Vous êtes sur la page 1sur 27

G- 09

~~-------------------

IV ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇAO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇAO


E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

UMA INCURSAo PELO LADO I!NAo-RESPEITÁVEL;l


DA PESQUISA DE CAMPO

Teresa Pires do Rio Caldeira

-::'r'1baJ.ho
Apresentado na Reunião do Grupo de TrabalhCl
,Cultura Popular e Ideologia política"

Rio de Janeiro) 29 a 31 de outubro de 1980


;;11 me pa!"'2.i
t curieux s pous ne pas dire ob s ce
ne et tous ã f a:', t terrifiant, qu 'il puisse a~
ven i r à UE2 as sociation dihumains assemhl.es
par
le besoin ct le nasard et pour des raisons de
[ain, et formant une société, un organe de
pr?sse, QS fouiner dans les affaires d 'un gro~
pe j1autres humai~s sans défense, des victi-
mes ~ un point êpouvantable, une famille rur~
le iE~orante et corv~able, cela en vue de fai
re pa~2jc de l:état d'infé!"'iorité, d'humilia-
tion, ~2 nudité de ces vies auprês d'un autre
groupe d.;~-lUifiains)
cela au nom de lã. scí.ence,
du li j our-ne Li.srne honnête 11 (quelque paradoxe
1
qu 0n entende par la), de l'humanité, de llin
trépidit~ sociale, ~our de l'argent, et pour
nouv-r i.r- une réputation de croisade et d 'impa~
-'- 1 . ~-::
t ~Q~lL~3 ~...,
, ."-t -, cs
~~0U_~~ç, en t repr1se
. 2.vec assez de

::aire, de vi errt monnaie


savoi::."'· d 'éc ange comE
t&e ~ n'!mporte quelle banque (ou en pOliti-
que ~ e~ votss, en trafic d!influence dans 1'0
btention des jobs, en lincolnisme,etc.); en-
fin que ces gens soient capable de méditer
cette entreprise sans le plus léger doute sur
ce que les qualifie pour faire un travail
"horine t e " ~ et avec une conscience plus claire
que l'eau de roche5 et dans la certitude V1r
tuelle d 'une approbation presque unanime du P~
blic. 11 paralt curieux que plus est, que l!a~
complissement de ce travail ait échu à des pe~
sonnes avant du respect du au sujet et de Ia
re~~~h:~hlll~~ npv~nt lui une idée Sl outra-
geusement autre, qu1illévitablement et dês le
début de llintreprise ils aient compté leurs
employeurs, et de même le gouvernement auquel
llun dieux était attaché, parmi leurs ennemis
les plus dangereux, aient agi en espions, an
ges tutélaires, escrocs, et ne s'en soient re
mis à aucur: jugemente, de quelque autorité
qu'il se soit prévalu, sauf au leur: auquel,
devant bien def aspects de la'tâche qui les
attendait, pra~ique et information faisaiente
défaut. 11 sé'nble curieux de plus que se ren
dant compte d2 Ia conception et de la diffi
culté extrêmes ou les circonstances allaient
les jeter~ et de 11improbabilité d'accomplir
sans se souiller ce qufils souhaitaient diac
complir, ils aiente co~mencé par accepter le
travail. Et il parait encore plus curleux
que, étant donné leur soupçons et leur mépris
à l!égard de toute personne et chose de cette
situation, hormis les métayers et eux-memes,
et aussi leurs propes intentions, et la plei
ne'conscienc8 qu:iis avaient du sérieux et du
mystere du suject,_et~aussi la responsabilité
hlli~aineqUl leur incombait, ils se soient si
peu posé de questions ou aient douté si peu
leur compétence devant ce travail Tou t de ce
ci, je le répete J me parait curieux, obscene,
terrifiant, mystere insondablell•

(James Agee, Louons -1aintenant Les


Grands Hommes)

Pode parecer curioso também, que tenha sido


um jornalista a fazer essas reflexões, e não um cientista so
cial, principalmente um daqueles que se dedicam ao "trabalho
de campo", ou seja, que apoiam grande parte do seu trabalho
no esrráuçamento da vida alheia. Mas quem sabe seja exatamen
te esse fato que nos d~ a primeira pista para entender o es-
panto e o assombro de James Agee: talvez por não estar muito
comprometido com as regras do !!método científico", não veJa
como muito natural e legítimo esse esmiuçamento da vida alh~
1a, ao passo que, para os cientistas sociais, essa prática
seria tão corriqueira que não lhes ocorreria com frequ~ncia
questioná-la.

o que será que, em nossa sociedade, sustenta


. .
e 1eg1t1ma -.
essa prat1ca d'e 1nvest1gaçao
. - (1) ao ponto de f-azer

com que ela apareça como natural?


3

Foucault já se encarregou de nos mostrar de


que modo o nascimento das ciências sociais está ligado ao de
senvolvimento das práticas disciplinares e de que modo poder
e saber encontram-se interligados em nossa sociedade. Creio
que a prática concreta da pe squ.i sa de campo mais espe c í.f i.cq
mente, a relação que se estabel~ce entre o investigador e o
informante, serve de exemplo à I iarie i r-a pela qual esse regime
de poder-saber e de produção de verdade encontra-se d.i sseuri,
nado.

Não me parece demasiado supor, por exemplo,


que se apenas o pesquisador julgasse-Í-lTIportante inquirir so
bre a vida dos outros, teria grandes chances de receber em
resposta um numero espantoso de recusas. Mas, como não é lS
so o que geralmente acontece, somos obrigados a pensar que
estamos frente a um mecanlsmo mais propagado pela sociedade,
que faz com que as pessoas vejam como natural o inquérito e
a sujeição a ele, desde que e sobretudo se em nome da Ciên-
Cla. Senão, o que explicaria que alguns, por falarem e agi-
rem em nome da Ciência, se ju_gam no direito de perguntarem
sobre tudo, de submeterem seus "ob j et os " a horas de aplica-
- d . -. (2) ..
çao e massantes questlona~~os ,de se lrrltarem quando lli~

informante se recusa Q oferecer respostas, de preverem esta


tisticamente qual seria o í::--ldi~e
"es er-ado e r-azoave L" de re
cusas e aSSlm por diante? _as, além disso, o que explica-
ria que ...>utros,
ao serem colocados na posição de 1I0bjeto",
se prontificassem a responder esses extensos questionários a
um desconhecido que bate à sua porta; que se dispusessem a
relatar sua vida, ano a ano, com todos os detalhes? Imagino
que resposta para isso seja a de que estamos na presença de
um dispositivo dissewinado pela sociedade e com funciona-
mento semelhante àquele descrito por Foucault, o que faz com
que cada um ponha em discurso os mais íntimos detalhes sobre
a sua própria sexualidade.

Creio que esse dispositivo é o que legitima


no Ocidente o saber científico como a unlca forma de sa-
ber'· reconhecido, é o que dá ao produto de uma reflexão ou
pesquisa classificada como científica o status de verdade
inquestionável, é o que dá poder a esse saber. Estaríamos,
portanto, frente a lli~ dispositivo de poder-saber-verdade que
sustentaria e possibilitaria a prática da pesquisa científi
ca. Seria esse dispositivo que, por,um lado, leva um pesqui
sador a ter interesse em conhecer tudo o ~ue ror possível a
respeitb de determinado objeto faz com que julgue que o co
nhecimento que puder obter pelos m~todos científicos asseme
lha-se ~ verdade (ou ~ a pr~pria verdade)- acredite que tem
nas -
maos os instrumentos mais eficazes pa0a obter as informa
-
çoes que necessite e que estns devem ser lS mais abrangentes
e detalhadas; considere que, ~or falar e 19ir em nome da Ci
ência, os Houtros L
; os il~2f"'qUÜ ado s" e st e o na obrigação de
lhe prestar as informaç~es que julgar nec2ss~rias. E serla
esse dispositivo que, do lado oposto, le~a outros a se pro~
tificarem a dar depoimentos ou mesmo a e.char-emque é sua abri:
gação fazê-lo~ j~ que se trata de uma pesquisa científica
(mesmo que não sai.b
arn bem o que e isso) ~ e que faz com que
se esforçem por relatar toda a verdade, j~ que algo lhes diz
que o que se procura é exatamente uma verdade.

~
Creio] em sum~, que e a assoclaçao
.- entre p~
der e saber cientlfico que poss~bilita e sustenta a relação
que se estabelece e~tre o pesquisador e o i. formante, que dá
a um condições de exercer sp.u t~abalho (seu Doder) e a outro
a idéia de obrigatoriedade e de ~ecessidade de se sujeitar .
Isso implica em verõ portanto, que a relação que se estabele
ce no campo entre o pe sqvi.s acor- e o seu informante ~ uma re
( 3)
lação de poder relaç~o em que um requer um depoimento e
outro se vê na conti~g~~ci~ ~e responder. em que um pede que
tudo seja dito nos mínimos detalhes, e o outro se esforçe
~:> ••

por dizer a verdade qU8~ no entanto, 80 o prlfielro poder~ re


velar.

Cert~_ente não lmaglno que esse mecanismo fun


Clone nesses termos de forma consciente~mesmo porque -
e o fa
•• to de ser percebido COr:10 "ria t ur-aL 11 que permite o seu funcio
namento. Não estou imaginando, por ~xem~lo, que todos os Clen
tistas sociais queiram, oon so i pnte e delibsr.-:r1Flmente,saber
detalhes para dominar, nem que o entrevistado se julgue tão
culpado e em suspeita ao ponto de ser obrigado a confessar
tudo: certamente ao nível da prática consciente a relação que
se estabelece entrc ~ ppC'c:,llic;?dor
e o pesquisado assume uma
quantidade de outros aspectos. No entanto, não me parece po~
sível negar a atuação desse dispositivo poder-saber--verdade,
do mesmo jeito que não se pode esconder a interferência da
mais variada gama de fenômenos, tanto objetivos quanto subj~_
tivos (e aqui também do pesquisador, por suposto). Todos es
Sé3 relação pesquisador-informa~
te, interferem no seu andamento e imprimem sua marca nas in
formações obtidas e com as quais o cientista trabalhará.Creio
que faz parte da res?onsabilidad~ dos cientistas sociais não
só pensar a sua prática profissional em termos das repercu~
sões do trrabalho intelectualna sociedade como um todo, coro que~
tionar o seu trabalho ali mesrro onde e18 se exerce, ou sej a , na r~
laçã.oimediatacom o seu "ob j et o " - as pessoas e grupos SOClalS
a quem estuda. Creio que de pouco servirá denunciar apenas as
relações de poder e de exploração mais gerais existentes na
sociedade como um todo; prá-ticas de poder existem de maneira di
fusa por todo o tecido social e o passo inicial para os caen
tistas sociais talvez deva ser denunciar a sua própria práti
ca e tomá"·la.como realmente é, ou sej a, uma relação de poder,
e uma relaçâo que não ~ neutra.

[I

A questão que está por trás de toda a investi


gação científic~ 8 a questão da verdade. Pode-se dizer que
o cientista,ao iniciar UTIB pesquisa, está a pr-ocur-a de descobrir
uma verdade que é .i gno r-ada ou que está ocuLta ( cabendo-lhe,
portanto,
.. reve12-1a). E, ao que parece,
.. também os entrevis
tados - e estou -oense.ndobas icamente na pesquisa "qualitativa'!
-
compartilha __essa idéia, preocupam-se em fornecer uma verda
de, seLe ci on ando o que é e o que não é conveniente informar.
Talvez um exem 10 nos ajude a entender melhor este aspecto.

Um 2ntro~ólogo, interessado em saber quais as


~epresentações que os moradores d2 periferia de uma grande
cidade têm do roder e da sociedade, depois de ter decidido
que a melhor técnica para começar a obter suas informações
era a realização de entrevista~ abertas na qual se procur~
ria obter a história de vida, chega à casa de um informante
e faz o seguinte discurso: li eu trabalho na Universidade e es
tou realizando uma pesquisa aqui no bairro onde o sr. mora,
estou falando com várias pessoas, pois gostaria de saber o
que estão pensando sobre uma série de questões. Queria saber
de onde elas vieram, o que acham da vida aqul no bairro e na
cidade, o que estão achando da atuação do governo, da questão
do emprego, enfim~ uma série de coisas. O sr. é uma das pe~
soas com as quais eu gostaria de conversar, serla possível?
Bem. Será que a gente pOderia começar então com o sr. me con
tando a sua vida: onde o sr. nasceu, como o sr. vei.o parar aqui.
nesta cidade, os trabalhos que o sr. já fez~ enfim, tudo o
que o sr. tenha vontade de falar?".

o informante 5 senhor de meia--idade já apose~


tado~ depois de ter concordado errlconversar, e um pouco tal
vez para quebrar o desconforto e o mal-estar que estava sen
,.
tindo, começou falando o seguinte:
IIEntão eu vou contar o causo das minhas fazendas lá no nor
teli
Foi) então, interrompido por sua mulher:
~ lOlha que ele vai mentir,vai contar menti
ra"
Também para aliviar o clima, o pesquisador fa
lou, em tom de brincadeira:
- ilNão pode contar caso não~hein.iI
E ouviu a resposta:
- "Eu vou mentir. Se eu falar a verdade ,eu vou
me complicar, então eu vou mentir. Eu tenho que mentir prá
H
me defender
o pesquisador:
nPorque o sr. acha que vai se complicar se
falar a verdade?"
"Born , não tem nada, não tem nada que comp li.
que ... ii
- "O sr. acha que se falar a verdade
ca?lI
11 Jão, acho que não, se eu mentir complicall
'Ah; bom, mas nós vamos falar a verdade. O
sr. nasceu onde?"

Digamos que se tratã de um diálogo um tanto


quanto excepcional em que, logo de saída, as regras do Jogo
foram explicitadas, a relação de força colocada na mesa. No
entanto, de várias outras formas, esse é um tema que sempre
volta à tona nas relações de entrevis-ta. Das mais diversas
maneiras, o que parece estar sempre presente na cabeça dos
informantes ê que, por se tratar de uma situação de pesquisa
cí.errt If ca ,í 2_ sua obrigação é ;:dizer a verdade"'.

Mas acontece que a verdade não ê algo queeXl~


te de maneira pronta e objetiva e que, para ser descoberta,
basta que o entrevistado a ponha em palavras e o pesquisador
a registre. Pela própria natureza de uma situação de entre
vista, esta verdade é produzida ~ partir de ~ma relação. E
corno Ja vimos; não se trata de urna relação neutra, mas onde
está presente o exercício de poder. Além disso, não é urna
relação entre coisas] entre objetividades, mas entre dois
sujeitos e que pode sofrer variadas interferências. Tentemos
identificar quais os elementos que interferem nessa rela

ção~ dos mais objetivos aos mais subjetivos.

Voltemos à entrevista citada anteriormente.Em


poucas frases o informante deixou transparecer ao pesquis~
dor o que provavelmente o angustiou durante todo o tempo em
que durou a entrevista: 2 sensação de que corre um risco
tanto no caso de falar a verdade, quanto no caso de mentir-
e que, portanto, o mel~or que tem a fazer é tratar de se de
fender. E nessa def~sa está a margem de exercício da liber
dade de quem se submete ã relação, está aí o espaço para
o exercício do poder por parte do entrevistado. A maior de
fes~ da pessoa a quem é solicitada a entrevista certamente
é recusar-se à relação. 1as, se não consegue ou não quer
furtar-se a ela, e~contra ainda outros mecanismos de defe
sa: POdé selecionar, ocultar, enganar.

Estabelece-se, então, um Jogo cujo resultado,


dependerá não só da ação do entrevistado, mas também da do en
trevistador. Tu~o pode acontecer, desde a produção de um
discurso absolutamente fantasioso, mas que não e tao fanta
sioso assim, na medida em que pode estar sendo dito o que
se julga que é conveniente falar, até a produção de um dis
curso absolutamente 1fverdadeiroil.

Para falar francamente, o que ma1S me chamou


atenção na minha experiência de pesquisadora, não foram os
discursos fantasiosos, mas aqueles verdadeiros. Antes de
mais nada5 foram muito raras as vezes em que me senti fren
te a um entrevistado que, ao invés de se referir a dadoscon
eretos de sua vida, referia-se a urna fantasia. Em segundol~
gar, creio que não é muito difícil de entender o que faz
urna pessoa tentar ocultar a sua verdadeira história a um
desconhecido. O que sempre me pareceu espantoso e que as
pessoas fizessem um grande esforço para apresentar os dados
de um modo real. A impressão era de que se sentiam obrig~
das a fornecer um depoimento verdadeiro e 1SS0 acabava mar
cando o discurso com um caráter de importância e de confis
são e, nao raro~ transformando-o em um desabafo. Mas será
que apenas a obrigação de "dizer a verdadeli despertada pelo
fato de se tratar de uma pesquisa c errt Lf.ica é suficiente
í p~
~a explicar que muitos entrevistados se vejam obrigados a
revelar aspectos extremamente desagradáveis ou dolorosos de
suas vidas, mesmo sem terem sido solicitados a fazer isso?

É comum~ por exemplo, a seguinte situação: d~


pois de terminada a entrevista, e estando o pesquisador por
se retirar, satisfeito com as informações obtidas, ser cha
mado pelo entrevistado com uma frase como: IIsabe, tem uma
coisa que eu preciso dizer, eu não sou mesmo casada com ele
e ele n~o ~ o pai dessa menina". E a partir dar brota todo
um relato do descasamento, da marginalização, do segundo ca
samento e da ocultação do fato. Como ~ comum que, a certa
altura do relato, o marido volta-se para a mulher que estava
assistindo ~ entrevista e pergunte: "tem que dizer a verdade,
não é bem? Então nós vamos ter que contar tudo como foi, di
rei tinho" .

Situações como essa deixaram-me bastante em


baraçada. Por um lado, não sabia o que fazer com o relato,
geralmente desagradável e muito carregado emocionalmente (vol
tarei a esse aspecto mais adiante, quando estiver discutin
do as emoções do pesquisador), Por outro lado, continuava
sem entender o porquê do relato, uma vez que estava longe
de mim solicitá-lo diretamente (embora nada me garanta que
o simples fato de sentar com um gravador ligado e com a a
presentação da universidade já não estivesse fazendo a soli
citação), Mesmo sem entender muito bem~ e com uma sensação
crescente de mal-estar) continuei a colher histórias de Vl

da. O mal-estar vinha j por um lado, porque começava a me


perguntar sobre a pertinência de se solicitar histórias de
vida, que é quando há mais claramente uma invasão da vida
alheia, muito mais do que no caso em que solicitasse op~
niões objetivas, por exemplo, sobre a cidade - será que não
é uma técnica tão usada apenas porque se tem uma obcessão
em esquadrinhar tudo? Mas o mal-estar vinha também por ou
tro lado. Comecei supondo que as histórias de vida predi~
punham a situações embaraçosas pelo fato de envolverem um
balanço da própria vida, um reviver; no entanto, as situa
ções persistiam em entrevistas sobre assuntos objetivos e
durante a aplicação do rápido questionário de um survey. Al
gumes vezes, 2S perguntas do questionário Ccuja aplicaçãod~
morava 15 minutos e era feita geralmente
na rua3 do lado
de fora da casa), que a meu ver eram absolutamente inócuas,
como o numero de moradores na casa, número de cômodos, ori
gem~ religião, escolaridade e trabalho dos moradores, foram
suficientes para desencadear longos relatos, lamentações e
at~ choros. Foi ficando claro que a resposta para as situa
ções embaraçosas e de detalhamento deveria ser buscada em
outros aspectos. Foram as entrevistas com mulheres 5 onde
Eram mais comuns esse tipo de situações (provavelmente pelo
fato de eu ser mulher), que começaram a me fornecer algumas
indicações para tentar explicar o que se passava.

Várias vezes~ quando estava entrevistando mu


lheres, a conversa encaminhou-se rapidamente para a discus
são dos complicados - e mui t as vezes dramáticos - problemas do
casal, sem que EU nem de longe fizesse qualquer menção so
bre o assunto. O fato é que? quando pedia a uma mulher para
me contar a sua vida, foi frequente que ela desprezasse to
dos os demais aspectos como secundários e passasse ~ falar
longamente dos problemas conjugais que, com toda certeza
são os que mais dão pretexto para angústia. Era..'Il
relatos a
flitos, tristes, quase que invariavelmente acompanhados de
crises de choro (foram raríssimas eS entrevistadas que não
choraram ao contar a sua vida) e frequentemente entremeados
por perguntas sobre assuntos muito concretos (por exemplo ,
uso de anticoncepcionais») por busca de informações. Mas a
pergunta continua: por que falar de assuntos tão íntimos e
que 3 no cotidianos são praticamente intocáveis com uma es
tranha? Acho que justamente por isso: ialar com as vizinhas
é arriscado, pois pode~se ver sua vida comentada no bairro
.• inteiro de um dia para o outro. Ou seja, em primeiro lugar
o meu distanciamento assegurava as possibilidades de uma
.• aproximação, de um desabafo, de um pedido de conselho. Além
disso, por ser eu uma Hém tropóloga!1 (o que não deve signi
ficar praticamente nada aos moradores da periferi~3mas ap~
nas marcar uma import2ncia, um distanciamento e uma posição
superior) de quem sabe») poderia vir a dar informações mais
precisas do que as de uma vizinha que estaria nas mesmas
condições do que elas. Frequentemente, as respostas a pe~
guntas que eu havia feito durante uma entrevista eram inter
romplaas e os entrevistados me pediam que lhes explicasse
algo ou lhes informasse sobre os mais variados assuntos:des
de por que eXls~em eleições, qual o partido a que pertencia
Adhemar de Barros, onde se consegue os
-.
papels para aposent~
doria no INPS, at~ se ~ ou não conveniente informar ~s fi
lhas adolescentes a exist~ncia da menstruaç~o ou qual o m~
li todo anticoncepcional mais adequado (as perguntas mais fre
quentes eram sobre educação dos filhos e sexualidade feminj
na); chegando a sit uaçóe s como a de uma mulher que me pe.:r:'
guntou o que significava l!cardíaco;'
5 dizendo que queria sa
ber pois o seu pai. cuja morte ocorrera h~ 19 anos causando
grande impacto em sua vida~ havia morrido porque era !lcar
díacoi
••

Creio que existe ainda méllS UQ ~otivo p2ra a


entrevista se transformar numa conversa ínti,_a e densa; ela
é uma oportunidade de falar) de parar para refletir um po~
co sobre algo que vai al~m do tanque de roupa e do fogão~
para ordenar um pouco o mundo. É, em suma, uma ocaSlélO exce
pcional que, ao colocar um distanciamento do cotidi no V1Vl

do, permite ordenar um pouco pedaços de experi~nci s que fo


ram sendo acumulados com o correr do tempo, sob a forma de
fragmentos dispersos; que ficaram sem conexões nem explic~
ções. Por isso; ê comum que a entrevista se transforme em
uma relação catártica que termina, frequentemente; num tom
nostálgico e triste - de quern , por exemplo, defrontou- se com
o seu passado> pensou o presente, imaginou o futuro em
agradecimentos e alIvio) quando não em choro. Uma e trevis
tada falou-me disso:

a gente fica pondo tanta por-c ar-i.a na cabe


.. ;:
ça, que a gente pára pra pensar} chega
uma cois~5 distrai a gente, a gente come
ça a viver novamente. Agora, como eu es
tou conversando com voc~; a gente parece
que desabafa um pouco, fica mais alivia
da, não sei. Tem horas que a gente n~o po
de conversar, tem muitos vizinhos aqui, a
gente n~o pode conversar com eles a vida
da gente, tem uns que fica rindo na cara
da gente~ leva aquilo de brincadeira,fica
dando pouco caso at~. Então, tem hora que
a gente se fecha C ... ). Tanta coisa, às
vezes muita coisa que a gente podia ter a
cabeça da gente mais leve) e a cabeça da
gente f í.ca cheia de con f us ao!",

Apesar de acreditar que a situação de falta


de informações e de falta ce interlocutores ~ presente tan
to para os homens quanto para as mulheres~ crelO que e mais -
grave no caso destas Que, em grande parte, ficam mesmo res
Tri tas ao un aver-s o doméstico. A problemática que aparece nas
entrevistas com mulheres sâo um dos reflexos da viv~ncia co
tidiana de uma situação esp8cífica: a da condição de mu
lher, e mais do que isso} da condição de mulher pobre, para
quem os condicionamentos sociais certamente pesam malS do
que para uma mulher de classe média. Muitas delas chegam a
intuir seu deslocamento no mundo e relacion~-lo com o fato
de serem mulheres. A mesma entrevistada citada anteriormeríe
afirmou:

"P mulher não precisa aprender nada, s6 os


homens. A mulher, não sei porque a mulher
tem sempre que f i.cer- pr-a tr:3.s.'I'ambemnão
sei o que é isso, que defeito que a mu
lher tem que a mulher nunca pode fazer na
da? Não tem explicação pr a .i sso!". -

Em suna o fato de as mulheres terem ;:nenos


instrumentos para pensarem o mundo (exterior ao universo d~
méstico) e a sua posiç2o nele são elementos que: a meu ver,
permitem compreender a maior carga de angústia contida em
suas entrevistas e também o caráter mais intimist2. e lIverda
de i r-o" de relato. (4)

Mas hi aind~ outros aspectos envolvidos em


uma situação de entrevista e de relato de hist6ria d ~ida
que podem ajudar a compreender tanto o aspecto verdadeirodo
relato; quanTO a concord~ncia em faz~-lo.

Ê bastante comum que se agradeça a oportuni


dade de falar" que se manifeste o contentamento e o alívio
causado pela situação de entrevista~ como se pode despedir
o pesquisador com a f r-as e : "foi uma honra poder falar com o
s enhor-v . Creio que =ip ar-e ce aí um elemento bastante comum nas
pesquisas de campo realiz2.das junto a populações pobres:co~
.. ceder a entrevista é um privilégio, é uma marca de distinção .
Muitas vezes~ no bairro da periferia de são Paulo onde rea
lizei um.:::
pesquisa~ era ch2.lllada
por pessoas que me pergunt~
vam: o/as r-a , não vai querer fazer uma palestra comigo tam
bém?/i i/e l~ em casa, a sra. não va i. che gar-?" ou era obri
gada a enfrentar situações desagradáveis com pessoas que se
mostravam ofendidas porque havia ido à casa de seus vizi
nhos e não às auas próprias.

Distinção) importância, identidade, -


sao ele
mentos que o pesquisador e a situação de entrevista confe
rem aos entrevistados~ e esses aspectos se tornam mais Dre
sentes quando se trata de membros das camadas dominadas da
população. As sociedades relegam ao silêncio aqueles que
-
sao dominados: suas vidas passam-se no anonimato, eles -
nao
têm voz~ nao se lhes reconhece uma identidade~ a não ser em
situações muito específicas - em geral, são apenas um entre
outros (na fábrica? na fila do INPS ou do ônibus) na hora
de colocar o voto na urna e assim por diante). No ato de sQ
licitar a alguém que relate a sua vida está contido Cpara o
entrevistado, mesmo que o entrevistador possa não estar cons
ciente disso ou não ser sua intenção fazê·-·lo)um reconheci
mento da individualidade~ um respeito àquela vida' afinal,
não é qualquer vide que se está pedindo para relatar, mas
uma vida particular, e sua vida. E a entrevista dá voz ,tira
do anonimato uma vid marcada pelo sofrimento, pela angu~ -
tia, pela luta: é u_a vida cujo relato só pode ser marcado
pelo sofrimento pois, além de ser sua parte integrante, -
e
ele que, de algQ_2 _Bneira, lhe confere dignidade.

Em que outras situações um membro das cama


das dominadas te , reconhecid~ 2 sua identidade? Em que ou
tras situações é conferida importância~ respeito e dignid~
de à sua vida? Em que outras situações é chamado pelo nome
e suas queixas são ouvidas e consideradas? Na nossa sooieda
de essas situações não são muito comuns. Esse reoonhecimerto
pode aparecer no discurso pOlítico, sobretudo nos de cará
ter populista - o tapinhe nas costas 5 o aperto de -
mao e a
l
frase "conto com o seu voto pode estar presente também
na prática e nos rituais de religiosidade popular. Mas o
mais frequente é que se reconheça a identidade de um membro
das camadas dominadas apenas quando ele ameaça a ordem - ao
oometer um crime5 um pobre é interpelado como indivíduo'pa~
te da violência que se exerce contra ele é exatamente a d~
ao julgá-lo culpado, identificá-lo pela classe e pelo nome,
C5)
e fazê-lo responder individualmente.

Creio que esse reconhecimento de identidadeé


um dos aspectos presentes na situação de entrevista e que
podem conferir satisfação ao entrevistado, explicando inclu
sive sua disposição para a rslação. Ela transparece freque~
temente na fala dos informantes. Por exemplo, o mesmo se
nhor que começou falando sobre a questão da verdade e da
mentira, terminou o relato dê sua vida com a seguinte obser
-
vaçao:

lié um prazer conversar. Você sabe que dava


pra fazer um livro se contar a minha vida
tudo direitinho? 'I'Lm-rt i.m+por-v t i.m-ct i.m.."

.. _ A

Mas nao e sempre que esse tipo de reconheci


mento pode ser expresso, ou antes, que pode ser compreendi
do. Quantas vezes fui obrigada a responder à pergunta: /lmas
por que a sra. quer saber a minha vida? eu sou uma pessoa
qualquer, nem sei falar direito: 11 Contra--argumentar era di
fícil. Como convencer que a sua vida era importante? Certa
mente é mais fácil acreditar que se está sob suspeita (o
maior problema que enfrenta o pesquisador ao chegar a um
bairro pobre é convencer seus moradores de que não é um fis
calou da polícia). E como CODJenCer alguém sem voz que sa
bia falar? InGmeras vezes ne final da entrevista ouvi as
desculpas <1por alguma cois2. a sra. sabe, a gente não enten
7

ll
de das coisas e por aí afora. _o entanto, creio que essas
desculpas~ que muitas vezes são daquelas frases formais que
se fala por falar, são ditas n~~ tom suficientemente ambíguo
a ponto de não conseguirem esco~der uma ponta de satisfaçãa
Fica patente, por exemplo, nuo d~~logo ocorrido entre um
entrevistador e um entrevistado~ depois que este havia pedi
do desculpas por tudo de err-do que poderia ter dito, por
não saber falar, por não entender das coisas,etc:

entrevistado: ,;
se tem algum erro, o sr .cor
rige~ que nós nao estc.mos acostumados a ta
lar assimll.

- pesquisador: "Tmag i.nel Gostei muito das


coisas que o sr. falou, o sr. tem umas
idéias muito bonitas".

_. entrevistado: "O sr. achou mesmo? Que o sr,


sabe, nê, eu nunca estudei5 eu não tenhe
leitura, tudo o que eu falo é dom da natu
rezaíi•

Acho que comentários como esses, onde está


presente a arrilliguidade
- no caso, do reconhecimento simultâ
neo da inferioridade e da importância, da dignidade pessoal-
são o retrato mais claro que se pode ter de uma relação de
pesquisa. Não há uma relaç20 que seja unívoca~ ela é sempre
uma relação de forças em que ora prevalece um a spe ct o , ora
prevalece outro. Mesmo a posição de saber/poder do entrevis
tador é vivida ambiguamente., t<lnto por ele próprio~ que sa
be mas pergunta; quanto pelo entrevistado, que não sabe mas
informa. Isso aparece, por exemplo, em situações como a se
guinte. Cheguei com dois colegas ~ casa de uma pessoa que
.• havíamos contatQdo e com a qual deveríamos conversar. Essa
pessoQ não estava? mas havia deixado com sua <lVÓ um recado
com a indicação de que estaria em outro local, o qual sabí~
mos onde era. A senhora nos transmitiu o recado e perguntou
se sabíamos o de er~ o local indicado. Dissemos que simpgr~
decemos e saímos. Quando est~vamos na rua, a senhora nos
disse; '"asenhora desculpe de eu perguntar se a senhora sa
be onde é. Um~ gente como a senhora sabe tudo., nê, mas tem
horas ... ,i

Eo SUffiQ,o que gostaria de sugerir e que Q

relação de entrevist~ é uma rclaç~o complexa onde estão todo


o tempo influindo elementos variados e frequentemente opo~
tos. O depoime to de lli~asenhora feito a Ecléa Bosi ilustra
de maneira exerr p Lar- a mul tiplicidade de aspectos que podem
estar presentes:

ilEu conto tudo pra você, pois o que a gen


te é) é ... são coisas que já passaram, de
pois, tive tanta felicidade! ;r

" 'iMas contando para você os pedaços difí


ceis, aquela luta, parece que estou con
tando para uma pessoa muito querida,conto
com todo prazer, gostaria de fazer aque
les comentários ... sei lá dizer coisas
mui to importantes pra você ;1

- i1Quando a gente se confessa tem que falar


toda a verdade. Então como eu estou
j fa
lando toda a verdade pra você, eu não tI
ve Nat",l na minha casall

" ~ nAquela noite, vou contar para você,nem no


confessionário a gente fala com tanta fran
queza assim, eu chorei a noite inteirinha
sem pararll

- "Quem diria que um dia eu ia abrir o livro


de minha vida e contar tudo? E agradeço
por isso: ~69om a gente lembrar. Deus te
abençoe".

DepoimentoiVerdade/Confissão/Desabafo/ Ajuda
(ao outro e a si próprio)/Informação. Todos esses elementos
se misturam no discurso de um informante e o caracterizam .
A situação de poder do pesquisador, além de servir para de
senc~dear o discurso, marca alguns oe seus aspectos j masnao -
d~ conta de tudo o que ocorre na relaç~o - a partir de um
momento, ela assume um outro car~ter, o entrevistado impri
me o seu tom. O que diz n~o é um depoimento que vai ter um
• signific~do apenas para quem o solicita a fim de descobrir
algo; ele é significativo - e em certo sentido também urna
descoberta - para quem o fornece) para quem o vive (e reVl
ve ) .

Creio que esse aspecto esclarece urna das


principais características de um2 relaç~o de pesquisa em Cl

ências sociais. O 7l obj o t o " da .í.nvest í.ge çâo na.o é por ne dc


um objeto neutro e passivo que possa ser siDplesmente obser
vado: o seu depoimento é, antes de mais nad ~ ~~a aç~o Sl~
ficativa para si mesmo, é uma ação vividas e ~~ ação vivi
da na.o de forma isolada 5 mas numa relaçãc com ou t r-o, aqu.::.
le que desencadeou a ação. Mas tampouco o pesquisador é
neutro e passivo nessa relação, apenas um observ~dor qus re
colhe o seu material. Ele é a todo instante incl ido na
ação que transcorre. Em primeiro lugar, é a ele que é diri
gido o relato, a confissão, o desabafo. Mas talvez a sua
participação e inclusão fique mais clara quando o ~vista
do lhe solicita escl~recimentos, informações 5 opiniões, lhe
exige, enfim, uma resposta. Es t abe Lece+s e uma relação de
troca e é razoavelmente comum o surgimento de situações em
que, no final da entrevista, o informante fala: "acabou?bom,
agora eu vou fazer urna entrevista com o senhor, o senhor
agora val me responder umas perguntasll•

O entrevistado fornece o depoimento que lhe


é solicitado, mas recebe coisas em troca, que vão desde a
oportunidade de falar sobre dGvidas e ang~stias, até infor
F1.
maç8es sobre assuntos objetivos. Mas não é só isso.O depoi
mento não existia pronto para ser dito; ele ê construido a
medida em que val sendo dito. Tudo isso faz com que areIa
ção da entrevista seJa, basicamente, uma relaç~o de aprendi
zado: tanto o pesquisador quanto o entrevistado descobrem,
aprendem, refletem. A informaç~o produzida a entrevista
gravada, por exemplo - ê o resultado dessa troca, dessa
aprendizagem comum onde podem ter interferido os mais varia
dos elementos, e não pode ser produzida duas vezes da mesma
maneira, urna vez que é result do de uma relação e da manel
ra como ela se d~.
A relação de troca e aprendizagem está presen
te~ com toda clareza, em situações de entrevistas abertas e
de observação participante e, a meu ver~ isso acaba amenizan
do um pouco a violência do exercício do poder que se estabe
lece sobre o entrevistado. No entanto~ isso nao acontece na
aplicação de questionários ou na realização de surveys. Nes
.. sas circunstâncias, a rigidez das perguntas, a ordem pré-es
tabelecida~ o leque fixo de alternativas, não permitem ao en
trevistado praticamente nenhuffiaparticipação ativa na rela
ção. Creio que é a situação onde a violência do exercício do
poder na prática da pesquisa em ciências sociais apresent~
se de forma mais crua: ao entrevistado não é permitido nada
a não ser submeter-se 2 responder aquilo que lhe é solicita
do; o que for dito além não interessa, não é anotado e não é
levado em consideração.

Bem, mas há que olhar agora do ângulo do pe~


quisador. Como~ afinal, ele se comporta nessa relação? Como
reage? Como maneja todos esses aspectos?

111

Centrando a atenção no pesquisador5creio que


há dois aspectos a serem considerados: de um lado, as suas
reações subjetivas durante a situação de permanência no cam
po e de relacionamento com os informantes; de outro ~ sua
atitude frente ao material coletado que, como já foi visto~
inclui uma série de aspectos subjetivos e íntimos do entre
vistado e que foram produzidos numa relação específica e por
nada neutra.

Começando pela subjetividade do pesquisador ~


o que parece haver é uma tendência geral por parte dos Clen
tistas sociais em tratar como indesejáveis ou como 11 fo.l: lx'e!1
da pesquisa de campo as emoções e os mal-estares que sentem
ao tentar perceber e vivenciar o universo dos Houtros" com os
quais estão se relacionando. são frequentes nos cadernos dos
antropólogos as descrições de situações desse tipo, e Rober
to Da Matta já cha~ou atenção para a importância de se '1in
corporar no campo mesmo das rotinas oficiais~ já legitimadas
como parte do treinamento do antropólogo, aqueles aspectos
eXLraordinários ou carismáticos~ sempre prontos a emergir
em todo o relacionamento humano". Essa seria a área dos an
thropologic.al blues 5 "e.queLa do elemento que se insinua na
prática etnológica, mas que não estava sendo esperado. Como
um blue cuja melodia ganha força pela repetição das suas
frases de modo a cada vez mais se tornar perceptível. Da
.. mesma maneira que a tristeza e a saudade (tamb~m blues) se
insinuam no processo de trabalho de campo, causando surpre
- 'I (7) -
sas ao etnologo' .

Por que não considerar as vezes em que o pe~


quisador ficou absolutamente deprimido e sem ação frente a
um relato desesperado e entrecortado por choro? Ou as vezes
em que, depois de ouvir um desabafo angustiado de uma mu
lher sobre o relacionamento com seu marido que bebia e lhe
batia quase que diariamente, teve vontade de simplesmente
dizer-lhe: 1Yminha filha, vá à luta, largue esse homem e vá
cuidar da sua vida! 11 E as vezes em que disse isso. Ou a de
sagradável sensação de solidão ao fechar a porta de sua ca
sa e sentar para escrever as observações do dia, sem conse
guir digerir o que havia acontecido e sem ter com quem co
mentar. Ou então sua raiva quando se sentiu envolvido a con
tragosto em uma briga de grupos políticos da comunidade em
que estava estudando. Ou mesmo a pergunta constante:por que
não tomar diretamente um partido nessa briga, já que tem
uma posição muito clara, ao invés de ficar fingindo para t~
dos que acha que todos estão certos? Como entrevistar com a
mesma ilneutralidadeli um dedo-duro e um militante de base,se
se tem desprezo por um e admiração pelo outro?

Em geral não se trata todo esse tipo de que~


tões e, a bem da verdade, não podem mesmo ser consideradas
se o que se pretende é manter a crença na llneutralidade ci
entíficail do pesquisador. Ela o obriga a ser objetivo,a não
se envolver, a distanciar-se do seu objeto de pesquisa e a
deixar claro para ele esse distanciamento, a não interferir
nunca, a criar uma situação o mais neutra possível. Com isso,
fica impossível considerar que nada é tão simples assim e
que a omissão e o distanciamento são, antes de mais nada,
formas específicas de participação.

Mesmo que não se pretenda fazer uma conside


ração psicológica, não custa lembrar que a relação que for
nece os dados para c conhecimento em ciências sociais é uma
relaçâo entre pessoas que se enfrentam como subjetividades
e onde todas as atitudes de um têm reflexos no outro e são
levadas em consideração. Por isso mesmo~ creio que as tenta
tivas de distanciamento e de assepsia recomendadas por mUl
tos manuais de pesquisa de campo não têm os resultados que
são delas esperados, ou seja, objetividade, não interferên
.. cia. O silêncio do entrevistador frente a dúvidas e pergu~
tas do entrevistado; a sua neg~tiva em fornecer-lhe respo~
tas e opiniões nã9 são atitudes que isolem elementos mas
que, ao isolarem) incluem ..:.ssi., o silêncio e as reticên
Clas do pesquisador, além de sere~ embaraçosos para ele e
provocarem grande angústia no eLtrevisT-do, podeI:! contri
buir, por exemplo, para desencadear _~ série de fantasias
e desconfianças a seu respeito o ?ar~ a produção de um dis
curso 11 cu Lpos o" 3 defensivo ou Ilmentiroso i
• ~-ãc acredito, em
suma~ que manter o distanciamento e o si_êncio interfira me
nos do que aproximar··se s emitir opiniões e f or- ecer re8po~
tas. Participar ou negar~se a parTlcipar têm, sob um aspec
to, os mesmos efeitos sobre os pesquisados: sâo atitudes que
interferem e são levadas em consideração. Pode-se optar por
fazer uma coisa ou outra, até considerando os efeitos que
se quer alcançar, mas o que não se pode é imaginar que uma
situação isola a produção de efeitos. Acredito que o silên
cio pode ser uma ótima técnica de pesquisa quando se desej~
por exemplo~ ver como determinada população reage a angú~
tia, ao desconhecido (o que não significa que não seJa uma
técnica violenta). Mas com certeza silêncio e objetividade/
neutralidade não são a mesma COlsa.

Mas a questão da objetividade e da Hneutrali


dade científica' do pesquisador creio que vai ainda malS
,l'
longe. De alguma maneira, também o pesquisador - e prlnc~
palmente ele - é tratado como um Objeto, e não como um su
jeito que se relaciona com outras pessoas e que, por ser hu
mano, tem emoções, sensações, sentimentos, Exige-se que ele
esqueça e desconsidere como entraves ao verdadeiro conheci
mento todo seu lado~ digamos, emocional. E a verdade é que,
para quem acredita que para se fazer uma pesquisa é necess~
rio neutralidade e objetividade permar€ntes, e que estas são
possíveis, deve ser muito difícil colocar suas emoções em
observação. f preferível neg~-las. Quem sabe até porque o
consenso sobre o que seja a prática científica tenha tanta
força que qualquer pessoa levemente comprometida com ela
prefere deixar ~lgumas quest~es para os bastidores ao
.
lnves -
de torná-las públicas.

Talvez fosse mais saudável e produzisse resul


tados mais efetivos se os cientistas sociais, ao invés de fi
carem pedindo desculpas e tentando acertar as contas com a
metodologia e os procedimentos das ciências exatas e com a
objetividade e a exteriorid~de que lhe são possíveisjadmiti~
sem de maneira mais contundente que a natureza dE seu objeto
de estudo é outra e que, portanto, os procedimentos de pe~
qu i sa devem ser outros. 'I'r-at a+s e de uma relação humana de um
lado, e de uma relação de laboratórios entre uma pessoa e um
obj et o , d8 outro. E aqui) a própria lingua gem he r-de.da pelas
ciências humanas já ê incômoda: me ê difícil, por exemplo,
designar um informar.te como liobjetoii de estudo.

Apesar da afirmação dessas diferenças ser um~


.,4 •• ._

espe c i.e de lugar corr.ura nos trabalhos de rne t odo Log i a de c i en


cias sociais~ creio que não foi levada às últimas consequê~
cias, pelo menos na maioria das vezes. O que parece ocorrer
de modo mais frequente, ê fazer-se um grande esforço no sen
tido de adaptar ~s tê~nicas e métodos da pesquisa e observa
ção de um labor:::.tôrio
para uma situação em que os lfobjetosl1
- pessoas,
sao a vida social ou a cultura) .
ao lnves -
de proc~
rar outros métodos. Se não for por isso, por que a insistên
Cla na neutralidade do investigador, em negar suas -
emoçoes,
em afastar toda um~ quantidade de aspectos que pOSSaD "inter
ferir nos resultados!1?

Acredito que as emoç6es do investigador nunca


devem ser negadas (mesmo porque estão sempre presentes). Mas
além disso, creio que devem ser atentamente consideradas;pois
podem converter-se em um importante instrumento para o conh~
cimento. O que imagino que pode consistir na especificidade
na originalidade do método de pesquisa de campo em ciências
sociais é exatamente o fato de o pesquisador utilizar a Sl
mesmo como um instrumento de pesquisa e uma fonte de observa
ção. É o considerar, por exemplo, que as situaç6es que ele
pode provocar -
e as emoçoes e sensaçoes - -
que sente sao lmpo~
tantes fontes de informação. É se esforçar por identificar
os elementos que estão entrando em cena (inclusive os de sua
própria subjetividade) ao invés de tentar afastá-los como in
desejáveis. É incluir os "errthr-cpo Log i.ce l b Lue s" na rotinada
observação.
11al errt end.i.do s , choques e desconfortos - sem
pre desagrad~veis do ponto de vista subjetivo e emocional
talvez sejam das situaç6es mais frequentes para se entender
o universo dos "outros". Has para que cheguem a ser elabora
• dos é necessário que o pesquisador esteja sempre prestando
atenção nas suas próprias emoç6es e sensações? considerando
a sua angústia? a sua tristeza e o seu espanto como signifi
cativos. Poderia multiplicar aqui exemplos em que o acaso
me levou a entender aspectos da vida cotidiana da periferia
que dificilmente captaria em uma entrevista por falta de re
ferenci~l: o presenciar uma brincadeira de duas crianças,uma
mãe repreendendo o filho~ o füxico de duas vizinhas? a con
versa de dois amigos no bar depois do trabalho, ou o espanto
de um homem face a uma observação que para mim era o óbvio,
mas que ele não conseguia entender. Ou então~ como c choque
que me causaram ~lgum2s atitudes permitiram captar aspectos
do modo de vida sobre os quais não se fala, pois não são
conscientes ~c ponto de se poder colocar em palavras.Porex~
pIo? a percepção de qUé o relacionamento entre as pessoas
que moram na periferia de são Paulo é rude3 ~spero? direto,
sem nuances5 e q~2 ~em no silêncio uma das características
mais marcantes. Silêncio que significa a ausênci~ de troca
de opiniões e de idéias G a aceitação incondicional de um
padrão de re:acionaTtento5 aquele transmitido pela tradição
(no que se refere a papéis sexuais e a papéis etários).Pode~
se-ia dizer que é Qm relacionamento marcado pela viOlência,
que nao e a violência física, mas uma violência muda, avio
lência do silêncio, da omissão, do interdito~ do desconhe
cimento. No entanto, o que quero chamar a atenção e que a
classificação de violência quem faz sou eu, na proporçao do
meu choque e do contraste com o que reconheço como relacio
namento aceit~vel ou desejado: para as pessoas que o vivem é
apenas o padrão normal, natural.

IV

Depois de considerar todos esses aspectos, ca


be perguntar: o que resta, então, como matéria-prima para o
trabalho de interpretação do cientista social? qual deve
ser a sua atitude depois de abandonar o campo e sentar no seu
escritório com entrevistas e observações para serem analisa
das? Acho que essas questões podem ser enfrentadas pelo me
nos sob dois aspectos, que gostaria de considerar,ainda que
rapidamente: do ponto de vista ético e do ponto de vista
teórico e metodológico.

Antes de mais nada, creio que é na hora de


interpretação e publicação dos dados que o pesquisador pode
exercer de maneira mais violenta o seu poder. Nesse as t ag i o,
as pessoas que deram as entrevistas, que forneceram os da
dos, já não têm nenhuma interferência e cabe apenas ao ln
vestigador decidir o que fazer com eles. Fica reservada ao
pesquisador a opção de, por exemplo) tornar público u~ desa
bafo? uma confissão, que lhe foram feitos por motivos abso
lutamente pessoais, embora isso possa não ter sido di t o-cebo
a ele decidir pela utilização ou não de dados ín~imos da vi
da dos entrevistados. Não acredito que o fato de o entrevis
tado saber que o pesquisador estava colhendo informações p~
ra uma pesquisa seja suficiente para serVlr como justific~
tiva para a publicação desse tipo de dados, co não acredi
to na veracidade da frase: "e f i.na L ~ ele falou por-que quis I! •
As coisas não são tão simples assim: o entrevistado CE:':(~

mente pode ter falado porque quis, mas não se pode esauecer
do contexto de poder da entrevista, nem do fato de que, mu~
tas vezes~ o seu caráter não é outro além do ce a pessoa
que pede ajuda a uma outra que ela acredita que possa lhe
auxiliar. Desabafos e confissões surgem nesse contexto e
têm um caráter significativo e subjetivo para aquele que os
faz, que nada tem a ver com a prestação de informações ou
explicações. Creio, por isso, que as longas confissões,desa
bafos, relatos íntimos e o grosso dos dados fornecidos du
rante uma história de vida são elementos que fazem parte de
e caracterizam w~a relação pessoal e íntima, uma relação de
amizade e confiança (não de investigação) 5 cujo significado
se esgota nela mesma e, para o informante, no instante em
que ocorre~ são informações pessoais e não científicas. O
pesquisador deve assumir a responsabilidade de não se esqu~
cer da posição de poder em que se encontra e da quantidade
de situações que podem se desencadear a partir daí. Por tu
do isso, publicar dados que foram fornecidos em situações
de confissão, desabafo, pedido de ajuda ou algo do gênero,
creio que é uma atitude anti-ética.

Não quero com isso chegar ao ridículo de di


zer que o pesquisador deveri~ esquecer aquilo que ouviu em
confissão ou fingir que situações como essas não existiram .
Essas são circunstâncias que fazem parte de sua relação pe~
soal com os informantes e são dados que o ajudam a compreen
der sua vida e seu universo; mas daí a publicar relatos pe~
soais creio que há uma grande diferença: uma coisa é usar
como dado, outra como texto. Incluir emoções e sentimentos
na rotina de observação de pesquisa creio que é uma atitude
necessária, uma vez que realmente fazem parte da relação que
se estabelece no cillnpoe considerá-Ias contribui par~ o en
tendimento da realidade que está sendo estudada. Mas, volto
a insistir j levar em consideração dados para a interpretação
e o entendimento não significa publicá-los.

Finalmente, haveria que se pensar sobre a ln


terpretaç~o mesma dos dados. Embora considere necessário e
urgente uca discussão malS aprofundada do ponto de vista teó
rlCO e 5etodológico no que se refere ã análise de discursos
e de representações (dados "qua Li.t at i.vos") , nâo é objetivo
deste trabalho S€Euir por essa linha. O que pretendo fazer é
apenas fornecer algumas indicações sobre a "ria t ur-e za" dos da
dos coletados em pesquisa de tipo "qua Li.t at i.vo'! , que acre
dito que possam contribuir para essa discussão.

-
Antes de mo.lS nada, nao custa lembr~r aue as
entrevistas, depoimentos e observações de campo, por malS ri
cos que possam ser, não constituem em si mesmos uma evidê~
ou uma explicação. são dados, ou seja; a matéria bruta a ser
trabalhada. Para que adquiram um significado para o conheci
mento eles necessitam ser interpretados e explicados, reque
rem um trabalho que é inseparável de um esforço teórico e
que em nada se assemelha ã copilação de dados ou à descrição
pura e simples.

Além disso, creio que é imprescindível,quando


se a.na ci.a a interpretação, ter clareza sobre a "na+ur-e aa" dos
dados que se tem nas mãos. Não são dados "obj e'ti.vo a'", exter
nos e unívocos; não são lineares e produtos de um experime~
to onde se isolaram interferências, mas resultantes de uma
quantidade de fatores que não podem ser desprezados. Tanto o
que foi dito (e que pode estar gravado ou escrito) ,quanto o
que foi observado e sentido~ são dados que foram revelados
em diversos momentos de uma relação na qual entraram em jogo
os ~ais variados elementos. Entre estes encontram-se um p~
no-de-fundo fornecido pelo dispositivo saber-poder com to
dos os desdobramentos qu~ tentamos descrever; o fato de se
tratar de uma relação complexa da qual fazem parte as situ~
ções que produzem a confissão, o desabaf05 o pedido de aJ~
da e de informação: o fato, enfim, de se tratar de uma rela
ção entre seres humanos) melhor seria dizer, de uma interre
lação, onde obv i amerrt e estão presentes aspectos subj et í.vos
e pessoais.

Considerando já o contexto em que foram pr~


duzidos os dados, não fica difícil perceter que se tratamde
discursos multi~facetados5 fragmentários, contraditórios,mul
ti determinados. Ignor~r ~~ hora da análise essas caracte
rísticas pode significar um empobrecimento, quando não um
desvirtuamento. Provavelmente toda a interpretação que se
faça a partir desse tipo de deCOS é urna carrri sa-xle+f'or-çe a
que o investigador submete o discurso· provavelmente cada
d lscurso po d e ser 1 ld o. e pontu_do de dl f erentes manelras. (8)
0
o o o

Não creio que se possa escapar a ess~ armadilha na hora da


análise, mas talvez seja possível evitar alguns riscos malS
frequentes. O maior deles, e quem sabe o malS comum, e o de -
tentar buscar nos discursos uma coerência que eles não p~
dem ter5 porque não lhes pertence, mas sim à interpretação.
Ou então o risco inverso, tão comum quanto o anterior,que é
o de negar aos dados qualquer coerência própria e submeter
111es (muitas vezes depois de terem sido picotados e dividi
dos em itens) a um modelo pré-estabelecido e construído de
fora, que se pretende comprovar ou refutar.

Creio que um caminho possível para evitar os


riscos mencionados é, por um lado, respeitar os dados como
são, com toda sua heterogeneidade e sem desvirtuá-los com
uma fragmentação imposta de fora (que pode ser lógica, mas
-
nao necessariamente real») e por outro, ir buscar nas suas
fissuras e contradições pistas para a interpretação.
* - Agradeço a Ruth Cardoso e José Guillerme Magnani pelas
críticas e sugestões .


& 1 ~.O primeiro incômodo para aqueles que se detenham em que~
tionar a pr~tica de pesquisa já pode ser causado pela
própria língua. Em por-tuguês e em ou-+::ros
idiomas empreg~
se o mesmo voc~bulo para designar a pesquisa cientffica
e o inquérito policial. Segundo o Novo Dicion~rio de Au
rêlio Buarquc de Hollanda Ferreira~ lInvestigação' é o
!lato ou efeito de investigar~ busca, pesquisa;
indagação
minuciosa~ indagação~ inquirição1? e lInvestigar1 signifi:.
ca "segu i r- os ve st i gi.os de; fazer diligências para achar;
pesquisars indagar, inquirir; examinar com atenção; es
H
quadrinhar •

2 - Outra quest~o pertinente, mas que n~o pretendo discutir


aqul por ter toda Q.a outra ordem de implicações, é a da
eficácia de cada ~~a das várias técnicas de pesquisa em
clencias sociais no sentido de um aprofundamento do co
nhecimento.

3 - Obviamente não estou f2zendo referência aqui à nenhuma


concepção jurídica de poder~ nem entendendo-o como ima
nando do Estado ou relacionado a urna unidade global de
dominaç~o~ 2 concepção de poder a que me refiro é aquela
desenvolvida por Foucziu I't no seu livro A Vontade de Saber
(1977), especialmente P2rte IV, Cap, 2. O central dessa
concepção é entender o poder não corno algo que se possa
deter e que se exerce a partir de um lugar determinado,
mas corno o efeito de uma relação de forças.

4 - Arakcy Martins Rodrigues também enfrentou situações sem~


lhantes às que descrevi na realização de sua pesquisa de
campo. Seu estudo - Operário, Operária (1978) _. além de
ser um dos poucos que conheço que procura discutir a pr~
blemática da realização de entrevistas abertas) aprese~
ta, ainda~ urna excelente análise da vivência de papels
sexuais por um grupo de operários. O que acabei de afir
mar sobre a situação da mulher pobre coincide com os re
sultados de seu estudo.

5 - Sobre a relação crime-reconhecimento de identidade-obten


ção de voz5 ver a nota escrita por J.P, Peter e Jeanne
25

Farret. 110 Anima13 o Louco, a Mortel!3 que segue a apr~


sentação do dossiê de Pierre Ri.v i.e r-e em FOUCAULT, M. ,coo~
denador (1977)

6 - BOS1, E. (1979) - Lembranças de Da. Alice.

7 ~ DA MATTA) R. (1978), pgs 4 e 6 (grifos do Autor)

8 ~ Ver, nessa linha5 as observações feitas por Ruth Cardoso


em um manuscrito enti tulado "No t as para D'iscu ssao " e ap~
sentado no Seminário Sobre Análise de Discursos - USP
1979.
BIBLIOGRAFIA

AGEE, Jilmes & EVANS, Walker - Louons Maintenant les Grands


Hommes (Paris: Plon, 1972)

BOSI, Ecléa rvIemôriae Sociedade - Lembranças de Velhos (São


Paulo: T. A. Queiroz, 1979)

CARDOSO, Ruth .- "Not as Para D'i scu ssao " _. Comunicação aprese.!!.
tada no "Seminário Sobre Ane.lise de Discursosl1, realizado
no Departamento de Ciências Sociais, USP (mimeo, 1979)

DA I'1ATTA,Roberto - >;0 Ofício de Etno Logo , ou Como Ter Arrthro


pological Blues"~ Boletim do I'1useuNacional, n? 27(1978)

DURHAM, Eunice Ribeir - A Reconstituição da Realidade ( são


Pilulo: Átic~, 1978)

FOUCAULT 5 Michel - :üsTória da Sexualidade _. 1···A Vontade de


Saber (Rio de ~2neiro: Graal, 1977)

íicrofísica do Poder (Rio de Janeiro;Gra~


1979)

fOUCAULT,Michel (coordenador)- Eu, Pierre Rivier~ue degolei minha


mãe, minha irm~, meu irôão. (Rio de Janeiro:Graal, 1977)

HITE? Shere - O Relatório Hite (Rio de Janeiro: Difel,1978)

MARTINS RODRIGUES $ Ar akcy ~ Operé:rio'lOperária (são Paulo:Sím


bolo~ 1978)

S 5 Paul E. .- "The Man in t he Iron Cage: Notes on Methodl1


\;,71LL1
ln Cultural Studies, nQ 9 (Birmingham? 1976)

Vous aimerez peut-être aussi