Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
org/caravelle/7801
Caravelle
Cahiers du monde hispanique et luso-brésilien
94 | 2010
Les indépendances en Amérique latine
Les indépendances en Amérique latine : des commémorations à l’histoire
Que commémorer ?
Résumés
Português Français English
Este trabalho mostra, com textos do Brasil, México e Peru, como através da
linguagem se manifestou o mal-estar de se viver em colônias, e como termos
fundamentais do léxico histórico-sociológico –pátria, América– são empregados
com um sentido novo ; é a identidade dos povos que começa a se exprimir. Nesse
percurso me detenho nas primeiras revoltas e no surgimento de uma nova
mentalidade. Ao mesmo tempo reviso o pensamento de alguns latinoamericanos
em relação aos vínculos pós independência tentando dar um perfil da realidade
atual de América latina.
Based upon Brazilian, Mexican and Peruvian documents, this article illustrates
how, through the language, the uneasiness of colonial life revealed itself and how
the fundamental terms of historical and sociological vocabulary –fatherland,
America– were employed with a different meaning ; that’s how countries’ identity
first started to express itself. This study favours the first rebellions and the arrival
of new mentalities. At the same time, it revisits the ideas of a few Latin Americans
intellectuals belonging to the independence century and tries to display some
characteristics of contemporary Latin America’s reality.
1 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
Entrées d’index
Palavras chaves: Identidade, Insurgência, Movimentos libertários, Sistema
colonial, Herança colonialista
Texte intégral
1 As comemorações pelo bicentenário da independência de vários países
de nosso continente é ocasião para recuar no tempo e lembrar os feitos
que possibilitaram que na primeira década do XIX fossem dados os
primeiros passos na configuração de novos Estados. Como toda mudança
estrutural, esse foi um longo processo que começou a se desenvolver
desde que os europeus pisaram o solo americano, que além de extenso,
tem sido um caminho complexo com heranças presentes até hoje. A
seguir, me detenho nas marcas de identidade na linguagem onde os
habitantes manifestam o desconforto de viver em colônias, as primeiras
críticas e as sérias conseqüências para as sociedades atuais.
2 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
3 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
4 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
5 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
6 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
A hora da revolta
22 Os primeiros levantamentos contra os senhores se deram nas colônias
francesas do Caribe, lugar onde o açúcar foi uma das culturas agrícolas
mais expandidas chegando a ser a principal fonte de riqueza daquela
região. Houve manifestações de rebeldia desde agosto de 1789 na
Martinica, em Guyane, Guadalupe e, no Haiti, cenário da insurreição de
Saint Domingue, em 1791, pelo ex-escravo Toussaint L’Ouverture. A
revolta do povo haitiano foi a única que teve êxito dentro da cadeia de
manifestações contra a escravidão que se deu no Caribe20. Esses
movimentos de insurreição foram o germe dos futuros levantes ; assim o
Haiti passou à história como a segunda nação do continente americano,
depois dos Estados Unidos, a conseguir a separação de uma metrópole
européia em 1804.
23 O espírito abolicionista no continente começou a fervilhar quando, em
1807, a super potência da época, a Grã-Bretanha, acabou com a
escravidão e com o tráfico negreiro em suas colônias, abraçando os
princípios liberais daquela época e apostando numa maior eficiência do
trabalho livre na produção de mercadorias. É a necessidade de satisfazer
seus próprios interesses comerciais que leva a maior nação hegemônica a
acabar com a escravidão e pressionar outras a fazê-lo, como aconteceu
com o Brasil.
24 Nos domínios de origem hispânica, a abolição se deu entre 1810 e 1815
como uma reivindicação dos patriotas, grupo que lutou a favor da
independência e contra os espanhóis ou partidários deles –chamados de
realistas. Entretanto, o processo de desestruturação do sistema
escravista, que tinha persistido durante séculos como alicerce da
economia colonial, foi complexo e lento. Uma vez abolido oficialmente,
teve início o mercado clandestino e o contrabando voltou a tornar o
produto lucrativo para as economias locais e nacionais. No Caribe,
especificamente em Porto Rico e Cuba, onde subsistiu uma economia de
monocultura, a escravidão foi fundamental e continuou por décadas (a
abolição só aconteceu em 1873 e 1880, respectivamente). No Brasil, após
a liberdade de ventre (1871), as discussões entre os conservadores e
liberais foram se radicalizando. Na década de 80, José do Patrocínio
funda a Gazeta da tarde e, meses depois, aparece o jornal Abolicionista,
junto ao surgimento de Sociedades contra a escravidão, no Rio de
Janeiro, Ceará e Rio Grande do Sul, o que vai aos poucos transformando a
causa abolicionista numa força plausível21.
Os novos vínculos
25 A maioria das jovens nações viveu, nas primeiras décadas do século
XIX, uma luta bélica constante no interior de suas regiões, tanto com as
populações aborígines, quanto com o remanescente das forças leais ao
monarca22. Ademais, não foi fácil organizar, junto aos interesses das
burguesias locais, uma administração centralizada. Some-se a esse
panorama uma carência de políticas comerciais coerentes para negociar
com uma consolidada e próspera indústria européia após a Revolução
industrial.
26 No que diz respeito ao Brasil, os ingleses foram os principais
beneficiários do decreto ordenado por dom João VI, em 1808, em relação
ao fim do monopólio comercial que se vivia com os portugueses. Assim, os
7 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
8 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
9 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
10 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
11 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
12 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
Notes
13 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
1 Comentarios reales (1609), caps. IX, XXIV. Ele era filho de um capitão espanhol
e de uma inca.
2 Cf. S. Almarza, «Variaciones en la noción de patria en la época colonial»,
Cuadernos Americanos, México, DF., vol. CCLXII, n. 5 (1985), p. 186-196.
3 Apud, Fernando A. Novais, «Condições da privacidade na colônia»,
Aproximações. Estudos de história e historiografia, Cosac Naify, São Paulo, 2005
p. 214.
4 Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Apud Laura de Mello e
Souza, Desclassificados do ouro. A pobreza mineira no século XVIII, Rio de
Janeiro, Graal, 2 ed. 1986, p. 39.
5 S. Almarza, Pensamiento crítico hispanoamericano. arbitristas del siglo XVIII.
Madrid, Pliegos, 1991, p. 88. As traduções ao português de textos em espanhol
são de minha autoria.
6 Apud Laura de Mello e Souza, Desclassificados do ouro. A pobreza mineira no
século XVIII, op. cit., p. 41.
7 Apud Alfredo Bosi, História concisa da literatura brasileira, São Paulo, Cultrix,
1986, p. 67.
8 S. Almarza, «Las enfermedades políticas de la Nueva España», Cuadernos
Hispanoamericanos, Madrid, 443 (1987), p. 139.
9 Com o acervo trazido pela família real portuguesa, funda-se a Biblioteca Real
em 1810, no Rio de Janeiro; aberta ao público quatro anos depois. No mundo
hispânico, a primeira biblioteca pública foi criada por José de San Martín em
1821. Cf. S. Almarza, Pensamiento crítico..., op. cit., p. 132-137. Também Helena
Esser dos Reis e Maria Constança P. Pissarra, «Jean-Jacques Rousseau e o
iluminismo brasileiro», Fragmentos de Cultura, Goiânia, vol. 13 (especial), 2003,
p. 223-236.
10 Eduardo Frieiro, O diabo na livraria do cônego, Belo Horizonte, Itatiaia, 1957,
p. 53.
11 Paul-J.Guinard, La presse espagnole de 1737 à 1791, Paris, Centre de
Recherches Hispaniques, 1973.
12 Antonello Gerbi, Viejas polémicas sobre el Nuevo Mundo, Banco de Crédito del
Perú, 1946, p. 37-66.
13 Uma síntese da extensa literatura sobre este tema encontra-se em Federico
Álvarez Arregui, «El debate del Nuevo Mundo», Ana Pizarro (org.) América
Latina, palavra, literatura e cultura, Campinas, UNICAMP, 1994, vol. 2, p. 35-66.
14 Célia Nunes dos Santos «A Inconfidência Mineira», Anais do Museu Paulista,
tomo XX, (1966). p. 237.
15 S. Almarza, Pensamiento crítico..., op. cit., p. 48.
16 S. Almarza, «La Declaración de los Derechos del Hombre en Chile», Mapocho,
Santiago, vol. 38 (1995), p. 123-133.
17 A economia de povoamento estava orientada para a subsistência interna e não
estava conduzida para enriquecer a metrópole, como era o caso nas colônias de
exploração.
18 Para se ter uma idéia da vastidão dos vice-reinos, o do Peru, no século XVII,
era formado pelo território que hoje ocupam Peru, Colômbia, Equador, Panamá,
Bolívia, Buenos Aires, Chile e parte do Brasil (algumas áreas de Rio Grande do
Sul, Mato Groso do Sul, Mato Groso, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima).
19 A cidade de Córdoba, na Argentina, no entanto, teve sua primeira universidade
no século XVII. Entre 1631 e 1791, as cidades de Sucre, na Bolívia, San Carlos, na
Guatemala, Caracas, La Habana e Quito já tinham fundado suas universidades.
20 Ver Ives Bénot, « La chaîne des insurrections d’esclaves dans les caraïbes de
1789 à 1791 ». Marcel Dorigny (ed.) Les abolitions de l’esclavage, Saint-Denis,
Presses Universitaires de Vincennes/ Paris, Unesco, 1995, p. 179-186.
21 Francisco Iglesias, «Introdução» ao O abolicionismo, Silviano Santiago (org.),
Intérpretes do Brasil, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2000, vol. 1, p. 12.
22 O Estado argentino dominou sua população nativa em 1880 e o chileno só em
1883 logrou se impor aos mapuche.
23 A Guiana se torna independente em 1966 e Belize obteve a sua autonomia só
em 1981.
24 Eric Hobsbawn, Industry and Empire, Penguin, London, 1968.
14 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
25 Cultura e imperialismo (1993), São Paulo, Companhia das Letras, 1995, p. 24.
26 Ibid, p. 38. Na América Latina, Porto Rico é um estado associado dos Estados
Unidos; a Guiana Francesa é um departamento de ultramar da França; Belize,
Jamaica e Trinidad e Tobago formam parte da commonwealth. Paradoxalmente
são territórios autônomos, ainda que o chefe de Estado seja a rainha da
Inglaterra, representada por uma autoridade local.
27 S. Almarza, «As advertências dos pensadores latino-americanos em face do
poderio dos Estados Unidos», Humanidades, Brasília, vol. 10, 1994, 181-191.
28 Citado em Spanish American Commercial Union, «Banquet in Honor of
Delegates of the International American Conference» (N.York, Press of El
Avisador Hispano-Americano, 1890), p. 43.
29 Viajes, F. Friedmann de Golgberg (ed.), México, Kapeluz, 1978, p. 30. A
tradução é minha.
30 Roberto Fernández Retamar, Calibán y otros ensayos, La Habana, Arte y
Literatura, 1979, p. 242.
31 Dentre outras, podemos mencionar o Clube Libertad y Progreso, de Buenos
Aires, a Sociedad Defensores de la Independencia Americana, de Lima, a
Sociedad de Unión Americana, de Potosí e a Junta Patriótica, de México. Cf.
Ricaurte Soler, Idea y cuestión nacional latinoamericana, México, Siglo XXI, 1987,
p. 189-190.
32 La América en peligro, Caracas, Ayacucho, nº 129. 1985. El evangelio
americano, Buenos Aires, América, 1943.
33 Congresso de Panamá em 1826, convocado por Simón Bolívar; o de 1847-1848,
convocado pelo Peru; em 1856, convocado pela Venezuela, e o de Lima, em 1864.
34 Carta de Nova York de 2 de novembro de 1889, Obras completas, La Habana,
Imprenta Nacional de Cuba, 1963 t. 6, p. 46.
35 Nossa América, trad. M. A. Almeida Triber. São Paulo: HUCITEC, 1983. Nesta
mesma época escrevem José Victorino Lastarria, La América (1867), José Enrique
Rodó. Ariel (1900). Cf. Leopoldo Zea, El pensamiento latinoamericano, Barcelona,
Ariel, 1976 e Fuentes de la cultura latinoamericana, México, FCE, 1993, 2 vols.
36 Rubens Ricupero, Rio Branco. O Brasil no mundo, Rio de Janeiro, Contraponto,
Petrobrás, 2000, p. 36.
37 Op. cit., p. 55.
38 São Paulo, Brasiliense, 1958, p. 93-94. Prado foi um monarquista convicto e
grande opositor da República. Na sua análise dos Estados Unidos, critica a
vulgaridade do sistema republicano atual em contraste com os valores puritanos
dos anglo-saxões na época das treze colônias. Ele via no republicanismo uma
degradação.
39 Apud Flora Sussekind, Introdução, Manuel Bonfim, A América Latina,
Intérpretes do Brasil, op. cit., vol. 1, p. 612.
40 Manuel Bonfim, A América Latina, Interpretes do Brasil, op. cit., vol. 1, p.
628-885.
41 A figura do tio Mac Pato, os clichês contra os comunistas cunhando frases tais
como «alimentam-se de crianças»; «tiram os filhos da tutela dos pais».
42 Não há consenso sobre o ano exato do início e o fim da guerra fria, mas, como
em todo acontecer histórico, estamos diante de um processo gradual que pode ser
situado entre o fim da segunda guerra e a queda da União Soviética, em 1991,
quando da criação dos estados nacionais nessa região.
43 Cf. Fernando A. Novais, «A evolução da sociedade brasileira...» op. cit.
44 Jorge Romero Rodríguez, «Entramos negros, salimos afrodescendientes»,
Revista Futuros nº 5, 2004, vol. II, http://www.revistafuturos.info
45 «Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina» Estudos Avançados,
Instituto de Estudos Avançados da USP (São Paulo), vol. 19, nº 55, Set./Dez. 2005.
Dossiê América Latina, p. 20.
46 IBGE. Síntese dos indicadores sociais. Uma análise das condições de vida da
população brasileira, Rio de Janeiro, 2007, v. 21, p. 182 -183.
47 Joaquim Nabuco, O abolicionismo (1883), Silviano Santiago (org.),
«Introdução», Intérpretes do Brasil, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2000, vol. 1, p.
XIV.
15 of 16 04/09/2023, 17:08
O legado do sistema colonial na América Latina https://journals.openedition.org/caravelle/7801
Référence électronique
Sara Almarza, « O legado do sistema colonial na América Latina », Caravelle [En ligne],
94 | 2010, mis en ligne le 01 avril 2010, consulté le 04 septembre 2023. URL :
http://journals.openedition.org/caravelle/7801 ; DOI : https://doi.org/10.4000/caravelle.7801
Auteur
Sara Almarza
Universidade de Brasília
Droits d’auteur
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/
16 of 16 04/09/2023, 17:08