1,,.ío,
realização, manutenção e exploraçáo dos edifícios e do(, ,crvic,oc,
associados. Trata-se de contratos de longa duraç:10 no li n:il do4.l
quais a remuneração do agrupamento privado <,; as 1..:gur.1d.1
maioritariamente, ou mesmo exclusivamcmc..:, por a luglll:rc..:
pagos directamente pela pessoa pública durante roda :i vigênci:1
do contrato. O agrupamento privado pode ser submcridu a
penalidades em caso de desrespeito pelos objectivos de dc.:sern-
penho definidos no contrato, em particular no caso Jc rüo
cumprimento da disponibilização dos equipamentos. Os PPP
assentam, portanto, num financiamento privado mas com um
pagamento público.
A hipótese que está na base do PPP é que accores privad os
especializados podem ter um melhor desempenho que a admi-
nistrações públicas não somente para realizar serviços públicos.
o que não seria novidade, mas para os conceber e financiar.

Scanned by CamScanner
. m que as colectividades territoriais têm
132
Num contexto e . . urna
'd d d endividamento ltmttada e em que não deseJ·
capact a e . e . arn
... . .. ssáo fiscal, a PPP pode surgir como uma solu _
(1) aume11t,11 ~1 pre . , . . çao
.e
o . ~ , . ela apresenta tambem tnconvementes: é cara
1/1
<t: atracnva. iv1,1s , e
1/1 . des·tpossar parcialmente os poderes publicos de um

O•
·trnsca-se a · , a
..
e
CII
'parte d·,1s stias
·' ,
competências, pois o actor privado participa na
u.
concepÇa,-0 do caderno de encargos.
Neste momento, a PPP foi utilizada sobretudo para cons-
truir equipamentos, tais corno tribunais, esquadras de polícia*,
prisões, hospitais, etc. As colectividades territoriais hesitam em
lançar-se nisto. Mas o Estado exerce pressões fortes para que
elas lhe recorram. A forma é tanto n1ais interessante para ele
porque a utilização da PPP transfere para actores privados as
despesas que de outra forma pesariam sobre o défice público.
A parceria não é um procedimento entre outros. Trata-se
verdadeiramente de um novo modelo de acção pública, pois o
serviço público e aqueles que nela participam são co-concebidos
com actorcs privados que introduzern portanto, de facto, lógi-
c:1s novas na concepção dos equipamentos e dos serviços. Até
onde podem as colectividadcs admitir as consequências desta
lógica privada sem que seja posto em causa o tipo de serviço
público que desejam assegurar? Não há para isto uma resposta
de princípio. Tudo se joga de facto no processo de elaboração
do caderno de encargos, que é objecto de longas negociações, e
que deve, in fine, provar o interesse do recurso à PPP. Ora, as
colcctividades territoriais e o Estado não dispõem necessaria-
mente da especialização técnica para se situar numa posição de
força nestas negociações.

• No origin:il rmrrnes dr gmdam,rrir. (N. da T.)

d
Scanned by CamScanner
>

~tfonn.rDAfW. 1 t:1

Acessibilidade das pessoas


A acessibilidt1tlt• tia rirlnde p111-n tnrlo,1·I 11111 gm11rlr: rlr,\'t(/io 1111111
contexto urbano onde hd 11rrrssirlílrle rll' .l'f' 1/t•.rlot,11· r 111l/lr-.,11· lf 111
·meio de trnnsporte /"ª'fl aatler /ln st·11 t1-nh11/ho, /llll'ltfi1r:1r ,·omJJJrt.1',
1
:!
para beneficiar da maior parte rios eq11ip11111t 11l0.1· m/1,•,·th1tJ,1', ;,111'/t Ir f:(
11,
a casll dos amigos, etc. A 11cessihilirlntlr ,,, co11111rlo, 11111 rl,•,l'llj/o . r.·
,i,
ainda 1ru1iorpara 11s pessoas q11r sofiv·m rir 11111n 1/lmi1111l('IJ0./l.l'/t11, .,1
Ora, a F,nnça tem um tnorme r1t1,1so 1111 111,t1t'rit1. F pnm o 11,·m·,·r >,{

é preciso talvez, prtrruloxrtlmt·11tr, rltJt.1Jn•f'irtli!'.1tr r•.1·111 f/llt',1'1170 ,.


aqueles que têm n•.rpo11snbilirl11d1·s 110 1tss111110.

A acessibilidade é uma noção csscncinl do 11rh:tni.'1 1110 c o11 ~


cemporâneo. Com efeito , rendo as cidndc: nllld:ido de t'.'iç:d:1 ·
de modalidades de funcionamcnro, 11m dos pri11 d p:iis tk•.'l:din.'I
consiste em que os recursos que elas ofe recem sc.:jam "acc,'l.11fvds"
a todos. Isco implica que nenhum ohsr:ic1tlo 111:itcri:d, ~coné)-
mico, social, cultural ou jurídico poss:1 privar os ·i1;idi11os c..k
uma parte do potencial urbano.
Dizendo-o de outra forma, o ''dirciro ~ cidade" p:1s.11a pl·l:i
sua acessibilidade e a mobilidade das pessoas e do." bcw; c.: on.'lt 1..
rui um elemento-chave desse direito. ( ) dc.:.'iafio ~ 1al. pol' cHllro
lado, que nos propomos rdormular mais f1111dnm c11rrdn1 ·nl · o
campo do serviço público no domfnio do cr:1nspnnc · d ·.'ic11-
11
volver o conceito de "serviço pL1blico da acessibilidade.: 11rhana •
A noção de "transporte pühlicn,,, com dd to, p:in:cc-110,'i rcr...'iC
tornado restritiva e inadaprnda.
Contudo, a acessibilidade é ainda muitas vcics entendida
como dizendo respeito ao domínio dos deficientes. De facto,
é mesmo neste dornínio que esta noção apare ·cu e qu e é ainda

Scanned by CamScanner
r

134 ,. • · A 1Jrcsc11tc rubrica do nosso léxico tratará


ma1•s Lttilizada
portanto da acessibilidade urbana para as pessoas vítimas de
...
Q)
.t:
u
u rn .,,, deficiência• mental ou física. Mas evocaremos a noçao
l
_
Ili
~ de acessibilidade a propósito de muitas outras palavras deste
Ili
'õ léxico.
U•
e
...
(O
u.
Nós remos, apesar de esforços notáveis aqui ou ali, urn
enorme arraso cm matéria de acessibilidade urbana para as pes-
soas vítimas de uma deficiência física. A causa aparente é a insu-
ficiência dos meios que lhe consagramos. Mas a amplitude
desta insuficiência e os argumentos económicos utilizados para
explicar, por exemplo, porque não pode esta ou aquela medida
ser tomada, revela que é a nossa maneira de pensar e de agir
neste domínio que está mais fundamentalmente em causa. Para
o dizer de forma sintética, aquilo em que se fundamenta a regu-
lamentação e a acção em matéria de deficiência decorre ainda
essencialmente do registo "humanidrio". Nós sentimo-nos no
dever de fazer qualquer coisa pelas pessoas que consideramos
vítimas. E como não fizemos grande coisa até hoje, sobretudo
comparativamente com outros países desenvolvidos, junta-se a
isto um sentimento de culpabilidade. Ora, a revolução a fazer é
considerar que os diminuídos físicos não são nem um problema
nem um caso particular, mas uma das categorias de usuários a
ter em consideração de forma "normal" quando da definição
propriamente dita das obras ou dos serviços.
Não se trata portanto - somente - de pôr de acordo com as
regras de acessibilidade edifícios, equipamentos ou serviços,
mas fazê-lo de maneira que os diversos usuários possam aceder-
-lhes nas mesmas condições.
Esta cvoluç.10 é necess:iria e urgente, porque os esforços ª
desenvolver são gigantescos e porque eles não poderão ser legi-
timados política e economicamente se a questão da diminuição

Scanned by CamScanner
física continua a ser primeiro que tudo uma questão humanitá- 135
ria ~ um problema de solidariedade.
Contudo, é preciso sublinhá-lo e repeti-lo, as nossas ambi-
ções actuais para tornar a cidade acessível às pessoas que sofrem
Ci
o
ck uma diminuição física não são dignas da cultura e da riqueza
do nosso país. A mais pequena viagem à Europa do Norte ou ao
Japão, mas também nt'1ma estação de metro na China, é sufi-
-g
'/)
•,t;
o
1/,

ciente para pôr cm evidência a discrepáncia de ambição entre e


C'
estes países e o nosso; e a menor experiência pessoal de diminui- ::>
o
'lJ
ção física, por exemplo no dia em que temos dificuldade em
andar ou quando estamos limitados por uma maJa que deveria
andar sobre rodas, faz-nos ganhar consciência de que mesmo as
disposições regulamentares existentes não são respeitadas.
Ora a amplitude das acções a desenvolver tem rodas as pos-
sibilidades de aumentar por razões variadas: na cidade contem-
porânea é cada vez mais necessário deslocarmo-nos, porque um
número crescente de necessidades sociais não consegue encon-
trar resposta na proximidade, qualquer que seja a sua riqueza; o
nível de exigência em matéria de mobilidade aumenta quer se
trate da autonomia, do conforto, da segurança ou da veloci-
dade; o aumento da duração da vida faz aumentar a população
confrontada episodicamcnrc ou de forma duradoura com uma
diminuição física.
O desafio portanto não é somente melhorar as leis e as
práticas mas revolucionar a maneira como nós apreendemos a
questão da diminuição física e da acessibilidade. Parece-me, o
que é um pouco um paradoxo, que para isso é preciso desespe-
cializar o que diz respeito à acessibilidade para os diminuídos
físicos. Com efeito, a acessibilidade é tratada pelos especialistas,
no melhor dos casos, como "qualquer coisa a mais" que é preciso
ter em consideração depois de o edifício, o equipamento ou o

Scanned by CamScanner
. concebidos ou, no pior dos casos, com
136 serviço serem - ' o Uflla
. _ regulamentar em relaçao a qual nos temos de prote
rcscnçao • . _ ger.
..
Cl)
. C:- de integração das obrigaçoes regulamentares e'
E esta r.ire1,1 rnu1.•
,J;
t)
fiad-i a um subserviço especializado e "transversal"
li)
~ tas vezes c011 • •
li) r prova de 111uita convicção e dedicação mas '

0-
que deve fuze · . , . , que
..
c:
ro _ l'spo-,~ necessaria1nenre de meios tecn1cos suficientes e d
u.
nao e 1 "" e
pcs.So,:1l qtrilificado
, de alto nível.
0 diminuído físico deve portanto ser reconsiderado dentro
do conjunto das especificações de base da construção, dos
transportes e do urbanisn10. Já não se trata então de tornar
acessíveis equipamentos e serviços concebidos para os válidos,
mas de conceber ''a montante" estes equipamentos e estes ser-
viços em função do seu uso non1eadamente por diminuídos
físicos.
Esra mudança de perspectiva é indispensável para "meter
ourra mudança" nas políticas de acessibilidade urbana para os
diminuídos físicos. Mas pode tambén1 contribuir para renovar
de forma mais geral a concepçáo dos serviços púbHcos, dos
quais alguns foram apropriados pelos objectos e equipamentos
de que s;io os instrumentos. Assim, e1n numerosos domínios,
poderá ser úril raciocinar mais en1 tcrn1os de serviços às pessoas
e menos cm termos de equipamento dos locais.
Tratando-se de pessoas diminuídas fisicamente é preciso em
primeiro lugar que das possam ter uma mobilidade autónoma
na cidade como rodas as outras categori~ts da população. A rei-
vindicação "onde cu quero, quando eu quero. e ranro quanto
possível como cu quero" é uma das dimensões principais da
procura dos ci,adinos e uma condição da sua condição urbana.
É também verdadeiro para as pessoas vítimas <le uma diminui·
0
çáo física. É portanto este objectivo que deve fundamentar
esforço a realizar neste don1ínio. Implica ao mesmo tempo um

L Scanned by CamScanner
equipamento mais sistemático dos lugares e políticas mais ágeis 137
capazes de responder às necessidades de forma variada, nomea-
damente recorrendo a serviços. o
z
<
o
(1)

(")
o
3
Automóvel
...
"O
o
3
éii.
Constitui uma das principais questões para ofuturo da cidade. (1)
o
(1)

Contudo, inscreve-se num tal número de desafios, tanto imediatos ...e


C"
como societais, que é preciso esforçar-se, quando os projectos urba- 0)
:::,
o
(1)
nos o implicam, por decompor os problemas que ele põe de maneira
a fazer salientar a complexidade e a poder construir assim compro-
missos inevitáveis.

O automóvel cristaliza um grande número de desafios socie-


tais e é difícil tratá-lo apenas de um ponto de vista urbano.
Ele é, em primeiro lugar, um grande facto social. Em França,
mais de 80% das famílias possuem pelo menos um automóvel e
consagram-lhe em média um pouco mais de 10% do seu orça-
mento. Mais de três quartos das deslocações urbanas e 80% dos
quilómetros percorridos diariamente são feitos em automóvel.
O automóvel é de facto o meio mais cómodo para se deslocar
nas cidades; mas muita gente deve ser considerada como "depen-
dente" do automóvel porque numerosos destinos não são aces-
síveis, de dia ou de noite, senão de automóvel.
O automóvel é por outro lado um objecto com funções
e valores múltiplos. Serve apenas para o transporte. Também é
um lugar de vida, mesmo de relações sociais, em particular
familiares. A sua posse tem um forte valor simbólico, complexo
e diversificado de acordo com o meio social e de acordo com as
pessoas. A sua condução suscita emoções, prazeres e aborreci-
mentos, para o melhor e para o pior. Evoluções notáveis e em

Scanned by CamScanner
138 particular uma erosão do seu valor simbólico estão provavel-
mente em curso nestes domínios, em particular nos países
muito desenvolvidos, onde o seu uso é já muito antigo.
O automóvel é igualmente um desafio societal múltiplo e
,~
o
o-
rico em problemas, conflitos e contradições.
e
...
o
u. Faz parte das questões sociais, porque é caro, porque neces-
sita de uma competência específica (carta de condução) e por-
'
que é, portanto, indispensável para uma muito grande parte da I

população; 80% dos operários possuem um carro.


O automóvel, que emprega directa ou indirectamente dois
milhões e meio de pessoas, ou seja, perto de 10% da população
,',
activa francesa, é também uma grande questão económica.
É igualmente uma questão fiscal porque a fiscalidade mais ou
menos ligada ao automóvel atinge mais de 42 mil milhões de (
,'

euros. É evidentemente uma questão ambiental, porque a sua ,.


,

utilização provoca numerosos incómodos, é insalubre, poluente


e contribui em França com perto de um quarto das emissões de
co2 • É uma questão ideológica, porque o automóvel é para
alguns uma das principais expressões de um individualismo que
mina e ameaça a nossa sociedade. É uma questão sanitária,
porque a circulação automóvel mata cada ano perto de 5 mil
pessoas e fere dezenas de milhar.
Enfim, e para voltar de novo ao assunto, é uma questão
urbanística, porque as cidades foram largamente concebidas no
século xx com base no uso do automóvel, porque as formas
urbanas que tendem a impor-se na nossa sociedade estão ligadas
ao seu uso e porque há actualmente motivos sérios e variados
para limitar o seu uso e porque um certo tipo de urbanismo
pode contribuir para isso.
Este contexto societal explica a complexidade dos interesses
e das posições de uns e de outros. Por exemplo e para o dizer

<
Scanned by CamScanner

7

Híntcdc;trn t ll tc, :w l:i i-,t•i; m ·dí;1> fo v<H' , id;,1; '!I' , h:1birnm pt·<:,- 13 ~
domínarll(;trw11re 11 :1 icbd ..,, :11u·o 1f?rn ,, ht.híro d, u~:Jr 0 :1
tn111,qp0rtcq col " .tl vun · :1 bí ·íd ,·r:1, fí>n,1:1) d~ dr•,l()(.;:1<;âc> ~111,ig;1-
mcntc r •<1crv:1da- liri b r, ·r pop11l;,r,·;, s;tJ<jllMH <> , ,. op •rál'io:; (A
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que h~bítam c Lr'ih:dh;u,, ,,a p ·ríl~·rí:1t't>t ií <> m11í,,> :ig:nn1d,,t ao ;:j
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uso do auw m6v ·I. CJ I pr/JprífJ i ín H~ 1íd,uVi em·:ío m11ít<J di vídí-- o
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local onde J-rnbírarn e: ,,nJ · . · p~w,d:1111 , ,m, i hor,1:h i_u, mcdid:n


que lími wrn o ,cu lfl10 n:1·1:r,o n:1 q11 • dc:v1.:1r1 ;Hr:1vc·1•1a.r.
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o
1/l
Este conrcx to c;1;pl íc;t 1:10,l,é ,n 'f"~ cprnkp,cr problema
urbano qu e.: , (h: pcrtt> 011 de long ·, í1r1plí(JUC o :111t(Jm6vd tem
tendência para dc1icncadca r d ·l,:Hc 1i ·;obre: ,,uc·,tf>c'i <lc ·md cdadc
muito mai i, gerai •,, c:orn n rí u , J c c•;cc1; debatei; a.,c civarcm
grandes oposiç{Jcc, pc,Htíct:1 e íd ·0Mgic~1:; e torn arem
1
, ~1 acção
mais dífícil.
Ac, acçóc.i; urba11íc, Liu ,,, c..o ncr ·t:1·1 911c impliquem, de perto ou
de longe, o aucomrívcl (ph1nn·,, pmjc.:cro·;, ,,rdcnamcncoç, rcgu-
lamcnt0s, car.;,~, crc.) dc:-vcm pCJnanin, Lal vc:z um pouco parado-
xalmente, trahalhar <;obre ~• cornpl ·xidadc.: porc1uc c•;ca é uma
co ndíç5o indi,;pcndvd pa ra a c.cm ·jtru ç:ío do.'-i incvi r:ivcis com-
promiS'iO!-,. (.: prc:ci•;o, por hc;o, ,,íwar c:1Ja projccto na sua rede
de rcn,;ócs e de contrad içt)(.: 1, , <.: ntn: o·, in rc:n:,;,eç de acrorcs de
roda a c.r,pécíc.: e entre o cuno prnzn t o l,rngo pra'/,o,

Intermodalidade
O intereJSe dn i11u rmod,,/ítlr1de, que é umrt gmnde rtJHJsla dt1s
mnbilíci11rle1 urb1111111 crJntemporímeas, parle drt consttlfttçiío d1t
compíeme11rr1ridnde dos rlivenm rnodor de 1rr11uporte em numems,ts
circu111tft nci111. MaJ ,, 1eu de1r11volvím<.•nto é 1dnd1t demasit,1das
TH:Ze1 entravado ou ín,11Jidente11u:11U desenvolvido por força das

- -- - - - - -- - .....J
Scanned by CamScanner
140
lógicas especialiwdas dos actores do transporte, do localisrno das
escolhas urbanísticas e do peso da ideologia anticarro.
...a.,
.e
(J
C/)

ex: A mobilidade urbana evoluiu muito: os citadinos, tanto homens


C/)


u-
como mulheres, de qualquer idade, deslocam-se cada V~l mais;
c:
...
m Fazem-no por motivos diversos; vão a lugares variados, tomam
u.
modos de transporte diferentes e utilii.am itinerários que mudam
segundo as circunstâncias. A mobilidade urbana é portanto cada
vez menos rotineira, mesmo se as deslocações casa-trabalho conti-
nuam a desempenhar um papel bastante estruturante.
Os citadinos não utilizam necessariamente sempre os mes-
mos modos de transporte para as mesmas deslocações. Desejam,
nesta matéria como em qualquer outra, dispor de uma escolha:
hoje vou de carro porque vou também fazer compras; amanhã,
se fizer bom tempo, levo a minha bicicleta....
Nos seus percursos os citadinos atravessam fragmentos de
cidade heterogéneos onde o desempenho dos diferentes modos
de transporte são desiguais: em zona pouco densa os meios in-
dividuais são indispensáveis, enquanto nas zonas densas os
transportes coleccivos são mais eficazes.
Os citadinos tornam-se portanto necessariamente multi-
modais. Têm igualmente necessidade de uma grande intermo-
dalidade, para poder passar o mais facilmente possível de um
modo de transporte para o outro.
O desenvolvimento do uso de transportes colectivos nas gran-
des cidades depende assim largamente da qualidade da inter-
modalidade, porque uma parte importante das zonas de habitação
e de emprego é dificilmente acessível "até ao fim" graças aos trans-
portes colectivos. Este problema do "porta a portà' ou do "pri-
meiro" e do "último" quilómetro coloca-se também por outro
lado na zona mais densa, quando as malhas das redes de transporte

d
Scanned by CamScanner
,i;ll) J~(J HJlllill fí· ·h~1d:111, ln,, j}•Jd,· ,.;I'
1 l'f t:tJl11ld111w1,n1, p •lt;(, ttm1:;.. 1/41
port , ín llvíd11:1I,, o I p ·b lw,·r111od,dldo,J,•,
A l11t ,,·,,Jt,rhtllJ:1d,· (; rn11il,t:,11 f~ lH1 1,! lu1y, r,,, (, ,11 ,vi,:,
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!idade, d 'J' ·11d d<: ·l ·111 ·11111 dív •r ,<n, 1,1:111 '>1,l,; •1q1fo rb
·1r1 1

facilidade e da ln· ·vídad · da JW u,a1~1;1n d · 1or1 ,,, ,;,, ti,: tY'III


11
,,,
porte parn o outnJ, ( :rn,wdc,, o·i lo ·d11 í111,·r,r,,,d:1í11 I ,, l1•1fl
também acCJlh ·t· ,;q11íp~11t1 ·11to1 e.: • ·rvíc;or1 (11 ·Ír p:irfi or. it:1dín1J·1
cm rnovhucnto, 0111 o d ~o de · 11 ", , • d ·m,,n,r •rn 11:1 p at/i:l,st.'.tf1

<lc um Jflf)dc, de tra11·1portc p:tl'~l o uutt·o,


A inccnnod:tlidn le com rn :tut<Jr11(,v •j índí 1id,1aí1, r ·pr •u~m·~,
1,

um desafio particular. Supôc 11m c1.fon;o ·1,p, i,,l ,·,n tn;1térí:1 dP


csrncionamcnco d<.: auwrn6vci . Nc ·,, ira ll'HrJ ·ad:un •nt · d,,
11
dcscnvolvimcnro de parq11c• intcrmodah" artk11l:1d,,·, C1 Jtr1 ;1•1
rcJc•; de tranc.poru:!l colectivo (e nfü, :,ornt:11cc 110, 1'► ·u i t ·rrní,
110s). Ora a constru fü, d<:~Lc ; parq11e1, ·olo<..:t por vr:1,e11 prol 1•w
mas, nomcadarrn.:rllc qwrnd<J w, pn:,ídcn1c1, de comun íls
dispondo de cstaçúc'{ ímportantcr: n:ag ·rn !i, ri~¾Çâ() de quíp:i,..
rncncos c1uc se arri scam a drenar ainda maí11 ci n;11la :1o ;rnwrnl,..
vcl para a sua comuna. Acontece igualrncnt · q11c a11ím:tdori pda
vonradc de lutar c<>r1tra o w10 do a11corn6vd i11dividual tk~um:t
forma geral, ou para prot'cgcr o,'1 cu'l vizinho:1-d citt1r ·•, O' rc 1
-

ponsávci,; locais organizam a (·s,as· C't, do •r1tacionamcnw :1 H<, ..


móvel. Ai está uma política de vistru, curt;)Jl c:1L1c acalJa J'.>or
pcnaJizar locais que poderiam desempenhar um útil papd inter-
modal.
Pelo contdrio, a qualidade da intermodalidade.: pode tornar
locais particularmente atractívos ou mesmo t.rai1 lormá.. loll cm 1

Scanned by CamScanner
, . ,, seJ·a, que são ao mesmo tempo pon
" I cas giraronas ' ou ., tos
142 Pa d e lugares de conexao com outras red
. de uma re e
centrais . . d . es.
... rnarn-se assim 1ntermo ais e parecem-
Q) As grandes gares to . . se
.!:.
o des centros comerciais.
dal'd d . 1·
li)
<t com os gran
. ento da intermo i a e tmp ica o abandon
li)
'õ O desenvo Ivim ,. . o

e: . d . especializadas, transferenc1a de competência
...
(O
de lógicas mo ais . s
LL
, . d circulação e esrac10namento e o recuo das ideo-
em matena e
logias simplistas antiautomóvel.

Mobilidade (central de)


Uma das apostas-chave dospróximos anos no domínio dos transpor-
tes e dos serviços públicos será o desenvolvimento e o controlo das cen-
trais de mobilidade, dispositivos que integrarão num mesmo sistema
todas as infannaçóes sobre os modos de transporte em tempo real

A noção de "central de mobilidade" não está ainda estabili-


zada e tem significados variados. Pela nossa parte entendemos
que é o dispositivo capaz de dar uma informação em tempo real
a rodas os citadinos sobre todos os meios de transporte e sobre
rodas as modalidades possíveis para efectuar uma deslocação.
O objectivo é o de alcançar um sistema que possa, por exem-
plo, responder a uma pergunta efectuada de um telefone móvel:
"para ir de A a B, tem três opções: pode tomar o autocarro nú-
mero 92 que passa daqui a seis minutos na paragem ao pé de si,
depois tornar o metro na estação C, onde tem correspondências
a cada três minutos. Cheganí assi m pelas 17h35 a B; terá gasto
x euros e terá lançado para o ar y gramas de co2• A segunda
opção é pegar no seu automóvel. Há lugares de estacionamento
disponíveis em B. O custo da sua deslocação será dez euros e a
sua emissão de carbono de w gramas. Deve demorar cerca de

Scanned by CamScanner
7

111·la l11m1, Míl!, c111 caso de engarrafamento, pode também dei- 143
x:ir O11c11 ca rro c.: 1n caminho, na estação de metro e, onde há
llll',Hl'l:'l dt '1la<..:Í<111r1111cnto disponíveis no parque de estaciona- 2
o
<
o
111c1110 de ;1poio, Por firn, como terceira opção, pode tomar um (/J

C)
r:íxl. H;í u 111 livre 11cste momento a 6 minutos da sua casa. o
3
( ) pr ·<;,o nc l'a (1e ...."
1 ...
'C
o
3
Um tal db pnsitivo não coloca problemas técnicos para a sua 1/1
1/1
o
1/1
r ·aliza(;:io. 1k facto, existem já algumas experiências muito .,e
cr
t1v,111r;~itht: . F,m contrapartida, choca com a lógica dos actores e Q)
::::::
o
plk prohl('rnas i11stitucionais e organizacionais que limitam (/J

11 1uito o seu desenvolvimento. Os transportes públicos, a circu-


h1~âo, m: táxi~, etc., dependem, com efeito, de autoridades
pi'll,lic:as rnuito dift:re1Hcs: mesmo no seio de cada sector, os
, n11flito11 e a co11corrt ncia são grandes e a ideia de partilhar, por
cxc1r1plo, uma informação em tempo real não é um dado adqui-
ridoi por rtm, vários actorcs desenvolvem sistemas próprios,
prc.:ci ;unente para consolidar as suas posições.
A centrais de mobilidade poderiam - e deveriam - ser nos
pr6xi111nNanos um instrumento-chave do "serviço público da
111obilidadc <..: da acessibilidade urbana", porque as deslocações
do11 citadinos ~rto variadas, multimodais, decididas com pouca
~u1ttcc'1611cia e porque os próprios critérios individuais de esco-
llt:1 entre diferentes modos de transporte mudam de acordo
<.:cm, a8 circunst:tncias.
/\8 tl!ntl'ais de mobilidade vão portanto constituir um grande
doiaÍlo. Scrfto nfto somente a chave operacional deste novo ser-
viço público, mas scrrto igualmente decisivas para a concepçáo e
a gestão dos transportes numa aglomeração. Também importa
que os poderes p{iblicos se comprometam na realização de tais
dispositivos e que conservem o seu domínio, dispostos a apoiar-
~1:1c.: cm actor:cs privados para os realizar e os fazer fúncionar.

Scanned by CamScanner
es empresas de transportes colectivos comer-'l
'144
De focro, as gran d , . , . 'r"-
. •r.car-se (no don1m10 dos tax1s, do aluguer de auto-
ram a e11versu1 • , .
... bicicletas) e a dotar-se, por sua propna conta 1 de
Q)
.e. carros e <.1e ..
u .,. d centrais de mobilidade. Alguns dos seus responsá-
~ em11r1ocs e
Ili . . t m-se mesmo se amanhã a chave da drenagem do

Ü•
veis pe1gun a _ ,
1:
e valor acrescenrado nos transportes nao passara por este canal
u.
de informação e de coordenação, mais do que pela realização do
cransporre propriamente dito. Mais uma razão para que os
poderes públicos locais e nacionais se ~obili~em muito mais
seriamente do que hoje sobre esta aposta. E preciso em particular
que uma nova geração de planos de deslocações urbanas se preo-
cupe não somente com a qualidade do ar, mas também com 0
desenvolvimento e a qualidade da mobilidade dos citadinos e
com O desempenho de conjunto dos sistemas de transporte.

Portagens urbanas
O acesso pago a espaços públicos introduziu uma discriminação
social no uso da cidade e arrisca-se a aumentar a especialização
fimcional e a gentrificaçáo dos centros das cidades.
O acesso a certos serviços públicos foi sempre pago. Mas
hoje é o acesso ao próprio espaço público que tende a tornar-se
pago, pelo menos para aqueles que utilizam automóveis: para o
uso de auto-estradas urbanas, de túneis, de pontes e em breve
talvez, como nalguns países estrangeiros, para o simples acesso
ao centro das cidades.
Este último tipo de portagem urbana chamada "de regula-
ção" (por oposição às portagens que servem para financiar infra-
-estruturas específicas, pontes, túneis, etc.) começou, com
efeito, pelo estacionamento pago, que geralmente não serve
para financiar nen1 uma infra-estrutura nem a gestão de um

Scanned by CamScanner
cqt1ipnme1Ho ou de um serviço. É uma taxa, muitas vezes 145
1110dulávcl, utilizada para regular o estacionamento ou, de
2
forma mais vasta, os transportes e a circulação. Visa muitas o
<
o
vt:zcs dissuadir o uso d.o automóvel em certas zonas. li)

Mas, desde há alguns anos, vemos desenvolver em , .


vanos
("')
o
3
-o
...
países uma nova portagem de regulação, que abrange todos o
3
êii'
aqueles que pretendem penetrar no centro da cidade de auto- li)
o
li)

móvel. Os efeitos desce tipo de portagem merecem ser analisa- ...e


O'
dos de perto, porque podem ter repercussões muito importantes Q)
:,
o
li)
sobre a selecção das actividades e dos residentes das zonas pagas.
Certamente que podem aliviar o tráfego e fornecer recursos
para-fiscais mas podem igualmente expulsar actividades e popu-
lações para fora do centro das cidades e acentuar fenómenos de
ccrciarizaçáo e gcntrificação.
A portagem urbana de regulação coloca fundamentalmente
a questão da equidade, uma vez que o mesmo preço não tem a
mesma importância para as camadas modestas do que para as
camadas aba.c;cadas. O seu princípio de justiça "só pagam uma
taxa sobre a congestão no centro aqueles que entram de auto-
móvel" resulta, de facto, numa forma de dissuasão socialmente
muito sclcctiva. O facto de que se possa aceder ao centro por
transportes colectivos não compensa senão parcialmente esta
selecção pelo dinheiro. E o argumento utilizado, por exemplo,
cm Londres, de que o dinheiro desta portagem de regulação
serve para financiar outras infra-estruturas de transportes colec-
tivos, não a transforma por isso numa "portagem de financia-
mento". Trata-se de facto de uma taxa que penaliza de forma
diferenciada, de acordo com a sua riqueza, aqueles que querem
utilizar os serviços e comércios do centro da cidade. A portagem
de regulação para os centros das cidades parece portanto uma
medida a evitar tanto quanto possível.

Scanned by CamScanner
~
1
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TranNferênda nuulal
146 ,r, .A e,·,, /ttl r/11 ,111tmnt111d p,0,1 /1'1111 1/'firtr, 111,1;,
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e
r: crp11u pn •'J' ,, r ., , , ,
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1:.steJ J/tios, que JIÍfJ Krt111tln l'J/ Jll('fJI puhllrm dtlJ dt!,1dn, rltllf lJ/ Ur'
tmlftdm com r1ten(IÍO. () q111· /J!ft'/1?.lill'lltl' llt/lJI JJtmpr,· I n t i/to,,,

A tran'iÍcréncí:i ,nodal do ;111ron1/,vcl p:ir:1 o i 0111 ro,1 modo~


de transpon c torno11·~C 11m gr:1ndc dc•1aíio, M:1 1, 11: ,, é lã ·li pto•
por uma ofcrr:1 de transpon c colllJH:IÍI íva !1 r: cala dc, 1 lndivf- 1

duos, de cal form a o au1om6vcl tclfl 11111 hom d<:1,cmp ·11lto 11:t.~
1
cidades, apc'iar do ., cu Cll'>lO e do'I cngarnif:1111c1lf 0 , ,

Uma soluç:io con 'iÍhlc portanro, m11i10 impl · ,111 cn1 c, c111
proibir ou cm rc,1 ringir for1 c111cn1 c o 11•,o do a1110111 (wcl. lt.i 10 é
pos~ívd cm ccno,; loc 1is onde cxh1 c111 alr crnativa'-1, riornc:1da-
rncnrc no, hipcrcc111 ro,. Ma, o rí •,t:o (; tpu:, cm 111~:ir de uma
cransfcréncia modal, ~e a,,í, ra a u111a dc,locaç~o d~1~ pr6pri;t\
acrividadc~, indo c,1a, par:1 onde 0 1-i ~111romohílici1a.'l po ~1,;1111 d r-
cul:u e c~1acíonar.
Urna ou1ra po,,ibilidadc é ofcrc(. ·r !íOIIJ(;(>c~ alternativa ~ de
qualidade. Faz.cm•no n11mcm,ali cich1dc, dc:'lcnvolvcndo tram•
poncs cm ., ítio pr6prio, no111c:1darnc111 c o'I 1r1111111111y1. 1)e foc:lO,
o éxiro <lc~tc.\ t'dtimo'i 1cm 11111Í1.th v c1,c ' ult rapa•.,ado a~cxpcc.w•
rivas cm termo.-. de frc<-1uc:ncí:1. Con111do, w,cstudoc; 1110-.1rn111

que a tran!iÍcrénda modal dos at1tomohilí'i t:1 'i é t,crnprc mui to


fra ca e inferior a IO'¾,.
Nesta.., conJíçúcs, a tran,fcrénd a 11H><h1l 11.ío pode, porwn(O,
ser a ju'itiíic:içáo principal dclitc'i 1ransponc" cm !lítio pr6prio,
Todavia a t,ua urílícfadc não oferece dt'avidac;, porque coutrihucm

Scanned by CamScanner
li

para melhorar o fundonam ~nto do cnnjunto dos sistcm.,~ {e ' .


transporte locais. S~'io também um~t oportunid,,dl' p.lr.\ r -.,H. ;tr
operações dt! urbanis1no. tvfas a escolh,t de müdo., de tr.rn~p< rtc- ..
em sítio próprio deve ter em onta o , l'U d~it, limir.tdú 'tn '
termos de transforencia 1nodal. ~,fuitas cidades qul.' f ' .tli,Jr.tm
j,í várias linhas de tramway 1nudam assim p~1r.1 sistt'm:1s m~1is
ligeiros ?t base de autocarros dpidos em sitill pn)pric) e cujú..,;
efeitos, em tennos de transferencia mod:1t s;io pmtk.tm<.'ntc
equivalentes.
Por outro lado, os sítios próprios são intl.'rv-cnç6cs pcs.td,,~
em termos de espaço público. Os t1,1mwrlJ'S permitiram assim
renovações urbanas profundas. O seu deito urbanístico foi pdl)
menos tão importante quanto o seu efeito como meio d~ tr.rns-
porte. Em contrapartida, os corredores lms são muitls vc2cs
negligenciados do ponto de vista do ordenamento. 1 len}(l'tn,
contudo, esforços de qualidade porque n.ío s:ío apenas t~cnk.ls
de circulação. Infelizmente, nem todas as cidades d.io a atcn ,lú
necessária a este tipo de ordenamento e continuam a frLcr dos
sítios próprios apenas uma questáo de circulaçáo e de r~d~
viária.

ÜRBANlZAÇ1\0

Densidade urbana. Densificaçáo


A densificação pode ser ttm meio de reduz ir rts mobiliriule:s cm
geral e de favorecer os transportes colecti11os. Pode, portt111to, St!r erolo-
gi.camente legitima. Porérn, choca com a p1·ot·1111z de cr1s11s i11tlivid11,tis
e de espaço. Não é tambérn uma fórmulll mdgica porque tt nptimi-
zação das deslocações numa aglomer11çáo é complt'xtl l' pnssrt <'Ili pri-
meiro /ugarporformíls urbanas polarizadas eaxirzli:uulns, compatív1:is

Scanned by CamScanner
~ ----·-

,1u no /imitf com ::.,m11s til' bai.,·11 rlt:11sirlt1tle. Por outro lado rt den ;-1:
º ' S1J,ca-
'
r /{) h'III t,1111h, m ('//Sf().1' '7/lt' ll(Í(J Sl' podem l/(!glige11d111:
1

...111
_ç::
(.)

~ Um dos mnron.:s principais do dcsenvolvi1nento das cidades


·3.e foi sempre o potencial d~ recursos de toda a espécie que oferece
it O r~agrupamcnro dê homens e de bens no mesmo lugar e as
economias de transporte que gera111 a proximidade. Hoje, mais
do que 1urn<.:a. no conrcxro da mctropolização, as cidades mais
di1dmicas siio aqudas onde o mercado de trabalho é maior e
mais divl'rsificado, onde a gama de actividacles e de equipamen-
ros ~ mais aberra, onde a mobilidade é mais fiicil.
A acessibilidade aos recursos da cidade passa por um lado
pda sua concentração espacial, por outro lado pela velocidade
à qual se pode cfcctiv:unentc atingi-los. Durante muito tempo
as técnicas de construç:1o não permitiran1 trabalhar com a den-
sidade para aumentar a concentração espacial, enquanto as
vdocidadl's de deslocação, idênticas para as pessoas, os bens e
as informações eram limitadas pela de andar a pé e pelo passo
do cavalo. Ocorreram mudanças no século XIX, a construção
mcdlica e o bec:ío por um lado, o caminho-de-ferro, o tramway
e o elevador por outro, t~ndo tornado possível uma mudança
de escala das cidades com a densificaçáo dos centros e a urbani-
zação das periferias. É na América do Norte que este duplo
processo de verticalizaç:ío e de horizonralizaçáo foi o mais
visível, com os arranha-céus e os subúrbios. Mas ele transfor-
mou igualmente as cidades europeias.
Nestes últimos trinta anos o potencial das cidades voltou a
crescer subsranci:tlmentc.: graças ao aumento das velocidades
médias de deslocação das pessoas (de mais de um terço, funda-
mentalmente cm virtude do uso crescente do automóvel) e das
informações (com o desenvolvimento de novas tecnologias da

b <
Scanned by CamScanner
,

informm;Ho e <.b cnnuinl aç:io). <) ·rc ·d 111c1110 d< vdoci<ladcs,


1
149
que foi ;1compnnhadn lll111bén1 po,· uma major autonomia indi-
vidual nos tntns1 ortcs, i11flu ·11 ·io11 prof'undarncntc a.11 formas z
o
e
o
urbanas. ''(-;•ndo-s • a pr()xin1id:tdc H1ika wr11ado rncnr s necessá- C/1
(')
o
ria, o csp:1ço tornou-se n,ais a~cssfvd: a dimc11sfto das habita- 3
...
'O
çücs aumentou e c..·s,,as Mio aco111p::111hac.b., m~is frequentemente o
3
por jarJins priv;:iclos, (:nqu:rnw :1s cid;-id ·s se dispersam ou até se ~·
C/1
o
(/)

fragmcnt:1111. e
1 a-
Esra forma t1rba11:1 \lispcrsa'' hascaJa globalmente nos QI
::,
o
C/1
ganhos cm vdocidndc 111:iis do que a partir cbs densidades,
coloca problcm:1:-;, principalmente por causa dos efeitos
ambientais dos tra11.~porrcs individuais, forces emissores de co.z .
É preciso rcntar minimizar os rransportes cm geral e os trans-
portes individuais em part·icular. Podemos fozê-lo em parte fun-
cionando mais com as densidades: seja co nstruindo mais alto,
seja de maneira mais compacta. Um tal urbanismo pode ser
atractivo para certas actividacles e certas categorias da popula-
ção, em particular aquelas que fozcm um grande uso da proxi-
midade física e dos encontros face a face. Sê-lo-á menos para as
actividadcs e populações <.{UC privilegiam o espaço útil.
Assiste-se portanro ao desenvolvimento de políticas urbanas
que se esforçam por "dcnsificar". Meios diversos podem ser uti-
lizados, incluindo regras como a inversão dos coeficientes de
ocupação do solo com :1 fixação de densidades mínimas. Em
zona pcriurbana, é mais vi:ivcl trabalhar com o recurso a tecidos
compactos, tentando limitar a fragmentaçáo. O reagrupamento
dos equipamentos permite também uma dcnsificação baseante
activa através de fenómenos de polarizaçüo.
Contudo, é preciso ser particLLlarmente precavido nesta maté-
ria. A densihcação não se deve traduzir, por outro lado, por un1a
baixa gcncraliz,ada das velocidades, porque isso arrastaria então

Scanned by CamScanner
1GO uma perda de acessibilidade do potencial urbano e portanto urn
empobrecimento do conjunto da cidade. A diminuição das velo-
..
(1) cidades poderia também ter efeitos perversos, pois faz subir 0
.t:
u
li)
«t preço do espaço (e o risco de, por exemplo, aumentar a gentrifi-
.!!?
o
U•
caçáo). Além disso, pode encorajar a urbanização numa periferia
..
e
(1)

u.
ainda majs afastada, onde as velocidades são mais elevadas. Por
fim, os efeitos da densificação arriscam-se a ser muito lentos,
porque ela só é possível no novo parque habitacional, e apenas
sobre uma pequena parte deste (10% da construção anual repre-
senta apenas mais de uma milésima parte do parque existente).
A densificaçáo pode, desta forma, ser um objectivo urbano
em certos contextos, mas não poderá ser a palavra dominante
das estratégias metropolitanas como o vemos afirmar por vezes
de forma muito ideológica. A optimizaçáo do conjunto das des-
locações e mesmo a minimização dos transportes individuais
são necessárias mas não podem ser reduzidas a medidas regula-
mentares de densificaçáo. É preciso trabalhar de maneira mais
complexa sobre as formas urbanas desenvolvendo polarizações e
axializaçóes, o que supõe que os objectivos de ordenamento
devem adiantar-se às políticas monofuncionais de transporte.
Por fim, a densificação de uma zona pode implicar despesas
em infra-estruturas, nomeadamente de transporte, sobre as wnas
envolventes. Mas os benefícios das sobredensidades realizadas em
certas operações imobiliárias, partilhadas entre o promotor imo-
biliário e a comuna como o vemos cada vez mais frequentemente,
deve também servir para financiar as infra-estruturas de transpor-
tes. Atenção portanto a que a legitimação ecológica das densida-
des, de que alguns promotores imobiliários podem usufruir, não
conduza a sobredensidades dispendiosas para a colectividade!

Scanned by CamScanner
Dispersão urbana
151
Certamente que é preciso lutar contra as formas urbanas
ambientalmente incorrectas, mas é preciso também ordenar a 2
o
<
o
cidade de baixa densidade de forma a torná-la compatível com VI
(")
as exigências do desenvolvimento sustentável. o
3
-o
-,
o
3
A dispersão urbana é uma expansão de baixa densidade das VI
VI
o
VI
cidades para uma periferia cada vez mais afastada. É gerada por ...e
C'
uma procura acrescida do espaço habitável, de casas unifamilia- Q)
:l
o
VI
res e de jardins privados e muitas vezes pela rejeição da densi-
dade e do ambiente da grande cidade. Diz respeito também ao
emprego, mais particularmente para as actividades de fraco
valor acrescentado ou quando o número de empregos por
hectare é baixo. Torna-se possível pelo uso do automóvel indivi-
dual e das telecomunicações e pelo deixar andar, ou mesmo
com o auxílio dos poderes públicos comunais e departamentais
das zonas periurbanas. Os citadinos dispersos pertencem muitas
vezes a camadas modestas, que trabalham frequentemente na
periferia e que consagram uma parte importante do seu orça-
mento aos transportes.
Lutar contra a dispersão urbana surge como um grande
desafio para o urbanismo em França, assim como em numerosos
países. O principal motivo é de ordem ambiental, pois a disper-
são urbana implica uma forte mobilidade individual e portanto
emissões importantes de gás com efeito estufa. A expansão
urbana é igualmente acusada de degradar ("retalhar") as paisa-
gens e de ser fiscalmente injusta porque os periurbanos não par-
tilham os custos da centralidade e dos seus equipamentos dos
quais contudo usufruem. _
Face aos problemas colocados pela dispersão urbana, duas
opções são possíveis: por um lado, a luta contra a urbanização

Scanned by CamScanner

. . ,uburbana com base em casas individuais e
enur d.Od e - o
. nco de operacões
. n\~o \,me , de urbanismo visando provocar
___ 1 ~ - .-=jden iar' a p~litir do individual agrupado e dQ
Ufl G reJ..:.Ç20 L \.... l

... ueno olectiYu em zona densa; por outro lado, a luta contra
<
_, 5
cfciros ambien almenre incorrectos deste ripo de habitat,
_ _
. .1 1
G.
e nce ão de loteamentos e de casas de alta qualidade

• n~
cll11 lêl --t
Lat .
desen,·oh-imenro de cransportes de acordo com a
oro :ura e em in termodalidade, a polarização dos equipamento
de proximidade em microcencralidades, a coagulação da urba-
niuçío em zonas mais compactas etc.
E ras duas opções não são contraditórias. Nfas a primeira
é mu.iro \·olunrarista e muito ambiciosa, porque deseja modi-
ficar os modos de Yida e as procuras de habitat (sendo a casa
ind.i -idual a escolhida pela maioria em todas as sondagens).
_-\. segunda é mais realista pois visa tornar os actuais modos de
,-ida compackeis com as exigencias ambientais. Todavia, esta
última aparece como muito pouco legítima entre os urbanis-
[25 que se debruçam raramente sobre as inovações possíveis
para fab ricar a cidade durável em baixa densidade. Muitos de
entre de-s querem, de facto , mudar a vida das pessoas para
mudar as cidades! ~ Ias as mudanças de mentalidade arriscam-
-se a demorar tanto tempo como as mudanças das formas
urbanas. É preciso, portanto, esforçar-se muito para tornar
mais duráveis as cidades tal como se encontram já dispersas,
mas sem por isso penalizar as populações modestas que são
os seus p rincipais ocupantes. Ordenar a cidade dispersa
consrirui, assim, um dos grandes desafios do urbanismo.
É, porém, muito negligenciada por diversas razões sociopolí-
ticas e ideológicas.

Scanned by CamScanner
Habitat intermédio 153
Existe toda uma gama muito prometedora de compromissos
2
..
I ', entre habitação individual e habitaçáo colectiva. Este tipo deforma <
o
o
'· urbana pode atrair uma pequena parte da clientela actuaL da casa '(')"
'i
o
individual. Mas isto continuará limitado e náo deve, por isso, -
, :;

r. esconder a necessidade para os urbanistas e os responsáveis ÚJcais, de a


levar em consideraçã,o o que fundamentalmente motiva a procura
-
•,i
Vi
,. o
f/l
'
de casas individuais periféricas. e
...
"' Ç'
:.i
:::
o

.,
Habitat intermédio, individual agrupado, casas de cidade, '"
habitação en1 banda, semicolecüvo e pequeno colecti vo, realiza-
dos em pequenas operações com uma identidade urbana bem
'' marcada e espaços públicos quase comunitários, são muitas
vezes do agrado dos urbanistas. Estas formas de habitat surgem
como compromissos possíveis entre a procura de individualiza-
,,
1. ção dos espaços da vida quotidiana e as necessidades muito
socializadas da vida urbana, ou mesmo entre uma procura de
uma comunidade de vizinhança e as liberdades potenciais que a
cidade oferece.
Estes pequenos bairros urbanos, geralmente monofuncio-
nais, parecem ser rambém escalas bastante pertinentes para
montar operações imobiliárias com acrores privados e para tra-
tar toda a espécie de problemas, quer se rrate da segurança, da
gestão dos espaços de transição, do lixo, ou, mais recentemente,
das economias de energia ou da reciclagem.
Respondem com roda a evidência a uma procura. Mas mui-
tos urbanistas pensam que eles são também suscepáveis de des-
viar uma parte significativa da procura que se dirige a casas
individuais na periferia e que esta fórmula urbana deve ponanto
ser vigorosamente promovida como insrrumento de lura contra
a dispersão urbana. A hipótese destes urbanistas é que muitas

-- Scanned by CamScanner
.........

154 das fàn1ílias que escolhem a casa individual na periferia só 0

fazern porque são forçadas a isso pela ausência ou pela carestia


...
QJ
.e
u
de programas adaptados à sua procura no próprio interior das
V)
<t aglomerações. Sublinham a importância do orçamento para
V)
'õ transportes destas famílias periurbanas e a sua dependência em
u-
c:
...
<ti
LL relação ao automóvel.
Mas se o "habitat intermédio" é para um certo número de
citadinos um compromisso sedutor e que a sua forma mais aca-
bada, a "aldeia na cidade", associa representações positivas
a priori antagónicas, não é contudo seguro que esta forma
urbana possa suscitar uma transferência residencial maciça da
procura de casas individuais. Todos os estudos sociológicos e
de mercado, com efeito, põem em evidência que grande parte
da população deseja habitar numa "verdadeira" casa individual,
com jardim e se possível num contexto que evoque o menos
possível a cidade. Os estudos mostram igualmente que estas
famílias não ignoram os custos e as restrições que este tipo de
habitat é susceptível de trazer e que eles não estão "mal informa-
dos" nem são "irracionais". De facto, um bom número destas
famílias "não gosta" da cidade e não tem com ela senão uma
relação utilitária e obrigatória, a cem léguas dos valores que lhe
atribuem os urbanistas. Mas é também com estas aspirações,
estas representações e esta procura que é preciso fazer a cidade!
Poderá o novo contexto ambiental alterar estes comporta-
mentos? Haverá certamente evoluções se os poderes públicos
taxarem fortemente ou penalizarem de uma maneira ou de
outra este tipo de construção e estes modos de vida. Mas há
muito poucas hipóteses de que a dinamização da construção
intra-urbana, com o desenvolvimento do habitat intermédio e a
densificação das periferias próximas seque espontaneamente os
fluxos que alimentam a dispersão. A "transferência residencial"

<
Scanned by CamScanner
1'
'
\
·~
que o desenvolvimento deste tipo de operação pode suscitar 155
arrisca-se a ser limitada, mas não quer dizer que esta forma ur-
2
bana seja menos interessante: ela pode ter um efeito exemplar, o
<
o
mesmo "pedagógico". Mas seria certamente muito eficaz tam- (/)

(")
o
bém que os urbanistas se interessassem pelas formas de habitat 3
...
"O

que fazem sonhar a maioria dos franceses e que inventassem o

formas urbanas e funcionamentos mais duráveis para estas. ª·


V,
(/)
o
V,

NB. Segundo uma sondagem realizada pela TNS-Sofres para ...e


C"
o Observatório da Cidade em Janeiro de 2007, 56% dos france- Q)
::,
o
(/)
ses sonham com uma "casa individual isolada" (com um jardim à
volta dela), 20% com uma "casa indjvidual num conjunto de
moradias", 11 o/o com um "pequeno habitat individual na cidade",
5% "com um habitat haussmaniano", 3% com um "pequeno ou
médio habitat colectivo na cidade", 1o/o com "grandes edifícios" e
1o/o com "grandes conjuntos de habitação colectivà'.
Claro que não se pode construir ou gerir uma sociedade somando
as procuras dos consumidores, mas será altura de os urbanistas inte-
grarem nos seus sonhos urbanos, de uma forma ou de outra, os
sonhos das pessoas para as quais querem construir as cidades.

Mistura funcional
A especialização funcional dos espaços urbanos acaba por chocar
com certos limites que abrem o caminho a novos modos de organi-
zação dos espaços urbanos. Mas o modelo dominante da divisão
técnica do trabalho persiste e a mistura funcional dos espaços não
pode ser verdadeiramente obtida senão à escala das aglomerações.

O zonamento e a especialização funcional dos espaços foram


a expressão, no domínio do urbanismo, do modelo de desem-
penho industrial sistematizado por Taylor e por Ford. A divisão

Scanned by CamScanner
, . d trabalho concretizou-se assim no decurso do século
156 tecnica o
os dedicados a uma só actividade: grandes conJ· un-
xx por espaÇ . . . .
...
G) tos habitacionais, zonas industna1s, centros comerc1a1s, parques
.t:
o
cn de lazer, vias especializadas.
~
cn
'õ Contudo, este modelo de desempenho choca, tanto na
O•
e
...co indústria como na cidade, com diversos limites, nomeadamente
u..
em virtude das deseconomias de escala que surgem a partir de
certos limiares de concentração, rigidez que limita a adaptação
a novas necessidades, dificuldade em fazer face com grandes
unidades a procuras que se diversificam. Por outro lado, 0

desenvolvimento dos meios de transporte e das telecomunica-


ções oferece mais alternativas na proximidade imediata e torna
possíveis outras formas de divisão do trabalho.
Este contexto conduz a localizações mais diversificadas para
um certo número de actividades industriais e comerciais, limi-
tando o interesse de zonamentos muito afirmativos nos planos de
urbanismo. Um pequeno nicho reaparece também para o comér-
cio de proximidade, nomeadamente com a evolução dos ritmos
da vida quotidiana, os horários desfasados, mas igualmente com
o desenvolvimento das famílias com uma só pessoa. Por outro
lado os promotores procuram reconstituir "ambientes urbanos"
baseados na diversidade das actividades e. dos públicos.
Vários centros comerciais recentes reservaram assim um
lugar para a habitação. Esforçamo-nos também, na concepçáo e
ordenamento das vias urbanas, por separar menos os diversos
fluxos e actividades e em organizar a sua coexistência. Por fim
enxertamos serviços nos nós intermodais.
Estas possibilidades de mistura funcional não devem ser ne-
gligenciadas. Porém, continuam limitadas e não saberiam como
formar um "novo urbanismo" baseado na proximidade. Com
efeito, não é possível voltar atrás na dinâmica de divisão do

► ◄
Scanned by CamScanner
--,
--- •

trabalho e os processos de especialização funcional dos espaços 157


urbanos no essencial continuam. O maior desafio é, portanto, o
de conseguir organizar a mistura funcional à escala da aglome- o
z
<
o
ração no seu conjunto e isso passa mais pela eficácia nos siste- (/)

(")
o
mas de deslocação do que pelo jogo da proximidade imediata. 3
..,
"C
o
3
(/)
(/)
o
(/)

Mixidade social ...ec:r


A mixidade social forma urbana do ideal republicano, está Ili
:::J
o
(/)
ameaçada por dinâmicas de povoamento e lógicas político-eleitorais.
A preservação desta ambição urbana e societal necessita de ultrapas-
sar o quadro comunal para assegurar uma maior mistura residencial
e uma frequência mais variada dos equipamentos colectivos. A mobi-
lidade, em particular a dos estudantes, é uma das ferramentas das
políticas que visam limitar os efeitos das dinâmicas de segregação.

O tema da mixidade social é recorrente na história do urba-


nismo do pós-Segunda Guerra Mundial em França. Transcende
largamente as clivagens políticas porque é de alguma forma um
produto urbano do ideal republicano. Uma das ambições das
grandes urbanizações públicas era já a reunião de populações
diversificadas.
Contudo, a evolução concreta das cidades não se faz espon-
taneamente nesse sentido. Numerosos estudos mostram assim
que as populações mais ricas, por um lado, e as populações mais
pobres, por outro, estão cada vez mais concentradas, ou mesmo
segregadas. Todavia, esta segregação nos extremos não deve
mascarar por outro lado um fenómeno bastante geral de "con-
centração da classe média" de numerosos outros bairros.
A segregação social do espaço não é um fenómeno novo.
Antigamente, fazia-se à escala dos imóveis: assim os ricos

Scanned by CamScanner
...

\'

158
habitavam primeiramente nos andares de baixo; depois, com os t
1
I

elevadores, subiram para os andares superiores, antes que 0


..
Q)
.i:::
desenvolvimento dos transportes induzisse uma segregação
''
,.
o
VI
ct social e funcional à escala dos bairros da cidade. Hoje a segrega- .,

VI

O•
ção desenvolve-se à escala das aglomerações urbanas e apoia-se
..
e:
«)

LL.
muitas vezes nos limites comunais, sendo muitas vezes as auto-
ridades locais actores de ligação importantes.
A segregação social é suportada, por um lado, por lógicas
económicas que políticas urbanas e fundiárias podem em parte
contrariar, com a condição de aí se investirem muitos meios;
resulta, por outro lado, de uma lógica de relação que não é assim
tão simples de contestar. De um certo ponto de vista, é normal,
com efeito, que as populações que têm as mesmas aspirações ou
os mesmos modos de vida se agrupem em territórios comuns.
Mas de um outro ponto de vista, esta dinâmica é a própria ne-
gação da cidade porque esta só existe e só se desenvolve graças à
sua diversidade. Por outro lado, a relação é por vezes secundada
também por um egoísmo colectivo, quando a cidade não pode
funcionar senão na base de uma solidariedade urbana. Em cer-
tos países assiste-se mesmo ao desenvolvimento de condomínios
fechados, quer dizer, bairros fechados onde os serviços "públi-
cos" são de facto privados, ou seja, reservados apenas aos habi-
tantes destes bairros.
Se este tipo de fragmentação social não está de um modo geral
tão avançado em França, não é menos verdade que a fragmen-
tação comunal serve infelizmente muitas vezes de ponto de apoio
para dinâmicas de povoamento segregadoras. A recusa de certos
presidentes em construir habitação social é disso a manifestação
mais evidente. Mas os eleitos locais dispõem também de ouuos
instrumentos, formais ou não, para orientar o povoamento da
sua comuna, atrair certas populações e rejeitar outras.

Scanned by CamScanner

A mixidade social permanece neste contexto uma grande 159


aposta urbana e societal por duas razões principais: em primeiro
2
lugar, as populações modestas devem ter acesso às localizações o
<
o
urbanas das populações abastadas; em segundo lugar, é preciso C/1
C1
o
proceder de tal forma que, tanto quanto possível, categorias so- 3
.,
"O
ciais diferentes se encontrem, se conheçam e confrontem as suas o

expectativas, os seus valores e as suas representações do mundo. ª·


C/1
C/J
o
C/J
Contudo, esta mixidade pode ser procurada a escalas diferentes e
.,
C"

e não necessariamente à de cada operação imobiliária. Uma das :::,
o
C/1
escalas que pode servir de guia a políticas visando a melhoria da
mixidade social é a da frequência dos equipamentos públicos e
em especial das escolas. Medidas voluntaristas deveriam mesmo
ser tomadas nesta matéria para ajudar no acesso aos equipamen-
tos das comunas ricas pelas populações das comunas pobres.
É uma outra maneira, dinâmica, de conceber a mixidade social,
não como um estado mas como um modo de funcionamento
da cidade. A mixidade pelo movimento pode assim ajudar à
realização de compromissos operacionais entre lógicas de rea-
grupamento social e as ambições de justiça.

Periurbano/suburbano
Uma parte significativa das populações urbanas modestas habita
e trabalha na periferia das cidades e as suas necessidades são mal
transmitidas e mal consideradas pelos poderes políticos. Porque o
desafio não é lutar contra a periurbanizaçáo, a suburbanizaçáo ou
a rurbanfaação como tais, mas organizar da forma mais urbana
possível este modo de habitat e de trabalho.

Mais de metade dos activos que trabalham "nas áreas urba-


nas" habitam fora da cidade-centro, a maioria das vezes em

> Scanned by CamScanner


~
i
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1
,,
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zonas de ba1x
• a densidade e com uma alta proporção de r,,r
. '-<!.)as )' .
160 .l
. . 'd . Alguns de entre eles residem por vezes muito lon ,\'
mdiv1 ua1s. ge
..
(1)
i
da zona cen tra ,
em zonas de dominante rural. Um bom núme
ro
.1'
J.
.e
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deles trabalha igualmente em zonas de emprego periféricas de //
-~-
fraca densidade, onde empresas vieram procurar espaço menos <,·1
Ili

U• I
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..
l1l
u. caro. • I •
J
,;.,
Estas populações são muito moveis e o seu orçamento de .l,1•v
transporte está muitas vezes próximo do orçamento da sua habi- l~i
1l
tação. Estudos mostraram mesmo que na região da Ile-de- .,n
'!
-France as famílias muito modestas gastam mais de metade dos
-1
>
seus rendimentos na habitação e transportes.
j
Estas famílias, que dependem muito do automóvel, são espe- I

' ;i1
cialmente vítimas da subida do preço do petróleo. Mas arris-
cam-se igualmente a ser penalizadas com as medidas visando 91

limitar o uso do automóvel. Assim, a paragem da construção de


infra-estruturas rodoviárias, tema em moda, não bloqueará pro-
vavelmente a médio prazo esta suburbanizaçáo porque ela dá
resposta ao mesmo tempo a uma procura que é difícil de não
deixar de considerar numa sociedade democrática e de merca-
do, e que é por outro lado alimentada pela subida de preço do
imobiliário nas cidades. Isto arrisca-se a não fazer regressar à
cidade-centro muitas das famílias mas a penalizar fortemente
um grande número delas.
O desafio não é, portanto, lutar contra a periurbanizaçáo,
a suburbanizaçáo ou a rurbanização enquanto tais, mas organi-
zar da forma mais urbana e mais ecológica possível estes modos
de habitat e de trabalho. A concentração das deslocações pela
polarização e a axialização dos fluxos podem contribuir para tal.
Isto supõe ao mesmo tempo o desenvolvimento de centralida-
des poderosas e o domínio da localização e da compacidade dos
loteamentos e das zonas de emprego.

Scanned by CamScanner
É dcscj:ívd igualmente que os esquemas de ordenamento e 161
os documentos de planeamento abranjam zonas bastante
z
grandes, que englobem bem o conjunto destas populações e o
<
o
tenham cm consideração os seus modos de vida e não somente VI
C")
o
a necessidade de lutar contra a dispersão urbana definida de 3
...
,:,
o
maneira sumária apenas a partir das densidades. Os planos 3
IA
de deslocações urbanas (PDU) não devem ocupar-se apenas da VI
o
VI
qualidade do ar, mas também da qualidade e da quantidade dos ...eO'
tempos de deslocação. É preciso evitar, com efeito, que o ecoló- :li
::,
o
VI
gico não se faça cm prejuízo do social, em particular para as
camadas sociais modestas periurbanas e suburbanas. É mais
difícil que as cidades-centro dominem a cena político-mediática
quando as comunas periféricas estão ainda muito ligadas a
estruturas políticas notabiliárias e neo-rurais.

Ruas, avenidas
É um dos desafios de governabilidade local encontrar os bons
compromissos entre as diversas funções das ruas, residenciais, de
trânsito e de acolhimento de actividades.
A rua é igualmente o espaço pi,blico principal da cidade. Cris-
taliza, portanto, desafios múltiplos. E merece uma atenção e defe-
rências especiais pela parte dos urbanistas.

Uma rua é uma via no interior de um aglomerado que serve


específicamente, ou simultaneamente, para atravessar uma zona
deste aglomerado, ter acesso a lugares situados ao longo ou na
proximidade imediata desta via e para produzir um espaço
colectivo utilizável por diversos tipos de actividades. Uma rua
assegura portanto pelo menos uma de crês funções: trânsito,
serviço, acolhimento. Cercas ruas são monofuncionais, como os

Scanned by CamScanner
,,

. •.. rcsitkncial, as vias dpid:1s 11rh:111as, as


. 'lSSCS tk li !11 l) ,li ( ll} ,
162 ,mp. . . . . . O urr:ts sao- mu 1rt·1 unc1on.11s,
.· , . <..:orno as da
o:1lerias omerc1a1s. , . . .
... 0
d' , 1 . .1 olhe rocb a cspcc1c de acnv1claclcs, a rua
(1) ·d·1dc me ,ev.t qut: .
..s::
u CI '
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. . 0 seu com~r · 10 e os SL'.US vcnc 1ccjores am 1)ll-
t.n
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princip:11 a v1 a con' . , . .. . . . . ..
r/J , . , idn u rhana otn as su.ts cspl.m,td,ts, loc.us de

1.),
bnres, como cl ,l\lL:ll • .
e: . . l cros onde se misrur;tm passantes, rcs1dcnres e
...
10
u..
lazer, passeios ar t, •
• ·:1inda' como o rIHIJ'kw1t)1 , que é uma espécie de
comerciantes, 0t 1 , ·
auro-esna .. d:i bot·dci· 'ad·t' por habiraç:10 e passeios plantados.
~tfas a coexistência dcsras diversas funçôcs tem praticamcnrc
colocado sempre problemas. E, dt.: facto, a função de tr:1nsito
rornou-se domin:mtc.
Com efeito, face ao crescimento das cidades e~, imporc.1ncia
crescente do fhn::o de pessoas e de mercadorias, a conccpção das
ruas como a das cid:idcs é cada vez mais marcada pelas lógicas
da organização dos transportes e mais particularmente pela pro-
cura de ma..ximizaçáo dos tráfegos. As cidades estruturaram-se
assim em função da física dos Auidos, primeiro a partir de gran-
des eixos assegurando altos débitos, em seguida com ramos
secundários e terciários para distribuir as pessoas e os bens até
ao seu destino final. É o mesmo modelo que foi utilizado para
os esgotos, para a distribuição da ::ígua, do gás, da electricidade.
De facto , as redes sobrepõem-se em grande parte umas às outras,
impondo um modelo urbano de fluxos e de redes.
Com o tempo, o comércio começou a emigrar para novos
locais mais monofuncionais: primeiro os grandes armazéns e as
galerias, depois as galerias e os centros comerciais com as suas
ruas internas e finalmente as ruas pedonais do centro da cidade
dedicadas ao comércio e ao lazer. Os locais de habitação torna-
ram-se igualmente mais monofuncionais, sendo as ruas dos
"bairros res 1·denc1a1s
· · ,, cad a vez mais reservadas apenas ao serviço
·
dos imóveis de habitação e das moradias.


Scanned by CamScanner
· la <1·,11.ln1i
I·,• ' .t.;1 l 1<.: cspccia 1ização funcional não diz respeito
163
:q1 ·11:1·; ao:: l,:drro:-1 novos; ela foi aplicada também sobre as cida-
de':-, ·xir,1 c.: 111 c.:1,, h~1sLa111 c hrutalmcntc cm cercos países, onde as 2
o
e:
o
:n110~<.:!i l rada:i urhar,as Í<>rarn traçadas sobre o coração dos bair- ti)

(j
o
1'0/l a11Ligos. (J dc:;c11volvim<.:nlo rápido dos automóveis indivi- 3
't:l
~

duais ·011trihuiu para generalizar esta lógica circulatória e para o


3
iii'
a to1·11a1· k:gílima. O autom<',vcl trouxe com efeito um tal ganho (/1
o
ti)

de: d ·:;c111p<.:11ho c111 vclociclaclc, flexibilidade e autonom ia dos e


~
c-
11·a11.'1 poncs, <.pi e se impôs muito rapidamente e que pareceu Q)
::;
o
ti)
11orn1:il organizar em grande parte a cidade a partir dele.
M,LS este primado d,u funções de transporte em geral e do
1lutornó11el em particular esb,irra com novos limites.
Em primeiro lugar, os urbanistas e os engen heiros de trans-
portes csforc;aram-se a produzir todas as ruas de que os automó-
veis linham nccessiclaclc.: nas áreas centrais e densas das cidades,
111<.:s1110 construindo aí auto-estradas umas sobre as outras, como
foi feito nalguns países, e escavando parques subterrâneos.
Depararam com obstáculos económicos, mas também sociais,
rca cçf>es dos citadinos contra os incómodos do tráfego ou contra
a dcsrruiçáo de patrimónios urbanos. Tiveram igualmente difi-
culdade c.:m enfrentar a multiplicação dos meios de transporte e
a difc.:rcn ciaçáo das velocidades, do diminuído físico em cadeira
dc roda.e; ao autorn6vcl, passando pelo peão, os patins, a bicicleta,
a bicicleta cléctrica, a motorizada e a moto, o autocarro, o auto-
carro expresso, o déctrico. Já não há lugar suficiente para todos
os transportes na cidade densa e é impossível propor uma via
para cada tipo de velocidade. O modelo de repartição do espaço
cstá assim cm crise em certas zonas da aglomeração.
Em segundo lugar, os comerciantes aperceberam-se de que
se queriam aumentar a atractjvidade das suas ruas pedonais e
dos corredores dos seus centros comerciajs, era preciso trazer

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......

A • I •

164
mais visitantes e que por consequenc1a era necessano rearticular
a actividade comercial com o trânsito e os fluxos de atravessa-
mento.
Em terceiro lugar, veio juntar-se o regresso de um imaginá-
rio urbano no qual a urbanidade, ou seja, a adequação de um
lugar e dos seus usos, decorre precisamente da mistura, da varie-
dade, do imprevisto, do espectáculo de um espaço compósito.
Os consumidores não querem já somente abastecer-se, eles
querem também fazer compras, ou seja, passear, sonhar, ver 0
espectáculo da rua, ter o sentimento não de que eles estão na
rua mas de que eles são a rua. Este imaginário tem raízes pro-
fundas na história da cidade que é por excelência o lugar de
encontro com «o outro": com gente, ideias, objectos, situações,
que o reagrupamento de "iguais" não é susceptível de oferecer.
Neste contexto, as ruas multifuncionais e multissociais encon-
tram virtudes porque são os lugares de encontro ou de confron-
tação com o outro.
Por isso, a especialização funcional não perde todo o inte-
resse. Continua a produzir numerosos casos de economias de
escala e a trazer soluções com um bom desempenho relativa-
mente a certos problemas. Nem a via exclusivamente pedonal
nem a auto-estrada são portanto convidadas a desaparecer.
Todavia, elas devem ser reservadas para situações bem precisas,
combinando-se com outras formas de rua e esforçando-se por
tornar possível a existência paralela de vias multifuncionais e
multimodais. Assim, o enterramento de grandes infra-estruturas
rodoviárias urbanas, como por exemplo em Barcelona, Boston
ou Saint-Denis, permitiu criar à superfície espaços que reconci-
liam trânsito, serviço e actividades variadas.
A questão da partilha da n1.a no seu duplo sentido de pôr nn
comum e de separação, põe-se portanto com uma acuit/AtÍe

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actescitÚl e sob formas parcialmente novas, porque cada situa- 165

ção, cada local e cada momento devem ser objecto de soluções


z
o
específicas, inscrevendo-se ao mesmo tempo em diligências a <
o
C/l
urna escala superior. Aqui, num dado momento, podemos fazer C")
o
coexistir esta ou aquela função, este ou aquele modo de trans- 3
...o
'C

porte; acolá, noutros momentos, é preciso pelo contrário sepa- ê.


C/l
rá-los; enquanto noutro lugar ainda é preciso definir outras C/l
o
(/1

linhas de demarcação, outros espaços de mistura, outras formas ...e


O'
Q)
de justaposição, de junção, de agregação, de fusão. ::,
o
(/1

Neste contexto, os peritos em urbanismo e transportes vêem


0 seu papel modificar-se: já não se lhe pede para darem "a"
solução, mas para porem as suas competências ao serviço das
negociações entre diversos actores, para ajudarem à construção
de compromissos aceitáveis para o maior número, articulando
interesses locais e o funcionamento de conjunto do sistema
urbano. A concepção e o ordenamento das ruas, ao tornar-se
uma questão de sociedade com múltiplas facetas culturais,
sociais, económicas, ambientais e políticas, dá assim novas
responsabilidades aos técnicos que as desenham, as equipam, as
gerem, porque as soluções acabadas, os modelos ideológicos, os
dogmas urbanísticos, são cada vez menos utilizáveis. Os pro-
gressos da governabilidade urbana e a complexidade crescente
das cidades em movimento complicam certamente a tarefa dos
profissionais do urbanismo e dos transportes, mas aumentam
igualmente o que se espera deles e elevam o nível de tecnicidade
das suas intervenções.

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,

Entrcvi~ta ·

~As cidade con., troe1n-sc


sobre con1 pron1 i o,}

O investigador François Aschcr, te6rico das "metápolcs",


é o laureado do Grande Prémio do Urbanismo 2009

Franct', do Urbanismo, fo i laure-


ado, na quarta-feira, 13 de Maio,
com o G rande Prémio do Urba-
nismo pelo ministro da Ecologia ,
Jean-Louis Borloo.
Acrualmente imobilizado pela
doença, esra grande figura da pes-
quisa urbana, depois de ter passa-
do pela economia e pela sociologia,
elaborou uma reflexão prospecciva
sobre as cidades. Foi um dos pri-
meiros, em 1995, a descrever e
Os seus trabalhos sobre as analisar a sua evolução para uma
cidades alimentam toda uma nova era, a das metrópoles, ou
geração de urbanistas, sem, no "metapo
' les", que colocam aos de-
emanro, deixarem de abalar as cisores o desafio de inventar os
certezas. François Ascher, 62 "compromissos urbanos" capazes
anos, professor no Instituto de articular cidade densa e mundo

• Última encrevista de François Ascher por ocasião do Grande Prémio do Urbanismo 2009.
Corresia l e Monde.

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l'lllill. s11l11'11hlrn. ,. prq1ll'n:11i vil:i.'l. 11:il:ir d · m ·r:ipolc: (; ter éOl


1/
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11 11·11os, d11 qrn· im:1gi11:1r os ron1- cnm11nicn,;fü:,1 • A ci cl:1dc ind1t'i-
prt11111ss11s qm· dt·sc11li:1rfio o 1'11.', II> 1rial era monoc.:~nrric:1 e raclio-
d:1111l'trt1>pPlr c:1pi1:1I. c6111 rica, cnrncrcrizada pnr uma
c.:0111 i1111id:1dc urbana. Hoje:, já
Qu · prnsn dos dchatcs sobre a n;io vivemos :\ csc.:ala do bai rro
( :nuuk Pnris? n<.: m me.cimo d:1 cidade:, m;is de
/\ ir1i ·int iv:1 dn C:overno l<.:V<.: 11111:1 vasta conurbação policên-
ll 1110rito dt rd11jct:1:ir :is apostas 1ric.::i e dcsconrínua.
llll'I rnpol i1 :111:1s c ns gr:111dcs inr<.: -
l"t'SSl..'.'i cto116n1icos 110 dcharc, De que é composta?
q11a11do o e.'iq11<.:111:1 dircc1or da rc- I~: uma ddade heterogénea,
gi:ío se comc111:1v:1 crn :u.lic:io11:1r que rct'rnc no m<.:srno sistema
pmcm:,s lot"a is. 1níclizmcnt · 11:ío cinco tipos urbanos muito dife-
ll'ri:i sido preciso confiar esn.: t ra- rcnrcs: :i cic.fadc-ccnrro, muiro
balho :1 arq11i1<:cros: :1 solu~·fto dcn.~:t, rica cm transportes públi-
c.:o nrimr:1 hns1anrc pohrc.\ ainda cos e equipamentos, onde vivem
q11c o aparl'drncnto das csrrdas :is populaçf,cs mais privilegiadas;
lt:nlia .'invicfo !l l'Ol1l1111ic:1~·:ío. Uma o s11b1'1rhio pcriurbano, onde en-
vcrcladdra pesquisa sobre as me- contramos essencialmente peque-
l r6polcs e as c:01111111 icaçücs reria nos edifícios colccrivos e classes
pcrn1irido 11111 melhor c11q11adra- médias dt.:pcndcntes da ligação
11H.: nto do dcha1c. Se..: o meu pré- com a ccnrralidadc principal; a
mio puder scrvir pam dizer uma área suburbana dominada pelas
Lt1tica coisa, scd o seguinte: é ahso- zonas de consrruçáo unifamiliar,
1111:tmc.:nrc ncccssftro relançar a pcs- com rn11ico poucas ligações com a
q11isn no domínio do urbanismo. ci<ladc.:-ccncro, e que fica "conde-
nada" :'ts deslocações automóveis;
O que é que caracteriw o fonó- a cidade.: dos excluídos e daqueles
numo das metápolcs? com residência atribuída, ou seja,

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os grande conjuntos de habitação É a mundialização responsável 173
- 1 encravados e mal-servidos; por este crescimento metropoli-
so C1•ai,
m
finalmente, zonas no campo, re- tano? ::::,
....
-,

fi.'tgio dos "rurbanos,, .


Cb
A dimensão é um elemento e::

da competitividade das cidades.


...
f/l
Cl)

Que dificuldade coloca esta evo- Para atrair empresas de alto ní-
lução aos actores do urbanismo? vel, globalizadas e competitivas é
As metrópoles de hoje devem preciso oferecer aos seus assala-
construir-se sobre compromis- riados os serviços urbanos que
sos. O desafio para os urbanistas eles esperam: um aeroporto, uma
e políticos é elaborar os com- ópera... Só as grandes cidades o
promissos que permitirão fazer podem pagar. A globalização tem
viver em conjunto estas cinco como efeito aumentar a escala
categorias, fabricar uma cidade pertinente das cidades em termos
que possa satisfazer as suas ne- económicos, sociais e culturais.
cessidades de uma maneira equi- É por isso que as metápoles cres-
tativa. Como introduzir neste cem, absorvendo cidades e vilas
rodo urbanidade, espaços públi- que entram por sua vez no siste-
cos, serviços de transportes co- ma da globalização.
lectivos?
Nestes últimos anos os urba- Sera' uma "metapot·1zaçao
,., " bem-
nistas reaprenderam a conceber -sucedida a garantia de uma
os centros das cidades. Ora, o ver- melhor resistência fase à crise?
dadeiro desafio seria conseguir a As cidades que souberem
cidade pouco densa, introduzir desenvolver um compromisso
urbanidade nas zonas de mora- urbano criativo têm vantagens
dias da segunda coroa. Os urba- para sair da crise. Mas o elemen-
nistas não dominam este tema to estratégico será o posiciona-
porque não aceitam que a cidade mento nas tecnologias verdes.
do século XXI seja feita também Nós estamos apenas na orla de
de espaços de baixa densidade, um ciclo económico longo, no
que uma maioria dos franceses qual o crescimento será baseado
deseja uma casa com um jardim. em mercadorias ecológicas. As

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cidades devem ao mesmo tempo vel ". A cidade não é por definição
174
ter êxito na atracção de empresas "durável", não deve ser congela-
...
ci, especializadas nestas novas tec- da, deve estar em permanente
.J::.
u
,_,, transformação. Muitas vezes a
~
nologias e em tornar-se lugar de
(/)

'õ experimentação de um urbanis- preocupação com o ambiente


1.)-
c::
mo verde. toma o lugar do social. Fica mui-
...l'O
u.
Vemos desenhar-se uma dife- to bem construir bairros que
rença de abordagem entre a economizem energia, mas a du-
Europa e os Estados Unidos. rabilidade não deve ser um so-
A primeira procura reformar os brecusto para os mais pobres.
modos de vida, reinventar as for- Finalmente, o urbanismo do
mas urbanas, de uma maneira desenvolvimento durável não é a
talvez um pouco ilusória. Os se- única receita; deve poder aplicar-
gundos apoiam-se mais nas -se tanto à cidade densa como
cleantech: continuam com um aos loteamentos, às torres como
crescimento urbano em extensão às casas individuais, às auto-
mas com casas ecológicas e 4 x 4 -estradas como aos transportes
elécrricos. colectivos. A cidade durável deve
ser um compromisso entre as
Pôs reservas à "cidade durável". exigências económicas, sociais e
Porquê? ambientais.
É preciso prestar atenção ao
uso, por vezes passadista e anti- Por Grégoire Allix, Le Monde, 15 de Maio
-social, do termo "cidade durá- de 2009.

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