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Crise Sanitária e Crise do Trabalho: uma oportunidade dentro do caos?

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27/Abril/2020

Fabien COUTAREL,
Maître de Conférences, Ergonome, Université Clermont Auvergne, Laboratoire ACTé, Labex IMobS3 I SITE CAP 20-
25, Administrateur de la SELF1, Vice-Président du CE22
Valérie PUEYO,
Maîtresse de Conférences, Ergonome, Université Lyon 2, Laboratoire Environnement Ville et Société, UMR 5600,
Labex Intelligence des Mondes Urbains, Vice-Présidente de la SELF
Marianne LACOMBLEZ,
Professeure Emérite, Psychologue du travail, Université de Porto, Administratrice de la SELF
Catherine DELGOULET,
Professeure du CNAM, Titulaire de la Chaire d’Ergonomie, Conservatoire National des Arts et Métiers, Laboratoire
CRTD, Directrice du Gis-CREAPT, Administratrice de la SELF
Béatrice BARTHE,
Maîtresse de Conférences, Ergonome, Université Toulouse Jean Jaurès, Présidente de la SELF
Véronique POÈTE,
Consultante Alternatives Ergonomiques, Ergonome, Administratrice de la SELF
Alain GARRIGOU,
Professeur des Universités, Bordeaux Population Health Center - Inserm U1219, Ergonome, Université de
Bordeaux, Président du CE2
Bernard DUGUÉ,
Enseignant et Chercheur, Ergonome, Institut Polytechnique de Bordeaux, Président du CREE3
Christian BLATTER,
Ergonome retraité, Ancien chef d'unité Ergonomie et FOH à la SNCF, Trésorier de la SELF
Anne GRUNSTEIN,
Ergonome, Administratrice de la SELF
Eric LIEHRMANN,
Ergonome, Responsable du pôle Approche Globale des Situations de Travail, Institut National de Recherche en
Santé et Sécurité au Travail, Vice-Président de la SELF
Bernard MICHEZ,
Consultant Ergotec, Ergonome, Administrateur de la Self, Administrateur Cinov Ergonomie4, Président de la FEES5
Philippe NEGRONI,
Consultant Sud Concept, Ergonome, Secrétaire Général de la SELF
Camille THOMAS,
Consultante et Chercheur Atitlan, Ergonome, Administratrice de la SELF

O atual contexto de crise sanitária e de confinamento sem precedentes da população é uma


oportunidade para reflexões, posicionamentos, indignações, polêmicas. O trabalho, como
atividade social, se redefine a cada dia, dependendo das circunstâncias. Especialistas de
trabalho, incluindo ergonomistas, observam e fazem perguntas.
Contrariamente a algumas crenças populares, a ergonomia não é antes de mais nada uma
história das chamadas cadeiras, escritórios ou escovas de dentes "ergonómicas". O trabalho é
um objeto central da ergonomia, e os meios técnicos associados a ele cobrem apenas parte das
questões que ele levanta. O projeto de ergonomia é desenhar este Trabalho, e, para além dos
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Tradução Francisco Duarte
meios técnicos, os valores, as competências, as relações, as organizações, etc., são
componentes decisivos, como a sua inclusão na sociedade e portanto na vida de todos.

Ergonomia e trabalho humano: fazendo sociedade

Os ergonomistas fazem parte de uma tradição humanista inicialmente voltada para a


adaptação do trabalho ao homem e à mulher em toda a sua diversidade e isso, ao longo do
tempo, para que não percam ou usem suas vidas para ganhá-la, mas ao contrário: para que se
desenvolvam e construam sua saúde no e pelo trabalho. Nesta tradição, a ideia maior é fazer
com que o Trabalho seja humano, ou seja, pode garantir e alimentar as nossas necessidades
vitais. E se o nível de remuneração e sua constância devem permitir de assegurar necessidades
elementares, nossas necessidades vitais recobrem e também abrangem:
- a criação de um vínculo social e cultural, que permite fazer, tecer, ligar, aprender,
compartilhar, criar e inovar, com e para os outros;
- fazer parte de uma comunidade e de um território que te reconhece, te aceita, te protege e te
necessita;
- a sensação de ser útil: produzir bens e serviços que tenham significado, que valham a pena
aos olhos de quem importa.

Certamente há alavancas de desempenho subinvestidas em muitas organizações. Dito de outra


forma: trata-se de um trabalho que oferece a todos a oportunidade de se vivenciarem como
verdadeiros protagonistas da sociedade e atores de uma performance que lhe faça sentido.

Portanto, é imperativo cuidar desse trabalho e, às vezes, curá-lo; pensá-lo, e às vezes curá-lo. A
ergonomia contribui assim, junto com outras disciplinas, para traçar os contornos do que
poderia ser uma sociedade que realmente o permita, em diferentes escalas: fazer sociedade no
espaço de trabalho é fazer sociedade no território e para além dele. A relação da ergonomia
com a sociedade, via trabalho, é uma preocupação original, que esta crise de sanitária está
ressuscitando.

A crise sanitária revela a todos, os impasses e pontos cegos do trabalho pré-crise

O momento histórico que vivemos é um revelador extremamente poderoso: esta pandemia é o


resultado do que Mauss, um antropólogo, denomina um “fato social total”, um fenômeno que
“põe em movimento toda a sociedade e suas instituições”, que envolve toda uma sociedade,
todos os seus membros. Entendê-lo implica não desmembrar ou dissecar o fenômeno em suas
várias dimensões (biológica, histórica, política, jurídica, geográfica, demográfica, psicológica,
econômica etc.), pois “é considerando o todo junto que [podemos] perceber o essencial ”. A
pandemia impõe-se a todos uma visão global e sistêmica, reivindicada pela ergonomia como a
concebemos.

É graças ao trabalho dos trabalhadores e das trabalhadoras da saúde, do social, da limpeza, da


educação, da agricultura, da alimentação, da energia, do transporte, da informação, e tantos
outros confinados, trabalhando remotamente, que nossa sociedade “de prontidão” enfrenta a
pandemia. Muitos dos negócios que sustentam nosso subsistência hoje foram desvalorizados
até agora. Muitos daqueles que garantem nossas necessidades alimentares de confinados,
correndo riscos, são em grande parte aqueles cuja sociedade tem gradualmente esvaziado o
trabalho das necessidades vitais do trabalho humano, no sentido desenvolvido acima.

Que paradoxo! Mas que fonte de esperança também é este confinamento! Diante do caos,
catadores de lixo, faxineiros e caixas são agora aplaudidos, reconhecidos, fatores de vínculo
social; diante da devastação hospitalar do vírus, os cuidadores estão vendo seus alertas de
longa data, até então inaudíveis, tornando-se novamente aceitáveis socialmente; Diante da
mortalidade dos idosos, as profissões de assistência pessoal representam o único refúgio da
humanidade para sustentar o fim da vida.

Essas profissões estão reconquistando, durante a crise da saúde, seu trabalho. Mas o preço é
razoável? Em que condições e com que riscos, com que liberdade de escolha? Estamos apenas
dando a eles a escolha? Podemos tolerar que essa reconquista dure apenas o tempo do
parêntese sanitário, por mais longo que seja?

As opções econômicas que sobre determinaram, nesses últimos anos, as evoluções do trabalho
e da sociedade não são alheias aos efeitos que vemos hoje. Pensemos aqui na globalização,
com sua parcela de subcontratação de baixo custo, realocação de produção e serviços ou o
monopólio virtual de multinacionais; pensemos também na globalização das cadeias de valor e
na hiperespecialização de cada um dos atores da cadeia. A escolha do menor custo de curto
prazo para o cliente foi favorecida, em detrimento da qualidade do Trabalho: a
hiperespecialização leva à desvalorização do saber-fazer, à individualização das tarefas, à
fragmentação da atividade, à perda de sentido, à qualidade impedida. Em detrimento dos
interesses das próprias sociedades também, ou seja, em detrimento dos interesses de um
maior número: mais consumo, transporte e poluição; dependência muito grande de contextos
globais muito distantes que não são facilmente influenciados. Quando afeta máscaras e
respiradores na época da Covid19, a crise do Trabalho se torna um problema de subsistência.
Os custos da recuperação e das dívidas contraídas no processo serão imensos. Inclusive
economicamente para o próprio cliente, a escolha do menor custo de curto prazo torna-se
questionável dadas as consequências da pandemia.

Questionemos a intensificação cada vez maior do trabalho, combinando, por exemplo, a


manutenção de prazos mais apertados com uma padronização dos métodos operacionais e
maior controle das operações realizadas: privando o trabalho da obra a tal ponto que o termos
mão de obra não conservar atualmente, o sentido de um custo a reduzir.

Vejamos a onipresença de imperativos gerenciais que defendem, em particular, uma


programação mais precisa de pessoal e o desaparecimento de estoques. Na maioria das vezes
associados à ilusão de trabalho nominal e controlado, esses imperativos levam os trabalhadores
a operar em condições sempre degradadas, devido às variabilidades inerentes ao trabalho
humano, as quais, por serem negadas, não são atendidas. A ausência de estoques, a montante,
durante e a jusante das ferramentas de produção, limita os riscos de uma produção realizada e
não comercializada. Mas isso também torna o trabalho humano dependente do mercado,
dependência que a flexibilidade dos contratos e do tempo de trabalho permite integrar:
horários deslocados e escalonados, trabalho parcial, contratos de curta duração, etc.

A revolução digital da nossa sociedade apoia amplamente a crescente banalização destes


tempos de trabalho atípicos, da insegurança social e até familiar, uma vez que o equilíbrio entre
a vida familiar e profissional é por vezes perturbado. Deste ponto de vista, o teletrabalho
imposto, em simultâneo com o cuidado dos filhos, aos quais estes mesmos pais devem
finalmente garantir uma continuidade pedagógica, oferece uma vivência massiva das
dificuldades associadas à desregulamentação do sistema de atividades.

Tantas opções que desumanizam o Trabalho, que passa a ser considerado um custo e não uma
questão de desenvolvimento individual, coletivo, local e ambiental. O “fator humano” é, na
melhor das hipóteses, uma variável de ajuste; na pior, um fator de economia a ser realizada, em
parte justificado pelas formas de desengajamento que gera. Os efeitos nocivos dessas
condições de trabalho sobre as pessoas estão muito bem documentados na literatura científica,
e para alguns há muito tempo. Eles também são amplamente banalizados pelos mecanismos de
reparação que compensam dificuldades comprovadas de saúde, às vezes duradouras, ou
mesmo expectativas de vida limitadas.

Claro, nem todo mundo está preocupado. Mas as tendências continuam importantes e
largamente predominantes. A explicitação, a intervenção, a teorização, em particular na
ergonomia, permitiram lançar luz sobre as dinâmicas subjacentes a estas concepções de
desempenho econômico, com o intuito de as ultrapassar e de não '' nos ater a observações
alarmistas, embora pertinentes. No entanto, os sucessos locais foram, sem dúvida, muito
discretos no nível da sociedade para contribuir para uma perturbação do estado de coisas.
Retomar o sentido do trabalho e cuidar do trabalhar é possível!!

Porém, nem tudo é tão sombrio, pois, na vivência da crise, boa parte dos trabalhadores vivencia
também novas situações de trabalho, sozinhos ou em coletivos existentes ou (re) compostos,
muitas vezes revelando outras formas de fazer e pensar o Trabalho e Sociedade: solidárias,
orgulhosas de ser útil, autênticas ,movida por valores morais e concepções alternativas de
“convivência” ou de viver em coletividade. As micro e pequenas empresas da área têxtil
modificam sua produção para fabricar máscaras; uma unidade de produção de uma
multinacional de cosméticos se lança na fabricação de álcool gel; enfermeiras adaptam
macacões de pintor para confeccionar seus aventais; fabricantes de automóveis fabricam
respiradores; a padaria artesanal recruta domicílio para pessoas isoladas em suas casas, etc.
Essa reconfiguração das maneiras de fazer as coisas muda a vida cotidiana em hospitais, lares
de idosos, no setor de horticultura, na indústria da construção e muitos outros. É o trabalho,
enquanto obra autêntica e útil aos outros, que se impõe, motor de um projeto de bem-estar
individual e coletivo, que recompõe, pela atividade e face à pandemia, os laços entre os atores,
reavalia espontaneamente o valor das coisas e ocupações. É claro que não há nenhum projeto
societário explícito e primário em tudo isso, sem dúvida simplesmente uma injunção do real,
irresistível, para fazer uma obra em comum. Mas como deixar de ver nessas inteligências em
ação, as chaves para uma renovação dos sistemas de produção de bens ou serviços? Na crise
sanitária e na sua urgência, as regras e normas usuais da vida cotidiana desaparecem,
permitindo que todos se reinventem onde antes estavam fechados. “Alargar o campo de ação é
uma característica típica e fundamental do desenvolvimento humano. [...] A competência dos
trabalhadores está intimamente ligada à sua capacidade de mudar de registro dependendo das
circunstâncias”, nos dizia Wisner, ergonomista. As "subjetividades que perturbantes" de antes
tornam-se as subjetividades salutares de agora, tanto pela utilidade das economias locais e
solidárias registradas em seus territórios, quanto pelo ambientes de convivência que revelam as
verdadeiras condições de subsistência, de cada um e daqueles que estão próximos.

Na crise, a vida se reinventa, a saúde se constrói, com e dentro de riscos. É assim que
Canguilhem, médico e filósofo, ao resistir a outra crise mundial entre 1939 e 1945 definiu a
saúde: “Estou bem na medida em que me sinto capaz de assumir a responsabilidade pelos
meus atos, de dar vida às coisas e de criar relações entre as coisas que não viria a eles sem mim
e que não seria o que eles são sem elas ”.

Essas experiências de trabalho evocam, de fato, o que vem dizendo, há muito tempo, a
ergonomia da atividade e outras disciplinas que se interessam pelo trabalho:

- a importância de se considerar a atividade de quem a exerce, nas suas dimensões


inseparavelmente singulares, coletivas e societais. Poucos cuidadores exercem seu direito de
aposentadoria hoje em dia devido à falta de leitos, funcionários, máscaras, aventais, géis etc.
Que risco maior do que o de contrair a Covid19 eles podem correr? Neste consentimento à
exposição, num contexto em que apesar de tudo se mantêm as obrigações em termos de
segurança e proteção do trabalhador, encontramos o debate e a complementaridade de
abordagens higiénicas e construtivas em saúde;

- a importância de cruzar pontos de vista, de associar os interessados para construir o problema


na sua complexidade e como espinha dorsal de qualquer busca de respostas relevantes, pois
são adequadas/ajustadas;
- a importância para os trabalhadores de ter algo a ver com o uso que o trabalho faz de si:
retomar a mão.

Cada cidadão é responsável por conceber esta pandemia como um colapso ou como uma
crise, para e além do Trabalho

Podemos conceber o que está acontecendo como um colapso ou como uma crise. Um colapso
é um acidente. Leva, após o diagnóstico, à reparação ou substituição de peças defeituosas, ou
mesmo ao reforço da manutenção preventiva… para garantir a continuidade do sistema no
futuro e garantir a sua resiliência. Portanto, o que organizou a história mais recente de nossa
sociedade perdurará até o futuro colapso, talvez ainda mais grave, que teremos que escolher
novamente para conceber como colapso ou como crise. Se concebemos esta pandemia como
uma crise, ela se torna uma oportunidade de reconstruir, de redefinir o que nos é caro, o que é
válido para conceber o que prevalecerá nas próximas arbitragens. Qual será o desempenho
contra o qual os autores do trabalho serão avaliados? A ocasião é indubitavelmente favorável
ao enriquecimento dos critérios com base nos quais se avaliam os desempenhos das
organizações, no sentido de uma consideração da complexidade dos desafios humanos do
trabalho, e do estatus do humano na produção dessas performances.

Colapso/Pane ou crise, haverá esforços e dificuldades, que afetarão ambos os lados de forma
desigual. Mas, uma vez que neste caos uma oportunidade rara pode estar surgindo, o que nós
queremos? Por qual Trabalho e para que Sociedade vamos trabalhar, isto é, durante o
desconfinamento? Estaremos nós em capacidade de valorizar o que dá esperança desta
atualidade dramática, de operar uma renormalização maior de nossos campos ou espaços de
trabalho e de Vida, esses territórios no cruzamento dos desafios da alimentação e da saúde, da
moradia, da energia, do meio ambiente, da educação, da ciência e da cultura? Os ergonomistas,
especialistas do trabalho, participaram nas análises e experiências do amanhã, para além das
explosões de solidariedade para as quais contribuem hoje no seio deste período em que o
tempo parece suspenso. Eles/elas podem ser, modestamente e de acordo com seu código de
ética, atores valiosos nas mudanças que estão por vir.

Se esta pandemia é um fato social total, os vários temais sociais ou societais do momento
devem ser considerados em conjunto. Nenhum tema escapa verdadeiramente nem ao Trabalho
nem ao Território: igualdade de acesso aos serviços públicos, penúria e idade da reforma,
precariedade do emprego, representação e diálogo social, prevenção de riscos, etc. A crise do
hospital público, sem uma resposta satisfatória aos olhos de seus trabalhadores de saúde,
cristalizou muitas dessas questões. Esses temas, sufocados pela emergência sanitária, voltarão
amanhã, talvez com mais violência, até porque esta crise sanitária se tornará uma crise
econômica e, portanto, uma crise de emprego.
A questão não é apenas a do nosso futuro como adultos de hoje, mas do futuro das gerações
futuras. Então: qual trabalho para qual empresa? No limite do equilíbrio pandêmico, temos o
colapso de um lado e a crise do outro ... e temos que escolher.

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